Capítulo |10.1|
Diante a imponente porta para a entrada do grande salão, a mulher não hesitou como o Duque achou que faria segurou sua mão e caminharam juntos até o interior de onde o banquete fluía, o lugar decorado com tecidos e flores selvagem tinha um aroma agradável.
Era exatamente como Keira achou que seria, mobília de madeira sofisticada, mesas a cada extremidade do salão, aglomerado de pequenos grupos de pessoas que formavam um círculo, homens com vestes elegantes e taças de prata na mão bebericavam alguma das bebidas disponível no lugar
Os músicos tocavam solenemente um hino suave para seus ouvidos, finas risadas de mulheres se ouviam enquanto alguns nobres cavaleiros encontravam-se sozinhos em algum canto conversando entre si, outros estavam devidamente acompanhados por esposas ou amantes.
De repente, todos os olhares recaíram si, era a primeira vez desde que estava casada que acompanhava seu marido para algum evento. Sentia que todos aqueles olhares a julgavam, como se procurassem seu pior pecado com olhar.
Sentindo o aperto em seu braço mais forte, Edward, sussurrou-lhe perto ao ouvido
- Estão fascinados por sua beleza, é com certeza a dama mais bela da noite. - Sorriu cúmplice
Por mais que não tivesse acreditado, Keira relaxou a pressão que exercia sobre o membro do marido
- Então creio que o invejam por isso - confidenciou o homem, de modo discreto e continuou a seguir seus passos até ao centro do salão
Como esperado, as apresentações e cumprimentos foram o mais cortês possível, alguns nobres presentes não eram de todo desprezíveis, havia pessoas conhecidas como lady Georgina e seu marido, bem como algumas outras lady's que Keira chegou a conhecer na cidade, outras pessoas ela apenas conhecia de vista e lembrava de as ter visto em seu casamento.
Quando devidamente integrados e familiarizados com o lugar, Edward afastou-se por um momento despedindo-se com "voltarei logo" para a esposa.
Depois de ter se afastado de Georgina com quem fluía um assunto interessante sobre a presença das outras damas, Keira então prestou atenção à apresentação dos acrobatas, dançarinos e o trovador ali presentes para a diversão dos convidados.
Porém, sem que se desse conta, um homem alto de grande porte físico aproximou-se dela que atentamente ouvia o trovador executar uma cantiga que pouco a agradava
- Vejo que não se encantou pelo nosso travador - constatou levando o objeto de prata a boca
- Perdão, nada contra o homem em si e sim com a cantiga entoada por ele. Uma crítica mal-amanhada contra as donzelas. Talvez para uma pobre mulher que teve o desgosto de cruzar seu caminho - criticou desgostosa, seu tom de voz fez transparecer seu desprezo por tal cantiga que fez o homem sorrir fraco e continuar
- Uma crítica? - constatou, com a sobrancelha levemente arqueada e a taça de vinho sobre a mão esquerda
- *Ai, minha senhora, por Deus em que credes,
já que a outro ser não ouso pedir por vós;
como sempre trazeis a touca malposta,
crede no que vou aconselhar:
em vez de alguém a corrigir por vós,
que essa pessoa corrija as formas de vosso corpo
e a maneira como falais, e se não, nem faleis. * - recitou o verso outro ora entoado pelo trovador dedicado em sua cantiga - seria esse um elogio ou o trovador estaria a satirizar uma mulher ironicamente a chamando de "donzela" - afrontou perspicaz
- Elas não costumam se importar que falem delas em canções, desde que falem. - Contrapôs o homem de um jeito arrogante que fê-la olhá-lo no rosto pela primeira vez.
O homem era alto, tinha os olhos e cabelos negros como a noite, a cicatriz em seu rosto bem no lado do queixo esquerdo o deixava ainda mais sombrio, era com certeza um homem bem-apessoado e bonito
- Perdão, lorde? - quis saber. Embora soubesse que os lordes ali presentes concordariam com o homem na sua frente quis saber o nome daquele que se orgulhava de exteriorizar tal pensamento
- Thomas Darwin - de um jeito quase que instantânea seu interior se inquietou, encontrava-se diante do homem cujo caráter era questionado e maldito por toda a cidade, cujo a crueldade de seus homens ela presenciou junto a vila dos comerciantes
- Lorde Darwin, alguma vez procurou saber o parecer de uma dama sobre tal assunto? - perscrutou com filáucia o que fez o homem sorrir internamente, de facto sua reputação a precedia
- Nosso estimado trovador chama a razão de uma donzela sobre seus hábitos pouco elegantes - acrescenta sem fazer menção de responder à pergunta a ele dirigida
- No entanto, vejo insistência em relação aos dotes físicos dela também, que precisam ser corrigidos ou melhorados, assim como sua fala, ele "pede" que "corrija a fala ou então que se cale"! - Retrucou com maestria e elegância, embora estivesse fervendo em cada célula de seu corpo e desejosa em atacar o homem, manteve a postura de uma "dama" sem perder a classe como Dayane sempre ensinou, no fundo isso era cômico uma vez que sempre achou que sua mãe tivesse sangue-frio e calculista por insensatamente manter a calma em situações extremas, ainda assim, lá estava ela agindo exatamente como lady Dayane em situações parecidas. A diferença é que Dayane nunca afrontaria o homem com tais palavras como ela acabara de fazer.
