Capítulo |8|
- Bom dia, senhora - cumprimentou Deborah, enquanto abria as cortinas e permitia que a luz inundasse o quarto da Duquesa.
A mulher terminava de ajeitar seu cabelo sentada de frente ao espelho.
- Bom dia, Deborah! - saudou empolgada
- Parece estar bem-humorada - constatou
A Duquesa se achegou a janela, onde fruía uma vista privilegiada da arena.
Há dois dias tivera descoberto que era capaz de assistir aos treinos do Duque pela janela de seu quarto, todas as manhãs antes de nascer o sol, sem que o mesmo a notasse.
- Por que será, Deborah! - constatou sem realmente aguardar uma resposta
Aquela hora, Edward já havia se exercitado, então, ela já se podia afastar, mas a menina caminhava nas nuvens, o comportamento afável que o Duque tem apresentado nos últimos dias, a deixavam encantada, ainda que fingisse não se sensibilizar por suas investidas, o homem começava realmente a fazê-la soltar suspiros e risadas de fascínio, como uma debutante que era cortejada.
Quando por fim terminou de se vestir, dois toques na porta se ouviram.
- Entre - assentiu
Seu olhar surpreso fixou-se no homem.
- Bom dia, Duquesa - caminhou até a mulher - espero que tenha tido uma ótima noite de sono!
- Bom dia, eu tive, obrigada! - enrubesceu instantaneamente, aquele jeito amável ainda lhe era novidade
- Se não se importar gostaria que me acompanhasse - estendeu-lhe a mão convidativa - gostaria de mostrá-la o quanto sinto por tê-la magoada antes
Tivera passado uma semana desde o ocorrido e Edward ainda se encontrava empenhado em desculpar-se
Deborah sorriu com cumplicidade, já Keira foi tomada pela curiosidade e olhar duvidoso.
O homem mantinha a mão suspensa em sua direção.
Duvidosa de suas intenções, manteve-se estagnada, sem saber o que fazer ao certo. Apesar de que, agora ele fosse parcialmente mais atencioso e cortês, tudo aquilo ainda lhe parecia estranho.
Pouco tempo depois, aceitou a mão oferecida e desceu junto do marido até onde o mesmo a dirigia.
Já no estábulo, um cavalo foi selado para o casal, Edward afastou-se para ajudá-la a montar, e logo ajustou-se atras da esposa que o olhava surpresa por dividir o mesmo cavalo.
Sentiu o corpo do homem roçar no seu, e encaixar-se bem colado a si naquele mesmo cavalo, devagar, quase de modo proposital, o Duque passou as mãos de cada lado de seu corpo.
- Está desconfortável? - sussurrou-lhe ao ouvido, antes de dar início a trajetória.
- N-não!
Dobrou-se para frente e Keira sentiu a pressão sobre a parte traseira de seu corpo. O corpo másculo atrás de si descontrolava seus batimentos cardíacos e concentração.
Em súplica buscava sustentar a respiração. No entanto, seu rosto aquecia e ganhava um tom avermelhado.
Seus cabelos voavam para Edward e levavam com ele seu cheiro a cada cavalgada do animal.
- Oh... - ordenou que o animal parasse
Desceu e ajudou-a a descer. O lugar era distante da casa, ainda assim, sabia que encontravam-se dentro da imensidão da propriedade do Duque. Na verdade, ela reconhecia o lugar, embora tivessem seguido por outro caminho, ela logo reconheceu os traços similares do lugar.
Encontravam-se na parte traseira da propriedade, daquele ângulo o lugar era repleto de relvas e flores. Mais adiante avistava-se um espaço vidrado recentemente implementado do lado esquerdo á cachoeira, o que era semelhante à sua tão amada estufa, só que maior.
- Por favor - convidou-lhe a continuar
Em meio a diversidade de rosas, das mais variáveis cores e
não só as flores alaranjadas da outra vez, estava ele.
