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Capítulo Único

A ideia para este conto surgiu-me numa tarde rotineira após uma manhã de aulas. Foi uma inspiração tão rápida e tão intensa, que a primeira coisa que fiz foi agarrar num caderno de apontamentos e escrevê-la à mão — algo que raramente faço, pois geralmente as ideias fluem mais rápido que a minha escrita — do princípio ao fim.

Depois, passei tudo o que tinha no papel para o computador e editei algumas partes. Todavia, preferi não a tornar pública, pois tinha algum receio que não estivesse boa o suficiente.

Agora, algumas semanas depois, reli-a e percebi que a mensagem que contém talvez possa vir a inspirar outras pessoas. Portanto, aqui está ele.

A Dona do Gato Preto

Na minha aldeia não havia gatos pretos. E, se havia, nunca ninguém admitiu ter um. Talvez por isso, eu tardara tanto a perceber o que eram, de que se alimentavam e como sobreviviam por tanto tempo.

Quando amadureci e fui obrigado a vir para a cidade, deparei-me pela primeira vez com um. Ali, tentando entrar no meu prédio e à espera que o alimentasse. No entanto, não o vi. E ele acabou por partir tão subtil como chegou.

Com a vinda para a cidade, várias outras coisas mudaram. Entre elas, a minha voz. Os meus pelos do rosto, as minhas mãos e pés. Até mesmo o meu cabelo, que escureceu devido à falta de sol.

Enquanto na aldeia ninguém tinha tempo para alimentar gatos pretos, na cidade eles eram alimentados demais. A situação era-lhes tão favorável que se tornaram uma praga.

Toda a gente os alimentava. A falta de ar alimentava-os; a mudança de hora alimentava-os; a falta de diálogo entre as pessoas, bem, essa fazia-os proliferar.

Para alguém com a minha idade, afastar os gatos pretos era algo que não havia aprendido a fazer. Eles eram imensos. E eu, na minha inocência, achava que ao alimentá-los eles deixariam de aparecer.

Quando percebi o que ter um gato preto significava, comecei a encontrá-los nas casas de outras pessoas. Nas ruas, na escola, em família. A cidade estava cheia deles.

De volta à escola, eu encontrava-me com um enorme problema; não conhecia ninguém e ninguém me conhecia a mim.

Mais gatos pretos.

E foi num desses dias sozinho, assustado e rodeado de gatos, a maioria deles pretos, que falei com a minha mãe e ela me aconselhou a procurar a Dona dos Gatos Brancos.

— Os gatos brancos são um mito — disse, convicto das minhas palavras. — Não acredito neles. Por dentro, todos os gatos são pretos.

No domingo seguinte ela obrigou-me a ir à missa, na esperança de que eu a encontrasse, porém não apareceu.

A falta de gatos brancos na minha vida estava a deixar a minha mãe preocupada, pois ela via em mim o reflexo do meu pai. Se ele já cá não estava, era por um único motivo: alimentara tanto os gatos pretos, que a dona deles os veio buscar e levou-o com ela.

Com a chegada da minha primeira primavera na cidade, os gatos escuros diminuíram, e penso que vi pela primeira vez um gato claro. Não digo que fosse branco, mas o pelo brilhava mais que o normal. Se me lembro, os olhos eram de um verde pálido, e nesse momento eu comecei a sentir alguma esperança de que as coisas melhorassem.

Com o brotar das primeiras flores, comecei a encontrar gatos de cores, tamanhos e raças diferentes todas as semanas. Algumas delas que eu nem acharia possíveis de existirem ou de me encontrarem.

Foi a partir daí que fiz amigos para a vida, plantei flores, colhi frutos e lições, sofri com os ventos, aprendi a abrigar-me da chuva. Mas, sobretudo, descobri como ignorar um gato preto.

E venci medos, subi montanhas, caí em pedras e fui empurrado para abismos só para aprender a sair sozinho de lá.

Apaixonei-me.

