20 - Culpa
Contém 3750 palavras.
Boa leitura 💚
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O clima com a Rana melhorou, mesmo com ela praticamente puxando a orelha dele. Loki a tratou com carinho... obviamente da maneira irritante dele, mas por mais estranho que pareça, ela compreendeu e o dia passou sem alarde.
Claro que as palavras dela me fizeram pensar em coisas de que não tinha me dado conta, um exemplo disso é que me sinto triste com a possibilidade dele se afastar e, mais uma vez, minhas responsabilidades pesam.
Se estiver colocando todos em perigo ao estar tão próxima dele?
Não é como se tivéssemos algum futuro, cobrar respostas dele, sendo que entendo a situação, é o auge do ridículo.
Preciso manter a cabeça fria, nada pode me impedir de alcançar meus objetivos, afinal, preciso viver, não somente por mim, mas por cada um que está em Njal, eles dependem de mim e não posso ter sentimentos por Loki.
Mas sinto algo além de atração?
É absurdo negar o quanto ele me atrai, sinto um misto de emoções em sua presença, muitas vezes quero matá-lo, mas isso some quando ele age de forma doce e brincalhona, me fazendo esquecer tudo e focar somente nele, mesmo tendo consciência de que, por mais honesto que ele seja na maior parte do tempo, ainda tem seus próprios objetivos.
O mais importante é: o que sei sobre sentimentos?
Tudo que tenho conhecimento é sobre o que observei ao longo dos milênios, entre os Deuses e os humanos. Sendo bem honesta, nenhum seguiu o mesmo padrão, pois os amantes não são iguais, ninguém realmente é.
Então, como saber o que estou sentindo?
Sinto sua presença nas minhas costas, fazendo meus pensamentos evaporarem. Braços fortes rodeiam minha cintura, puxando-me em direção ao peitoral largo. Um estúpido sorriso surge com o ato. Por mais que queira me afastar, não consigo, estamos à luz do dia ainda e qualquer um que cruzar aqui perto de casa pode nos ver, inclusive minha mãe, mas Loki assumiu a conversa com ela como permissão para me tocar sempre que queira.
Não vejo problema, mas evitar conflito com os demais moradores é o essencial.
— Aproveitando para ver o sol se despedir? — ele deposita um suave beijo no meu pescoço. — Tenho uma ótima ideia pra aproveitar o início da noite.
— Claro que tem! — retruco divertida, fazendo-o rir contra minha pele.
— Não adianta me criticar por algo que também quer...
Todo meu corpo arrepia com sua voz quente e sensual, meu corpo age no automático, me colando mais nele. Aproveitando minha reação, suas mãos começaram a vagar pela minha barriga, rumo ao sul, mesmo sob as roupas, cada centímetro de pele se arrepia.
— Podíamos usar a banheira... ter um momento relaxante... onde posso cuidar do seu corpinho — ele murmura rouco.
— Usar meu corpinho, você quis dizer — sorri marota.
Ele suspira, tentando conter o riso.
— Eu sendo um cavalheiro e você pensando besteira! — meu corpo é virado abruptamente, observo seus olhos brilhando em malícia. — Mas, já que deu a ideia, não posso recusar...
Sorrio, puxando-o para mim. A surpresa em seu rosto se transforma em desejo ao sentir a força do meu beijo. Nossos lábios se encontram numa explosão de calor, a textura dos seus lábios, macia e quente, me deixa arrepiada. Nossas línguas se encontram numa dança frenética, enquanto suas mãos se fecham em meus quadris, me apertando contra ele com uma força que me deixa sem fôlego.
Como pode alguém ocasionar sensações tão controversas?
Loki me irrita na mesma intensidade que me atrai, me sinto uma mariposa indo ao encontro do sol, pois sei que vou me ferir e mesmo assim estou aqui.