Branco como a neve, revestido por flores e trepadeiras, e apesar disso, brilhava como diamante recém polido.
Dessa vez seus olhos brilharam e um sorriso desenhou-se em seus lábios.
- Seu piano no paraíso! - recordou
Sim, encontrava-se no paraíso, não só pelas flores, como também pelo brilho do sol que nasce no horizonte, filtrado pelo vidro que facilitava a passagem de uma luminosidade proporcional ao lugar.
Dirigiu-se ao instrumento amadeirado folheado de um material macio, então, tocou as teclas de uma única vez, as cordas percutidas vibram e produzem o som que tanto é-lhe nostálgico.
Pela primeira vez desde que a Intropeda chegou, sorriu de felicidade com um brilho diferenciado nos olhos e não maldiz o Duque.
- Obrigada - ainda sorria para ele quando o agradeceu.
Edward sentiu seu coração aquecer com aquele sorriso, parecia tão expressivo que foi difícil não perceber como era fácil de mais ler seus sentimentos.
- Significa, o perdoou?
- Dessa vez, sim - avisou
Sentou-se no banco a sua frente e deu início a sublime melodia que preencheu de alma aquele maravilhoso paraíso num dueto com os pássaros e a queda de águas ao lado.
••
De volta ao palácio o casal despediu-se, Edward precisava resolver alguns assuntos. E a Duquesa saiu com Deborah para fazer compras na companhia dos guardas, seria sua primeira vez na cidade.
Dentro da carruagem a duquesa contemplava a cidade até a sua primeira paragem, o ateliê da Lady Georgina.
Uma senhora simpática para quem a mãe e irmã de Deborah prestavam serviços de modistas.
- A Duquesa é ainda mais bonita do que se fala - elogiou a mulher
- Gentileza sua - sorriu - esse lugar é agradável - bendisse
- Senta-te, por favor. Emma irá tirar-lhe medidas. Sarah - traz-nos chá - distribuiu a mulher
E assim o fizeram, foi lhe tirada medidas em meio a uma conversa animada e descontraída.
- Foi um prazer conhecê-la, visita-me lá em casa, será um prazer recebê-la - encorajou a Duquesa, um convite tanto quanto surpreso demais para Lady Georgina
- Com muito gosto - assente
Antes que pudesse continuar, o alvoroço do lado de fora chama atenção das mulheres presentes na sala.
- O que é isso? - indaga curiosa
- Por Deus. Eles outras vez?!- Lamenta Georgina em direção a porta.
Fechou a mesma e caminhou até a janela a fim de confirmar sua suspeita, e lá estavam os homens
- Quem são esses homens?
- São homens do Barão Darwin. Thomas Darwin - explica mediante a visível confusão da Duquesa
- O que eles querem?
- Cobrar dívidas, é igual todas as semanas. Emprestam dinheiro aos comerciantes em desespero, com uma quantidade absurda de juros
- O que acontece caso não paguem?
- Levam suas filhas ou esposas, para prestar sabe se lá quais serviços ao Barão.
- Isso é legal? Ninguém se opõe? - conferiu escandalizada
- Quem ousaria desafiar o Barão?
Da janela as mulheres assistiam os homens arrastarem duas jovens moças pelos cabelos, enquanto a mais nova clamava para que seu pai a ajudasse.
Sua barraca de legumes tivera sido destruída, o homem grisalho de vestes surradas, ajoelha-se aos pés do guarda do Barão, suplicava por mais tempo.
- Uma semana é tudo que lhe peço
— Teve um mês para quitar a dívida
— Ei de pagá-lo, meu senhor, apenas peço-lhe mais uma semana.
O homem ignora a súplica e dá-lhe as costas
- TRÊS DIAS - propôs o pobre homem, desesperado, noutra tentativa vã de persuadir o guarda.
Keira encontrava-se horrorizada, nunca tivera presenciado tamanha crueldade, e pior,
ninguém ousava intervir, era o cúmulo. Nem mesmo seus guardas faziam alguma coisa.
