10 - Recuperação dolorosa
Contém 3660 palavras.
Boa leitura 💚
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Em toda minha existência, jamais encontrei alguém com um poder como o dela, tão devastador que me deixou nessa situação. A batalha, em si, não foi épica, mas a maldita estrela foi mais astuta e habilidosa que eu. Já enfrentei guerreiros mais formidáveis que ela, mas preciso admitir: Alya foi forte. Meus ferimentos, no entanto, são consequência de um erro meu — subestimá-la.
O golpe devastador me lançou para Asgard com uma força impressionante. Agora, quatro costelas quebradas, todas perfurando meus pulmões, me fazem sentir o peso do impacto. Mesmo com cuidado, ainda sinto o balançar do meu corpo enquanto Thor me coloca na maca da enfermeira. Meus gritos reverberam por Asgard, misturados ao lamento desesperado de minha mãe.
Porra, que dor alucinante!
É como se lanças flamejantes atravessassem meu corpo. Cada respiração é um tormento, o ar escapando dos meus pulmões queima meu peito.
— Aí!
Uma dor aguda se espalha, causando um espasmo. Meu corpo se move bruscamente, desencadeando uma nova onda de tosse, agora carregada de mais sangue.
— Filho, por favor, fique calmo, vamos curá-lo! — Jord segura meu ombro com delicadeza, tentando me manter no lugar.
— Não... sinto... pernas...
— Sua coluna quebrou, o seu corpo está reagindo aos espasmos — Thor explica, tomando o lugar da mamãe. — A senhora está tremendo, deixa que eu seguro ele.
— Ela chutou você? — Jord pergunta, aproximando-se das minhas costelas para examiná-las. — Não, o pé é grande demais. Quem fez isso?
— Heim... dall...
Aquele maldito bastardo aproveitou para me chutar, provavelmente ajudando as costelas quebradas a perfurarem ainda mais meus pulmões!
O grito da mamãe me faz gemer de dor. Sinto a cabeça latejar, como se agulhas estivessem perfurando meu crânio.
— Mãe, por favor, se acalme. Depois juro que mato Heimdall! — Thor a segura, impedindo-a de sair.
Eu queria poder dizer a ele para deixá-la ir. Queria que ela matasse o bastardo.
— Porra... dói... essa... desgraçada...
— Ela fez um estrago grande. O impacto quebrou suas costelas, perfurou os pulmões e deslocou suas vértebras — Thor se aproxima, mas vejo apenas um borrão vermelho. — Seus poderes geralmente o protegem, mas o impacto foi forte demais. Por isso, está demorando para se curar.
— Vou... ficar...
Começo a tossir, sem conseguir terminar a frase.
Alya, quando sair daqui, vou matá-la lentamente!
— Não, você não vai se curar sozinho. Vamos usar nossos poderes em você, mas provavelmente vai ficar de molho por uma semana, até se curar totalmente — Thor explica.
UMA SEMANA?
A mão enorme bagunça meus cabelos de forma brusca, mas isso deve ser algum tipo de carinho estranho, principalmente vindo dele, já que não estou acostumado a receber esse afeto.
Estou pior do que pensava!
— Loki, você tem sorte de estar vivo. O impacto desse golpe era para matá-lo. Seus poderes o protegeram, mas, infelizmente, causaram danos em outras partes do corpo.
Não sou um Deus comum. Normalmente, em batalhas, são poucos os golpes que me deixam em estado crítico. Consigo concentrar meus poderes em cura, mas dessa vez, eles se concentraram apenas em manter meu coração batendo.
A mão de Thor se desloca até minhas costelas, concentrando sua energia ali. Minha pele começa a brilhar numa luz dourada, e lentamente, as costelas quebradas começam a se fundir, regenerando os tecidos e os pulmões perfurados.
— Segurem-no de lado, para que eu possa curar a coluna — Thor ordena às valquírias presentes.
Com extremo cuidado, meu corpo é virado de lado. Thor concentra sua energia nas vértebras danificadas. A dor insuportável dos ossos se realinhando me faz gritar em puro desespero. Mamãe toma meu rosto delicadamente entre suas mãos, murmurando encantos para diminuir a dor, mas ela persiste com uma obstinação absurda.