Um gemido rouco escapa dos seus lábios enquanto ele me aperta contra o seu corpo, numa intimidade tão profunda que quase consigo sentir o calor da sua alma. Seu coração pulsa forte contra o meu, um ritmo frenético que ecoa o desejo que nos consome. A sensação é tão intensa, tão avassaladora, que o mundo ao nosso redor parece desaparecer. Então, o som de passos distantes quebra o encanto, um fio de gelo cortando o calor entre nós. Loki desvia o olhar furiosamente para nossos visitantes, a raiva em seus olhos quase palpável.
Leif e Ralf vêm em nossa direção, inutilmente tento agir normal para disfarçar o que aconteceu. Ralf notou e assumiu um semblante irado, não em minha direção, e sim para Loki, mas manteve o mesmo passo firme do seu pai.
Loki fica tenso ao meu lado, seus braços me prendendo a ele como se eu fosse fugir para longe, enquanto devolve o olhar para Ralf, quase o desafiando a fazer algo.
É pedir demais que eles sejam... cordiais?
— Que surpresa vê-los essa hora — sorrio tensa, abrindo a porta e os convidando para entrar, na medida que puxo Loki sem soltá-lo, com medo de ele fazer algo. — Vieram falar com a mamãe? Ela foi pegar algumas lenhas nos fundos, mas já estará de volta.
Ralf tensiona o maxilar, parando a poucos centímetros de nós, seus olhos negros fixos nas mãos de Loki, suas emoções vibram numa pura e intensa raiva, mas nada direcionado para mim.
— Com as duas, mas pode seguir com seu amasso, não vamos atrapalhar o casal — Ralf rosna, me olhando irritado. — Romance trágico tem que ser aproveitado, afinal, tem pouco tempo até que ele mate você.
Meu corpo pula levemente, surpreso por sua animosidade.
Romance trágico...
É isso que somos, nem ao menos posso defender meus sentimentos ou até os de Loki, o que Ralf mentiu?
Loki vai me entregar para a morte, independente do que sente...
Mesmo dentre as estrelas, as histórias dos Deuses são contadas, apesar de não saber com detalhes a dele, pois pouco foi divulgado. O que sei é que ele foi o culpado da morte do irmão, dos filhos e de sua esposa, Sigyn, sem demonstrar nenhuma compaixão ou culpa.
Na época, quando perguntei sobre Loki para Sunna, irmã de Máni, ela apenas disse que ele agiu friamente, como nenhum Deus o fez, sem remorso algum de ter sua família desfeita e ainda seguiu a vida com vários seres, como se a esposa e os filhos não significassem nada.
Hoje não tenho certeza da veracidade dessa história, mas sei que ele nunca hesitou ou falhou numa missão, por que agora seria diferente?
Um rosnado ecoa, me tirando abruptamente dos meus pensamentos.
— Tá testando minha paciência, seu humano insolente — Loki me puxa para trás de seu corpo, voltando-se por completo para Ralf, sem conter a raiva. — Não a trate dessa maneira, se quiser que sua cabeça continue sobre seu pescoço.
— Não falei nenhuma mentira, você terá que matá-la e fará isso sem pensar! — Ralf vocifera furioso, se aproximando de Loki. — Não é como se tivesse sentimentos pelas mulheres com quem dorme, você nem sabe o que é sentir algo!
Os músculos de Loki se tensionam, seus ombros enrijecendo como aço. Um brilho verde, intenso e ameaçador, emana dele, como um fogo prestes a explodir. Seus olhos, normalmente brilhantes e cheios de malícia, agora brilham com uma fúria cega, e um rosnado baixo e ameaçador escapa de seus lábios. O ar ao seu redor vibra com a sua raiva, uma força bruta e incontrolável que me petrifica.
— Aprenda a controlar sua língua, não vou falar de novo! — Loki rosna, completamente tomado pela ira.
Ralf suspira irritado.
— Está ofendido pela verdade? — Ralf retruca, irado, apontando o punho fechado em direção ao Loki. — Vai acabar com ela e não quero que isso aconteça, pois, ao contrário de você, me importo verdadeiramente com Alya!
Loki não responde, sua mão voa para o pescoço de Ralf, apertando-o suavemente, mas o suficiente para deixá-lo roxo. Sei que ele nem ao menos está usando sua real força, senão o pescoço de Ralf teria explodido.
