Capítulo |10|
Passaram-se dias, semanas e meses, e o casal estava cada vez mais próximo. Caminhavam durante as tardes pelo jardim.
O Duque amava ouvi-la tocar, o paraíso criado por ele era agora seu refúgio em comum. Passavam horas conversando um com outro na tranquilidade do lugar e longe dos comentários maldosos talvez inconvenientes, de Louise e Elizabeth.
A menina ainda se lembrava dos elogios afáveis que recebeu do marido enquanto tocava piano divinamente.
" Amo ouvi-la tocar. São melodias tão doces e angelicais que parecem recitadas por anjos"
Naquele dia, seu rosto estava tão perto que podia sentir o hálito quente do homem. Quase jurou que o beijaria se ele não fizesse questão de sussurrar-lhe bem perto do ouvido a promessa da outra noite
"Não se preocupe, não irei tocá-la sem que peça que lhe toque "
Sentiu seu corpo arrepiar e a respiração falhar, mesmo assim, não ousou dizer uma palavra, apenas tentou regular a respiração com os lábios entreabertos, quando os dedos delicados de Edward acariciaram seus lábios e a fizeram, por um momento, fechar os olhos e imaginar que os lábios dele a tocavam.
Porém, quando abriu seus olhos ele continuou
" É tão linda. Não consigo tirar a cor dos seus olhos dos meus pensamentos. Desde que a vi descer a escadaria pela primeira vez, azul passou a ser minha cor preferida, o mel indispensável para as refeições e, o cheiro adocicado da flore de jasmins meu aroma predileto"
As palavras mélicas vindas do homem sentado do seu lado a desnorteavam, a faziam arrepiar e soar frio, como se a terra se silenciasse e a lua no céu os contemplasse perplexa, por um tão perfeito momento.
Suas palavras eram tão meigas como se os anjos do amor recitassem para ela.
Edward estava tão acessível e recetivo a relação que a duquesa, finalmente, via que seu casamento não era tão ruim, e por momentos esqueceu-se de suas dúvidas quanto ao marido.
Para tirá-la de seus devaneios, Edward adentrou em seu quarto roubando-a um sorriso involuntário
- Bom dia, Duquesa - cumprimentou, ouvir o Duquesa de sua boca era o mesmo que ouvi-lo dizer "bom dia, querida esposa"
- Bom dia, querido Duque! - o homem arqueou a sobrancelha esquerda, surpreso.
Tivera ignorado tudo e focado apenas no "querido".
- Vim vê-la e despedir-me - o olhar curioso e lamentoso da mulher atingiu-lhe, o que lhe fez sorrir preguiçoso antes de continuar - é bom saber que sentirá minha falta. -As bochechas de Keira aqueceram com as palavras que lhe são dirigidas - mas, irei apenas à cidade e voltarei em breve.
Aproxima-se ainda mais e segura as mãos pequenas sobre as suas
- Não pretendo deixá-la sem a minha presença por muito tempo - beija o dorso nu da mão de Keira, que sente o contato dos lábios macios e húmidos do marido sobre á pele ruborizada - esteja pronta quando eu voltar, teremos um jantar no palácio
Seus olhos quase saíram de órbita, teria um jantar com o rei e ele a avisava tão em cima da hora, sequer teve tempo de ter um vestido novo com a costureira.
Como se lesse seu pensamento, Edward continua:
- Ficará perfeita em qualquer um de seus vestidos - afirma
- Pensei que meus vestidos não fossem adequados para uma Duquesa. - Recorda. Sorri apanhado e continua
- Qualquer pedaço de tecido que esteja em você é simplesmente ofuscado por sua beleza - elogia
Dessa vez a Duquesa fez questão de não conter o sorriso e olhos brilhantes que a dominavam
- Melhor eu ir antes que me atrase - inclinou sua cabeça para beijar seu rosto, bem no canto de seus lábios, foi tão perto deles que, dessa vez, ela acreditou que sentiria aquele sublime tocar de pele mais uma vez, o que não aconteceu, Edward afastou-se logo depois de beijar o canto da sua boca
A menina manteve os olhos fechados e seguiu, impulsivamente, com a cabeça para frente na vã intenção de aprofundar o contato interrompido pelo homem. Que já há uma distância segura dos lábios, tinha um sorriso perspicaz.
Abriu os olhos envergonhada, as bochechas quentes e o estômago revirado como se mil aves voassem dentro dele, se Edward a queria torturar, estava no bom caminho.
