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15: Bom conselho

Ouça um bom conselho

Que eu lhe dou de graça

Inútil dormir que a dor não passa

Espere sentado

Ou você se cansa

Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo

Deixe esse regaço

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faça como eu digo

Faça como eu faço

Aja duas vezes antes de pensar

Bom Conselho – Chico Buarque

1 dia após O Dia – 00h02m

— Merda! Olha só! Olha só! — Dentro daquele recinto, Alexandre poderia perder a calma. Com o rosto avermelhado, as veias da testa saltando, e com as sobrancelhas baixas, o homem expressava através de gritos e murros nos objetos ao seu redor a sua emoção.

— Alexandre, você precisa se acalmar — Implorava Rose Batista, no camarim onde foi feita a maquiagem de todas as madrinhas, ao lado dos pais e da irmã caçula da noiva.

— Me acalmar? — Ela perguntou, retoricamente, fuzilando a sua líder espiritual com os olhos — Como vou me acalmar? Acabei de ser rejeitado no meu próprio casamento, perdi a metade dos meus seguidores, tenho que ficar explicando que não sou esse cara escroto que a filha deles — ele disse, raivoso, apontando para Joana e Bernardo, que pararam de chorar por um tempo para ouvir o homem — pintou de mim! Além de terem estragado os meus planos na minha carreira, agora vou ser suspeito de assassinato!

— Bernardo, me segura se não eu vou quebrar a cara dele — A matriarca da família cerrou o punho e trincou os dentes.

— Joana, calma! O Alexandre tá nervoso assim como todos nós, tá ok?

Após bufar, o noivo resolveu pegar seu celular novamente e checar quantos seguidores ainda lhe restavam.

— Setenta mil... — Ele arregalou os olhos, assustado — De setecentos, para setenta mil... Eu tô... Eu... — Ele engoliu em seco, começava a gaguejar, mas ninguém naquele recinto se importava com o escândalo dele.

Alguns segundos se passaram, Alexandre permaneceu paralisado, em choque. Até que, enfim, seus olhos contraídos fitaram a filha mais nova da família Martins e, em seguida, para a imagem compartilhada por ela na tela de seu celular, para toda a internet.

Uma foto tirada há poucos minutos do cantor pegando um vaso e o quebrando no chão.

— Rayane, sua miserável! — Ele berrou. Tão alto que quem estava há, pelo menos, cem metros de distância poderia ouvir — Eu vou te matar!

1 dia após O Dia

21 de julho de 2019, 00h05m

— Pode entrar! — Vinícius ouviu e, então, sentiu-se bem em abrir a porta pintada de branco com o símbolo de cruz vermelha em cima.

A enfermaria do local não era muito grande.

Era um espaço com cerca de doze metros quadrados com dois armários de suprimentos, duas macas, algumas estantes espalhadas pelos cantos, e outros utensílios médicos importantes para casos de emergência e primeiros socorros.

Em um dos cantos do recinto, a enfermeira examinava algo em sua prancheta e fazia anotações. Provavelmente sobre o caso de sua paciente.

Ao lado dela, a policial Daniela Tavares, que tentava, com o auxílio de um lenço, secar o suor de sua testa enquanto utilizava o celular para anotações.

Adiante, estava deitado o corpo de Andressa Bitencourt. Consciente, mas ainda fraco e pálido. Seu rosto estava molhado e seus olhos avermelhados, úmidos por tanta tristeza.

Em volta dela, duas cadeiras. Uma, ocupada por Iago. A outra, por Letícia, esta que se virou em direção a porta assim que ela se abriu e revelou a presença de dois jovens que já havia visto antes, mas nunca chegara a conversar.

— Andressa? — A irmã de Ana Laura, acompanhada de Vinícius, aproximou-se da jovem aparentemente ainda bastante emocionada com tudo o que ocorreu — Como você está?

— Desculpa... Quem vocês são? — Daniela, relativamente distante das pessoas ali, questionou a entrada dos dois.

— Somos amigos da vítima — Astrid respondeu — Meu nome é Astrid. E esse é o Vinícius.

— Henry nunca comentou sobre vocês — A cantora falou, em um tom melancólico, fazendo a loira corar e quase gaguejar antes de respondê-la — Mas acho que me lembro de você.

— Sou a irmã da Ana.

