♤ VINTE E TRÊS ♤
Que estejamos preparados para o destino de nossas escolhas.
Com toda a situação, senti a necessidade de ficar em meu aposento por mais tempo e meu rei decidiu que eu não poderia ficar sozinha, então, ele veio para cá a fim de me fazer companhia. Estamos há horas conversando sobre os últimos dias e agradeço pela maneira sutil de meu amado em contar-me sobre tudo. Sinto que uma nuvem cinza rodeia sua mente e espero que a qualquer momento ele exponha o que lhe incomoda.
— Sinto muito, sinto muito por tê-la metido em tudo isso.— revela Derek, me concedendo seu melhor olhar de pedido de desculpas.
— Não foi você quem me colocou em tudo isso, foram as circunstâncias, as escolhas do destino. Sei que não esperávamos tantos conflitos, uma montanha de obstáculos em nossos caminhos, entretanto, veja o quanto que aprendemos nos últimos tempos. Eu o amo mais hoje que em qualquer dia anterior e o amarei ainda mais daqui a uns anos. E não poderíamos fazer nada para mudar isso, é o nosso destino, mesmo que em partes seja necessário sofrer.— digo tentando tranquilizá-lo. Derek me beija, um beijo leve e carinho, repleto de cuidado, enquanto me presenteia com seus olhos dourados.
— Ah! Meu amor, senti tanto sua falta. Eu poderia abandonar tudo, meu reino e minha coroa, apenas para tê-la bem e comigo.— pronuncia Derek me fazendo aconchegar ainda mais em seu colo.
— Sei que sim e nunca duvidaria disso. Porém, jamais pediria isso, apesar de toda a minha relutância, contra um casamento arranjado e ter uma coroa sobre minha cabeça, estou ciente que é o melhor que esse povo pode ter. Sua calma às vezes me assusta, mas isso é bom.— confesso fazendo carinho em seus cabelos e o vejo refletir sobre o que eu disse.
— Passei por tantas coisas que meu aprendizado fora ter a calma como aliada. Desesperar não me levou para lugar nenhum, só me deixara mais ansioso, sem perspectiva e esperança. Um homem sem esperança, minha joia, não passa de um punhado de pó sem direção, sem propósito de vida.— explica Derek e faço que sim em concordância.
— Qual foi a sensação de ver sua irmã depois de tanto tempo?— questiono, pois, preciso sondar como está seu ânimo para com ela, desde sua saída ele não comentou sobre ela ou o que pretende futuramente.
— Eu amo minha irmã, queria abraçá-la e chorar pela morte da nossa mãe, mas Lívia nunca fora assim, todas as quedas para ela era um aprendizado, uma recordação para nunca mais desabar e, por isso, ela nunca nos mimou, só nos ensinara a viver, a não ver os erros de Stella.— ao responder vejo que ele ficou cabisbaixo, ficando aparente como esse assunto o deixa incomodado.
— Entendo.— digo, sinto que toquei em uma de suas feridas e mudo de assunto para acabar com o clima pesado.— Tia Ana respondeu, disse que devo ir para Eiwink e, para não ir sozinha, levarei Cefeida comigo.— o informo e espero receber sua réplica em resposta
— Por favor, Jade. Deixe-nos resolver, ainda está se recuperando do último acontecimento.— contesta ele, sabendo que seu pedido é em vão.
— Até parece que não me conhece, acha mesmo que ficarei quieta quando tenho um ótimo desafio pela frente? Não subestime minha força e coragem, Derek. Não pense que irei parar de tentar salvar quem amo, porque não vou.— vejo na face de Derek algo incomum, apenas uma ruguinha que só existira meses atrás, quando ele me escondia sobre o que acontecera nos oito meses em que estava sumido. O abraço, sinto seu peito em um ritmo descompassado e ponho minha mão ali, pois, sempre serei a única a acalmar seus medos e acalentar seu coração.
— Minha pequena guerreira, imagine quando tivermos filhos...— sinto meu peito ganhar uma nova batida com o comentário e imagino como eu seria no papel de mãe, o pensamento me faz dar um largo sorriso, tempos atrás tudo isso seria considerado um devaneio sem sentido, porém, agora, tudo está em seu devido lugar.
Passamos o último dia curtindo um ao outro, sem tentar, de alguma forma, voltar a nossa atenção para toda a confusão em que estamos metidos. Naquele quarto éramos apenas um só, um encontro de duas almas que poderiam esperar anos para ficarem juntas. Ninguém veio nos interromper, não houve nenhum comunicado importante, nenhuma reunião do concelho ou até mesmo papai e Cefeida vieram até aqui, é como se todos soubessem que precisávamos desse momento, de nos conectarmos novamente. Mas, com o fim do dia, chegara uma nova correspondência, essa que me recordava dos meus deveres, como interventora e futura rainha. Ainda sentindo um pouco de tontura e dor, arrumo algumas poucas mudas de roupas em uma pequena mala e tento sobreviver com o que irei fazer. Creio que, no fim, irei ganhar o prêmio universal de humana mais inconsequente, pois, confesso que me meterei em mais uma confusão, porém, prometo que essa será a última. Deito em meu leito sentindo-me mais leve, com toda certeza o dia me fizera bem.