- Nos vemos ao anoitecer - despede
- Até - assente a mulher
Quando por fim se retirou, Keira, caiu desmaiada na cama com um profundo e prazeroso, talvez doloroso suspiro, as mãos juntas pressionadas sobre o peito que subiu e desceu ao ritmo da sua respiração.
Sorriu feliz
- É tão bom vê-la feliz - confessou Deborah, que tivera cruzado com um Duque sorridente pelo corredor - o Duque está radiante como nunca antes, seus olhos brilham de amor por minha senhora - continua a mulher
Amor?
O Duque a amava em tão pouco tempo?
Seria isso possível?
Virou-se sobre a cama e apoiada pelos cotovelos encarou Deborah, sem tirar seu enorme sorriso do rosto.
- Amor, Deborah? - contrariou
- Amor, minha senhora! Dos mais puro que há - continuou
Vendo a confiança com que a Deborah falava, decidiu não mais contrariar e apenas deixa para lá este assunto.
- Não importa quantas vezes eu peça, nunca irá me chamar apenas de Keira, não é mesmo?
- Já a chamei! - defendeu-se
- Por que parou? Tem apenas alguns anos amais que eu e tem sido uma grande amiga! - Persuadiu
- Não seria correto, minha senhora, não me senti confortável em tratá-la de maneira tão...
- Íntima?
- Informal - corrige
- Somos amigas, amigos não têm formalidades.
- Podemos ter, ainda seríamos amigas formais - contrapõe
- Está bem, Deborah. Trata-me da maneira que lhe for mais confortável, não ei de insistir. Agora por favor, ajuda-me a encontrar um vestido adequado para um jantar no palácio - a menina acenou feliz
- Alguma preferência?
- Precisa ser azul, ou ter alguma coisa azul nele
"Azul passou a ser minha cor preferida"
Foi o que Edward sussurrou olhando em seus olhos, então ela faria dessa cor a sua preferida também.
••
- Alguma informação sobre a morte de Ralf - inquiriu ao comandante das tropas a quem designou que secretamente investigasse
- Sim, vossa grassa! - confirmou o homem
- Então, quem foi? - Perguntou impaciente
- Ao que parece, sua morte está envolvida com o ataque em Siro.
- O que a morte de Ralf tem a ver com o acampamento de Siro?
- Ao contrário do que se pensou, houve um sobrevivente. Encontrado desidratado, alguns dias depois do ocorrido, escondido perto aos limites de Intropeda e levado por um Lorde para Mitch. Se os relatos forem verdadeiros, como temos certeza de que são, a essa altura já seria um homem, perfeitamente capaz de manejar uma espada com maestria, isso explicaria como um general tão habilidoso quanto Ralf tenha sido morto com facilidade.
- Por vingança, é isso? - Verificou o Duque
- Não faria sentido. Na época o general Ralf ainda não ocupava tal cargo, não comandava os homens que atacaram Siro - intervém Sebastian, amigo de longa data do Duque
- E a questão seria, porquê só agora? - disse Edward, retórico.
- Não sei meu amigo, no entanto, seria a teoria mais completa que temos até agora.
O povo de Siro era conhecido pela sua forte habilidade com a espada, diz muito sobre como apenas um homem conseguiu matar alguém tão experiente quanto Ralf.
Edward sentou-se passando as mãos nos cabelos, só podia ser brincadeira, uma daquelas de mal gosto que ele odiava.
- Ainda assim, como ele teria acesso à tenda de Ralf, sem que os guardas o notassem? - inquire insatisfeito
- Talvez a informação de ser um de seus homens não esteja totalmente errada. Veja bem, se eu quisesse me vingar do homem que matou minha família, que forma mais rápida teria se não o fazer baixar as armas ganhando sua confiança? Assim ninguém nunca suspeitaria - Explica Sebastian, para o amigo relutante em aceitar tal ideia
- Não sei!
- Vamos Edward, sabe que faria sentido! Mantenha os amigos por perto e os inimigos mais perto ainda. - Citou convicto - é assim o tempo todo.
Embora Sebastian, tentasse fazer o amigo entender, Edward, viajava nas mil probabilidades de Keira acreditar nessa história sem que o julgasse mentiroso
- Não entendo, porquê tanto interesse em saber disso agora? Afinal, ainda que não fosse morto naquela noite, você mesmo selaria sua sentença de morte por traição. Alguém só fez o trabalho antes - lembra Sebastian
O que tanto Edward tentou esconder para si mesmo, estoura na sua cara. Mesmo que Ralf não tenha sido morto pelo mandato que foi obrigado a consentir, isso não o tornava mais inocente da sua morte. Ele ainda seria obrigado a mandá-lo para forca ou decapitação devido a grave acusação de conspiração real, pela qual foi declarado culpado.
