Enquanto as candidatas se preparavam para a gravação de mais um comercial, o clima nos bastidores estava carregado de tensão. Laura, como sempre, fazia o possível para manter a postura de Isla Frost, mas havia algo em sua mente que a distraía. A cada dia, o papel se tornava mais difícil de sustentar, e a verdade de sua identidade parecia espreitar cada vez mais perto de ser descoberta.

Dahlia, que sempre fora observadora, começou a notar algo peculiar. Durante o intervalo, enquanto as outras candidatas se preparavam para a gravação, ela avistou Isla sozinha, mexendo em seu telefone. O que chamou sua atenção, no entanto, não foi a simples ação de Laura, mas a maneira como ela digitava.

Isla estava enviando uma mensagem, e para a surpresa de Dahlia, ela digitava fluentemente em português, sem cometer os erros que frequentemente fazia ao falar. As palavras fluíam de maneira natural e precisa, sem o sotaque forçado ou a hesitação que Isla sempre demonstrava quando se comunicava com os outros.

Dahlia observou por alguns segundos, confusa. Ela sabia que Isla sempre tinha dificuldades com o português. Mas agora, ao ver o que parecia ser uma fluência inesperada em uma simples mensagem de texto, uma suspeita começou a crescer em sua mente.

Com o celular ainda na mão, Laura olhou para cima e percebeu que Dahlia estava a observando. Seu olhar curioso foi suficiente para que Laura se sentisse desconfortável, mas ela tentou disfarçar, rapidamente guardando o telefone na bolsa e colocando a máscara de Isla de volta.

Dahlia se aproximou com um sorriso que não parecia genuíno. Ela cruzou os braços, analisando Isla com um olhar penetrante.

— Estranho, não é, Isla? — ela disse, com um tom insinuante. — Vi você mandando uma mensagem agora... e me pergunto por que você escreve tão bem o português, mas fala tão mal quando está diante de todos. Você não acha que isso é um pouco contraditório?

Laura sentiu uma onda de pânico, mas tentou manter a calma, forçando um sorriso suave. A última coisa que ela precisava era que Dahlia começasse a questionar sua habilidade com o idioma. Ela apenas deu de ombros, tentando manter a naturalidade.

— Ah, é porque... eu ainda estou aprendendo, sabe? Às vezes, na escrita, eu consigo pensar mais claramente. Falar é mais difícil para mim — mentiu, sem acreditar muito em suas próprias palavras.

Dahlia não parecia convencida, e seu olhar desconfiado não desgrudava de Laura.

— Hmmm... — Dahlia fez uma pausa, como se estivesse avaliando a resposta. — Eu não sei, Isla. Eu percebo uma diferença. Você é boa em se esconder, mas eu sinto que tem algo estranho em você. Como se houvesse mais do que você está deixando mostrar.

Antes que Laura pudesse responder, a porta dos bastidores se abriu abruptamente, e Andrew entrou com seu usual ar de autoridade e confiança. Ao ver a situação, ele rapidamente percebeu que havia uma tensão no ar.

Dahlia, sem perder a oportunidade de se defender, levantou a voz, tentando chamar a atenção de Andrew.

— Andrew, você não percebe que algo está errado com Isla? Eu vi a mensagem dela. Ela fala português bem, mas na frente de todos, ela age como se fosse incapaz. Algo está errado, e eu acho que todos deveriam saber disso — disse ela, com a voz carregada de desconfiança, mirando diretamente em Isla.

Andrew, que parecia alheio à verdadeira intenção de Dahlia, olhou para a situação com um sorriso tranquilo. Ele deu um passo à frente, colocando-se entre as duas mulheres, como se estivesse assumindo o controle da situação.

— Dahlia, você está exagerando — disse ele, com a voz suave, mas firme. — Isla tem se dedicado muito para aprender o idioma. Ela está praticando com afinco, e com o tempo, tenho certeza de que vai falar perfeitamente. Não vejo razão para desconfiança. Ela tem se esforçado e, honestamente, você está sendo um pouco cruel ao apontar falhas tão pequenas.

A defesa de Andrew deixou Dahlia momentaneamente em silêncio. Ela olhou para ele, com os olhos apertados, mas não conseguiu dizer mais nada. A palavra dele parecia ser lei, e ninguém mais estava disposto a questioná-lo.

Dahlia não gostou nada da forma como Andrew a desconsiderou, mas, por mais irritante que fosse, sabia que não poderia ganhar essa batalha agora. Ela apenas sorriu sarcasticamente e deu de ombros.

— Eu só espero que você esteja certo, Andrew — disse ela, antes de se virar e sair do local, com a sensação de que algo estava prestes a ser desmascarado.

Laura, aliviada pela intervenção de Andrew, tentou se recompor. Ela sentia o coração disparado e a mente cheia de pensamentos conflitantes. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que a ameaça de Dahlia não havia desaparecido completamente. A suspeita estava plantada, e não seria fácil afastá-la.

Depois que Dahlia se afastou, Laura se virou para Andrew, tentando parecer despreocupada. Ele olhou para ela com um sorriso reconfortante.

— Está tudo bem, Isla. Não deixe isso te afetar — disse ele, com um tom amigável, mas ainda sem perceber o peso da situação.

Ela forçou um sorriso, tentando mascarar o pânico que ainda sentia. Sabia que a investigação de Dahlia estava apenas começando, e que, se ela fosse persistente, poderia descobrir algo que colocasse em risco seu disfarce.

Agora, mais do que nunca, Laura sentia que precisava redobrar sua atenção. O papel de Isla Frost nunca foi tão arriscado quanto agora.