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Capítulo |3|


A viagem foi mais longa e exaustiva do que Keira achou que seria. A menina desceu junto com a mãe, que maravilhada admirava a imponente casa diante de seus olhos.

Keira mexeu um músculo sequer do lado de fora, a realidade a atingia rápido demais para ser processada.
Era uma casa diferente, maior que a sua, digno de um duque, podia facilmente ser comparada a um castelo de reis. Mas essa não era sua real preocupação, e sim, saber que não conhecia nada de Edward, além de que o mesmo era o duque de Intropeda.

— Keira? — os toques leves que sua mãe dava em seu ombro enquanto a chamava a fez despertar — Vamos? — acenou-lhe a cabeça, no meio caminho para dentro Keira desejou internamente ver Edward, ver a intensidade do seu olhar outra vez, quem sabe assim dissipar sua ansiedade.

No lado de dentro da casa, invés de Edward, uma mulher elegante de longos cabelos pretos, o rosto sobejo de maquiagem e o vestido verde-amarelo perfeitamente arrumado em seu corpo, dirigiu-se a elas

— Sejam bem-vindas — Seu olhar nauseante denunciava a veracidade de suas palavras, tal como de seu sorriso que Keira não fez questão de retribuir, já lady Dayane, sorriu gentil para a moça que acabara de conhecer

— Louise — se apresenta a moça com a leve vênia que custou-lhe o orgulho, tivera prometido ao Duque que seria gentil, e se não, que seria ao menos educada, já que não era da sua felicidade que Edward como a mesma o tratava, casasse, ao menos não com Keira. — Louise Godwin — continua — Ajudarei a instalarem-se, assim como no que precisar

— Lady Dayane — apresentou a mulher

— A viúva do general Ralf Philips. — O olhar de Keira recaiu sobre a mulher repreendendo o tom desdenhoso usado pela mesma.

— Conheceu meu marido? — a mulher perguntou com graciosidade, afinal, uma dama sempre era gentil com anfitriões

— Ah não, digamos que ouvi histórias sobre ele. — Keira ainda não gostava do tom usado pela moça — Suponho que estejam cansadas da viagem, venham, irei acompanhá-las aos seus aposentos, ou se preferirem, apresento-lhes a casa.

Com as bagagens carregadas pelos empregados, as mulheres dirigiram-se para o andar de sima.

— Onde está o duque? Pensei que ele mesmo nos receberia — lady Dayane recitou o que tanto Keira queria saber.

Onde estaria Edward? Por que não se dignou a recebê-las.
Seria um homem ocupado demais para receber a futura esposa?
Se fosse esse o caso, depois que casasse ainda continuaria a colocar seu trabalho acima dela?

"Com certeza sim, afinal, era só mais um nobre"

Pensou a jovem, a cada passo que dava seu coração tornava-se mais receoso, ao ponto de duvidar se tivera tomado a melhor decisão em concordar com o matrimônio, mas afinal, ela tinha escolha?

— Edward é um homem ocupado...

Edward? — Questionou Keira, rápido demais, com o olhar instigador e um pouco quanto atônita pela forma informal e íntima como soou o nome do futuro marido

— Ah perdoai-me, o hábito torna-se incorrigível às vezes. — A afronta de Louise foi percetível por Keira, a malícia com que falava não era difícil de se perceber, não é como se a mesma tentasse esconder — O Duque tem estado ocupado com coisas realmente importantes, sem muito tempo para coisas que não envolvam o ducado.

"Coisas realmente importantes.
Se seu casamento não fosse importante porquê o mesmo o propôs?" Pensou Keira.
Controlava a respiração a fim de não soltar correntes de palavras mal-educadas para a moça.

— Essa é Deborah. Sua acompanhante! — Louise apresenta a jovem loira de pele pálida e lábios rosados, que logo sorriu para Keira, embora manteve sua cabeça baixa após fazer a vénia em cumprimento — ira ajudá-la com tudo que precisar daqui para frente

Após ser apresentada para cada cômodo importante da casa, Keira podia sentir a dor dos seus pés matarem-na. Sozinha no quarto, a mesma livrou-se dos sapatos e jogou-os para algum lado, repassando a situação que se passara mais cedo. Com a leve desconfiança que Louise, assim como os outros empregados, não a tiveram aceitado. Alguma razão que envolvesse Edward fazia Louise implicar com ela, talvez o simples facto da mesma casar com o Duque?

Seria possível Louise nutrir algum sentimento pelo Duque? Ou, talvez a mesma estaria com a guarda alta por Keira ser estrangeira?

Talvez...

Mas isso não explicaria a intimidade com que Louise dirigiu-se ao futuro esposo, terão sido íntimos em algum momento? Podia sentir o nervo subir-lhe a cabeça com a simples imaginação.