Para sorte de um dos lados - de Keira ou o Barão Darwin, Edward aproximou-se da esposa e tocou-lhe as costas com sutileza e olhar de aviso á Darwin que sorria escarnecido
- Duquesa, foi um prazer conhecê-la finalmente! - enfatizou para o desagrado de Edward, embora o Barão parecesse sorrir gentil para a Duquesa, ela pôde perceber a rivalidade que pairava naquela troca de olhares como se ambos reforçassem ameaças ou avisos outro ora feitos.
Quando por fim se retirou, Edward pôs-se na sua frente e perguntou esmero
- O Barão a importunava? - averiguou apreensivo
- Talvez eu o estivesse a importunar - contrastou hermética enquanto via a expressão do marido suavizar
- Não duvido que fosse isso, é bem do seu feitio repreender malcriações - assentiu num tom conhecedor que fez Keira sorrir
- É do feitio de um duque usar tais palavras? - indagou marota, quando o homem a olhou com seriedade e mussitou palavras com os olhos presos nos dela e quase pôde sentir o chão sumir entre os pés
- Tenho feito coisas que não são do meu feitio desde que a conheci, Duquesa! - Confessou, causando-lhe ainda mais rubor nas bochechas esbranquiçadas, olhava o marido com fascínio e atração, esse último era frequente desde o ocorrido em seu quarto na outra noite. Se repreendia por estar sempre a imaginá-lo por perto, a tocar-lhe e beijar seus lábios outra vez
- Rum rum! - pirragueou Vicente - Desculpe interrompê-los - por mais que não fosse de constranger-se fácil e por qualquer um, sua vergonha ficou ainda mais visível como se o tom usado pelo seu intruso anuncia-se que o mesmo tivera lido seus pensamentos - o rei solicita sua presença junto ao Conselho
- Já o alcanço - diz Edward, com um aceno de cabeça Vicente segue seu caminho, o duque vira-se para esposa e diz
- Espero que não se entedie até meu retorno - deseja
- Com os acrobatas? Impossível - tranquiliza
Sorrindo se afasta em direção a grande sala de reuniões
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Era a mesma conversa de sempre, a preocupação do rei com relação às províncias ameaçadas pela guerra. A pressão que sofria dos paises vizinhos começavam a preocupar o patriarca.
O país mal havia se recuperado do último ataque simultâneo que teve em meses, tiveram perdido inúmeros homens e para o alívio do rei suas tropas conseguiram manter as tropas inimigas longe das aldeias evitando que mais civis fossem mortos. Por mais que Ralph tivesse perdido a vida, todos ali presentes reconheciam que o mesmo tivera sido sua melhor arma e ferramenta para vencer dessa vez.
- As proteções das fronteiras ainda estão em pé, imobilizando as tropas, há também estreitamento da circulação para levar suprimentos aos homens eles estão cingidos.
- Esse não é nosso real problema, majestade, cavalheiros - dirigiu-se aos homens que o olharam atentamente - Fazermos prisioneiros não resolverá qualquer conflito que enfrentamos, seria um bom isentivo e demonstração de boa vontade se deixássemos livres os prisioneiros feitos no último ataque, deixe-os retornar a seu país para que entendam nosso desejo de paz.
- É arriscado, não podemos esperar que os homens simplesmente vão embora depois de estarem dias encarcerados na cidade - diz Alfred, um homem de grande porte físico e bigode arrumado que pertencia ao conselho
- Nenhuma das decisões que tomarmos estará incólume de riscos, porém, creio que podíamos tentar evidenciar um acordo de paz - continuou o Duque - diz-me Lorde Constantine, quantos homens viu morrer afogados no próprio sangue quando as últimas palavras que tentavam dizer era o nome de um ente querido que nunca mais veriam? – silêncio, apenas silêncio se fez ouvir sob o olhar atento do rei. – bem me pareceu. Sabe quantos homens eu vi? Dezenas, muitos deles nos meus braços, então não me peçam para continuar com esse conflito sem sentido.
– Acha sem sentido defender seu país? – acrescentou outro homem
Massageou o vinco na testa e pressionou os olhos, aquilo seria exaustivo.
– É sobre criar novas estratégias, um confronto direto já não nos é conveniente.