Meu corpo paralisa, não sei se pelo medo ou pelas palavras ditas, minha cabeça explode pelas informações e sequer consigo respirar ou fazer algo.
— Senhor Loki, por favor, não faça isso, ele é meu filho! — Leif pede ansioso.
A súplica de Leif corta o ar como uma faca. Loki para abruptamente, a sua fúria se dissipando como fumaça. Seus olhos, ainda brilhando com raiva, se voltam para Leif, e por um longo instante, ele permanece imóvel, o seu corpo rígido, os músculos tensos. Então, lentamente, ele solta Ralf, a sua raiva dando lugar a uma expressão de dor profunda e inesperada. Como se uma parte dele, uma parte que ele mantinha escondida por séculos, tivesse se quebrado.
Nunca teve pena de nenhum humano, mas teve de Leif e sua súplica pela vida do próprio filho, por quê?
Os sentimentos de culpa escapam e, por um momento, vejo seu coração partido, de uma forma que me faz chorar instantaneamente.
Ele... ele se colocou no lugar de Leif... perdendo um filho em sua frente...
Se a história estiver errada?
Ele não teve real culpa pelo que aconteceu com a família dele?
— Não vou matar seu humano de estimação... hoje — Loki resmunga, me olhando de canto, interpretando errado meu olhar.
Pulo sobre ele, abraçando-o ternamente para sua surpresa.
Não posso deixar de me sentir triste com seus sentimentos, não quando vejo tanta tristeza e culpa, algo tão enraizado em seu coração, que doeu o meu próprio.
Ele se sente culpado, mas é algo tão pesado e profundo para alguém dito sem sentimentos. Não, Loki sente demais, ama e odeia intensamente, claro que procura o caos e anseia por ele, mas não acredito que foi pelas suas mãos que sua família pereceu, não intencionalmente.
Sua alma é tão quebrada...
Quanto tempo ele está com esse peso?
Sofrendo sozinho e continuamente sendo rejeitado por todos.
Sei que seus irmãos sentem ódio dele, Odin sequer o queria e já fez questão de deixar bem claro para quem quisesse ouvir, os únicos deuses que nunca foram contra Loki são Jord e Thor. A mãe sempre protegeu seus filhos, fazendo questão de deixar bem claro sua lealdade por ambos, e o Deus do Trovão nunca ficou efetivamente contra Loki, fugindo muitas vezes de castigá-lo publicamente, mas isso não é o suficiente para uma imagem de irmãos, é mais sobre quem Thor é, um Deus que pensa somente em guerras.
Loki tem a filha... ela pareceu bem preocupada com ele, ao ponto de vir toda semana vê-lo, mesmo que não saiba se ela vem para visitá-lo ou se inteirar do que ocorre aqui, já que ele quase nunca fala das visitas dela, quando o faz é muito superficial e nunca fui vigiá-los.
Quanto tempo ele está sofrendo sozinho?
— Não está sozinho — sussurro apenas para ele. — Estou aqui, me deixa tirar essa dor do seu coração.
Loki fica tenso, mas não me afasta, retribuindo levemente o abraço, antes de se afastar, mantendo o braço ao meu redor.
Seu olhar sério não deixa que fale nada, embora não tenha vontade de fazer isso em frente a terceiros, é algo de Loki, não cabe a mim espalhar.
— Ralf, já conversamos sobre isso, pensei que não fosse um idiota — retruco, desviando o olhar para o loiro emburrado. — Se continuar com essas atitudes, infelizmente terei que me afastar de você.
— Alya, preferia vê-la com qualquer um, desde que fosse feliz. Para mim, não importaria quem seu coração escolhesse, pois sua felicidade está acima de qualquer ressentimento idiota que eu sinta — Ralf retruca ácido. — O problema é que ele não sente nada por você, a prova é que ele não desistiu de entregá-la a Odin, isso que me deixa puto!
Loki rosna, pulando sobre ele novamente, me movimento rápido, me colocando entre ambos.
— Ralf, por favor...
— Seu saco de merda, não fale do que não sabe! — Loki vocifera furioso, me interrompendo.