Isso não o tornava livre de culpa e, Keira o odiaria quando descobrisse. Isso sim o destruiria definitivamente, pois, estava tão nítido quanto a água que começara a nutrir fortes sentimentos pela esposa.
••
A noite caiu, embora estivesse fisicamente cansado e psicologicamente pior ainda, não perderia a oportunidade de levar sua esposa para um dos chatos jantares que acabaria com o mínimo de sanidade que lhe restava.
Esperava Keira, de frente a escadaria. Depois de ter precisado lidar com uma Louise ciumenta por, como ela mesma alegou, Keira ter roubado seu lugar na vida do Duque, já que antes ela era sua acompanhante em todos os momentos, até naqueles que Keira ainda não tivera ocupado.
Ao que, ao ver de Louise, aí ela ainda o podia ganhar. Não importava quantas vezes ele se afastava, e dissesse ser a última, o homem sempre voltava.
Porém, Edward estava confiante que dessa vez ele não cairia nas graças de Louise, afinal, agora era um homem casado, e mesmo que tivesse um casamento morganático não consumado, já mais voltava a deitar na cama de Louise.
••
Keira passou toda a tarde com as criadas, ensinou-as a preparar seu banho com leite que costumava ajudá-la a clarear a pele branca, e azeite de oliva logo depois do banho.
Lady Dayane sempre fez-lhe a acreditar que ter a pele branca a deixava mais bonita e para clareá-la, eram utilizados o óxido de chumbo e mercúrio - ambos tóxicos para a menina, porém, quando experimentaram o banho de leite, o resultado foi o mesmo e não acarretava efeitos colaterais para a moça, desde então, seu banho para cuidar da pele passou a ser feito com leite.
Quando por fim teve seu corpo banhado, chamou as criadas que a ajudaram com o cabelo. Enquanto Deborah calçava seus pés, a mulher arrumava o cabelo da Duquesa num "estilo complicado" ao ver da mesma.
Faz-lhe uma "massa de cachos" na parte superior junto de cachos e tranças ao seu redor e na parte de trás.
Para deixar suas maçãs do rosto rosadas foi aplicado cinábrio. Estava "deslumbrante " como elogiou Deborah.
Sentindo-se linda e tomada pela ansiedade de ser vista por Edward, desceu a escadaria alta que fazia meio círculo, com graciosidade.
••
Antes que Edward pudesse pôr fim aos seus pensamentos com relação sua esposa e Louise, a silhueta de Keira surge no topo da escada. Num vestido creme, com estampas pratas azuladas preenchidas com robustas anáguas.
Perfeição maior que aquela visão não existia, se existisse, nunca tivera visto.
Sorriu para esposa e caminhou até ela para dar-lhe seu braço.
- Está linda, magnífica, na verdade, tentar achar um elogio plausível para tamanha perfeição seria abuso para sua beleza essa noite. Pela primeira vez a luz brilha da terra para o céu e não o contrário.
Segurou o braço oferecido e sorriu. Suas pernas estavam bambas pela tamanha intensidade com que o homem olhou para seus olhos enquanto falava, havia um brilho diferente no seu olhar que a fascinava.
- Gentileza sua, vossa grassa - Disfarçou.
Ao menos tentou, sua voz embargada por alguma sensação desconhecida, denunciou seu abalo com as palavras do homem
- Tem jeito com as palavras, suponho que seja a prática de muitos anos na política - insultou petulante, no caminho para fora com um sorriso insultuoso, Edward sorriu junto
- Normalmente meus companheiros é quem me bajulam com palavras bonitas. Homens barrigudos e carecas não fazem o meu gênero, vossa grassa!
Keira se permitiu soltar uma alta risada, não tão longa e barulhenta, porém, durou o bastante para contagiar Edward que nunca a tivera visto sorrir de tal jeito.
- Então devo concluir que a vossa grassa é bastante... requerido - explicitou
- Céus, isso soou tão cruel - lamentou levando a mão ao peito dramaticamente
Durante o não tão longo trajeto até ao palácio, a conversa fluiu de maneira tranquila e divertida para ambos que estavam cada vez mais confortáveis um com o outro.
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