- Porquê acha que não devemos intervir quando nossos homens também foram mantidos reféns? - sondou Darwin, que se mantivera calado desde o início da discussão
- Intervir agora será aceitar um novo conflito, dar início a uma corrente de novos conflitos. Ainda não estamos recuperados do último.
- Ignorar seria confirmar derrota, e abandonar nossos homens, que imagem passaríamos sobre o país se assim o fizéssemos? Acha prudente ignorar?
- Continuou o Barão num tom desafiador
- Não, defendo a necessidade de um acordo. Estamos desfalcados pela guerra. – Aliados vizinhos mostraram-se receptivos a isso.
- Nossos homens são formados para responder ao chamado de guerra.
- É isso que dirá para as crianças? Que são nascidas para morrer num campo de batalha sozinhos e abandonados? - todos observavam os dois homens que pelo que mais parecia atacarem um ao outro pela forma que se dirigiam, sem que o Barão o respondesse Edward dirige-se ao homem na sua frente - General William, quantos anos tem seu filho mais velho?
- Dezassete
- Quando o juntará às tropas?
O homem gelificou, Edward havia se referido a seu único filho homem. Seu herdeiro, aquém o general confiava a continuidade de sua linhagem
- E-e... - Coçou a garganta com um leve pigarreio - em breve
- Edward suspirou áspero, ninguém naquela sala seria honesto ao ponto de admitir seus pensamentos.
- Aprontarei meus homens para defender a cidade, porém, não para atravessar qualquer fronteira. É minha última palavra, vossa majestade. Com todo o respeito peço que pense a respeito. Estarei pronto para o que decidir. - Se levanta para ir embora.
Os olhares e murmúrios eram palpáveis. Cada membro aí presente sabia do forte temperamento do Duque, sabiam também que embora respeitasse o Rei, não filtrava ao expor seus pensamentos, seu tio estava acostumado com isso, o rei sabia que seu sobrinho havia herdado o temperamento de sua irmã mais nova. Por essa razão o tornou a chamar e perguntou-lhe.
- O que sugere? - Perguntou o rei com a expressão facial indecifrável como sempre.
- Deixe-os ir, que nossos homens levem até a fronteira e com eles nosso acordo de paz, se não houver intenção de aceitarem o acordo, não hesitarei em juntar-me a vós.
Às vistas do rei era visível o empenho de Edward para que a paz que tem havido nos últimos meses se mantivesse - Embora seus homens tivessem alerta, Edward, respondia para que suas respostas fossem bem recebidas sem mal interpretação. - Ponderou o rei em pensamentos
- Assim será, porém, no primeiro sinal mal-intencionado de Alciros atacaremos sem pudor. - Sentencia o patriarca, sentando em uma cadeira de felpudo e madeira, numa área com mais degraus que se assemelhava a um trono, com aceno de cabeça quase despercebido Edward assentiu.
Para a felicidade de muitos e irá de alguns, Edward havia convencido o rei, uma situação que aos olhos reprovadores do Barão e seus seguidores deu-se porque o patriarca atendia ao pedido do sobrinho.
Já os adeptos da paz concordavam plenamente com Edward, o país estava deprimido devido as baixas sofridas nos últimos ataques e o Duque estava disposto a restaurar isso se o rei assim permitisse
Enquanto os homens faziam o caminho de volta para o grande salão, Darwin junto de seus dois companheiros aproximaram-se de Edward
- Parabéns, conseguiu convencer o rei outra vez. - diz o homem do lado esquerdo ao Barão
- Esse não é o único motivo pelo qual o Duque merece as felicitações - o tom de voz e olhar insinuativo usado pelo homem fez Edward ranger os dentes, e se não fosse por Vicente que pôs sua mão sobre o ombro do amigo alguma coisa aconteceria. - Sua esposa é uma bela dama, embora, de pavio curto, entretanto é uma bela dama. Contou a ela sobre a morte de Ralph? Deixa-me adivinhar... não? Ho ho - riu em deleite - devo dar-lhe os parabéns por isso também!
- Mandei-lhe ficar longe de minha esposa, se voltar a importuna-la esquecerei que somos homens civilizados e acabarei com você!
- Ameaças não combinam com você!
- Está avisado, outra vez! Será a última - frisou
- Somos civilizados, Duque como vos os dissestes. - Ironiza
Sem o responder Edward se afasta para um dos cômodos entre o grande salão e a porta traseira
- Por mais que seja difícil admitir, sabe que ainda tem esse assunto pendente com sua esposa, como a convencerá que não teve envolvimento algum com a morte do general Ralph?
- Não sei. Não sei como contar-lhe a verdade ou fazê-la acreditar em mim, como dizer que não tenho nada a ver com a morte de seu pai mesmo depois do que fiz? Não o matei, mas talvez seja tão culpado quanto quem o fez.
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*Cantiga de Pero Garcia Burgalês (século XIII) *
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