Os olhos irados de Ralf encontram os de Loki.
— Diz então, você a ama? — Ralf retruca irado, fazendo o corpo de Loki se afastar abruptamente. — Ao menos gosta dela ao ponto de ver que não deve entregá-la somente porque o papai mandou?
O silêncio reina na sala, deixando um gosto amargo na minha boca. Por mais que soubesse das respostas, ainda assim vê-lo quieto e incomodado com as perguntas me deixa vulnerável e triste.
— Um bom guerreiro jamais jogaria tão baixo ao ponto de conquistar um coração somente para ganhar! — Ralf retruca, debochado.
O guerreiro em questão sabe das cartas que possui, inclusive jamais jogou limpo para ganhar nenhuma das batalhas e não seria agora que o faria...
— Chega disso! Não quero mais ouvir nenhuma palavra sobre esse assunto — replico seriamente para ambos. Loki desvia o olhar e Ralf manteve o semblante sereno. — A vida é minha, cabe a mim decidir o que fazer com ela.
Mesmo que as minhas decisões levem muitos comigo...
☆
Faz algumas horas da "briga", assim como o anúncio do festival do Yule. A clara alegria de Rana foi o que amenizou o clima sombrio instaurado. Assim que Ralf e Leif saíram, Loki fez o mesmo, sem dizer nenhuma palavra do ocorrido, mas também não fiz.
Afinal, o que falar?
Brigar com ele não é uma boa opção, sequer é viável, preferi manter o silêncio, ao menos até saber o que fazer.
Suspiro, olhando para Rana preparando o jantar, atraindo sua atenção. Ao ver meu semblante sério, ela larga tudo e vem em minha direção.
— Querida, quer conversar? — Rana acaricia meu rosto, sentando-se ao meu lado.
— Só tem tantas coisas na minha cabeça, não sei o que pensar.
Rana assente, me olhando maternalmente.
— Sobre Loki?
— Sobre tudo!
As lágrimas escorrem sem controle, os braços dela me puxam, me abraçando ternamente. Sorrio, apertando-a mais, sentindo seu calor me envolver como a luz do sol, quente e reconfortante.
Não existe lugar melhor que estar nos braços de uma mãe, o amor delas é quase curativo, poderia morar aqui.
— Alya, você gosta dele? — Rana sussurra cuidadosamente.
Me afasto, desviando o olhar.
— N-não sei... a única certeza é que não posso deixá-lo me levar, sentimentos não são bem-vindos... não nessa situação... — murmuro nervosa.
Rana segura meu queixo, virando meu rosto em sua direção.
— Meu amor, sentimentos não podem ser controlados, eles nascem onde menos esperamos — Rana responde serena.
Sorrio descrente.
— Não podem ser controlados, mas dá para decidir o que fazer e não quero cultivar nada — replico nervosa e rapidamente completo ao ver seu olhar sério. — Não temos futuro, primeiro porque ele vai me entregar e jamais deixarei o povo de Njal morrer, segundo que Loki não sente nada por mim.
— Essa resposta já diz muito dos seus sentimentos — Rana responde brincalhona.
Olho nervosa para ela, vendo-a rir levemente.
— Você já gosta dele, Alya, e não vai conseguir impedir esse sentimento de crescer — Rana acaricia meus cabelos, sorrindo ternamente.
— Mas não quero! Tem vidas que dependem de mim! Não posso me render!
Esses sentimentos não podem crescer!
O que vai ser do povo se eu for morta?
Odin não terá piedade de Njal.
— Alya, o povo daqui não era para ter longevidade, o ciclo é: nascer, crescer e morrer — ela replica séria, segurando minha face em sua direção. — Você nos deu essa bênção ao pisar aqui, mas não deve se privar de ser feliz por isso, não coloque essa responsabilidade sob seus ombros.
— Loki não sente nada além de atração por mim! — resmungo, contrariada.
Rana ri animada.
— Primeiro que não pode falar dos sentimentos dele, afinal, ele sabe muito bem escondê-los! — ela responde, me olhando marota. — E ele tem ciúmes de você, se fosse somente atração, nem ligaria para o fato de outro amá-la.