Disparada afastou-se da janela e logo do ateliê. Agora se encontrava bem ao lado do aglomerado na praça.
Déborah, que até então não tivera se apercebido da ausência de sua senhora, reconhece a silhueta alta da Duquesa. Bem de frende aos guardas do Barão.
— Por deus! - exclamou em pânico, corre até aos guardas — ei, a Duquesa precisa de ajuda — os homens correram ao ritmo de seu desespero
— Pai, ajuda-me!
— Leve a mim! Tenha piedade e leva-me a mim, ela é apenas uma menina — o homem velho segurava-lhe os pés, suplicante!
De um jeito abrupto o homem do Barão sacudiu seu pé e ergueu a mão para o tapear
— Não ouse! — gritou a mulher se colocando na frente — não ouse tocá-lo — repetiu
— Se não o quê? — desafiou, com seu olhar malicioso sobre a Duquesa, enquanto sua mão violenta a segurava pelo braço com tamanha força que ela pôde sentir a dor emergir forte, ainda assim, não retrocedeu.
— Não vai querer saber —dessa vez o homem riu alto, bem como seus companheiros que seguravam as meninas pelos cabelos
Toda praça parecia estar em silêncio, apenas suas risadas de escárnio se ouviam. E, talvez, alguns murmúrios incrédulos.
— Estou louco para saber o que a senhorita fará — sussurra as palavras com os olhos presos ao decote quase impercetível de Keira, que despeja uma bofetada enojada em seu rosto. Que rosna de raiva no momento que seu punho dirigia-se de encontro ao rosto da Duquesa antes de ser parado pelos guardas.
Em menos de poucos segundos, seus braços estavam dobrados para trás das costas e seus joelhos pressionados ao chão, diante a mulher. Só então dá-se conta do brazão de Intopeda nas vestes dos guardas.
Seu lábio sangrava, o que confirmava a força do golpe em seu rosto.
— Todos devem pagar suas dívidas, temos o direito de cobrá-los. É a lei — rosna quase cuspindo sua raiva
— Com humanidade, seja qual for a dívida não dar-lhes o direito de maltratar meninas e espancar um idoso.
— A LEI... — seu tom de voz exaltado faz o guarda o pressionar mais forte contra o chão, ruge e adequa seu tom — a lei exige que paguem o Barão
Keira leva sua mão ao pulso a seguir ao pescoço.
— Solte-o — ordena, o guarda assim o faz
— Isso paga a dívida do seu senhor? — Não ousou responder
— Se não for suficiente, amanhã pagarei o que falta, só precisa me dizer quanto. Agora pega e leve seus homens —entrega-lhe seu conjunto de colar e pulseira de pérolas azuis.
As meninas correm para seu pai e ajudam-no a levantar
— Diz a seu senhor, que gentileza gera gentileza, assim como violência!
Os homens seguiram seu caminho e a praça ganhou vida, quando a mulher se virou e constatou se o comerciante idoso que quase se ajoelhava em gratidão estava bem!
- Por favor, levante-se - ajudou-o a levantar-se - não precisa agradecer, o senhor está bem?
- Estou bem, vossa grassa, graças a si, obrigada!
As meninas aproximaram-se do pai e juntas agradeceram a mulher numa reverência.
- Deus a abençoe... - alguém no meio da multidão anunciou e todos assim o fizeram
- Não precisam apenas olhar enquanto são agredidos e seus filhos levados. São tantos que podem lutar por uma cobrança justa, ou impedir que qualquer nobre os maltrate.
Deborah, assim como lady Georgina ou o resto da praça não podiam acreditar no que acabavam de se presenciar.
Ela era mulher. Mulher não levantava a voz na multidão, mulher não contrariava Lordes, mulher não contrariava a lei.
A Duquesa era uma tola, ingênua sem medo ou sabia exatamente o que acabara de fazer ao desafiar um homem tão sem escrúpulo como o Barão de Darwin.
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