O dia amanhecera límpido, o céu repleto de nuvens esbranquiçadas e aves a planar sobre o imenso mar índigo. Do vão do meu aposento, reconheço as avenidas de Limbell e ao fundo, em uma distância considerável, observo o porto, o único que conecta o nosso reino ao novo continente. Não sei como está a situação para a navegação, nunca sai de nosso pequeno mundo. Sandelle é tão vasto, que precisaria muito tempo para sabermos sobre tudo que há nele e eu amaria desvendar e descobrir todas as singularidades existentes.
Tomo um banho relaxante, dessa vez sem a ajuda de Mallory, a minha segunda mãe. Ela acredita que não, mas eu lembro de tudo que ela fizera por mim e como cuidou para que tudo estivesse o melhor possível, para que minha recuperação fosse menos dolorosa. Sorrio com o pensamento, passamos tanto tempo separadas que deixei de cativá-la, de demonstrar toda a minha gratidão.
— Jade, está pronta?— questiona Cefeida me tirando dos pensamentos. Observo seus cabelos em um belo penteado, os lábios pintados de rosa, o vestido de mesma cor e balanço a cabeça em negativa.
— Já irei me trocar. Já está com tudo pronto?— respondo, devolvendo com outra questão.
— Sim, o automóvel já nos espera. — responde ela, com uma preocupação aparente em sua face. Vejo que há um vinco entre suas sobrancelhas, o que não é comum para minha irmã e que não combina com o modo que está trajada.
— Não demorarei, pode me aguardar na entrada.— informo e me ponho a acelerar o processo, mesmo que seja pouco possível.
Assim que estou pronta, Derek vem buscar a minha pequena mala para descermos juntos. Me despeço de todos, apesar de me programar para passar apenas dois dias com minha tia em Eiwink.
— Filha, por favor, não tente mais nada imprudente. Veja como ainda não está bem, sei que não posso impedi-la, mas, por favor, pense em nós.— implora meu pai e reconheço o desassossego com minha ida ao submundo, entretanto, é algo que preciso fazer para ajudar todos nós.
— Não se preocupe, papai. Não farei nada que ponha minha vida em risco, pelo menos, não agora.— brinco e recebo seu abraço, como se fosse uma despedida e isso não me alegra.
— Vamos Cefeida, Lênin já nos espera há tempos.— digo, avistando Lênin que não está tão distante de nós.
— Não se preocupe, senhorita Jade. Engatei em um diálogo divertido com seu pai, não percebi o tempo passar.— responde ele e minhas dúvidas são esclarecidas quando noto uma troca de olhares suspeita. Como se ambos estivessem de acordo com algum determinado assunto.
— Então, vamos.— digo e apago o pensamento da minha memória.
A viagem fora tranquila e sem muitos diálogos. No caminho para Prylea, observo a mobilização contra o que fora feito por mim, as ruas possuem mais guardas, a tranquilidade de outrora não é mais presente e me questiono o que perdi durante os poucos dias que passei reclusa no Palácio. É difícil ver a mudança, os telões expostos no reino e nas pequenas cidadelas, todos pintados com as imagens de Lucas e do rei, informando que eles são fugitivos. O pior é que não havia visto ou reparado no avanço, no progresso, fiquei presa naquele palácio por meses, e ao sair havia tanto o que fazer e preparar, perdi tempo em uma avaliação desnecessária. Vivemos regidos por um sistema bruto, no qual a lapidação só retarda, porém, sou o futuro, nós somos o futuro e podemos ser mais que isso, bem mais. A questão principal é abrir os olhos, reconhecer nossos valores, ideologias e tentar moldar o nosso redor para algo melhor. A união faz a força, a totalidade e não estou sozinha. Não sei em qual parte do trajeto encosto minha cabeça nos ombros de minha irmã e imagino como para nós a situação fora favorável, pois, não foi preciso nos separar de quem amamos.
O palácio de Prylea está surpreendentemente vazio, não há pessoas circulando pelos corredores ou habitando nos aposentos, como antes de todo o conflito. Os zeladores e os demais funcionários não estão por perto, vejo apenas Mila, que sabe de nossa vinda, e agradeço aos céus por isso. Atravessamos os corredores, sem nos apegar aos detalhes e adentramos a biblioteca, tudo está como antes e me recordo de outros instantes que vim aqui, das outras pessoas que estiveram comigo.
— Não há outro caminho além da passagem da biblioteca?— questiona Cefeida, após iniciarmos nossa caminhada.