Aconteceu no momento em que os meus olhos caíram nos dela, que tinha um gato branco. E o seu olhar tinha todas as cores.

E voltei a plantar flores, desta vez para lhe oferecer. Voltei a sofrer com ventos só para lhe poder dar o meu casaco. Subi montanhas para lhe mostrar que a noite não é sinónimo de gatos pretos.

E ofereci-lhe mais flores, tantas quanto tive tempo de plantar e tantas quanto tiveram tempo de crescer. Já no verão, colhi os frutos amargos para mim e dei-lhe os doces. Apanhei constipações e gripes com a chuva que caía no início do outono. E já nas montanhas, sozinho, perdera-me, pois ela não me quis acompanhar.

Quando as folhas começaram a cair, as flores já não eram tão belas. Os frutos já não eram tão doces. E a noite encheu-se de gatos pretos quando ela se tornou num. Depois disso, comecei a desejar a conhecer a Dona do Gato Preto, que me batia à porta todas as noites.

Chegara o inverno e todos os gatos brancos desapareceram por completo. Branca era agora a neve da minha aldeia, que eu não via há um ano.

Um ano que passara, dois, três e quatro. Quatros anos sem ver neve nem gatos brancos. Talvez nunca mais os visse, agora que me tornara um adulto.

O branco passara a ser sinónimo de algo novo, os cabelos da minha mãe. Oh, como o tempo era implacável. No entanto, os gatos brancos eram imunes ao tempo. E eu continuava a querer encontrar um novamente.

Decidi falar com um dos meus amigos próximos sobre isso. Contei-lhe que na minha aldeia não haviam gatos pretos e que em tempos alimentei um gato branco.

A resposta foi breve, porém sublime:

— Eles existiam; tu é que não os vias.

Fazia sentido. Fazia demasiado sentido. Eu só os vi quando me deparei com um deles. Mesmo não os conhecendo, eles sempre lá estiveram. Afinal, o meu pai sofreu com eles antes de o levarem.

No meu momentâneo encanto por aquela revelação, pedi-lhe que me explicasse como encontrar um gato branco. Ele riu-se, sorriu e por fim respondeu:

— A minha irmã tem um.

E tinha. Ela tinha literalmente um gato branco. Porém de gatos literais estava o mundo cheio. Então perguntei à dona do gato branco literal onde podia encontrar o gato branco.

Ela respondeu-me que os gatos brancos não se procuram; eles encontram-nos.

Enfim, eu estava tão obcecado em encontrar um que me esqueci que não se atinge a felicidade procurando-a.

E que melhor forma de agradecer a alguém por tal iluminação na minha forma de pensar do que beijando-a? Bem, talvez até existisse uma forma melhor. Mas esta era a que eu mais queria fazer.

Claro que por tal atrevimento levei uma chapada no rosto que me dói até hoje. Contudo ela perdoou-me imediatamente e pediu-me desculpa. E alguns dos meus gatos pretos nunca mais voltaram a aparecer.

Se ela era um gato branco? É óbvio que não. Os gatos brancos estavam em mim; ela só me ensinou a encontrá-los. E a alimentá-los, a cuidar deles, a cuidar dela, que me fez descobrir um pouco da primavera em todas as estações.

E mais mil beijos vieram, assim como mais alguns gatos pretos, no entanto foram mais que os se foram do que os que vieram depois daquela estalada.

À minha mãe expliquei que por vezes os gatos pretos se tornam uma epidemia, uma praga, uma doença. E que o meu pai tinha tantos que foi incapaz de os derrotar. Por isso a Dona do Gato Preto levou-o para sempre com ela.

Já aos meus filhos ensinei que as flores se plantam, que os frutos se colhem, que podemos abrigar-nos da chuva e do vento sem esperar nada em troca, porque as montanhas foram feitas para serem subidas e os abismos para cair.

Mas, sobretudo, ensinei-lhes que os gatos que nos acompanham são aqueles que escolhemos alimentar.



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