É praga! Só pode ser castigo por tudo o que fiz desde que nasci!
Aos poucos, minha coluna se estabiliza, e os gritos diminuem para murmúrios exaustos. Sinto cada parte do meu corpo suado e banhado pelo sangue.
— Tudo bem, filho, está tudo bem agora — Jord acaricia meus cabelos, dando beijinhos suaves sob minha testa molhada de suor. — Vou cuidar de você, descansa.
A última coisa que vejo são borrões dos seus cabelos ruivos. A essa altura, não sei se é somente ela, ou se Thor também está na minha frente.
☆
O corpo delicado, como uma pétala de rosa, translúcido contra os raios solares. Cada contato da luz contra ela revela pequenas pintas escondidas ao longo do dorso, vagando como constelações em direção ao busto deliciosamente desenhado. Seu corpo virado de lado me permite visualizar com precisão as curvas delicadas e encantadoras, como nunca vi em ninguém.
Não a conheço, tenho certeza disso. Reconheceria um corpo tão gostoso assim!
— Quem é você?
A bela mulher se vira lentamente em minha direção. Ao fundo, as cascatas d'água formam uma cortina ao redor de seu corpo, algumas gotas caindo sobre ela, deslizando pelas curvas que, a cada instante, me deixam mais excitado.
— O MALDITO IRRESPONSÁVEL DO HEIMDALL O CHUTOU ENQUANTO ELE ESTAVA FERIDO! — os berros da mamãe ecoam, me fazendo pular.
Olho para os lados da cachoeira, mas a visão da beldade começa a se desfocar.
— Some não!
Os gritos estridentes serpenteiam meus sonhos, atrapalhando a bela visão.
Abro os olhos, sentindo-me mais miserável.
Custa eles brigarem noutro lugar e me deixarem, ao menos, me divertir nos sonhos?
— Jord, já falamos sobre isso, agora pare de gritar — Odin resmunga.
Analiso cuidadosamente ao redor, reconhecendo meus aposentos. Tudo parece um pouco mudado desde a última vez que os vi, agora mais parecendo um quarto de enfermaria.
Odin está à beira da minha cama, com a mamãe o observando furiosamente, mas o semblante dele permanece calmo, igual ao de Thor, que está sentado na poltrona ao meu lado.
Que fofos, todos eles ao meu redor como se eu fosse um inválido!
— Não paro! — ela o cutuca levemente no ombro, fazendo-o suspirar. — QUERO ELE LONGE DO LOKI!
— O que o cabeça de palha fez? — pergunto curioso.
Os três me olham ansiosos, como se eu tivesse acabado de voltar dos mortos.
A primeira a reagir foi a mamãe, pulando sobre mim. Automaticamente, sinto a dor se espalhar pelo corpo com o choque dela contra mim.
— Desculpe, meu amor, é que já faz quatro dias que você está desacordado! — Jord explica, beijando meu rosto incessantemente. — Seu pai teve que usar os poderes dele para restabelecê-lo por completo.
Olho incrédulo para ele.
Ele... me curou também?
— Por quê?
O rosto dele assume um semblante sereno, os olhos calmos em minha direção, como se estivéssemos falando sobre o clima.
— Você é meu filho, isso já diz o suficiente — Odin responde de forma simplista.
Porra! Eu realmente morri e agora estou sendo torturado em Helheim pela minha filha, só pode ser isso!
— Ah! HEL, TENHA MAIS CRIATIVIDADE AO ME TORTURAR AQUI! — resmungo, gritando.
Thor me olha confuso, assim como a mamãe.
Que maravilha! Vou passar a eternidade sendo torturado por uma família que me ama?
Eles vão me apunhalar aqui?
Não, talvez Baldur apareça com uma lança feita de visgo para me ferir continuamente. Isso será o mais correto, dado a forma como ele morreu. É um castigo apropriado para mim.
Porra! Serei torturado por um visgo?
— Loki, você não morreu, por pouco, foi imprudência enfrentá-la como se ela fosse humana. Apesar de o corpo dela ser, os poderes dela são celestiais. Conversamos sobre isso, foi inteligente, mas pecou no final! — Odin inicia, cruzando os braços numa postura arrogante. — Os poderes dela são absurdos, não deveria baixar a guarda daquela maneira. Sorte que conseguiu se manter vivo, era para estar morto a essa hora!
Tava demorando!
— Claro que não morri, durou apenas alguns segundos sua preocupação, porque já está começando o sermão! — resmungo indignado.
— Vamos conver...
— Depois! Quero que vá punir aquele seu maldito filho, ou farei isso! — Jord o interrompe, empurrando-o para longe de mim. — Se eu ficar no mesmo espaço que Heimdall, não vai sobrar nem a alma dele!
Odin a olha seriamente por alguns segundos. Admito, esses são os momentos mais divertidos da minha vida, quase consigo vê-lo pensar nas consequências de não atender suas ordens.
Vai, pai, deixa ela brincar com Heimdall, quero vê-lo queimar eternamente pela culpa!
— Volto mais tarde! — Odin resmunga, saindo.
Observo divertido o corpo tenso dele sumir pela porta.
— ACREDITAMOS MUITO QUE NÃO ESTÁ COM MEDO DA MAMÃE! — grito divertido, sabendo que ele escutaria, mesmo estando longe.
O riso de Thor é suficiente para mamãe sorrir amorosamente em nossa direção.
— O que o idiota fez? — olho curioso para ambos.
Jord fecha as mãos em punho com a pergunta, seus olhos brilhando com raiva.
— Contaminou sua comida e o derrubou da cama na enfermaria. Suas costelas quebraram de novo — Thor resmunga, contrariado.
CRETINO!
— Por quê?
— Ele queria que você morresse, estava recebendo a comida direto na veia, mas ela estava com veneno, algo que coagula o sangue. Isso te prejudicou, já que perdeu demais — Thor rosna irritado, apertando tanto as mãos que as juntas ficaram brancas. — Tivemos que doar para você, no caso, o pai doou.
A ironia é que o ser que não me quis é o único compatível comigo!
— Por isso está no seu quarto. Tivemos que tirá-lo de lá e agora fazemos revezamento para cuidá-lo. Não o deixamos sozinho, já que Heimdall não foi punido — Jord completa, irada.
Bastardo, nem é inteligente o suficiente para me matar enquanto estou desacordado!
— Me lembra de chutar a bunda dele depois — suspiro, fechando os olhos.
Heimdall precisa de algumas aulas. Se bem que não é bom que ele fique inteligente.
Minha lista só aumenta, não sei quem matar primeiro quando sair daqui. Apesar de Alya estar numa categoria mais especial, ela não é bastarda. Comparada ao idiota, ela é uma guerreira, me deixou assim de forma justa, já Heimdall queria se aproveitar da minha fragilidade.
Ele não se garante?
Vou chutá-lo primeiro, assim minha satisfação aumenta e vou para a luta contra a estrelinha sem ressentimentos. Ela merece algo mais justo.
O estrondo da porta me tira por completo das divagações. Nem preciso abrir os olhos para saber quem é. O aroma amadeirado e selvagem serpenteia o lugar, assim como a presença esmagadora que ela possui.
Agora o circo está completo!
— Vai embora, não quero visitas! — resmungo, de olhos fechados.
— Tenho todo direito em vê-lo! — ela replica, contrariada. Abro os olhos, irritado.
Parada aos pés da minha cama, com os longos cabelos ruivos em cachos tão selvagens que mais parecem brigar contra ela, a pele marcada com uma beleza brutal, totalmente séria e os olhos verde-escuros brilhando em fúria.
Ninguém merece!
— Angrboda, não é o momento, vai embora — resmungo, cansado.
Ela revira os olhos, ignorando totalmente meu pedido, sentando-se ao meu lado na cama.
— Quem preciso matar? — Angrboda pergunta, séria.
Sento-me num sobressalto.
Ela que não se atreva a fazer nada!
— A presa é minha. Se encostar um dedo nela, vou arrancar sua mão inteira! — rosno, irritado, ignorando as dores persistentes.
A ruiva apenas cerra os olhos, balança a mão em puro desdém.
— Você já pegou minhas presas e sempre gostou de compartilhar, qual o problema? — Angrboda resmunga.
— ANGRBODA, A PRESA É MINHA!
— MAS ELA MACHUCOU VOCÊ!
— ESTÁVAMOS LUTANDO, QUERIA O QUÊ?
Os olhos escuros dela cintilam com um brilho sombrio, que tantas vezes me deixou maluco de um jeito divertido, mas neste instante, só conseguem me irritar ainda mais.
O som de outra presença na sala interrompe os resmungos da Jotun. Sif, a esposa de Thor, para perto da porta, segurando uma bandeja com uma expressão confusa.
— Soube que acordou, pedi para que fizessem uma comida consistente para ajudá-lo na recuperação — Sif adentra o quarto, nos olhando com curiosidade.
Angrboda apenas revira os olhos com desdém, voltando sua atenção para mim e ignorando a Deusa.
Às vezes achei engraçado o modo como ela tratava os outros, mas não precisava ser assim com minha família, afinal, Sif é minha cunhada.
— É muito gentil, obrigada, Sif — murmuro com dificuldade.
A loira me olha em choque, certamente nunca imaginou ouvir isso de mim.
— Não desvie do assunto, quero saber o motivo de manter o interesse nessa presa! — Angrboda vocifera irritada.
Alguém tira ela daqui?
Deito-me, apoiando-me contra a cabeceira da cama, sentindo-me totalmente frustrado. É óbvio que o destino está me castigando, só pode ser isso.
— Eles estão discutindo o quê? — Sif pergunta, curiosa, parada no meio do quarto com a bandeja de comida.
— Não sei, acho que quem vai comer a estrela, embora não queira saber em qual sentido — Thor resmunga, se levantando para pegar a bandeja dela.
Sif olha horrorizada para nós.
— Angrboda, quem contou sobre o Loki? — Jord a puxa para longe de mim.
Ela nunca gostou de Angrboda, o que sempre me deixou em conflito entre as duas, mas não quero me meter agora, não nesse momento.
— Todos os nove reinos já sabem da luta, Heimdall contou para alguém e se espalhou... — Angrboda resmunga, me olhando contrariada. — Por que não me chamou?
Ah! Pronto!
Agora sou obrigado a contar toda vez que me machuco?
Ela é médica ou enfermeira para ser a primeira a ser comunicada?
— Não sei, talvez porque não me comunico em sonhos! — resmungo irritado. — Caso não tenha percebido, acordei há pouco tempo!
Angrboda me olha mais irritada, deixando o ar pesado e tenso.
Se ela mudar de forma e assumir seu tamanho real, vai explodir meu quarto, e vou querer matá-la por isso.
Sinto uma pontada nas costelas, causada pela minha agitação excessiva, me fazendo gemer baixinho.
Culpa da maluca!
— Pensei que se comunicasse — Thor chama minha atenção, sorrindo de maneira maliciosa. — Falou dormindo, algumas vezes não sabia se estava lutando ou transando, mas todas pareciam ser com a "Deusa da cachoeira".
Sonhei com a mesma mulher?
Talvez tenha visto ela, mas onde?
Ah, quero lembrar! Aquele corpo é delicioso demais para ser esquecido!
Quase pergunto para Thor se ele conseguiria descrever essa mulher, mas a expressão irritada de Angrboda me impediu. Não estou com paciência para seus ataques, melhor ficar quieto.
— Estava sonhando com quem? — Angrboda resmunga, com as mãos na cintura.
— E eu vou saber!
Mulher doida, vai me deixar com dor de cabeça se começar com essas merdas.
Eu aqui, todo machucado, e ela com ciúmes?
— Loki, quem é essa Deusa? — Angrboda cerra os olhos para mim.
Hoje não é meu dia!
Nunca fui fiel a ela, e agora a doida quer ter controle sobre mim?
Nem é minha esposa para isso!
— Mãe, tira ela daqui, vai começar com sua síndrome de esposa, não estou com saco para explicar que ela não é — resmungo, fechando os olhos.
As vozes alteradas de ambas fazem minha cabeça latejar. As duas disputam supremacia, uma briga que nunca entendi. Jord é minha mãe, Angrboda deve respeitá-la, mesmo que não goste dela. Mamãe também deve respeito pela Jotun, afinal, ela é mãe dos meus filhos.
O barulho de algo caindo é suficiente para me fazer abrir os olhos rapidamente, encontrando Hel aos pés da cama, com um olhar apavorado que aumenta ainda mais a minha angústia.
Todos os reinos já sabem, lógico que ela viria aqui rapidamente.
Merda! Fenrir vai enlouquecer, preciso fazer algo!
— Tô bem, não se preocupe — asseguro rapidamente.
Hel caminha até mim, sentando-se com cuidado ao meu lado, como se o menor movimento pudesse me ferir.
— Por que não me falaram nada? — ela pergunta, chorando.
Não! Eu não sei o que fazer quando choram, principalmente ela!
A puxo para meus braços, sentindo-a fungar, nesse momento parecendo uma garotinha assustada. Não gosto dessa visão, ela é sempre tão fria e guerreira, demonstrando seus sentimentos de forma sutil. Jamais a vi assim, com medo.
— Vaso ruim não quebra, tenho muito que te encher, Helzinha — sussurro.
— Pai!
Aperto mais o abraço, sentindo algo estranho no peito, não ruim, uma queimação boa, mesmo que doa vê-la chorando assim.
— Não somos família dele, Hel, por isso não fomos avisadas! — Angrboda resmunga.
— O quê? — Hel se separa de mim, olhando em choque para a mãe.
Vadia idiota!
— VÁ EMBORA!
Thor segura seu braço com brutalidade, arrastando-a para fora do quarto, sob seus gritos.
— É verdade isso? — Hel me olha nervosa.
— Claro que não! — resmungo, puxando-a para outro abraço. — Você é minha filha, logicamente é minha família, sua mãe que é uma agregada...
O riso dela me relaxa instantaneamente.
É dessa forma que ela tem que parecer, sorridente, o mundo fica mais bonito assim.
— Querida, não era para ninguém saber dessa luta, por isso não chamamos por você — Jord acaricia os cabelos brancos de Hel com zelo — Além disso, não saímos de perto dele, Loki precisou de cuidados o tempo inteiro, mas íamos chamá-la assim que ele acordasse.
Hel concorda a contragosto, deitando a cabeça sob meu peitoral.
— Vou cuidar de você, vai ficar bom logo!
Sorri alegremente diante de sua promessa, mesmo sabendo que agora não terei descanso algum, pois ela, junto da mamãe, vai me enlouquecer até que esteja totalmente curado.
A notícia sobre mim espalhou-se rapidamente, como fogo em um campo seco. A ganância e a sede de poder infiltraram os corações dos humanos. Muitos estavam curiosos e admirados, maravilhados com a ideia de uma estrela caminhando sobre Midgard, uma bênção dos Deuses, que poderia lhes conceder esperança. Mas também havia cobiça e ambição; alguns humanos queriam meus poderes e fariam qualquer coisa para obtê-los.
Isso originou o conflito em que Ralf e Leif lutam bravamente para proteger Njal e a mim.
O som da batalha aumenta à medida que me aproximo. Os guerreiros entoam gritos de guerra e o tilintar das armas se mistura ao estrondo dos choques. Sinto uma culpa intensa por vê-los assim, se torturando e morrendo, pois, apesar de os habitantes de Njal terem longevidade, se fossem feridos brutalmente e não tratados, poderiam morrer.
Sei que são justamente esses comportamentos que os Deuses querem evitar. Não serão apenas os humanos a desejar esse poder, mas todas as criaturas, até as divindades.
Mas como deixar todos morrerem?
Assim que saírem daqui, estarei condenando todos. Não quero isso.
O som fica mais alto, sinalizando que cheguei ao local do ápice da batalha. Um campo vasto e irregular, com colinas ondulantes e afloramentos rochosos. A grama foi pisoteada e as flores esmagadas pelos pés dos guerreiros. O vento uiva, carregando o cheiro de morte de forma tão intensa que meus ossos congelam.
Não acredito no que estou vendo.
O céu, completamente nublado, mostra o declínio dos astros, que não me iluminam neste momento. Certamente, eles não me ajudariam contra os humanos, pois não podem interferir em suas vidas, como fiz em primeiro lugar.
Os guerreiros de Njal estão determinados contra os inimigos, os choques de suas armas ressoando como uma música macabra. O solo encharcado pelo sangue forma poças e preenche o ar com um aroma metálico, nauseante, me deixando tonta. Estão a caminho de uma morte dolorosa.
Ao norte, quase adentrando o bosque, está Ralf, lutando bravamente. O vento uiva ao seu redor, como se o protegesse. Mesmo com a desvantagem de enfrentar três oponentes simultaneamente, sua armadura brilha com um toque especial, assim como seus olhos, ardendo de determinação. Ele está dando sua vida pela minha.
Uma dor profunda em meu coração, marcado pela culpa. Se algo acontecer a ele ou a qualquer outro, será por minha causa.
Os inimigos, cegos pela ganância, matam sem remorso. Seus olhos brilham com uma fome insaciável pelo poder. Mesmo com minha presença ali, eles continuam lutando sem controle.
— O que está fazendo aqui? — Leif toma posição à minha frente, como um escudo protetor.
Mesmo sabendo que sou mais forte, ele ainda me coloca em prioridade?
— Diga para eles pararem. Eu cuidarei dos inimigos — anuncio, séria.
Leif segura sua espada com tanta força que suas juntas ficam brancas, enquanto me olha por cima do ombro.
— Alya, você passou uma semana desacordada depois de lutar contra um Deus. No momento, não tem direito algum de mandar. Não sabe se está totalmente recuperada — Leif rosna, irritado. — Vá para casa. Já estamos estabilizando essa luta.
Quem ele pensa que é para mandar em mim?
— Não sou uma humana, sabe disso! — rosno, indignada.
Leif suspira, exasperado.
— Pouco me importa se tem poderes. Sei que lutou bravamente contra um Deus, mas você é importante para Rana e Ralf, então é importante para mim também. Não a deixarei lutar sabendo que acabou de acordar! — Ele ordena, sério.
Está preocupado comigo?
— Vá para casa, não me perdoarei se algo acontecer com você! — Ele repete, sua voz firme.
Entendo. Ele me viu crescer e, provavelmente, passou a nutrir sentimentos por Rana. Seu bem-estar está acima de tudo, assim como o de Ralf. Também sinto que ele tem carinho por mim, algo paternal, assim como o que sente por Ralf. Posso sentir a verdade em seu coração.
Mas saber disso não me tranquiliza. Só aumenta a minha ansiedade. Não quero que eles se machuquem por minha causa.
Me afasto levemente, concentrando meus poderes em todos os habitantes de Njal, deixando-os conectados comigo. Suas feridas começam a se curar. Mesmo com os inimigos sendo mais numerosos, eles continuam atacando sem sucesso, pois os guerreiros de Njal agora têm vantagem.
— ELA ESTÁ ALI!
A luz ilumina meus cabelos, fazendo-os parecer raios explosivos. Todos os guerreiros param, admirados. Aproveito o momento de distração, lançando meus poderes contra os inimigos, lançando-os para fora da barreira e fortalecendo-a.
Talvez tenhamos um pouco de tempo até que voltem, ou outro grupo decida atacar. Porém, se fecharmos completamente a barreira para os humanos, ficaremos presos aqui. Isso mataria todos os habitantes de Njal.
Sinto uma tontura me invadir, fazendo meu corpo cambalear levemente.
— Por Odin! Você é teimosa como Rana! — Leif resmunga, me segurando antes que eu caísse.
— Sou filha dela...
Leif me levanta em seus braços, seu semblante irritado, mas transparecendo toda a sua preocupação.
Ele é rabugento, mas consegue ser fofo quando quer!
— Vai ficar de castigo, nem que eu tenha que amarrá-la à cama até que melhore!
Não consigo conter o riso diante de seus resmungos. Se ele acha que me prender vai me manter segura, não vou questionar. Talvez só ficar quieta nesse momento seja o melhor, se isso lhe der paz.
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