Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

03 - Dolorosa realidade

🚨🚨 Aviso de possível gatilho, a menção de morte e perda de alguém querido, sentimentos/pensamentos tristes, não terá morte nesse capítulo, é apenas uma menção e os sentimentos que essa perda despertou 🚨🚨

Capítulo tem 3626 palavras.

Boa leitura 💚

┯━━━━━▧▣▧━━━━━┯

┷━━━━━▧▣▧━━━━━┷


Quando decidi vir a Midgard, sabia das implicações, meus poderes se perderiam no momento em que minha alma se unisse à humana e ela teria controle total. Contudo, não foi isso que aconteceu, pelo contrário, minhas características físicas uniram-se às dela e meus poderes estavam como sempre estiveram.

Talvez um pouco mais confusos, pois esse corpo precisará se acostumar com toda a carga de energia, por isso está assim.

Mas isso não é para acontecer!

Não é para possuir os mesmos poderes de quando era uma estrela.

É errado em tantos níveis, pois é uma sorte os Deuses não descobrirem o que fiz. Tenho a certeza de que ninguém além de Máni sabe, pois se soubessem já estariam se vingando daquele povo e de mim.

Preciso de respostas, de alguém que soubesse o que está acontecendo e me orientasse sobre o que devo fazer, pois estou em um beco sem saída, sem saber como prosseguir.

Mas quem poderia...

Máni!

Ele é um Deus, um dos mais sábios e sabe do acontecido desde o início, não serei julgada por ele, menos ainda punida.

Máni, preciso de você... por favor! — peço em oração.

Rana, minha mãe está estática ao lado de Leif e Ralf, todos com semblante confuso por me ver orar, principalmente tão fervorosamente como naquele instante.

Não que seja algo incomum, todos somos devotos dos Deuses nórdicos, muitos têm seus preferidos, mas a surpresa é por me verem chamar por um Deus que normalmente não é chamado, não em um momento como esse. Eles claramente esperariam que eu chamasse por Odin, o pai de todos e o líder nórdico.

Mas como clamar por ele, sendo que não posso deixá-lo descobrir sobre o acontecido?

Nada me protegerá da fúria de Odin, quando ele descobrir o que fiz, se ele já não sabe...

Uma luz iluminou o lugar, me tirando do torpor. Ela se concentrou num ponto ao centro do quarto e aumentou sua luminosidade. Gradualmente, tomou uma forma familiar e conhecida, dando espaço para o enorme Deus de que me lembro, embora ele estivesse levemente mais forte, mas o olhar doce e amoroso é o mesmo.

O sorriso automático em minha face, assim como as lágrimas, o faz sorrir ameno, com o mesmo semblante doce que tanto me fez falta.

Todos no local olham incrédulos em minha direção, pois a luz de Máni é intensa e acalentadora, mas também assustadora para mortais comuns. De imediato, percebo que os humanos presentes sabem que se trata de um Deus. Eles se ajoelham em sua presença, mas Máni sequer os olha, seus olhos estão fixos em mim, me estudando, reconhecendo minha alma nesse corpo, mas também vendo a assinatura da humana, não predominante, mas ainda lá.

Ele se aproxima vagarosamente, quase me fazendo chorar pela saudade que faz meu coração disparar como um louco. Parece uma eternidade desde que o vi, mas os sentimentos são os mesmos.

Meu pequeno irmãozinho!

— Pensei que jamais a veria novamente, demorou a me chamar — Máni sorri amoroso.

Puxo-o para minha direção, abraçando-o ternamente. É tão bom sentir o calor que ele emana, ouvir as batidas de seu coração e principalmente sentir-me em casa.

Durante o longo tempo de meu crescimento, logicamente tive vontade de chamá-lo, mas o medo de chamar a atenção dos demais foi maior, pois a presença dele poderia ocasionar problemas para mim, já que seria um farol para meus crimes.

Só que isto não importa mais, pois a partir do momento em que resgatei a menina humana da morte, os Deuses já sabiam sobre mim, me resta apenas saber o que está acontecendo.

