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O estranho atrás da porta

   O dia passa e a noite chega para tomar o seu lugar. Ellie se preparava para ir dormir, vestindo o seu maravilhoso pijama de coelho. Como a garota amava esse pijama, nunca dormia sem estar vestida nele. Afinal, a fazia lembrar do seu lugar de origem, e foi preparado com muito amor e carinho pelos pais. A mãe de Ellie a deita na cama, dá um beijo de boa noite, e se afasta apagando as luzes, deixando apenas a porta entreaberta à pedido da filha. Depois de alguns minutos se contorcendo na cama, a menina finalmente consegue pegar no sono.

   02:20 horas da manhã, a mãe acorda assustada com o som da filha gritando no quarto ao lado. Ela levanta rápido, calçando o seu chinelo slide e pegando o seu óculos na cabeceira da cama, correndo para ver o que houve com a filha. Chegando no quarto da criança, ela se depara com a menina sentada na cama aos prantos. 

   — O que houve, filha? — Perguntou ela, mas a garota não parava de chorar. — Está tudo bem, foi apenas um pesadelo! 

   A mãe abraçou a filha, a confortando, depois a deitou na cama, deitando junto com ela. Sem desgrudar da filha, ambas dormem juntas e desta vez, sem nenhuma interrupção durante o sono.

   Na manhã seguinte, Ellie é acordada contra a sua vontade pelo o seu despertador, que avisava que eram 06:30h. Hora de levantar para ir para escola. Ela bate no despertador, quase o destruindo, e levanta ainda sonolenta, batendo nas coisas enquanto se dirige para o banheiro. Depois de sua higiene pessoal, ela caminha em direção a cozinha, seguindo o cheiro de ovos Benedict que só a sua mãe sabia fazer.

   — Que cheirinho bom! Eu acordei morrendo de fome. — Diz Ellie, puxando uma cadeira em sua frente e sentando. Ao se acomodar no assento, ela puxa uma jarra de suco de uva( o seu favorito) no seu lado esquerdo, e despeja o conteúdo no copo vazio, dando um gole.

      Ronc

   O som da barriga da garota era audível para quem estivesse perto.

   — Olha, para quem falava que não gostava da minha comida, agora está ansiosa para comer. Você bateu a cabeça enquanto dormia, Ellie? 

   A garota se espanta com a voz que ouviu, não era a voz da mãe dela. Depois da figura estranha colocar o prato com o ovo na mesa, ela repara no braço cabeludo que estava ao seu lado, dando a entender, que era um homem ali presente. Assustada, ela se joga para trás, derrubando a cadeira e caindo junto com ela.

   — Você está bem, Ellie? O que está fazendo? — disse a pessoa ao seu lado, enquanto erguia o seu braço para ajudar a garota, indo de encontro com um tapa dela em recusa. 

   — Quem é você? O que faz em minha casa? Onde está a minha mãe? — ela pergunta após se levantar, dando alguns passos para trás em defesa.

   O homem em sua frente não demonstrava nenhum sinal que iria atacá-la, pelo contrário, os olhos caídos e esverdeados do rapaz, refletia a mais pura das intenções. Ela o olha fixamente, analisando-o de cima a baixo. Estranhamente, os cabelos ruivos e ondulados, caindo sob a testa, e a barba curta, também ruiva, lembrava muito de alguém, mas não conseguia se recordar de quem, pois nada vinha à mente naquele exato momento. 

   — Porque está me olhando assim? Parece louca! Você está realmente bem, ellenzinha? — ele tenta se aproximar, mas ela dá outro passo para trás.

   — Eu não sou LOUCA! — Ellie aumenta um pouco o tom. Ela odiava que a chamasse assim. 

   — Desculpa, eu estava zuando. Eu sei que você não gosta que te chamem assim. — ele abre um sorrisinho de canto de boca, demonstrando um olhar de  deboche em seu semblante. 

   — Quem é você? O que faz aqui? Cadê a minha mãe? — ela volta a perguntar, fazendo o homem em sua frente, mudar a expressão em seu rosto.

   — Isso não tem graça, Ellie, o que está acontecendo com você hoje? Por acaso perdeu a memória? Quer que eu chame um médico? — o homem estava visivelmente preocupado com a garota, que desabou em lágrimas.

   Ele correu para perto dela, a envolvendo em seus braços e acariciando a sua cabeça.

