Capítulo 13: O Peso da Mentira
Andrew acompanhava as candidatas enquanto cruzavam o rio, seu olhar alternando entre o grupo e o cenário ao redor. Apesar de sua postura descontraída, ele sentia o peso do papel que desempenhava no reality – ser o centro das atenções, o prêmio final. Mas, às vezes, quando olhava para elas, especialmente para Isla Frost, ele se perguntava quem realmente estava jogando e quem era genuíno.
Isla sempre o intrigara. Enquanto outras candidatas demonstravam abertamente suas personalidades, ela parecia esconder algo sob uma camada de mistério cuidadosamente construída. Era uma jogadora habilidosa, disso ele tinha certeza. Mas havia momentos, breves como um raio cortando o céu, em que ele percebia algo mais – um brilho de vulnerabilidade em seus olhos, um traço de hesitação em suas palavras. Momentos que pareciam escapar antes que ele pudesse entender.
Quando ela quase caiu ao atravessar o rio, Andrew agiu por instinto. Ele não pensou em câmeras, nem no impacto que aquele gesto poderia ter no público ou nas outras participantes. A única coisa que sentiu foi um impulso imediato de protegê-la. Quando a segurou, seus sentidos pareceram aguçar. Ele notou o cheiro suave de seu perfume, algo floral e discreto, e sentiu o calor de sua pele através do tecido fino.
Os olhos de Isla encontraram os dele. Por um segundo, ele teve a sensação de que a barreira entre eles se desfez. O olhar que ela lhe deu não era o de uma mulher jogando para vencer. Era o de alguém surpreso por ser vista, quase vulnerável demais para aquele ambiente.
— Está tudo bem? — ele perguntou, incapaz de esconder a preocupação.
Quando ela respondeu, o tom confiante de Isla estava lá, mas ele sentiu uma leve rachadura na fachada. Talvez fosse coisa da sua cabeça, mas parecia que ela estava tentando convencê-lo de algo – ou talvez a si mesma. Ele apertou sua cintura um pouco mais, como se pudesse transmitir segurança com aquele gesto.
— Não precisa provar nada pra ninguém — disse, quase sem pensar. Ele não sabia por que aquelas palavras saíram, mas pareciam certas. Ela precisava ouvir aquilo.
Quando ela agradeceu, o sorriso que deu foi breve, mas suficiente para confundi-lo ainda mais. Havia algo em Isla que parecia cuidadosamente construído, mas nos momentos como aquele, ele sentia que estava espiando por trás das cortinas. E o que via o deixava inquieto – de uma maneira que não deveria.
Ele a soltou quando chegaram à margem, mas demorou mais do que o necessário. Sentiu uma pontada de relutância, como se ainda quisesse estar ali para garantir que ela estava realmente bem. Quando fez a piada sobre ela conseguir atravessar sem ajuda, foi mais para disfarçar o que sentia do que para aliviar a tensão do momento.
Mas as outras candidatas não deixaram passar. Riley, com sua personalidade expansiva, transformou o momento em motivo de brincadeira, e Andrew riu junto, mas não perdeu o tom afiado no comentário de Dahlia. Ele conhecia aquele sorriso dela – um aviso de que estava calculando algo. Dahlia era perspicaz e sabia jogar, mas, naquele instante, ele não tinha energia para se preocupar com isso.
Seu olhar voltou a Isla por um breve momento, enquanto ela mantinha o mesmo sorriso reservado e misterioso de sempre. Ele sabia que deveria tratá-la como tratava as outras – com a mesma dose de charme e atenção. Mas o que sentia ao redor dela era diferente, quase perigoso.
"Concentre-se no jogo", ele disse a si mesmo. "É só um programa de TV."
Mas enquanto seguiam pela trilha novamente, Andrew não conseguia ignorar a sensação persistente de que, com Isla, o jogo era mais complicado. E talvez, apenas talvez, ele já tivesse começado a perder.
A trilha chegara ao fim ao cair da tarde, quando o sol mergulhava atrás das árvores, tingindo o céu de tons de laranja e púrpura. O grupo retornava ao acampamento improvisado, e as candidatas se dispersavam para descansar. Laura, porém, sentia que precisava de um momento sozinha. A caminhada não fora apenas um teste físico, mas também emocional. Carregar a máscara de Isla Frost enquanto a linha entre realidade e encenação parecia se desintegrar exigia mais dela do que imaginava.
