Após o intenso encontro como Isla Frost, Laura finalmente se retirou para os bastidores, sentindo-se emocionalmente exausta. Assim que Rafael fechou a porta do camarim, ela arrancou os saltos altos com um suspiro de alívio. 

— Como alguém aguenta usar isso por mais de cinco minutos? — ela resmungou, massageando os pés. 

Rafael, sempre espirituoso, riu. 
— Querida, as mulheres da alta sociedade não "aguentam", elas "dominam". E você acabou de dominar o Andrew Annenberg e sua sala cheia de bajuladores. Parabéns, diva! 

Laura revirou os olhos, mas não pôde deixar de sorrir. Ainda assim, o peso da mentira pairava sobre ela. Ela olhou para o espelho, onde ainda estava refletida a figura de Isla Frost. O cabelo platinado, a maquiagem impecável e o olhar calculado não eram seus. Ela precisava sair daquela máscara, voltar a ser quem era, mesmo que por algumas horas. 

Ela abriu uma caixa no canto do camarim e retirou uma peruca feita especialmente para a ocasião. Os cabelos castanhos eram idênticos aos seus antes da transformação, com fios naturais que ela própria havia cortado antes de pintar o cabelo para se tornar Isla Frost. Colocou a peruca com cuidado, ajustando-a para que ficasse perfeita. Ao terminar, o platinado deslumbrante havia desaparecido, dando lugar ao castanho simples e desarrumado que ela usava todos os dias. 

— Isso é um golpe de mestre, você sabe disso, né? — comentou Rafael, observando enquanto Laura recolhia seus óculos de armação grossa e os colocava no rosto. 

— Golpe de mestre ou golpe de sorte, eu só quero sobreviver a isso. — Ela respondeu, tirando os cílios postiços e limpando a maquiagem com um lenço umedecido. Seu rosto, agora limpo, exibia novamente as sardas leves e a pele natural que a faziam parecer tão comum. 

Rafael riu e cruzou os braços, encostando-se na porta. 
— Você percebe que está vivendo uma novela mexicana, certo? 

— Se isso fosse uma novela, eu teria um final feliz. — Laura rebateu, pegando sua bolsa e jogando dentro dela os brincos brilhantes que usara como Isla. — Mas, na vida real, eu sou só a roteirista desajeitada que está vivendo uma mentira gigante. 

Ela saiu do camarim, agora de volta à sua rotina como Laura. Caminhou pelos corredores da empresa, cumprimentando os colegas com acenos rápidos, até chegar ao seu cubículo. Era um espaço pequeno, desorganizado, mas era o único lugar onde ela se sentia realmente confortável. 

Mais tarde naquele dia, Andrew enviou uma mensagem coletiva para sua equipe de produção: um convite para um jantar de agradecimento. Ele queria comemorar o sucesso inicial do reality show, que já estava atraindo a atenção da mídia antes mesmo de começar. 

Laura revirou os olhos ao receber o convite. 
— Um jantar? Com ele? — murmurou para si mesma. 

No entanto, como parte da equipe, ela sabia que não podia recusar. Naquela noite, Laura vestiu algo um pouco mais apresentável: um vestido simples, azul-marinho, e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo. Nada que chamasse muita atenção. Ainda assim, ela parecia mais arrumada do que no dia a dia. 

O jantar foi realizado em um restaurante sofisticado no centro da cidade. Quando Laura chegou, a maioria dos colegas de trabalho já estava lá. Andrew, como sempre, estava no centro das atenções, cercado por produtores que riam de suas piadas. 

Laura se sentou em uma ponta da mesa, perto de outros roteiristas, tentando passar despercebida. No entanto, em determinado momento, ela sentiu os olhos de Andrew sobre ela. Ele estava do outro lado da mesa, com o que parecia ser um leve olhar de curiosidade. 

Ele inclinou a cabeça, como se tentasse conectar algo. 
— Ela me lembra alguém... — pensou, mas não deu muita importância. Afinal, em sua mente, Laura Valença era apenas mais uma funcionária, alguém que escrevia roteiros e passava despercebida pela maioria. 

Laura percebeu o olhar, mas disfarçou, voltando sua atenção para o copo d'água à sua frente. 

Andrew, por outro lado, logo descartou a ideia. 
— Deve ser coincidência. Ela é só... Laura. 

E assim, a noite continuou, com Andrew voltando a ser o centro das atenções e Laura agradecendo internamente que, por enquanto, seu segredo estava seguro. Mas, ao mesmo tempo, um desconforto crescia dentro dela. A convivência entre as duas personas – Laura e Isla – já começava a pesar, e ela sabia que não seria fácil manter o equilíbrio por muito tempo.