Ciúme?
Não, ele apenas detesta que outros não o tratem com toda a atenção que acha que merece!
— Ele não tem ciúmes.
Rana revira os olhos.
— Tem! Por que ele ficaria maluco somente com a presença de Ralf e ainda o chamaria de "seu humano de estimação"? Afinal, você protege todos aqui, mas a implicância do Loki é com Ralf.
Meu rosto cora, fazendo-a rir animadamente.
O que estamos fazendo?
A dor latente no meu crânio é o suficiente para me deixar carrancudo, prefiro mil vezes estar em guerra e ser acertado com machadadas do que escutar minha amada esposa e minha mãe tagarelando o dia inteiro, perguntando sobre o que vi nos sentimentos de Loki.
Claro que ambas sabem que menti para o pai, mas querem a verdade a qualquer custo!
Sif, além de me torturar com suas tagarelices, agora decidiu apelar para o corpo, usando pedaços de pano que cobrem porcaria nenhuma dele e não me deixando sequer tocá-la.
Quando Loki voltar de Midgard, eu mesmo vou matá-lo!
— Nunca escondeu nada de mim! — Sif me acusa, irritada. — Agora se nega a sequer falar, o que o deixou tão nervoso ao ponto de procurar Freyja!
Suspiro cansado.
Precisava de alguém que fosse de fora, claro que tive que usar vários truques, me custando não somente minha dignidade ao me disfarçar de alguém comum, mas também o risco de o pai saber.
— O que ela pode saber que eu não? — Sif resmunga, cruzando os braços.
A puxo para meus braços, sob seus resmungos contrariados.
— Apenas tirei uma dúvida sobre o sentimento que vi em Loki, afinal, nunca sequer imaginei ele sentindo isso... não é exatamente o sentimento comum que se espera...
Sif me olha em choque, seus olhos brilhando com o entendimento.
— LOKI...
Beijo seus lábios num beijo afoito e urgente, calando-a de imediato.
— Quieta! Sabe o trabalho que estou fazendo para deixar isso oculto?
Sif sorri marota, me abraçando animada.
— Talvez seja uma coisa boa!
Olho descrente em sua direção.
— Tenho minhas dúvidas... ele é um idiota e vai fazer merda... isso pode complicar ainda mais a situação — retruco sério, fazendo-a revirar os olhos. — Fora que a missão não mudou, ele vai fazer isso... não vai importar nada.
— Mesmo com os recentes... acontecimentos... ele ainda a entregará?
— Ele não tem escolha...
Talvez seja por isso que ele está tão melancólico...
Sentimentos sempre foram tão complexos, sentir algo ou apenas deixar transparecer minhas verdadeiras emoções sempre esteve fora de cogitação, mas ultimamente sinto demais, deixando tudo fora de controle e, sem que percebesse, estou agindo de forma inesperada.
Quando foi que senti remorso por minhas ações?
Sempre soube que, embora esteja começando a me apegar à Alya, ainda pretendo entregá-la, pois meu pai faz toda questão de matá-la com suas próprias mãos e prometi que isso aconteceria.
Com meu próprio sangue... jurei... jurei que ela estará em Midgard, mesmo com o preço alto...
Mas agora essa decisão parece tão... é algo que não quero e não tenho como voltar atrás, não contra um acordo com o pai, pois ele jamais aceitaria.
O humano estúpido tem razão, ela merece alguém melhor, que a reverencie como ser glorioso que ela é. Alya, quando sorri, ilumina o universo inteiro, sua determinação e jeito meigo conquistam tudo. Ela é linda, inteligente, amorosa e vê tudo de forma diferente, onde até a alma mais podre se torna iluminada ao seu lado. Qualquer um que seja inteligente o suficiente para ver isso é merecedor dela.
Sou mais que um egoísta, estou sendo um canalha de primeira e não estou gostando disso.
Acostumado a trair, iludir e despedaçar qualquer coração, agora isso parece tão podre, ainda mais contra ela.
