18 - Cachoeira
Capítulo contém 3863 palavras.
Boa leitura 💚
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A trilha de terra úmida pela leve chuva que ocorreu na madrugada, meus pés afundam na lama à medida que caminho rumo à vila, o sol ainda não nasceu, o que me dá liberdade para vir sem ser notada, pois sei que essa hora é perfeita.
As casas de madeira dispostas em fileiras irregulares estendem-se à frente, muitos recém-iniciando suas atividades, mas sem muita movimentação no exterior.
No centro da vila, a majestosa casa de Ralf destaca-se das demais pelos dragões esculpidos nas paredes de carvalho. A porta entreaberta dá liberdade o suficiente para adentrar sem prévio anúncio. O interior aconchegante quase me faz suspirar de contentamento, pois logo sinto o cheiro da comida de Rana. Ela primeiro prepara os alimentos aqui e depois vai para casa. Ao que parece, hoje Ralf e Leif terão sopa, pois o cheiro maravilhoso do caldo serpenteia a casa.
Os leves risos de Leif e Rana preenchem o ambiente. Por mais que tivessem um passado complicado, por culpa dele mesmo, ambos viraram bons amigos, esquecendo do breve momento em que ele quase obrigou ela a casar.
A imagem de Leif sorrindo, sentado perto da mesa onde a mamãe cortava continuamente os temperos, me faz sorrir automaticamente. Ao lado dela, ele fica menos rabugento.
— Caiu da cama? — Rana pergunta sem parar o trabalho.
Leif desvia os olhos para mim, sem conter a curiosidade.
Meu corpo inteiro cora, visto a cena que ambos presenciaram ontem, muita coisa deve estar em suas cabeças, eu mesma não dormi durante a noite, fosse a memória de Ralf preenchendo meus pensamentos, ou a última conversa com Loki.
— Não dormi direito, preciso falar com Ralf — admito, envergonhada.
Rana me olha impassível, embora sentisse um leve ar sério ao seu redor, como mãe querendo me proteger, mas sentindo impulso de protegê-lo também.
— Ele foi buscar lenha, o inverno está chegando — Leif anuncia sério.
Balanço a cabeça em concordância, me viro para sair.
— Alya, mesmo que não queira magoá-lo, às vezes é preciso ouvir um sonoro "não" para seguir em frente, então seja firme com ele — Leif continua falando num tom mais ameno. — Embora já tenha deixado explícitos seus sentimentos, Ralf tem esperança.
Meu corpo paralisa ao escutá-lo, talvez pelo medo ou ansiedade.
Negar os sentimentos de alguém é difícil, principalmente quando não queremos magoá-lo. Sei que já expliquei explicitamente que, para mim, ele é um irmão, mas sinto que ele manteve uma esperança e ela se esvaiu ao me ver ao lado de Loki, mesmo que esse não tenha nada comigo.
— Nada na vida é fácil e essa é a graça dela, o sofrimento nos fortifica — Leif completa sério. — Se ama Ralf como seu irmão, deve ser honesta com seus sentimentos, somente assim ele será feliz.
Não é apenas o líder dando conselhos, mas o pai que ama incondicionalmente o filho, mas também o homem que sempre esteve ao meu lado, assumindo mesmo sem querer um papel de pai.
— Obrigada.
Saio da casa rumo aos fundos, avistando a densa floresta de pinheiros onde Ralf costuma pegar lenha. Os troncos altos das árvores se erguem rumo aos céus, tão lindas e majestosas, no ar o aroma fresco de terra e dos pinheiros impregna tudo ao redor, o solo úmido e macio, coberto por folhas e musgo, conforme adentro na floresta, o frio me cobre, por conta da mudança de temperatura.
Uma clareira ao centro da floresta se abre, a luz fraca do sol penetrando suavemente através das copas das árvores, adquirindo flashes suaves de luz dourada. Sob o solo terroso, Ralf ocupa o lugar, descendo o machado velozmente, de maneira bruta e contínua, como quem desconta a raiva. Os galhos e troncos acumulando ao redor apenas comprovam que já tem um bom tempo que ele está aqui.
— Não tem outro lugar para estar? — Ralf retruca ácido.
O som do machado ecoa entre as árvores, misturando-se à sua voz rouca.
— Precisamos conversar! — suplico ansiosa.
Ralf ri sem humor, enquanto o machado novamente desce com destreza sob a madeira espessa.
— Já vi o bastante ontem! — ele resmunga, contrariado.
Entendo seus sentimentos, até mesmo sua raiva, mas não mereço que me trate assim, sendo que não fiz nada e, mesmo se fizesse, não foi com intuito de magoá-lo.
— Não pode ficar bravo comigo sempre que me ver com alguém — respondo irritada, fazendo-o virar levemente em minha direção com semblante sério. — Está sendo injusto, nunca prometi nada a você!
Seus olhos escuros faiscaram numa raiva que jamais vi, retraindo levemente meu corpo.
— Não, mas se entregou a um imbecil na primeira oportunidade! — ele rosna.
Não importa a raça, homens têm sempre que ser idiotas!
— Ralf, seus sentimentos machucados não lhe dão direito de ser estúpido comigo — retruco, irada.
— Alya, ele está querendo apenas uma coisa de você! — ele rosna completamente irado, sua mão vai até a ponte do nariz, buscando se acalmar, mas um riso debochado escapa. — Duas, transar e matá-la!
Diga-me uma novidade!
Pelo amor a todos os deuses! Possuo milênios de existência, ele acredita que eu seja inocente ao ponto de não ver o que está explícito em minha frente?
Sinto o desejo de Loki, mas também sei que ele está impulsionado por outros sentimentos, talvez seja sua estratégia, me levar para a cama, me viciando nele ao ponto de obedecê-lo e, com isso, ele me levará à Asgard.
— Se acha que sou burra ao ponto de não saber disso, realmente não me conhece — respondo séria.
Ralf suspira, agarrando as madeixas loiras em desespero.
— O que quer de mim? — ele resmunga cansado. — Já sei que não sente o mesmo, só vai embora!
Reviro os olhos, irritada.
— Está agindo como um moleque!
Os olhos negros voltam-se irados para mim.
— Moleque? Você se esfregou naquele imbecil!
A raiva queima, crepitando como veneno em meu interior, e uma vontade insana de socar sua cara. Somente me contenho por saber que o mísero soco vai fazer sua cabeça voar para longe do pescoço.
— Ralf, sei que manteve esperança sobre nós dois, pois sabe que nunca me interessei por nenhum homem daqui, na verdade nem mesmo quando era estrela — respondo ignorando sua fala, apesar da ira na minha voz. — A questão não é me interessar por outro, é que vejo você como irmão, por isso não vou retribuir seus sentimentos, pois os meus não vão mudar.
— Mas ele você vê como homem, não é? — ele pergunta, ácido.
Suspiro cansada.
— Loki não tem nada com isso! — resmungo.
— Tem! Eu vi a maneira como ele a olhou, pior você retribuindo! — ele replica irado.
— Certo, deixa esclarecer algo: Loki não importa, nenhum outro importa, pois meus sentimentos e desejos não são da sua conta — respondo brava e aponto para ele. — A única coisa que pode ter de mim é amizade e amor de irmãos, vou apoiá-lo e entendê-lo sempre, mas não admito que me trate assim, pois minha vida não diz respeito a ninguém além de mim.
Viro para sair, quando seu chamado baixo me para.
— Eu te amo, desde sempre, e me dói saber que não me retribui, mas é pior ver que não só retribui ele, mas está ciente e vai continuar nesse caminho, mesmo sabendo que no final ele vai traí-la — Ralf sussurra, pesaroso.
Suas palavras me atingem como veneno, letal e doloroso, pois não tem como negar, é exatamente isso que estou fazendo. Cada instante que retribuo Loki, mais me afundo e lhe dou vitória, isso apenas culmina cada vez mais no meu próprio final e sei o quanto isso vai doer para as pessoas que amo, mas não consigo evitar.
Loki é uma praga que me puxa como ímã, tenho plena ciência de que tudo é para me matar, ainda assim vou em sua direção. Sem pensar nas consequências dos meus atos, me importando apenas com meus sentimentos.
Seria tão fácil amar Ralf, ter meu coração preenchido por alguém que sei que jamais me trairia, ao contrário de Loki que, na primeira oportunidade, vai apunhalar minhas costas.
— Sinto muito por não retribuir seus sentimentos — murmuro, contendo o choro.
Olho-o por entre o ombro, vendo seu olhar torturado que queima meu coração, não queria ferir ninguém, principalmente ele.
— Esse não é o problema! Não vou mentir ao dizer que ficaria bem ao vê-la com outro, mas preferia mil vezes isso, vê-la alegre com alguém que a mereça! — Ralf rosna, me fazendo virar em sua direção. — O problema é que está indo direto para a morte, por conta própria!
As lágrimas escorrem sem controle diante de sua face torturada, meu peito aperta, me sufocando.
— N-não!
Ralf pisca, tentando conter as lágrimas.
— Quando ele te trair, não vou poder fazer nada além de assistir à sua morte, espero que esteja ciente dos seus atos, pois as consequências serão as piores!
Sem esperar resposta, ele volta ao trabalho, me ignorando.
O céu tingido de laranja com as estrelas gradualmente aparecendo é um espetáculo impressionante. Cada dia mais, elas parecem mais belas e estonteantes, talvez pelo medo de que algo lhes acontecesse, por isso mantêm esse esplendor.
Lindo, mas o silêncio que preenche todo o território é um pouco estranho, gosto de guerras e amo o barulho que elas causam, mas também gosto do silêncio, mas a calmaria de Asgard é sufocante demais.
Talvez apenas não esteja pronto para admitir que estou com saudade de Loki, embora admitir isso seja atestado de insanidade, mas sinto falta do meu irmão.
Quatro malditos meses e nada de uma possível conclusão nos planos dele, apesar de o pai manter o semblante sereno, com orgulho no olhar sempre que isso é mencionado, como se tudo estivesse exatamente como ele quer.
Os demais não concordam com isso, não apenas os Deuses de outros panteões, mas do nosso também, em principal Heimdall, que sem surpresa adora trazer o assunto à tona.
Não sei nada sobre o que ocorre, somente o necessário: Loki está bem.
Fui proibido de procurá-lo, fato que me irritou. Embora Hel tivesse entrada permitida ao menos uma vez na semana, não gosto de ser rejeitado dessa maneira, não pelo Loki, mas pelo pai que me proibiu de pisar em Midgard.
Um suave toque em meus ombros me retira um suspiro, seguido de um sorriso automático ao conhecer o calor das pequenas mãos de minha esposa.
— Apesar desse drama todo, estou curiosa para conhecer a estrela — Sif comenta enquanto inicia uma suave massagem nos meus ombros tensos.
Inclino levemente a cabeça, aproveitando o contato, então me dou conta de suas palavras.
— Curiosa? — olho de canto, vendo-a sorrir leve.
— Seu irmão jamais demorou numa missão, ainda mais numa de extermínio — Sif sorri marota, apertando mais meus ombros. — A garota deve estar comendo ele vivo.
Não contenho a risada sincera.
— Isso que me preocupa, o pai está alegre demais — suspiro contrariado.
Sif deita a cabeça em meus ombros, me olhando de canto.
— Não sei, ele me parece bem entusiasmado, mesmo que irrite sua mãe, mas não vejo ele sendo maldoso com Loki — Sif responde amena.
Entusiasmado demais para uma missão que não acabou!
Não gosto disso, pois não sei se seu entusiasmo tem a ver com a estrela ou com Loki.
— Talvez deva desobedecê-lo e ver seu irmão por conta — Sif anuncia séria.
— Ele cortou os meios para ir até Midgard — resmungo indignado.
— Não precisa ir até lá, sabe disso — Sif responde, beijando meus ombros.
O trono de Hlidskialf!
Sorrio animado, puxando-a para meus braços, sob seus risos.
— Você é minha razão! — murmuro contra seus lábios.
Sif suspira, agarrando meus cabelos.
— Gosto de tê-lo para mim, mas quero serviço completo, então vamos checar seu irmão — ela me puxa em sua direção, me beijando apaixonadamente. Antes que pudesse aproveitá-lo, ela se afasta — Vou ajudá-lo nisso!
☆
O salão onde é localizado Hlidskialf é tremendamente majestoso, onde apenas Odin e Frigga podem entrar, quanto mais sentar no trono, obviamente ambos vão saber que estive aqui, principalmente o pai, mas no momento o que importa é Loki, preciso ver como ele está.
As colunas esculpidas em pedras até o teto extremamente alto quase me fazem sentir pequeno, mesmo com meus mais de dois metros de altura, pois o local visualmente alcança os céus.
Me aproximo do trono feito de madeira antiga adornado com runas, contendo segredos ancestrais dos primórdios. Cada passo, minha preocupação aumenta, ao sentar, sinto a carga de poder e responsabilidade, tão forte que me desnorteia por alguns segundos, é visível o motivo de apenas Frigga e Odin serem permitidos a contemplar todos os nove mundos, concentro minha atenção em Midgard, mesmo com a enxurrada de informações preenchendo minha mente.
Sentado sob a areia, está ele, sozinho e cercado pela escuridão, enquanto mantinha um olhar sério para o céu, algo que jamais vi em seu rosto.
Fecho meus olhos, tentando buscar uma conexão para compreender seus sentimentos, mesmo que saiba que estou invadindo sua privacidade.
Dor, solidão, saudade, culpa e... um sentimento inesperado que fez meus olhos abrirem abruptamente.
O que está acontecendo com ele?
Ele está...
— Estava me perguntando quanto tempo demoraria para me desobedecer — a voz calma de Odin ecoa, fazendo com que meu corpo pulasse de Hlidskialf.
Seu olhar torna-se sério, apesar da postura relaxada.
— Achou algo interessante em seu irmão? — Odin pergunta curioso.
O som de passos apressados chama nossa atenção, Sif e Jord correndo afobadas, minha esposa com o semblante ansioso e culpado, pois ela foi incumbida de distrair o pai tempo suficiente para que pudesse ver algo.
— Frigga o alertou, não sei como ela sabia antes mesmo dele — Jord resmunga irritada.
Deveria adivinhar que ela reagiria assim.
— Thor, ainda não me respondeu, viu algo interessante no seu irmão? — Odin pergunta novamente com mais ansiedade na voz.
Aqui percebo algo importante, por mais que ele saiba tudo que ocorre nos nove mundos e sobre os sentimentos de cada um, não consegue ver os sentimentos de Loki, possivelmente nem da estrela.
Loki não é alguém fácil de ler, suas emoções estão sempre mergulhadas num abismo tão profundo que ninguém jamais conseguiu penetrar e o fato que tive sucesso quer dizer apenas uma coisa: ele está vulnerável emocionalmente.
Isso apenas aumenta a veracidade do último sentimento que detectei e isso me assusta mais do que gostaria de admitir.
Como o pai reagirá ao saber disso?
— Apenas percebi sua ansiedade, ele está bem, mas aposto que quer voltar logo — minto sem remorso.
Odin não muda de postura, mas a rigidez em seus ombros é palpável. A aura de poder que o cerca parece se intensificar, criando uma barreira invisível entre nós. O brilho frio de seus olhos dourados contra a esclera escura me deixa em alerta máximo. Ele não precisa dizer nada, sua aura de poder imponente diz tudo. Ele sabe da minha mentira.
Por mais que odeie isso, mentir é a melhor opção, pois a postura dele não me traz boas vibrações e preciso proteger meu irmão.
Não aguento mais!
Midgard é patético e sem atrativos, sinto o tédio chegando numa velocidade absurda que nem mesmo Alya, se esforçando para me mostrar as belezas do local, consegue ao menos me alegrar.
Sinto falta de emoções, algo que faça meu sangue ferver e não sei onde encontrar isso!
Alya praticamente tem me ignorado desde que voltou da conversa estúpida com Ralf, do qual acha que não sei.
Obviamente, se ela ousar sonhar que a segui, nego até a morte, quero diversão, mas ela bater em mim não é divertido, sou sádico, não masoquista!
Essa mulher é irritantemente pavio curto, mas admito que sinto falta até da troca de farpas, tratamento de silêncio não é a minha, nem ao menos o cordial, que ultimamente ela tem dedicado a mim. Será que estou me apegando a ela? Mas que diabos... essa não é a minha missão.
Parece até esquecer da minha existência e não importa o quanto a irrite, ela sequer revida e isso é chato demais!
Afundo minha mão sob a areia, sentindo uma pequena pedra.
Ela acha que é quem para ignorar minha existência?
Não mereço ao menos a consideração de uma boa discussão?
Atiro a pedra em direção ao mar, vendo-a chocar-se violentamente contra as ondas calmas.
Tudo por conta do humano imbecil, que tem meus objetivos serem obscuros?
Pensei que fosse algo entre nós!
Essa idiota estúpida dando ouvidos a um boçal pior que ela!
Levanto num salto, sentindo meu corpo ferver, preciso sair de perto dessa barreira antes que atenda meus desejos e vá embora, por mais que isso machuque meu ego, pois sair daqui sem ela significa que falhei na missão.
Caminho lentamente em direção à tão conhecida caverna, local onde passo a maior parte do meu tempo, pois é melhor estar aqui que mendigando atenção da idiota.
Eu mendigar atenção? Nem morto!
Adentro na caverna sob passos silenciosos e tediosos, a escuridão me envolvendo como um manto é bem-vinda à medida que exploro o local. O som suave de água ecoa pelas paredes de pedra, como um chamado encantador, como se ela cantasse para mim. Sem me conter, sigo o som, quase hipnotizado por ele. Por um longo tempo, existe apenas a melodia suave e a escuridão, até uma câmara ampla surgir.
O teto do local é mais alto que no restante da caverna, quase não consigo vê-lo em meio à escuridão. No centro, uma majestosa cachoeira me deixa perplexo, despencando do topo com um estrondo ensurdecedor. A água, fria e cristalina, cai numa cascata, brilhando na fraca luz da lua que penetra o lugar, exalando um cheiro fresco e puro de terra úmida. O ar úmido e fresco enche meus pulmões, a textura lisa e fria das pedras sob meus pés me conecta à terra. As gotículas d'água, geladas e suaves como seda, caem em câmera lenta na minha visão, parecendo flutuar no ar, criando inúmeros feixes de luz coloridos, similares ao arco-íris.
Lindo!
Não existe outra palavra para descrever a beleza da cena, as gotículas d'água caem em câmera lenta na minha visão, parecendo flutuar no ar, criando inúmeros feixes de luz coloridos, similares ao arco-íris.
A água bate nas pedras com força, gerando uma névoa que envolve tudo. Me aproximo totalmente encantado, o som dela junto ao eco contra as paredes criou uma melodia como se sussurrasse para mim.
O leve movimentar do lago abaixo da cortina prateada d'água caindo alto chamou minha atenção. Emergindo como um ser celestial, ela. Alya, o corpo delicado banhado pela leve luz do luar em mistura com as águas.
Pele translúcida, pequenos pontos brilhantes descendo de seu pescoço em direção ao colo, envolvendo os pequenos e deliciosos seios como uma tatuagem estelar, a barriga lisa também coberta dos mesmos pontos, indo em direção aos quadris largos e suas coxas torneadas que me deixavam hipnotizado.
Ela é cheia de pintas! Como se fosse o próprio céu com suas estrelas!
Os longos cabelos azuis intensos escorrem por suas costas, como uma cortina, e a protegem da minha inspeção.
Inútil! Já vi mais que o suficiente.
Ela vira de lado, me dando visão completa agora de suas gostosas nádegas, perfeitas e o suficiente para minhas mãos.
Porra! Ela é linda!
Como uma Deusa... ela é a Deusa da cachoeira que habita meus sonhos! Antes mesmo de vê-la pessoalmente, sua alma apareceu para me presentear com essa vista maravilhosa.
Meu coração dispara como louco diante da visão e, pela primeira vez em milênios, estou sem palavras diante desse ser esplendoroso.
Os olhos azuis voltam-se para mim, primeiro surpresos e então envergonhados, por mais que tentasse inutilmente se tapar, não conseguia impedir meus olhos de mirá-la por inteiro.
Não, amor, deixe-me admirá-la...
— Costuma nadar nua? — pergunto com a voz rouca.
Alya desvia o olhar enquanto morde os lábios rosados.
Como ela pode ter lábios tão rosados e cheios? Desenhados como um coração que amaria devorar.
— Não sabia que conhecia esse lugar — ela murmura ansiosa.
— Não conheço, é a primeira vez, mas a vista me ganhou completamente — respondo malicioso, deslizando o olhar pelo seu corpo. — Minha preferida de Njal.
Ela cora, tentando evitar inutilmente o sorriso, me deixando desarmado pela visão, tudo ao redor sumiu, até mesmo o som, nada mais na minha frente além dela.
Sinto o desejo forte e latente, tanto que até minha respiração sai com dificuldade.
— Posso tomar banho com você? — pergunto ansioso.
— Eu... melhor tomar sozinho — ela balbucia nervosamente.
Sorrio, atraindo sua atenção.
Sem desviar os olhos dos seus, que estão mais parecidos com a própria estrela que ela era, de tão iluminados, começo a tirar minha própria roupa, peça por peça, lenta e torturante para que ela sinta o mesmo que ocasiona em mim.
— Loki...
Alya me analisa com extrema atenção, deslizando o olhar sob meu peitoral, descendo tão demoradamente que mais parece uma carícia quente.
Uma tempestade de emoções colide em meu interior, mas o principal se sobressai: desejo voraz por ela, como se minha alma estivesse faminta.
Nunca desejei alguém assim e, mesmo sentindo medo desse sentimento, adentrei na água.
— Você... está... nu!
Sorrio, me aproximando sorrateiramente como uma serpente.
— Achei que devesse retribuir o espetáculo, gatinha.
O rubor cobre suas lindas pintas, me deixando encantado com a visão.
— Loki... eu... não sei...
Seguro suas mãos quentes, elevando ambas até meus lábios, beijando cada um dos seus dedos.
— Não vou mentir, tô com tesão dos infernos, mas jamais farei algo que não queira.
Alya me olha chocada e levemente envergonhada.
— Está?
Amor, não sabe a vontade que estou de me afundar em você... se soubesse, jamais ousaria perguntar algo assim.
— Alya, cada detalhe seu é encantador, desde seus olhos estrelados até suas pintas lindas que desenham cada curva do seu corpo gostoso — contorno suavemente seu rosto com a ponta dos dedos, descendo lentamente até o pescoço. — É perfeita demais para ser real.
Ela fecha os olhos, com semblante tão entregue que faz meu coração disparar.
Como senti falta disso, dela reagindo a mim!
— É você falando ou sua missão? — ela balbucia, atordoada.
Desde que entrei nessa caverna, em nenhum instante pensei na porcaria da missão. Sendo honesto, não penso nela quando estou com Alya, mesmo que algumas ações sejam exclusivamente para atraí-la pela missão idiota.
Sinto o corpo dela tenso, aumentando minha própria ansiedade, pois quero muito tocá-la, sentir a textura de sua pele, me afundar em seu interior, mas fazer isso implica algo que esqueci antes: os sentimentos dela.
Nunca me importei com sentimentos de nenhum parceiro antes, para mim, meu prazer importa e o resto não é da minha conta. Sempre expliquei que não existe espaço na minha vida para sentimentalismo, além de não ter a menor paciência, sequer me importo se o outro vai sofrer.
Mas ela difere, não é alguém que encontrei somente para isso, não... ela sequer seria minha se fosse noutra situação, obviamente me interessaria por ela sem a missão, pois apesar de ser irritante, ela é gostosa, divertida, linda e inteligente, tudo que gosto, mas ela quem jamais ficaria perto de mim assim e teria toda a razão para me evitar.
Sou capaz de usá-la sabendo que, por mais gostoso que seja o momento, só vai servir para o sucesso da minha missão?
— Alya...
As pequenas mãos foram para meu rosto, me puxando em sua direção, os olhos ansiosos fazem meu coração saltar de forma que fica evidente o quanto estou dividido num misto de emoções.
Isso vai me matar, mas que se dane!
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