Ela se afastou discretamente para o limite da clareira, onde as árvores formavam uma barreira natural. Inspirou fundo o ar fresco, tentando organizar seus pensamentos. Mas não teve muito tempo para a solidão. Quando virou, encontrou Andrew caminhando em sua direção, com aquele sorriso despreocupado que parecia desarmá-la toda vez.
— Não sabia que você gostava de explorar sozinha — disse ele, sua voz suave, mas carregada de curiosidade. Ele parou a alguns passos dela, respeitando seu espaço.
Laura ergueu a cabeça, ajustando-se automaticamente ao papel de Isla.
— Às vezes... silêncio... é bom, é... como... pensar mais claro. — Sua pronúncia era pausada, o sotaque estrangeiro propositalmente pronunciado, as palavras escolhidas com cuidado.
Andrew sorriu, cruzando os braços enquanto inclinava a cabeça para o lado.
— Interessante. Você sempre encontra uma maneira de fazer tudo parecer mais... profundo.
Ela respondeu com um sorriso calculado, tentando parecer misteriosa, mas com um nervosismo que ameaçava transparecer.
— Ou talvez... você precisa... ouvir... mais devagar.
Ele soltou uma risada leve, mas seus olhos a analisavam com atenção. Laura sentiu um arrepio percorrer seu corpo, como se ele pudesse ver além da máscara.
— Sabe — ele disse, com um tom mais sério agora —, você é difícil de entender. Parece que construiu essa... barreira, como se ninguém pudesse chegar até você. Mas, às vezes, eu sinto que você quer que alguém tente.
Aquelas palavras a atingiram como um soco. Não eram ditas para Isla Frost, a mulher enigmática criada para o jogo. Eram para ela, Laura. Por um instante, sua mente girou em busca de uma resposta que mantivesse a farsa intacta.
— Talvez... é meu... jeito. Assim, eu... fico mais... interessante? — disse, hesitante, como se ainda estivesse aprendendo o idioma.
Andrew sorriu, mas o brilho em seus olhos indicava que ele não estava convencido.
— Talvez. Mas acho que tem mais em você do que você quer deixar transparecer. E, seja o que for, espero que, um dia, você se permita mostrar isso.
Laura engoliu em seco. As palavras dele, ditas com tanta honestidade, pesavam mais do que qualquer acusação poderia pesar. Antes que pudesse encontrar algo para dizer, Andrew deu um passo para trás, parecendo perceber que a intensidade do momento ultrapassara os limites.
— Boa noite, Isla — disse ele, o tom voltando a ser casual. — Durma bem.
Ela apenas assentiu, observando enquanto ele se afastava e desaparecia entre as árvores. Quando a última sombra dele sumiu, Laura deixou escapar um suspiro trêmulo, como se tivesse segurado a respiração durante toda a conversa. Seus ombros cederam sob o peso da mentira que carregava.
Ela se sentou no chão coberto de folhas secas, apoiando o rosto nas mãos. O eco das palavras de Andrew ainda ressoava em sua mente. "Espero que, um dia, você se permita mostrar isso." Ele não fazia ideia de quão profundamente aquelas palavras a atingiam.
Ser Isla Frost era seguro. Isla era invulnerável, uma figura criada para impressionar e vencer. Mas Laura? Laura era cheia de dúvidas, medos e, agora, sentimentos conflitantes por alguém que jamais deveria ter significado mais do que um prêmio.
Ela apertou os olhos, tentando afastar a culpa que a consumia. Estar ali, fingindo ser outra pessoa, tinha se tornado mais do que um jogo. Cada palavra que dizia, cada gesto, cada sorriso calculado parecia criar um abismo maior entre ela e quem realmente era.
E a pior parte era que, por mais que tentasse se convencer do contrário, ela queria que Andrew olhasse para ela como ele olhava para Isla. Não como um personagem, mas como Laura. E isso, ela sabia, era um desejo que não poderia se permitir.
O som distante das outras candidatas rindo e conversando trouxe Laura de volta à realidade. Ela ergueu a cabeça, secando rapidamente os olhos, e respirou fundo. Ainda havia um papel a desempenhar, e ela não podia se dar ao luxo de deixar a máscara cair. Não agora, e talvez nunca.
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