— Isso! — Ela elevou as sobrancelhas. As lágrimas já haviam cessado, mas pareciam querer voltar.

— Olha, gente, a Dêssa está muito fraca e debilitada no momento — Letícia, que, desde que os dois chegaram no recinto e iniciaram a conversa, não conseguia esconder sua inquietude e desconforto, disse — E muito emocionada também. Com tudo. Então, por favor, se for para prestar suas condolências, agradecemos, mas ela precisa relaxar agora.

— Letícia! — A paciente a repreendeu, empurrando seu próprio corpo para trás, na tentativa de se sentar — Está tudo bem, gente...

— A gente não queria incomodar — Vinícius logo alegou, engolindo em seco — Desculpa, já estamos indo e...

— Não viemos prestar condolências — Astrid anunciou, fazendo o coração do rapaz ter batimentos acelerados — Na verdade, eu queria saber se vocês estão bem.

— A gente tá sim — Letícia falou, irritada — agradecemos a preocupação e...

— Não me refiro a você, moça — Astrid disse, inclinando a cabeça, fitando a barriga da cantora — Me refiro a Andressa e ao feto.

Os olhos de todos ali presentes se contraíram e suas pálpebras ficaram bem abertas.

— Como assim? — Daniela questionou, com uma sobrancelha apenas levantada e os braços cruzados — Do que está falando, garota?

— A notícia se espalha. E, agora, prepare-se para sua história com o Henry se tornar pública. A polícia irá investigar cada detalhe da vida dele até chegar em você.

— Não pode ser! — A jovem pôs as mãos a boca, incrédula.

— Fica tranquila. No que eu puder ajudar para essa questão não ser mencionada, eu o farei. Mas é bom já saber que pedirão que você explique sobre o caso do aborto. Apesar de eu achar essa conduta muito ruim!

— Do que está falando? Eu não tentei nada! — Com os olhos arregalados, fitando os olhos de Astrid e mexendo a cabeça, a garota se desesperou — Eu juro!

— Tem certeza? — A universitária questionou, levando o dedo indicador aos lábios — Porque em pouco tempo você soube que estava grávida, e agora aparece tendo hemorragia... Não quero te julgar por nada, juro! Mas os fatos se encaixam.

— Você é o quê, garota? Uma espécie de estagiária da Polícia? — Iago questionou, com os braços cruzados e uma cara de poucos amigos — Qual seria o problema se ela realmente tivesse optado por fazer um aborto?

— Na pior das hipóteses, vocês seriam os maiores suspeitos de terem matado Henrique.

— Eu já falei! — Com os punhos fechados, Andressa golpeou a cama — Eu não tomei nada para abortar! Deus do Céu!

Vinícius analisava quieto a situação até então, até resolver se pronunciar.

— Você toma algum remédio, Andressa?

— Tomo. Pra enxaqueca e ansiedade. Por quê?

— E você anda com esses remédios?

— Sim.

— E está com eles agora?

— Estão na minha bolsa.

— Posso ver?

— Letícia, pega pra mim? — Ela pediu, apontando para o objeto ao seu lado.

Após soltar um suspiro, a jovem negra se virou para pegar, em meio a tantas coisas, o que foi pedido.

— Vocês são amigos da Louise, é? — Daniela perguntou, com as mãos na cintura — Estão auxiliando ela?

— Quase isso — Vinícius assentiu.

A policial bufou.

— A-aqui está — Após procurar bastante, ela apanhou o objeto e, trêmula, entregou a Astrid segurando as duas cartelas de medicamentos, analisando cada um. Um deles estava na metade. O outro, para lidar com a dor de cabeça, só foram usados três de doze cápsulas.

— Vou entregar para a inspetora. Isso aqui vai precisar ir para a análise — Ela avisou.

— Não é assim que as coisas funcionam, mocinha — Daniela apanhou o objeto da mão de Astrid em um movimento rápido — Você não é a dona daqui! Eu sou a policial. Eu entrego.

— Não precisam discutir — A voz da inspetora soou por todo o ambiente, fazendo todos olharem para a mulher de vestido preto — Pode me entregar o conteúdo, Daniela.

A colega de trabalho fez como pedido, sem reclamar.

— Está mesmo envolvendo crianças nisso? — Ela franziu o cenho para Louise.