Era tão feliz antes dessa porcaria de missão!
No início, tudo que queria era vê-la quebrar, arrancar seu coração e ver a vida sumir daqueles olhos. Agora, a simples menção da sua morte é sufocante, ela é um ser que irradia esperança e vou destruir tudo que ela ama.
O que isso me torna diferente de um monstro?
Heimdall tem razão... deveria estar morto... somente assim não traria a infelicidade...
Conforme caminho pela praia, na divisa com a barreira, meus pés afundam na areia gelada e irregular sob meus pés descalços. O vento está forte durante a noite, trazendo consigo a maresia, um cenário lindo com as águas escuras e violentas, em contraste com o céu limpo e cheio de estrelas, um verdadeiro espetáculo. Nem mesmo a vista acalma meus sentimentos.
Como acalmaria?
A ideia de voltar para casa e ver seu semblante triste é aterrorizante demais, principalmente quando sei que ela é um ser divinamente luminoso e que não combina com a tristeza e decepção.
Alya acalma as profundezas da escuridão de minha alma, mesmo assim serei a ruína dela e isso é irônico demais!
Deveria saber que isso é mais um castigo para mim, me apegar a ela e eliminá-la, sendo torturado pela eternidade com isso. Tudo para manter o maldito equilíbrio e a vida daqueles estúpidos idiotas, me incluindo nessa lista.
Meus joelhos cedem, me levando ao chão. Olho para o céu tão brilhante, as estrelas mais belas e nossa constelação exatamente como da última vez, mais brilhante e mais forte, mostrando que a cada dia estou mais perto de terminar tudo.
Mais perto de matá-la...
O vento uiva violentamente e o aroma dela me cerca, levanto abruptamente e viro na sua direção. Alya vem num caminhar sereno e decidido, seus olhos tão brilhantes como os astros nos céus.
É instantâneo sentir meu coração trepidar diante da cena: seus belos cabelos azuis voando com graça diante do vento, seus olhos como pontos luminosos na escuridão e seu lindo corpo envolto em uma camisola branca de algodão que realça mais sua beleza à luz da lua.
Um largo sorriso surge em seu rosto redondinho, as bochechas levemente coradas e cheias, causando uma verdadeira pane em todo meu ser, a culpa misturada ao desejo, tudo à volta resumido a ela.
Por que é tão difícil resistir?
— Tá frio demais pra usar esse pedaço de pano — sussurro.
Alya sorri, parando rente a mim.
— Não estou com frio — ela retruca divertida, enrolando ambos os braços ao redor do meu pescoço, ficando na ponta dos pés. — Se estivesse, você poderia me esquentar.
Seguro seu pescoço com firmeza, trazendo-a para mim.
— Quer que incendeie seu corpo? — sussurro contra sua pele, arrepiando-a, e isso faz seu corpo reagir, se aproximando mais do meu. — Que a enlouqueça?
Alya pula em meus braços, circulando as pernas ao meu redor, me pegando desprevenido. Por alguns instantes, desvio o olhar para o céu, nossa constelação mais intensa que antes, a mais brilhante dos céus, mesmo sendo um espetáculo lindo, é mais um sinal de sua destruição.
Ver isso faz meu corpo paralisar, mesmo sentindo suas pequenas mãos em meus cabelos e a boca carnuda distribuindo beijos por todo meu rosto até chegar aos meus lábios.
Tanta coisa que é para dizer, mas não posso, isso aumenta o abismo em que me afundo.
Por que ela não é uma vadia idiota?
Isso facilitaria e muito minha vida, pois somente assim não teria hesitação e a entregaria sem problemas.
Como vou suportar vê-la morrer sem fazer nada?
— Loki? Fiz algo errado? — Alya se afasta, confusa.
Ela é linda, o ser mais deslumbrante que já vi, seu olhar não contém apenas o conhecimento absoluto, mas o calor da sua alma pura.
Sorrio triste, puxando-a para um beijo afoito, cheio de palavras não ditas. Tocá-la é como estar no paraíso, o verdadeiro, onde somente há luz e... amor.
Todos os sentimentos que não mereço!
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