— Apenas vinte anos, nem foi um tempo longo — murmuro saudosa.

Máni retrai o corpo, ficando rígido de maneira repentina, olho-o sem entender.

Os olhos, sempre amorosos, agora estão sérios como jamais vi, enfatizando o quão tenso ele está.

— Serpens, faz cento e vinte anos desde a última vez que nós vimos — ele responde incrédulo.

— O quê?!

Afasto-o sem conter o horror em minha face, pois isso é um absurdo!

Não pode ter passado tanto tempo, afinal saberia disso, mas nem é o principal, essas pessoas morreriam, pois essa é a ordem natural.

— Você criou um paradoxo, o tempo flui de maneira diferente aqui, todos ganharam longevidade pela sua presença em Njal — Máni explica seriamente, a tensão marcando seu semblante — Eles não morrem de doenças, dificilmente têm mortes aqui.

Analiso cada palavra sem conter o choque, pois é a verdade. Todas as doenças que vi ao longo dos meus anos não existem nesse lugar, nenhuma mulher morre no parto, os homens, por mais que sejam bárbaros guerreiros, sempre voltam com vida, exceto caso seja um ferimento muito fatal, como decapitação, por exemplo. Fora isso, todos são facilmente tratados.

Há dois anos, um dos guerreiros teve sua garganta cortada, a morte era certa, mas conseguiram impedir o fluxo de sangue a tempo da chegada de um curandeiro e o homem foi salvo.

Nunca liguei para isso, pois acreditei fielmente que era apenas um acaso ou proteção dos deuses, mas não tem nenhuma proteção, pois assim que pisei aqui, meus poderes barraram a visão dos deuses.

Fui eu... eu quem fez tudo isso!

— Isso tem a ver com meus poderes? — olho apavorada em sua direção. — Eles são os mesmos, minha consciência é a mesma, sinto a humana, mas sou a líder desse corpo.

Máni evita meu olhar por alguns instantes, com o semblante culpado e ansioso.

O que mudei vindo para cá?

Mamãe puxa levemente meu braço, chamando minha atenção, mas não consigo olhar em sua direção, não com a culpa que está pesando em meu peito.

O que foi que eu fiz?

— Espere, o que está acontecendo? — Rana suplica nervosa ao apertar meu braço. — Por que ele a chamou de Serpens?

Máni desvia o olhar para os humanos no recinto, parecendo incerto sobre o que falar, mas não tem mais o que esconder, pois todos eles são imortais, ao menos enquanto viver, merecem saber a verdade.

— Máni, o que aconteceu comigo? — olho pedinte para ele, em resposta ele suspira pesadamente.

Ele eleva a mão na testa, um gesto típico de quando está com enxaqueca, que somente ocorre quando o estresse é demais, e senta ao meu lado naquela cama, sem conter o semblante inquieto.

— Sua consciência é a mesma, pois a alma da humana que se fundiu à sua, não ao contrário como deveria ser — Máni responde sério.

Ela... eu... ela não... eu não sou ela, a humana que se tornou parte de mim?

— O quê?

Máni suspira pesadamente, antes de me olhar de uma maneira que nunca vi, pois não estou na presença de meu melhor amigo e irmão, mas na presença do Deus que é meu superior.

Nunca fui repreendida, desde o início da minha existência sempre cumpri meu papel, então não sei o que posso esperar dele assim, pois ele e sua irmã são responsáveis pelas estrelas, ele em principal por ser o Deus da Lua, os seres celestes fazem parte da noite, onde habitam seus domínios, logo devemos obedecê-lo.

— Aquela humana estava morta, você mandou metade da alma dela para Helheim, a outra ficou e fundiu-se a você. A humana não poderia ter consciência, por esse motivo você ficou no comando, pois a parte viva é sua — ele me olha com pesar, antes de desviar os olhos para longe, como se pensasse naquele tempo — Ela é parte da sua alma, como um guia espiritual, nunca conseguiu contatá-la por ela ainda estar aprendendo, ela não foi para um lugar onde poderia esperar para voltar a Midgard ou se preparar para ser um guia.