   — Vai ficar tudo bem, eu não vou sair mais do seu lado. — Falou ele, enquanto acariciava o topo da cabeça dela, com movimentos suaves sob os fios de seu cabelo. 

   — E-eu só quero a minha mãe! — falou a garotinha, entre choros e soluços.

   — Eu sei irmãzinha, eu também estou com saudades dela. Eu sei que lamenta, mas o que aconteceu com ela, não foi a sua culpa. Nunca se esqueça disso. 

   A garota estranhou o que o homem disse. Ela se levantou o empurrando para trás, afastando-se dele.

   — "irmãzinha…? Minha culpa…?" O que está falando? — indagou a menina — Nós não somos irmãos! Eu não sei quem você é!

   — Ellie?...— o homem a olha preocupado.

   — Afaste-se de mim! — gritou ela, saindo correndo para o seu quarto e se trancando nele. 

    Ellie se encontra assustada e confusa, não fazendo ideia do que está acontecendo. O único pensamento que mais importa em sua cabeça, é, onde estava a mãe dela? Ela andava de um lado a outro pelo quarto, pensando em como iria sair dali com aquele homem em vigia.

   Toc, toc, toc

   Ela é interrompida de seus devaneios pelas batidas na porta.

   — Ellie, me deixe ajudá-la! Pode me dizer o que está acontecendo? Confie em mim! — Ele era teimoso, pensou a menina, não parava de bater na porta. Até que as batidas cessaram-se, dando um alívio temporário para ela, o que não durou muito, já que o trinco da porta estava se movimentando. — Eu vou entrar! — disse, enfiando a chave na fechadura e abrindo a porta.

   Quando conseguiu entrar para ver a moça, ela não estava mais lá. Ela havia corrido para o banheiro e fechado a porta por dentro. A chave do banheiro era a única que ele não tinha, e mesmo que tivesse, ele não iria invadir assim a privacidade da garota, seria ir contra tudo o que acreditava ser correto. Então, como um bom cavaleiro que era, esperou pelo lado de fora do banheiro, e não iria sair dali, até que confirmasse com os próprios olhos, se a Ellie estava realmente bem.

   Em pânico, Ellie rezava para que aquele homem não entrasse no banheiro, afinal, ainda não sabia como ele tinha a chave do quarto dela. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo para a pobre menina lidar. 

   — Calma, Ellie, você deve estar sonhando! Sim, deve ser outro pesadelo. — Ficava repetindo para ela mesma.

   Ela foi até a pia do banheiro, e ligou a torneira. Com a água descendo, ela fez uma conchinha com as mãos,  enchendo-as com água, e em seguida, arremessa o líquido no rosto, secando com a toalha pendurada ao lado.  E como o vidro na sua frente estava embaçado, então o limpou utilizando a mão.

   — Ahh!!! — Grita a garota após se olhar no espelho.

   — O que aconteceu? Ellie, fala comigo!!! — Preocupou-se, o homem atrás da porta.

   Ellie olhava seu reflexo no espelho, mas não reconhecia a mulher que estava sendo refletida nele. Era uma adolescente, aparentando ter uns vinte e pouco anos. Os cabelos longos da cor do fogo, cobriam o seu olho esquerdo após ser solto. Uma mudança e tanto para a garota que odiava fios de cabelos nos olhos, que encomodavam sempre. Sem mencionar a região dos seus seios que aumentaram drasticamente de tamanho. Ela analisava  os dentes mais perfeitos que ela já viu, com todos devidamentes alinhados, com uma brancura espetacular. A Ellie sonhava com que os dentes dela ficassem assim, já que os dela eram muito tortos. A imagem refletida no espelho, imitava os movimentos estranhos que Ellie fazia, tanto com as mãos, quanto com a cabeça. Estava mais que claro, era ela mesma. Ela só não queria aceitar esse fato, sendo que é  um acontecimento muito estranho para se pensar. 

   — Essa… sou eu? — Ellie analisava o seu rosto novo, observando cada detalhe dele. — Como isso é possível?

   Ela começa a formular várias questões em sua cabeça, mas não conseguia chegar em nenhuma conclusão. Afinal, como uma criança se torna uma adulta da noite para o dia? Essa é uma das perguntas que mais a incomodava, e só tinha uma pessoa que poderia saber o motivo disso tudo; o estranho atrás da porta! Ela chegou nessa conclusão, decidindo destrancar a porta, e sair do banheiro, para tirar a limpo essa situação, e esclarecer de uma vez, as dúvidas que estavam brotando em sua cabeça.

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