Seria difícil manter a casa em ordem se os empregados não a tivessem aceitado, não se podia ser a senhora se não tivesse ao menos o respeito de seus empregados.

Deborah, a moça designada para cuidar dela adentrou em seu quarto, carregando lençóis limpos e outros utensílios para o uso pessoal da futura duquesa. Rápida e ágil como sempre, a moça deixa tudo organizado no banheiro quando volta sua atenção para as malas de Keira que alisa seu vestido de noiva, pendurado e pronto para o uso, pensando nas possibilidades de seu casamento com Duque funcionar e, em como será difícil lidar com a senhorita Louise.

Logo depois de enfrentar uma luta interna sobre falar ou não sobre o assunto. Keira decidi então abordar a jovem

— Éh... Deborah? — apreensiva olhou para a garota, quase que hesitante se aproximou

— Senhora? — parou seus afazeres dedicando sua total atenção na mulher que devia ter apenas uns anos amais que ela

— Por favor, trata-me por Keira. — O olhar duvidoso talvez amedrontado da menina recaio sobre Keira

— Me desculpe Senhora, mas a Senhorita Louise me expulsaria se eu tivesse tal ousadia. 

— Por que ela faria isso? — Suspira, a influência dessa mulher já dava-lhe aos nervos — Diga-me, por que todos a temem? Qual é a relação dela com o Duque? São parentes? — inquire cauta, afinal, não sabia se podia confiar na moça a sua frente ou se a mesma seria apenas mais um dos empregados que evidentemente Louise controla

— Não sei senhora, estou aqui a pouco mais de um mês, a única coisa que sei é que, a senhorita Louise governa a casa junto com a Lady Elizabeth, a tia e mãe de criação do Duque. — Keira estreita os olhos em análise, é verdade que ela ouviu falar sobre a mulher amargurada que era Lady Elizabeth, que por seu mal feitio nenhum homem de Intropeda, tão pouco de Londres, quis desposá-la. Por esse motivo dedicou sua vida cuidando de Edward, é a única coisa que sabe sobre ela. Durante um tempo foi a notícia das ruas de Londres, por ser a província vizinha de Intropeda.

Maneou a cabeça para afugentar tais pensamentos, desejando no seu íntimo que a mulher a aprovasse quando a visse.

— Tudo bem, Deborah, quero que me trate por Keira, ao menos quando não tiver ninguém por perto, afinal, vamos estar juntas o tempo todo e é bom descontrair de vez em quanto. Se tiver algum problema com a senhorita tudo em ordem eu resolvo. — A jovem sorri do jeito provocador e aborrecido como falou

— Está bem senhora... quer dizer, Keira. — Cede, Keira retribuiu-lhe o sorriso quando Deborah finalmente volta aos seus afazeres

[ ••• ]

Naquela noite Keira sequer conseguia pregar seus olhos, seus pensamentos e duvidas vinham como uma avalanche, deixando cada parte de seu ser inquieta. A saudade que sentia de Ethan era mais do que imaginou que sentiria em um dia.
Precisava urgentemente habituar-se a ausência do amigo. Pensou

Levantou-se da cama e cobriu-se, a fim de estar decente e caminhar polos cômodos da casa. O silêncio do lugar culpava a madrugada, a meia luz vinda da porta entreaberta chamou sua atenção. Curiosa, caminhou até a mesma, tendo seus passos interrompidos pela voz chorosa e irritada da mulher que parece desesperada 

—Isso é uma loucura, por favor entenda, como podes casar-se com ela? Você não a ama, sequer a conheces.

— Louise, mandei parar! — A voz fria de Edward, a faz continuar seus passos como impulso

— Edward, ela só quer o seu dinheiro e o maldito título. Acha que ela vai amá-lo quando souber da verdade? Não, ela vai odiar-te. Não vai querer nem olhar para ti. — Escondida de frente a porta, observa Edward, que de costas para Louise, tinha os ombros caídos, a choradeira da mulher que tal como ela, trajava vestes de dormir

— Louise... — era palpável a irritação na voz de Edward

— Vai odiá-lo quando souber de todos os teus pecados, quando souber que você... — de maneira abrupta Edward se vira e segura os braços da mulher a sacudindo fortemente com nítida fúria, a expressão tenebrosa em seu olhar, assim como seu tom de voz estrídulo, faz Keira tremer e cogitar correr de volta para o quarto o mais rápido que pudesse

— JÁ CHEGA — Vocifera

Apenas os soluços da mulher se ouviam. Keira caminha de volta para o quarto, tentando entender a situação que acabara de presenciar, o olhar gentil e afetuoso que Edward havia implantado na sua cabeça num primeiro instante, foi substituído por outro, sombrio e maquiavélico.

Seria o Duque um homem cheio de pecados a se temer?

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