Então, não salvei aquele ser?

Apenas tomei seu lugar... vivendo a vida que seria dela?

Ela apenas está aqui, aprendendo comigo, estando ao meu lado, me auxiliando no crescimento espiritual?

No momento em que precisar, ela vai ser minha ajuda, como um dever que a alma dela não precisava ter, mas agora faz parte de quem ela é.

Isso é injusto!

Nunca quis tomar seu lugar, fazê-la como uma guia, em que a existência dela depende unicamente de mim. Queria apenas lhe dar a oportunidade de viver, conhecer a maravilhosa mãe que Rana é, deixá-la crescer e experimentar tudo... tudo que estou experimentando.

— Alya, o que ele está falando? — Rana chama minha atenção, fazendo-me suspirar culpada. — Quem é essa humana?

Olho para Máni em busca de ajuda, não sei se consigo admitir isso, mesmo que seja minha obrigação fazê-lo, pois dói pensar no sofrimento que ocasionará a ela.

— Serpens, quando passou a morar aqui, criou uma proteção em volta desse lugar. Nenhum Deus pode olhar nessa direção, como se Njal não existisse, somente pude vê-la, pois ao me chamar, deu-me direito de pisar aqui.

Suspiro ao ouvi-lo, esperava que não fosse o caso, mas, pelo visto, minha lista de crimes apenas aumentou aos olhos dos Deuses, agora não escaparei da ira imposta por eles.

Odin deve estar devastando Valhalla diante da raiva que provavelmente despertei nele.

Será que ele vai esperar Máni voltar para contatar os deuses ou já está preparando um exército para me buscar?

— O que acontece, se... eles descobrirem? — olho ansiosa para Máni.

Ele se levanta, caminhando até a janela com os olhos fixos nos céus, como se estivesse contemplando a pergunta ou simplesmente se preparando para verbalizá-la.

— Provavelmente Odin já sabe, ele ficaria curioso ao saber que um Deus pisou em um local onde não existe, então lógico que ele espiou para saber o que está acontecendo aqui — Máni admite ansioso.

— Eles não vêm para cá, né?

Máni desvia o olhar para mim, o que ocasiona um arrepio em meu corpo, como um aviso.

— Não sei que poderes você possui, por cento e vinte anos manteve esse lugar escondido e as pessoas vivas, nem mesmo Odin soube de nada do que fez, somente entrei aqui com sua permissão, então acredito que eles não podem vir aqui.

Essas palavras deveriam me alegrar, mas somente ocasionam mais ansiedade em meu peito, pois é pior eles não poderem entrar, será uma afronta mortal contra os Deuses e eles vão querer retaliação.

— Odin vai me matar!

Máni ri sem humor, faço uma careta em resposta.

— Não, possivelmente ele vai te torturar.

Reviro os olhos em descrença.

Máni, seu humor mórbido não está ajudando!

— Máni, se sair daqui, o que acontece com os humanos? — olho ansiosa em sua direção.

Ele desvia o olhar para a janela, contemplando a paisagem.

— Todos morrem.

Certo! Isso está subindo para um nível que não estou gostando!

— Chega! Alya, exijo saber o que está acontecendo! — Rana vocifera, ansiosa.

Volto a atenção para Rana, que ainda mantém o olhar confuso, mas firme em minha direção.

Ela ficará destruída com a verdade, em saber que sua amada filha, de fato, está morta, pois minha genética misturou-se com a pequena humana, unindo-nos como um único ser. Ela deixou de ser humana para tornar-se parte de mim.

Mas não sou mais uma estrela, ou sou?

— Mãe, preciso que me escute com atenção — elevo a mão em um pedido mudo. Apesar de confusa, ela senta ao meu lado. — Ouça tudo primeiro, por favor.

Rana apenas assente, sem alterar o semblante.