— Não, temos que atravessá-lo para chegarmos em Eiwink.— respondo e percebo sua inquietação. Essa menina, hoje, está me deixando nervosa. Algo nela não é familiar, sua inconstância me faz ficar em alerta e a espera de qualquer ação futura.
— É tão escuro, sabe que não sou a melhor pessoa para isso.— replica minha irmã, cruzando os braços simulando um frio inexistente.
— Por favor, Cefeida! Sei que não teme o escuro ou pequenas teias de aranha. O que está havendo?— indago ao sentir que algo está incomodando.
— É que não tenho boas recordações de lugares fechados, tem a ver com o último acontecimento.— explica e seguro suas pequenas mãozinhas.
— Não se preocupe, estamos juntas e não deixarei que a levem novamente. Eu prometo.— garanto, sentindo um conflito interno aflorar, por saber que, de certa forma, estou mentindo.
— Tudo bem, confio em você.— responde minha irmã e sinto um nó se formar em minha garganta. Em meus planos isso seria fácil, no entanto, agora, sinto o bendito suor se formar na palma das minhas mãos.
Andamos sem pressa e com pequenas pausas, mas não demoramos tanto tempo quanto o normal. Pego o pequeno canivete, que carrego em um bolso escondido no meu vestido, e o seguro sem que Cefeida veja. Vemos o clarão adentrar e sinto meus olhos buscando adaptar-se com a claridade.
— Preciso confessar algo.— diz Cefeida sem me causar surpresa.
— O que?— indago já sabendo a resposta, mas fingindo certo desentendimento. Eles imaginaram que eu não saberia, que não deduziria que o próximo passo era tentar me afastar de tudo, porém, foram falhos em me subestimar.
— Papai me deixou vim para garantir que você não volte. Assim que tia Ana mandar para ele que estamos com ela, ele fechara todas as saídas e entradas até tudo estar resolvido.— confessa, me dando um olhar de quando ela fazia algo errado.
— Eu sei, Cefeida. Aceito a decisão de papai, reconheço que não estou pronta para mais uma guerrilha. Meu corpo não suporta, estou cansada e, por esse motivo, irei ficar com todos aqui a salvo.— advirto, dando um fraco sorriso.
— Obrigada, pensei que não iria entender.— anuncia e me abraça. Fecho meus olhos e acaricio seus fios castanhos, ao me afastar olho nas profundezas de sua íris e vejo presente uma pureza, a inocência que preciso preservar.
— Sei que é para o meu bem. Agora, vamos, preciso de sua ajuda para descer.— digo e vejo Cefeida fazer que sim. Observo suas pequenas mãos segurando uma pequena ramificação que a ajudará a descer a ribanceira. Espero que esteja próxima do solo e fecho os olhos sentindo a minha respiração estar pesada.
— Me perdoe, Cefeida.— confesso e ela me analisa sem entender. Antes que ela perceba, corto a ramificação em que ela está apoiada e assisto o seu corpo rolar até chegar nas proximidades do pomar de cerejeiras. Não espero para ver o depois, apenas parto para a biblioteca antes que também fique presa aqui. Sinto as lágrimas banharem a minha face e as seco com um pedaço do vestido verde que uso. Puxo a mala com dificuldade, apesar das rodas, e, durante o caminho, vou fechando todas as vias de acesso que contém portas, para retardar, caso alguém tente refazer o caminho. Apesar de haver uma boa recuperação e tomar todos os medicamentos indicados, sinto dores, mas nenhuma é maior do que ver o corpo de minha irmã sendo lançado por mim. Porém, prometi a mim mesma que ela não passaria por tudo aquilo novamente, ela não veria mais ninguém morrer ou usaria suas mãos para matar alguém. Prefiro carregar esse fardo sozinha ou com pessoas que estão acostumadas com isso. Passo pelo último corredor e noto a claridade vindo da biblioteca, seguido da face de um dos guardas que está a cumprir minhas ordens.
— Senhorita Jade, é uma satisfação servi-la.— diz ele, enquanto estende a mão para me cumprimentar.
— Ravih, é uma satisfação revê-lo.— respondo, ainda sentindo o peso do que fizera a pouco.
— Devo iniciar agora?— me questiona Ravih, esperando apenas a minha confirmação para fechar todas as entradas.
— Sim, quero que o deixe intransitável.— informo e me retiro para não ver o lugar sendo destruído. Ouço o miado do meu felino e o busco para partir comigo, me surpreendo com os pequenos olhinhos e afago meu pequeno presente.
— Vejo que foi bem tratada, pequena esmeralda, agora temos uma nova aventura para viver.
Olá, amores!!❤️❤️ Estamos na reta final de “A destinada real” e já sinto a sensação de despedida. 😭😭😭
Então, está aqui mais um capítulo e agora faltam apenas sete, se não houver alterações na programação inicial. Espero muitooooo que gostem e comentem aqui o que acharam.
Um beijo da fadinha azul e boa leitura.🧚💙
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro