Capítulo 18: Laura ou Isla?
Laura saiu do salão sentindo o peso do papel que desempenhava como Isla. O personagem que construíra era cheio de nuances, uma mistura de mistério e vulnerabilidade que ela sabia ser irresistível para alguém como Andrew. Cada palavra fora calculada, cada pausa meticulosamente planejada para manter o equilíbrio delicado entre proximidade e distância. No entanto, interpretar Isla não era fácil, especialmente porque, por mais que fosse ficção, a conexão que Andrew parecia sentir era perturbadoramente real.
Enquanto se afastava, sentiu o toque firme de uma mão em seu braço. Surpresa, virou-se rapidamente e encontrou os olhos intensos de Andrew. Havia algo em sua expressão que a desarmava. Ele não estava apenas curioso ou interessado. Ele parecia genuinamente... comovido.
— Isla... — ele começou, hesitando como se procurasse as palavras certas. — Eu sei que você quer ir, mas... quero te mostrar algo. Um lugar especial. Por favor, venha comigo.
Laura, por um breve momento, considerou recusar. Era arriscado. A personagem que ela criara jamais deveria parecer curiosa demais ou interessada o suficiente para seguir um homem que mal conhecia. Mas, ao mesmo tempo, Isla também era imprevisível e misteriosa.
— Ah... lugar especial? — perguntou ela, inclinando levemente a cabeça, deixando o sotaque finlandês escorregar de forma natural. — Por que eu ir... com você, Andrew?
Ele sorriu de um jeito que quase a fez perder o controle de seus próprios sentimentos. Era um sorriso desarmante, carregado de algo mais profundo que charme.
— Porque eu quero que você veja algo que significa muito para mim. É uma parte de quem eu sou, e talvez... ajude você a entender que eu não sou tão diferente assim de você.
A resposta pegou Laura desprevenida. Ele estava abrindo uma porta que ela não esperava. Suspirando internamente, decidiu seguir. Afinal, isso fazia parte do jogo. Ou ao menos era o que ela repetia para si mesma.
O carro os levou para fora da cidade, deixando para trás o brilho artificial das luzes urbanas. O caminho era longo, mas Andrew parecia relaxado, dirigindo em silêncio enquanto ela observava a paisagem mudar. A estrada serpenteava por entre colinas, e o céu estrelado parecia se expandir acima deles. Laura, mesmo em sua interpretação de Isla, não conseguia deixar de se sentir tocada pela beleza do momento.
Finalmente, Andrew parou o carro em uma pequena estrada de terra que levava a um bosque. Eles saíram, e ele a guiou com passos seguros, como se conhecesse cada pedra e curva do caminho. Após alguns minutos caminhando, a vegetação se abriu, revelando um lago cristalino cercado por árvores imponentes. O local parecia mágico, como se fosse tirado de um conto de fadas.
No centro da clareira, havia um banco de madeira simples, mas bem cuidado, com um pequeno jardim de flores silvestres ao redor. Uma brisa suave fazia com que a superfície do lago ondulasse levemente, refletindo as estrelas e a lua cheia.
— Este lugar... — Andrew começou, olhando para o lago como se fosse uma janela para outro tempo. — Era o favorito da minha mãe. Ela costumava me trazer aqui quando eu era criança. Sempre dizia que esse lugar era como um espelho da alma: se você está em paz, ele reflete serenidade. Se está inquieto, o lago parece dançar.
Laura viu a expressão de Andrew suavizar, o peso de uma lembrança clara em seus olhos. Ele continuou:
— Quando ela morreu, eu passei muito tempo aqui. Tentando encontrar... alguma conexão com ela, sabe? Como se as memórias que temos fossem insuficientes.
Ele olhou para Laura, e sua vulnerabilidade a atingiu como uma onda inesperada. Por um momento, Laura não era mais Isla. Ela era apenas alguém que testemunhava a dor genuína de outra pessoa, e isso a fazia sentir-se exposta de uma maneira que não previa.
— É... muito belo, Andrew — ela disse, sua voz mais baixa do que o normal. — E... sua mãe? Ela... como era?
Andrew sorriu com uma ternura que fez Laura querer desviar os olhos. — Ela era como este lugar. Forte, mas gentil. Sempre sabia o que dizer para acalmar qualquer tempestade. Acho que é por isso que sempre volto aqui. É como se ela ainda estivesse comigo.
Houve um silêncio carregado de significados. Laura sentiu o coração apertar. Por um momento, quis abandonar a atuação. Quis se revelar, mostrar quem era de verdade, mas sabia que não podia. Isla tinha um papel a desempenhar, e Laura precisava continuar a história.
Ela finalmente respondeu, sua voz mais hesitante do que gostaria:
— Eu entende isso. Lugar assim... faz coração... lembrar. Guardar amor... mesmo longe.
Andrew olhou para ela com uma intensidade que a deixou inquieta. — E você, Isla? Tem um lugar assim? Algo que te conecta com quem você realmente é?
Laura sentiu a pergunta atravessá-la. Era uma pergunta para Isla, mas soava como um chamado direto a ela mesma. Fingindo pensar, ela desviou o olhar para o lago.
— Talvez... sim. Mas... difícil falar. Não tem palavras.
Andrew assentiu, como se entendesse. Ele se sentou no banco, indicando para ela fazer o mesmo. — Tudo bem. Às vezes, não precisamos de palavras. Só precisamos... estar no momento.
E, por alguns minutos, foi o que fizeram. Sentaram lado a lado, olhando para o lago que dançava sob a luz das estrelas, com as barreiras de ambos começando a rachar de maneiras que nenhum deles esperava.
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