— Sou Rasalhague ou Serpens se preferir, a estrela mais brilhante da constelação da serpente. Você foi dada a mim como afilhada, tenho lhe observado desde antes do seu nascimento, a acompanhei durante toda sua vida, tanto que sabia o quanto sofria pela partida de seu Magnar. Apesar disso, seguia feliz pelo bebê que carregava, mas infelizmente essa criança morreu em seu útero.

Ela somente me olha confusa, apertando cada vez mais meu coração.

— O que você... mas... por que está falando isso? — Rana murmura em choque.

Não tiro o direito de duvidar, isso é absurdo, até mesmo para mim.

— Você estava dando à luz no alto de uma colina, completamente sozinha, pois estava admirando as estrelas, me admirando em específico — começo, fazendo-a arregalar os olhos, incrédula.

Ela percebe a verdade em minhas palavras, pois nunca falou aquilo para ninguém, nem mesmo para mim.

— Quando vi que sua criança estava morta, não pude deixar de interferir. Sem que ninguém além de Máni soubesse, vim a Midgard, parti a alma da sua filha em duas, assim como fiz com a minha, metade uniu-se a ela para ir a Helheim, a outra uniu-se para ficar em Midgard. Era para ela ter controle total desse corpo, sem nenhuma interferência minha, mas não foi o que ocorreu.

Rana levanta-se de supetão, com os olhos arregalados em choque.

Em toda minha existência, já vi muitas formas de dor, mas observar o semblante confuso e lentamente sofrido de Rana é o pior sentimento que poderia sentir, pois meu coração simplesmente despedaça diante da imagem em minha frente, é pior do que vi durante a partida de Magnar.

— Não... isso... é mentira! — Rana balbucia nervosamente.

É impossível conter o choro diante de sua face horrorizada, sinto a tristeza e confusão que ela pulsa, tão grande, chega a ser um sentimento esmagador.

— Mãe... Rana, me perdoe, nunca quis fazê-la infeliz, pensei que realmente estava salvando sua filha, me perdoe — peço aos prantos.

Os olhos dela são pura agonia, as lágrimas escorrem livremente pela sua face, em uma dor profunda que jamais vi.

Sem me responder, ela sai porta afora, deixando-me confusa e sem saber o que devo fazer.

Tenho que segui-la?

O direito de interferir em sua vida continua em minhas mãos?

Não, mas como apagar esses anos de amor, carinho e dedicação?

Que importância tem se ela não me gerou?

Rana é a mãe que conheci, cuidou de mim com um amor incondicional desde o primeiro instante e eu a amo como minha mãe. Esse sentimento não vai mudar, mesmo que o dela por mim mude.

Levanto-me de supetão, preciso chegar até ela. Rana tem que saber que não está sozinha!

Não dou nem dois passos até ser parada por Leif, seu olhar sério e autoritário me paralisa totalmente.

— Deixa que vou atrás dela. Rana não quer lhe ver no momento, dê um tempo para ela — ele responde calmamente.

Aceno incerta em concordância, vendo-o segui-la com uma calma desconcertante.

Não sou filha dela, lógico que ela não quer me ver!

Minhas pernas falham, levando-me ao chão, tomada por sentimentos que até hoje não senti na pele. Uma perda intensa toma conta do meu coração, pois amo Rana como se ela fosse mesmo minha mãe, ela é a última pessoa que gostaria de magoar.

Não quebrei apenas sua confiança, mas seu amor por mim acabou no instante em que admiti tudo.

Como sou egoísta!

Não existe amor por mim, ela nunca me amou verdadeiramente!

Ela ama a filha que via em mim, os sentimentos de mãe nunca foram realmente para mim, são para a humana e não posso me lamentar por isso, pois é assim que deve ser.

Mas dói muito saber que não terei mais seu carinho, não serei mais a sua filha.

Meu coração está completamente despedaçado, em uma mistura de sentimentos, nenhum deles sequer me deixa respirar.

Perdi tudo.

Minha filha, minha amada filha, que esperei tão ansiosa por longos meses, fantasiando sobre como ela seria, como viveríamos uma para a outra, meu bebê era a minha vida.

Ela está morta.

Aquele corpo é o dela, mas não lhe pertence mais, sua alma está em Helheim, pela eternidade será assim, pois ela nunca poderá retornar ou sequer seguir, pois metade dela está com... ela.

Serpens é a estrela que viveu tudo que deveria ser de minha pequena.

Meus joelhos cedem, me levando ao chão, enquanto um grito estridente rasga minha garganta, ecoando pela floresta como um som sombrio e triste, exatamente como me sinto.

Por quê?

POR QUÊ!!!!!

— HEL! NÃO É JUSTO, NÃO PODERIAM TIRÁ-LA DE MIM, MINHA ALYA É TUDO QUE EU TINHA!

Meu grito ecoa pelo local num desespero absurdo.

Minha família, meus pais... Magnar... Alya...

Não mereço ser feliz?

Nada vai aplacar essa dor absurda, tão intensa que parece devorar meu coração.

Que motivos tenho para estar aqui?

Todos que amo partiram!

Pensei que perder Magnar fosse a pior dor que sentiria, mas perder minha filha é milhões de vezes pior, pois ela é minha vida toda.

Braços fortes me rodeiam, fazendo-me chorar mais, pois sinto uma angústia sem fim.

— Rana!

— Perdi tudo... Leif... perdi tudo! — balbucio ao reconhecer sua voz.

O abraço intensifica, carinhosamente ele coloca-me em seu colo, afagando meus cabelos com um cuidado extremo, tão diferente do guerreiro sem tato que ele é.

— Rana, não posso dizer que sei o que sente, acredito que somente quem perdeu um filho saberia, mas quero que saiba que, apesar de tudo, Alya está com você. Um filho não substitui o outro, mas você a criou com amor e carinho, dedicando cada instante da sua vida a ela. Acredito que ela conheceu o verdadeiro amor com você.

Olho incrédula ao escutá-lo.

Alya... Rasalhague ou Serpens, sabe-se lá qual é o nome dela. Foi com ela que passei todos esses anos, protegendo, cuidando e principalmente a amando profundamente.

Mas como tirar essa sensação do meu coração?

Essa dor por perder minha filha?

— Isso dói tanto! — sussurro chorosa, aconchegando-me em seu abraço.

Leif suspira, abraçando-me apertado por longos minutos.

Choro sob seu peitoral, sem me importar se estragará sua roupa, pois tudo que quero é tirar todo esse sentimento, que parece me sufocar.

— Sinto que vou enlouquecer, é tanta dor em meu coração, mas também sinto amor por ela, pela Alya ou sei lá como ela quer ser chamada — murmuro em meio ao choro.

— É uma dor que precisa viver, é seu luto, mas não se sinta culpada por amar Alya, não importa quem ela realmente é, somente o que importa são os sentimentos que ambas possuem, pois são mãe e filha, isso não pode mudar — ele responde carinhoso.

Concordo, chorando copiosamente, pois mal consigo pensar, tudo em minha mente é um caos completo, sem qualquer luz.


Os braços calorosos de Máni em minha volta me levam a chorar mais, pois sinto uma mistura de sentimentos, em especial a culpa. Não deveria interferir na vida dos humanos, contrariar as ordens dos Deuses e interromper o ciclo natural, pois não evitei a dor, apenas a adiei, isso aumenta a intensidade dela.

Não quero nem imaginar o sofrimento de Rana, pois ele será multiplicado a cada vez que olhar para mim.

Será certo continuar aqui?

Alimentando o sofrimento dela, lhe dando apenas motivos para desistir, pois não sou sua amada filha, ela apenas seguiu em frente por mim. Se ela não tem isso, então não possui mais motivos.

— Máni, existe possibilidade de voltar para casa? — olho em sua direção, apavorada, em busca de respostas.

