Caos no Palácio - Parte I
Willa caminhou pelo corredor do palácio ao lado Khalid sentindo o peso dos olhares curiosos que pareciam segui-los. Se perguntou se aquele trage não era exagerado demais, ou se algo neles denunciava pertencer mulheres da casa de senet onde haviam passado a noite. Embora o quarto nos fundos sem sequer uma janela fosse claustrofóbico, o colchão de palhas e os lençóis de algodão cru eram muito mais confortável que a esteira que ocupava na casa de Khalid. Mesmo assim não conseguiu pregar os olhos imaginando se seu senhor já havia partido e a deixado para trás a sua própria sorte.
Sentia-se traída, pois por mais que o general a tratasse com aspereza, Willa acreditava que por suas ações em favor dela desce que o faraó a jogou aos pés dele, nutria algum tipo de carinho ou mesmo respeito. Mas agora ele a entregava a uma casa de prostituição, um lugar que tornaria até mesmo seu espírito impuro e incapaz de ascender as estrelas junto a seus antepassados.
Enquanto o sacerdote do palácio os conduzia até seus aposentos, ela notou um movimento furtivo nas sombras próximas. Um breve vislumbre do rosto queimado de Abdul, a fez erguer sutilmente as sobrancelhas, ansiando poder falar com ele.
Assim que chegaram a porta dos aposentos, a jovem não resistiu arranhando a garganta e interrompendo as instruções do sacerdote sobre os próximos dias.
一 Senhor Khalid... Eu vi uma gravura tão linda ali atrás, poderia ir vê-la com mais atenção? 一 Pediu, e seu senhor assentiu com a cabeça. Willa sorriu em resposta e voltou-se rapidamente para o corredor repleto de colunas entalhadas com diversas gravuras.
Ao virar uma esquina, seus olhos encontraram os de Abdul, cujo olhar a admirava com uma ternura palpável. Surpresa, Willa sentiu seu coração acelerar, de um calor reconfortante. Ela sorriu suavemente para ele, deixando transparecer o carinho que nutria por aquele rapaz cuja presença a fazia sentir-se em casa.
一 Você está linda 一 ele a olhou dos pés à cabeça.
一 Essa cerimônia parece realmente importante, até mesmo o senhor Khalid vestiu algo diferente dos trajes costumeiros.
一 É o anúncio do nome do próximo faraó. Depois da coroação, imagino que este seja o acontecimento mais importante de todo o Egito 一 ele respondeu, sentindo a delicadeza da mão de Willa ao tomar uma de suas.
一 Não pude ir ao templo, mas mais do que nunca precisamos fugir. Escolhi os vestidos e as jóias mais valiosas, acha que são o suficiente para deixarmos o Egito?
一Eles parecem realmente valiosos, mas fugir agora? De dentro do palácio real? 一 Abdul questionou incrédulo 一 Este deve ser o lugar mais bem vigiado de todo o Egito.
一 E que oportunidade melhor teríamos? Estão todos ocupados com o príncipe e os festejos. Por favor, Abdul, o senhor Khalid pretende me deixar em uma casa de Senet assim que deixarmos o palácio. Prefiro morrer em uma fuga do que passar um dia sequer em uma vida como aquela.
一 Uma casa de Senet? 一 ele indagou pensativo. 一 Meu senhor me levou com ele uma vez, achou que seria engraçado. Mas enfim, há muita riqueza numa casa dessas. Em pouco tempo, teríamos mais que suficiente para começar uma nova vida em outro lugar.一 Disser Willa sentiu um no seu formar em sua garganta.
一 Como pode me sugerir isso? Só precisamos o suficiente para chegar à Pérsia. Minha família vai nos acolher."
一 Eles acolheram você.
一 Você ainda é o príncipe dos Arameus, o único que restou. Seu tio está usurpando o trono que é seu por direito. Meu pai é um homem justo, não tenho dúvidas que ele lutará por seu direito.
Abdul virou-se para ela, colocando o manto sobre a cabeça enquanto a balançava negativamente.
一 Willa... aquela vida está morta para mim, nem os exércitos de seu pai ou todos os exércitos do mundo poderiam me colocar naquele trono de novo. Olhe para mim. Eu sou um eunuco. Sabe o que isso significa? Meu rosto não foi o pior que fizeram comigo. De que serve um rei que nem herdeiros pode gerar?"
一 Eu não me importo com isso e o meu pai..
一 O seu pai vai lhe casar com qualquer um que puder oferecer algo a ele e eu não tenho nada. Se voltar à Pérsia, nunca mais nos veremos, sabe disso. Talvez seja isso que queria afinal? Como posso culpa-la? 一 ele recuou virando as costas.
一 Não, Abdul.一 Ela disse segurando-o fazendo com que se voltasse a ela novamente tocando seu rosto queimado com delicadeza fazendo com que a encarasse e em seguida beijou-lhe os lábios e ele retribuiu antes de afasta-la gentilmente.
一 Eu preciso ir, se sentirem minha falta serei punido e se nós virem, nos dois seremos castigados. Mais tarde podemos nos encontrar, todos estarão preocupados de mais com a festa e já me disseram que devo me manter longe dos convidados. Há um jardim interno próximo a sala do trono, me encontre lá depois que o sol baixar. Ele disse e Willa concordou com a cabeça antes de ver o jovem se afastar com o corpo curvado e manto cobrindo o rosto. Não havia sobrado muito do Abdul com quem cresceu, o jovem forte e sorridente que gostava de caçar e que trazia dor de cabeça a mãe por seu apreço por se desafiar escalar os muros e torres mais altas da fortaleza, era tão triste vê-lo daquela forma que nem sequer conseguiu sentir raiva da sujestão que lhe fez.
Quando retornou aos aposentos e encontro Khalid junto a imensa janela com uma taça de vinho em mãos e olhos perdidos ao longe.
一 Confesso que estou impressionado em ele estar vivo. 一Falou chamando a atenção da jovem que retirada o véu que usava sob a cabeça. 一Acha que eu acreditei que foi ver os relevos da parede? Aliás é uma péssima mentirosa então quando Pashedu a procurar, melhor contar a verdade ou ele saberá e vai mata-la antes que perceba.
一 Como se você se importasse com isso. 一Ela disse disse retirando as pulseiras e colocando sob a mesinha. 一 Vai me vender a um prostíbulo nojento. Porque vai fazer isso? Não é por quanto pagariam por uma princesa, você não precisa de ouro. É por ela? Neferet quer uma princesa como atração em sua casa, para que os egípcios comuns se sintam como nobres, humilhando e subjugando sangue real como Nebhotep vem fazendo com Abdul? Questionou já não conseguindo segurar a ira.
一 Quem lhe contou?
一 E quem mais? A sua puta, Neferet.
一 Não fale assim dela, ela tem mais classe e honra que metade da nobreza que já conheci. Além do mais no Egito não há indignidade em nenhum trabalho que não desafie a vontade dos Deuses ou atente contra o patrimônio de outras pessoas. 一 ele disse estendendo a taça a ela para que a enchesse novamente 一 Você não passa de uma criança criada em uma fortaleza repleta de pastores puritanos, não sabe nada da vida ou do mundo, talvez Neferet lhe ensinar algo.
一 E o que eu aprenderia? A como continuar abrindo as pernas a qualquer um mesmo sendo uma anciã? 一 Respondeu e Khalid lançou a taça de estanho contra ela que desviou-se a tempo de ser acertada 一 Eu vi você saindo do quarto dela esta manhã, foi assim que ela pagou por mim?
一Se abrir a boca mais uma vez para falar contra Neferet, eu vou lhe bater tanto que as pessoas acharam mais agradável olhar para seu príncipe pastor 一 Ele disse se aproximando e tomando-a pelo braço encarando os olhos dela com tamanha fúria que Willa percebeu o tom dourado do chacal ganhando força nos olhos negros de Khalid. 一 Sua vida me pertence e eu faço o que quiser com ela, entendeu? 一 agora lave essa tinta do seu rosto e pare de resmungar, vamos falar com Pashedu e resolver essa questão. Anda!
Willa puxou o braço tirando-o de seu punho sem recuar o olhar, sabia que ele não cumpriria a promessa, mas decidiu se calar sobre Neferet. Lavou o rosto e acompanhou seu senhor até o subsolo do palácio, estava claro que Khalid havia desistido de seu plano inicial, na certa não confiava que ela conseguiria ser convincente o suficiente para que Pashedu o deixasse em paz, mas agora não fazia ideia do que passava pela cabeça dele.
O cheiro forte de sal e natrão preencheu suas narinas enquanto rumavam a sala do velho Sunu. Um guarda fazia a vigia da porta e deu lhes as passagem assim que Khalid insistiu com certa veemência. Assim que cruzaram a antesala, avistaram Pashedu, sentado em uma mesa ao canto, concentrado na leitura de um papiro.
一Pashedu.一 Khalid chamou a atenção velho que se voltou a ele num misto de surpresa e curiosidade.
一 General, que surpresa 一 disse o velho se levantando com dificuldade.
一 Ah eu quis evitar lhe dar o trabalho de procurar pela minha serva e a trouxe até aqui, assim ela pode relatar o que descobriu com seus dias de espionagem, não é mesmo menina?! Ande, conte a ele sobre o que viu.
Willa sentiu um no seu formar a garganta ao ser encarada por Pashedu, gaguejou um pouco ao começar o relato sobre a noite da invasão, mas sempre que parava ou se buscava olhar de Khalid para tentar entender se estava dizendo o que deveria, ele assentiu com a cabeça ou insistia que ela detalhasse tudo ao velho.
.... e depois eu fiz um ensopado d peixe com muita cebola e percebi que o senhor Khalid parecia muito esse tipo de comida.一 ela finalizou ainda trêmula enquanto sentia os olhos de Pashedu sobre ela..
一 Satisfeito? 一 perguntou ao velho levantando uma de suas sobrancelhas d maneira provocativa. 一 Não há nada para descobrir sobre mim que já não saiba, Pashedu. Eu sou o que sou e isto não é mais segredo desde que eu jurei a minha espada ao grande Chacal e ao trono Egípcio. Todos nós possuímos uma alma imortal, mas a minha está presa a este mundo a este corpo, até que Anúbis decida o contrário, não há mágia, além da vontade dele e sim, você não tem muitos anos pela frente, vou vê-lo morrer e virar pó e não há nada que você ou mesmo eu possamos fazer para mudar isso. Nem que devorasse cada pedaço meu, eu acordaria de novo, acredite não há nada que homens como você não tenham tentado. Então aproveite os anos que lhe restam longe de mim ou terei de levar ao conhecimento do Faraó sobre sua espionagem, a qual, eu sendo um general egípcio é punível com a morte.
一 Não quando esta espionagem tem em vista, os interesses do trono. 一 retrucou o velho.
一 Está dizendo que o faraó está ciente e de acordo com isto.
一 Não, mas se qualquer membro do alto clero como eu, detecta uma possível ameaça a segurança do reino ou do faraó, deve agir para a proteção dos interesses da coroa.
一 Não sou uma ameaça ao faraó.
一 A sua existência é uma ameaça ao faraó e a toda a sua dinastia. O que seria mais perto de um Deus do que um homem que não pode morrer? Mas não se preocupe, creio que eu já tenha tudo que preciso. Agora se não se importam, os festejos já devem estar começando, eu devo me preparar.
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