— Não se mete, viu? — Ela disse, pegando o objeto e o guardando em sua bolsa. E então, voltou-se para a enfermeira que apenas assistia a discussão — Sabe se está tudo ok com a Andressa?

— Com ela, felizmente sim! Por pouco, a moça não sofreu alguma complicação mais grave. Agora, quanto ao bebê, eu já ia dar a triste notícia... Ele está morto, senhora, infelizmente.

— Até quando esses tipos de métodos alternativos perigosos vão continuar acontecendo? — Louise questionou, em um suspiro, lamentando-se com o que poderia ter acontecido.

— Ó, céus! Gente, do que vocês estão falando? — Andressa gritava — Eu não quis terminar minha gravidez! Esses remédios foram comprados na farmácia!

— Quem os comprou?

— Ora! Foi a Le... — De repente, a garota interrompeu a própria fala, quando a ficha começou a cair e se virar para a namorada — Letícia? Você não...

— Pirou de vez? Eu comprei o paracetamol e entreguei pra você! — Os ânimos se afloravam cada vez mais e Letícia, que já suava, virou-se para Andressa com as sobrancelhas baixas — Eu nunca te sabotaria dessa forma!

— Quando esse remédio foi comprado? — Louise perguntou, paciente.

— Na terça-feira — Letícia respondeu — Mas caramba, eu nunca pensaria em fazer uma coisa dessas!

— Sei bem... — A detetive comentou, refletindo se realmente acreditava na declaração da jovem ou não — Quando foi que você tomou o remédio?

— Acho que lá pras quatro da tarde...

— E que horas te deu essa crise?

— Umas nove e meia... Eu estava me preparando para cantar, quando senti a dor e a coisa vindo, fui ao banheiro e não aguentei.

— Cinco horas... — Ela repetiu, dessa vez, para si mesma — Misoprostol!

— Quê?

— Enfermeira, pode fazer uma coleta de sangue na paciente?

— P-posso...

— Por gentileza, faça isso! Isso é importantíssimo! — Ela exclamou, virando-se para Astrid e Vinícius — Pode voltar, pessoal! Tá ficando tarde e...

— O que vai acontecer a partir de agora? — Iago perguntou, mordendo os lábios.

Louise esperou alguns poucos segundos para responder. Respirou fundo.

— Olha, esse é um caso muito complexo e demanda mais tempo para a investigação ocorrer. No entanto, vou respeitar a recuperação da Andressa, mas preciso que vocês três compareçam à Delegacia amanhã pela manhã para prestar depoimentos. Alguma dúvida?

— Tudo bem...

— Aliás, senhora enfermeira, se puder ir também... — A mulher assentiu com a cabeça — Vou conferir melhor a lista de convidados e dos funcionários e chamar o maior número possível de gente que possa ajudar.

— Tem certeza que não quer nenhuma ajuda? — Vinícius perguntou para ela.

— Não. Eu fico com os peritos aqui. Vão pra casa. Descansem. Amanhã, se quiserem, a gente troca uma ideia.

Astrid respirou fundo e, assentindo com a cabeça, retirou-se da sala, logo depois de Vinícius.

A enfermeira que estava na sala saiu também, buscando o técnico especializado em análises clínicas. Os cinco ficaram sozinhos ali, então.

— Andressa — A mulher se aproximou ainda mais da cantora — Você tem certeza de que não comeu ou tomou algo suspeito além desses remédios?

— Não! Nada de muito diferente...

— E quem sabia da sua gravidez?

— Bem... — a jovem suspirou, tentando se lembrar — Eu contei pra Letícia, Dani, meu pai, minha mãe e o Henry. Mas, pelo visto, a notícia se espalhou...

— Eu não contei nada pra ninguém — Iago afirmou, rapidamente.

— Eu, muito menos! — Letícia informou.

— Nunca nem toquei nesse assunto com ninguém! — Daniela esclareceu, levantando as mãos.

— Muito provável que Henrique tenha contado para seus amigos e família. E sua mãe...

— Do jeito que Mariana era, bem capaz de ela não ter aguentado ficar de boca fechada! — Iago bufou, cruzando os braços.

— Pior que eu também não duvido disso — A cantora lamentou.

De repente, um toque sonoro de dentro da bolsa de Letícia, que era compartilhada com Andressa, preencheu todo o recinto.

A jovem elevou as sobrancelhas e se virou para pegar a bolsa.

— Alô? — A jovem mordeu os lábios e respirou fundo. A detetive, por outro lado, semicerrou seus olhos para a jovem — Isso. É... Sim, ela tá bem. Nada! Obrigada...

— Quem era? — Iago questionou.

— Minha mãe. Perguntou para saber se estávamos bem. Ela viu a notícia...

O silêncio que prosseguiu foi constrangedor. A tensão pairava no ar e ninguém queria dar o braço a torcer e fazer algo que possa lhe fazer se tornar suspeito de ter cometido o crime.

Logo, a enfermeira, acompanhada de um jovem vestindo jaleco, entrou no local e foram cumprimentados pelos que ali estavam.

O rapaz pegou, em sua cesta de materiais, uma seringa e, delicadamente, coletou um pouco de sangue da cantora enquanto os outros observavam a cena.

— Sente-se melhor, Andressa? — A enfermeira questionou.

— Sim, doutora.

— Sendo assim, acho que não será necessário mais nada, certo? — Louise perguntou a ela.

— A Andressa precisa ir ao médico — ela informou — não há nada mais que podemos fazer aqui.

— Bem, então podemos ir. O salão precisa fechar e amanhã bem cedo vocês precisarão se encontrar na Delegacia.

Os quatro suspeitos se entreolharam e assentiram.

— Vamos, gente — Iago foi o primeiro a se levantar, incentivando as outras, que fizeram o mesmo.

Louise fingiu que não percebeu, mas prestou bastante atenção na aflição de Letícia ao segurar sua bolsa com firmeza e deixá-la bem próxima do seu corpo.

— Sério, eu preciso dormir — falou Daniela, já na porta da enfermaria, para apressar os outros.

Andressa, mantendo um algodão pressionado no braço, no local onde foi injetada a seringa, saiu de cabeça baixa, sendo seguida pelo seu pai e, só então, Letícia.

No entanto, antes de a namorada da cantora sair pela porta, a inspetora segurou-a pelo braço.

— Você fica aqui — ordenou, em um volume baixo, porém incisivo.

A moça engoliu em seco e seus olhos indicavam um desespero que não conseguia esconder mesmo com muito esforço. Atuar não era um talento seu.

Cedendo à pressão da policial, a jovem deu um passo para trás, voltando para a enfermaria.

Quando Iago percebeu que sua nora não os acompanhava mais, já era tarde. Louise havia batido a porta com força, trancando ela e os profissionais de saúde dentro.

— Eu não tenho culpa de nada! — Letícia alegou, na defensiva.

— Me dá a sua bolsa, por gentileza — A mulher pôs as mãos na cintura e ordenou.

— Mas, por que a...

— Vou falar mais uma vez: por gentileza, entregue-me a sua bolsa! — Ela falou, bastante rígida, e se voltou para os outros dois que assistiam a cena assustados — Vocês são minhas testemunhas de que nada ilegal está sendo feito aqui. Posso pedir agora mesmo uma busca e apreensão também. A coisa só ficaria mais complicada... Quem não deve, não teme.

— E-está b-bem... — A jovem gaguejou, percebendo que não haveria saída. Então, tirou a bolsa do ombro e a pôs em cima de uma das camas, abrindo seu zíper. A detetive, a enfermeira e o técnico se aproximaram.

Pegando uma luva emprestada na seção, a detetive começou a vasculhar cada centímetro daquele objeto. Retirou tudo que havia lá. Celulares, lápis, canetas, batons, presilhas, espelho, um guarda-chuva, doces, entre outras coisas aparentemente irrelevantes. Nada digno de nota.

Louise uniu suas sobrancelhas e lançou um olhar furioso para Letícia, que observava com as mãos para trás a detetive mexer em seus pertences.

— Com licença — Ela falou, de forma nada amigável, e se aproximou ainda mais da jovem, que deu um passo para trás.

A detetive nem precisou revistar a moça para perceber, no local onde o pé de Letícia pisava, havia uma pequena bola de papel amarelo amassada.

— Eu não sei o que é isso nem como foi parar aqui! — A jovem se desesperava. Não conseguia conter seus ânimos. Seus olhos começavam a encher d'água enquanto a detetive, delicadamente, apanhava o pedaço de papel e o desenrolava — Eu juro que não tenho nada a ver com isso! Acredita em mim! Por favor! Eu juro! Eu nunca matei ninguém! Eu...

Quando finalmente, pode ler o que estava escrito, seus olhos se arregalaram e se voltaram para a suspeita.

— Pode começar se explicando. Dessa vez, com a verdade!

— Eu não tô mentindo! É sério! Eu não sei como isso foi parar aqui! Eu não faço ideia!

— Então por que fez tanta questão de esconder?

— Porque, quando vi isso ainda pouco, quando atendi ao celular, sabia que seria a primeira suspeita se alguém mais visse isso!

— É mesmo? E achou que escondendo de mim isso diminuiria sua suspeita? — Perguntou, ironicamente, mas ela não respondeu nada — A gente se vê amanhã na Delegacia.

Sem precisar dizer mais nenhuma palavra, Letícia engoliu em seco, colocou seus pertences novamente na bolsa, colocou-a no ombro e saiu pela porta. Dessa vez, sem nada que a impedisse.

Quando Louise ficou apenas com os profissionais de saúde ali, respirou fundo.

— Será possível? — Ela passou a mão pelos cabelos, imersa em seus próprios pensamentos.

— Está tudo certo, senhora? — O rapaz perguntou.

— É... Sim, desculpe — falou, voltando sua atenção para os dois — Por favor, entregue o sangue para a minha equipe. Iremos fazer a análise e, bem... Torcer para que tenhamos respostas convincentes.

— É a garota mesmo a culpada? — A enfermeira perguntou, curiosa.

— Todo mundo é considerado inocente até ser provado o contrário. Todo mundo. A investigação dirá quem é o responsável por esse crime.

— É que... Parece que esse tal papel já diz muita coisa, não?

— Não diz — respondeu — É algo que ainda iremos averiguar.

Os dois assentiram, mantendo o silêncio.

A detetive, então, guardou o papel em sua bolsa e também se retirou da sala logo após de lembrar aos dois de comparecerem na Delegacia no dia seguinte.

Assim que a porta foi fechada, ela pegou novamente uma das primeiras provas do crime para reler. Um bilhete escrito em letra cursiva.

"Por favor, me encontre no andar de cima.

Preciso muito da sua ajuda!

- Henrique Martins"

00h30m

Era meia noite e trinta da madrugada, em ponto, quando o carro dirigido por Astrid Hoegen, acompanhada de Vinícius, estacionou no local apropriado para tal no Hospital Maria do Rosário.

Assim que os dois saíram do veículo, não demoraram muito para entrar no estabelecimento de saúde e falar com a recepcionista.

— Vocês têm plano de saúde? — Uma mulher negra de olheiras fundas e aparência apática perguntou, antes de qualquer coisa, sem tirar seus olhos da tela do computador.

— É... Não. Na verdade, a gente veio aqui pra ver um amigo nosso, é... — Vinícius negou, após inclinar a cabeça com a pergunta — Leonardo Chantre. Sofreu um acidente e veio parar aqui — Vinícius começou — Podemos visitá-lo?

— São parentes dele?

— Somo...

— Não! — Astrid interrompeu, mais apressada — Mas precisamos muito ver como ele está.

— São amigos dele?

— Também não! Nós só... É...

— Querida, nosso paciente só receberá visitas de familiares, amigos próximos ou pessoas devidamente autorizadas.

— Mas... A gente precisa saber se ele tá bem e...

— Este aqui é o melhor e mais caro hospital da cidade, querida — A mulher falou, aparentemente estava cansada e irritada — Óbvio que ele está em boas mãos.

— Pode, pelo menos, dizer se tem alguma previsão para ele ganhar alta?

A mulher, mover a cabeça, apenas olhou para Astrid.

— Não tenho essa informação — Ela falou e voltou aos seus afazeres digitando algo.

Respirando fundo, a jovem se vira e fecha os olhos, dando alguns passos na direção da porta de entrada. Vinícius vai logo atrás, até a mesma ficar parada.

— E agora? O que a gente faz? — Ela questionava.

— Não sei. É... A gente pode voltar aqui amanhã. Talvez a gente consiga fazer uma visita e...

— Espera! — Astrid o interrompeu após ouvir, em meio a tantos barulhos ao redor, a voz de alguém que conhecia.

Uma pessoa que estava com o diretor do programa durante as gravações. E com sua amiga Nicole.

Ela se virou, reconhecendo a mulher que não possuía gordura alguma no corpo por conta de sua síndrome.

— Ei — Denise os chamou, assim que também reconheceu a irmã de Ana Laura — Vocês conhecem o Léo?

— Na verdade, não — Astrid respondeu — Estamos aqui porque queremos saber o que aconteceu.

— Não se parecem com detetives — Ela falou, em tom de ironia, caminhando para fora do hospital, sendo acompanhada pelos jovens.

— Sabe que deverá comparecer à Delegacia, né? — Astrid questionou, tentando, de algum modo, extrair alguma informação valiosa da amiga de Leonardo e como isso poderia estar associado à morte de Henrique.

— Recebi uma ligação — Ela falou, e logo soltou um suspiro. Suas pupilas brilhavam, fitando a rua sob a noite — Isso tudo é muito estranho.

— O Léo está bem?

— Bem? — Ela deu uma risada e encarou a loira — Não conhece ele mesmo, né? Ele pode até ter grandes chances de sair vivo dessa, mas bem ele não está. Faz muito tempo que não esteve.

— Desculpa, eu...

— Não precisa se desculpar. Eu sabia que ele seria capaz disso...

— Disso o quê? Por favor, eu preciso saber o que houve para...

— Para? — Ela elevou uma de suas sobrancelhas. Astrid engoliu em seco.

— Para descobrir o que aconteceu com o meu amigo! — Ela suspirou e, então, um silêncio desconfortável cobriu o ar.

— Leonardo não tem família — Denise falou — Não tem ninguém além de mim. E eu fui negligente não o internando, nem mesmo cuidando de sua saúde e controlando seus remédios e ações.

— Ei! Você não pode se culpar por coisas que estão além do seu alcance!

— Não me venha com essa, garota! — Ele disse — Eu sei que fui irresponsável. Ele teve uma crise de depressão e tomou todos os remédios que tinha, em uma tentativa de morrer. No entanto, quando viu que não ia dar certo, cravou uma faca em sua barriga.

— E quando foi isso?

— Acho que era umas oito e trinta da noite. Antes da noiva aparecer.

— Mas... Quando? Como assim?

— É... Não sabe? Ele mora há uns três quarteirões do salão. A vizinha percebeu que ele tinha chegado em casa bastante alterado, com olheiras, tenso e chorando muito. E se trancou lá. Depois, ela bateu na porta e ninguém atendeu. Estava aberta. Ela entrou lá e seguiu o som dele gemendo de dor. Ela me ligou na hora.

— Deus! — Astrid pôs a mão na boca.

— E como está a situação dele?

— Ele ainda está desacordado. Perdeu muito sangue. Mas os médicos disseram que ele vai se recuperar. Assim espero... — A mulher deu um suspiro e cruzou os braços.

— E você sabe de mais alguma coisa? — Vinícius perguntou. Quando se aproximou um pouco mais de Denise, notou a lágrima que corria de seus olhos.

— Ai, desculpem... Mas eu só quero ir pra casa! — Ela falou, dando alguns passos até seu carro no estacionamento.

— Ei, mas... — Vinícius tentou convencê-la a ficar, mas Astrid segurou seu braço e o impediu.

— Deixa ela — Ela falou, fitando a mulher saindo de lá chorosa — Vamos fazer como a Louise falou. Vou te deixar na sua casa.

— Está bem — assentiu ele, caminhando com sua amiga até o veículo.

— A chave... Está com você? — Perguntou, enquanto andava.

Vinícius se lembrou que havia guardado o objeto no bolso traseiro de sua calça. Com a mão direita, pôs a mão lá para apanhá-lo.

No entanto, junto com a chave, o casal de amigos notou outra coisa que veio junto. Estava com o jovem e ele não tinha percebido.

— Astrid! — O rapaz exclamou, com os olhos arregalados e sem fôlego.

Nas mãos de Vinícius, havia um papel amarelo pequeno e um pouco amassado.

Na sua superfície, um texto, escrito de letra cursiva e à caneta azul:

"Por favor, me encontre no andar de cima.

Preciso muito da sua ajuda!

- Henrique Martins"

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