Ralf me olha incrédulo, suspirando audivelmente, esqueci da presença dele no recinto. O coitado deve estar apavorado com toda a história, não lhe tiro a razão, pois é absurda e confusa.

Como ele não ficaria assim?

— Serpens, disse para você que não tinha volta, não pode voltar para o céu — Máni responde sério.

Não posso voltar, sequer posso mudar o que fiz!

Tudo por minha culpa, esse sofrimento inteiro é culpa minha!

Máni ajoelha-se no chão, ao lado da cama, segurando firmemente em minhas mãos, fazendo-me olhá-lo curiosamente.

— Se sair desse lugar, todos vão morrer instantaneamente, aqueles que já vivem há muito tempo e os outros serão condenados ao mesmo destino como um castigo para você — Máni anuncia, pesaroso.

Olho incrédula em direção.

Milhares de vidas nas minhas mãos, minhas escolhas podem os condenar!

— Ela está ligada à nossa vida? — Ralf pergunta trêmulo.

Máni suspira, cansado.

— Serpens é uma estrela, seu lugar é no céu, não em Midgard. Quando ela pisou aqui, transformou todo o lugar em sua morada — Máni balbucia, pensativo, evitando olhar para Ralf — Tudo passou a ser seu domínio, inclusive os moradores, por isso o tempo passa mais lentamente, também esse é o motivo de não envelhecerem, como se seguissem o ciclo natural das estrelas. Enquanto ela viver, vocês também vivem.

O barulho do corpo de Ralf caindo contra a cadeira me fez pular levemente.

— O que vai fazer? — a voz de Ralf ecoa totalmente trêmula.

Ele está apavorado, normal estar assim, imagine quando todos os humanos souberem?

O que devo fazer?

— Ficar aqui e seguir com a vida, como deve ser — Rana responde por mim.

Olho em choque para a porta, vendo-a com o rosto inchado, os olhos opacos e as mãos trêmulas. Ela está amparada por Leif, que a segura com firmeza, como se estivesse dizendo que será sua âncora naquele momento.

Nunca pensei que ele pudesse ser esse tipo de pessoa, mas é nas horas difíceis que encontramos quem precisamos, não?

Rana merece ter alguém assim ao seu lado, para lhe dar todo suporte, pois sei que não será fácil conviver comigo, mas não posso sair daqui, não com a chance de condenar todos.

Como posso viver sabendo as vidas que tirei?

Mas estar aqui vai ocasionar uma grande dor para ela.

— Não me olhe assim, essa... situação é totalmente absurda, perdi uma filha, minha menina morreu no parto, mas uma parte dela está em você — Rana inicia, evitando me olhar — Alya... não sei como quer ser chamada, mas para mim será assim, você é minha filha, mas está doendo em mim essa perda, então me dê tempo.

Tempo?

Não é um pedido injusto, pelo contrário, é o que ela precisa, não posso lhe negar, principalmente por ser a culpada pela sua dor.

— Rana decidiu ficar aqui por uns dias, a casa de vocês não será segura, todos estão alvoroçados — Leif chama minha atenção.

— Tudo bem, fico lá — balbucio nervosamente, fazendo-o rir.

— Para sua segurança, é necessário mudar também.

— Não posso ficar aqui, a mamãe precisa de espaço! — murmuro nervosa.

Ao me ouvir chamá-la de mãe, seu corpo travou instantaneamente.

— Viu? Ela não está confortável comigo, precisa ficar longe de mim e não posso ir embora, se não todos morrem!

— Podemos fazer uma casa para você...

— Não é necessário, fico em casa, acredito que já ficou comprovado que sou capaz de me defender — interrompo Ralf.

Sem escolhas, eles concordam, assim como Rana, embora ela evitasse me olhar.

— Serpens, vou voltar, preciso ver os danos, fique de olho nos céus, vou tentar lhe mandar uma mensagem.

Sorri em direção ao Máni, sei bem que ele provavelmente não poderá vir pessoalmente, dificilmente vai conseguir me enviar mensagens, somente posso esperar pelo embate.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro