♧ VINTE E DOIS ♧
Inconscientemente, trouxera de volta o medo que rodeava seu coração.
♧ Por Derek ♧
Quando cheguei em Prylea e soube que Jade havia ido para Abeiron, enfrentar o rei Dallas sozinha, soube que isso não terminaria bem. O rei, em todas as negociações, sempre fora o mais calculista e ganancioso, tanto que sempre usava a sua filha como moeda de troca. Precisava pensar, para o bem dela, eu devia ser cauteloso e fora essa cautela que quase me fez perdê-la. Busquei por ajuda e primeiro consegui tropas de Ulyere para se unir as de Limbell, porém, esses trâmites são demorados e, por isso, não consegui ir de imediato, pois, sozinho eu não passava de um jovem rei sem proteção, e poderíamos estar todos mortos nesse momento. Soa ridículo, eu sei, mas quando Valentin passou por minha visão me vi com mais esperanças, mesmo com nossas desavenças e todo o ocorrido de outrora, sei do carinho que ele tem por minha joia e como jamais a deixaria em uma situação perigosa como a que ela se encontrava. Não somos amigos e tão pouco próximos, no entanto, ele liderara um pequeno exército e ajudara nos momentos difíceis que passamos, seria alguém em quem podia confiar nesse trajeto.
Quando tudo estava pronto, marchamos para Abeiron e minha esperança era a de que não houvesse acontecido nada de grave com Jade, que sua demora em aparecer fosse apenas pelos homens que ela retirava de seu caminho. Todos me olhavam com certa preocupação, estava calmo demais, pensativo demais e ninguém entendia a minha tranquilidade. Por fora um muro de pedras, porém, por dentro eu só clamava a qualquer que o fosse o ser celestial, implorava que deixasse eu vê-la bem e com seu sorriso na face ao lado de nossa pequena Cefeida. Entretanto, toda a tranquilidade caiu por terra quando invadi o reino e vi tudo calmo, quieto e sem sinal de um exército para enfrentar. Não esperei por ninguém e adentrei ao palácio correndo como se minhas pernas houvessem domínio próprio, meu peito queimava, ardia por ver todos os corredores vazios e por saber que Jade é o tipo de guerreira que deixa marcas por onde passa, ela não é piedosa com seus adversários e, por este motivo, temi pelo que viria à frente.
Quando vi nos corredores alguns corpos de soldados mortos, alguns por arma de fogo e outros por lâminas, senti certo alívio. Notei que os meus soldados já me alcançavam e pela quantidade de corredores ordenei que grupos saíssem em busca de minha amada em direções opostas. Porém, não houve necessidade, pois, Cefeida, toda pequena e desesperada vinha em nossa direção trazendo Jade em uma cadeira, completamente apagada e amarrada.
— Cefeida, o que aconteceu?— questionei sentindo meu corpo perder o chão, principalmente ao ver sangue manchar todas às duas e transbordar pelo corpo de minha amada. Cefeida se debulhava em lágrimas e desespero e passei a sentir um medo incomum, uma sensação de perda que jamais sentira, mesmo quando imaginei jamais vê-la naquela sela subterrânea. Minha pequena correra para meus braços e senti seu corpo tremer, eram tantos tremores que não seria capaz de confortá-la como merecido, então o melhor era outro alguém acolhê-la enquanto eu buscava ajuda para Jade.
— Cefeida, alguém tire ela daqui e rápido! Ângelo me ajuda, preciso pôr ela na maca.— disse e passei a não ver mais nada, tudo ficara nublado e iniciei o modo automático. Saímos em disparada pelos corredores, mas todos são tão iguais que nos perdemos. Fiquei louco, sabia que cada tempo perdido eram minutos de sua vida que poderia deixar de existir, eu gritava, esbravejava como um cão louco, prestes a perder o resquício de sanidade que possuía. Vi Abbey correr até nós, desesperada, e a esperança surgir novamente, já que ela era a única que saberia nos ajudar a levar Jade para um pronto-socorro. Busquei demostrar força, ser o que esperavam de mim como rei, mas por dentro tudo queimava e rasgava, era uma sensação de insuficiência, incompetência, pois eu deveria ter a impedido, deveria ter ido mesmo sem ajuda, eu morreria por ela, daria tudo que tenho, desde que ela estivesse ao meu lado.
Quando chegamos logo a levaram para a sala cirúrgica, o caso dela demostrava ser muito grave, pois, ela perdera muito sangue pelo que Cefeida nos contou e também por causa da demora para recebermos notícias. Aguardar o resultado foi como ter uma pedra rasgando a garganta, como ter o peito cumprindo e ao meu tempo estraçalhado. Ela é a vida que pulsa em mim e sem ela não há motivos para continuar a viver, pois se sobrevivi todo o tempo vivendo como os escravos de minha mãe era na esperança de vê-la e tocá-la. Foi com o sentimento de dor que fiz um juramento: me vingarei de todos eles, Lucas não ficará impune pelo que fez e pagará na mesma moeda.
Agora, durante o tempo que estamos todos esperando por notícias, saio um pouco para derramar as lágrimas que insistem em cair, saio não com vergonha de estar a chorar, mas por saber que minha mãe foi o dominó que derrubou todas as pedras e, mesmo depois de sua morte, ela ainda traz o caos para nossa vida.
Volto para a sala de espera e recebo olhares de condolências, observo o doutor passar pelo corredor e vir em nossa direção, sinto meu peito ganhar uma nova batida, similar aquando estou cavalgando em toda a fúria.
— E então Doutor?— questiono secando algumas lágrimas que teimam em cair e temendo a sua resposta.
— Vossa Majestade, senhorita Haas, tenho notícias da situação da senhorita Jade Haas. A situação é pior do que imaginávamos, o projétil foi retirado, mas as sequelas já estão presentes desde a cirurgia. Ela não acordara, seus sinais vitais têm frequência diminuta e já os adianto que estamos fazendo tudo possível, mas não posso garantir mais que isso. Sinto muito.— o olhar que o doutor nos dá é de pesar e me custa a acreditar que ela partirá dessa maneira, ela não vai me deixar, ela não pode me deixar. Saio do local e deixo todos sem entender minha ação repentina. Procuro por Clóvis, um de meus soldados leais e peço que chame o general Siego e o Doutor Castillo. Respiro fundo e chuto algumas pedras que estão no meu caminho, jogo-me no chão sujo e frio, para chorar, derramar toda a dor que sinto e me lembrar dela, de todas às vezes que ela ria dizendo que eu era o mais sentimental, o lado mais calmo e avaliador de nós dois. Ela sempre fora a força, a rocha que separa as montanhas e que lidera exércitos, ela sempre fora o que sempre quis ser e agora ela está lá a mercê de algo que nenhum de nós podemos dar: a possibilidade.
Preciso parar de lamentar, parar de fugir da minha responsabilidade e buscar a força nela, a força que a mantém viva.
— Vossa Majestade, o general Siego.— diz Clóvis, espantado com minha face e com minha possível feição de derrota.
— Boa noite, General. Preciso que reúna a maior tropa que conseguir e parta em busca de notícias sobre Dallas, meu irmão e seu exército. Não tenha diplomacia, quero a cabeça de presente, se é que me entende.— comunico sentindo meus olhos arderem, trinco o maxilar e fecho minhas mãos em punhos, pois, queria eu acabar com todos eles e ver jorrar sangue de cada um.
— Sim, Vossa Majestade. Há algo mais em que possa ajudar?— indaga o general.
— Fale com a governanta para deixar tudo preparado, levarei Jade para o palácio e quero o melhor para ela.— digo, sentindo o peso de minhas palavras sobre meu cerne que jaz destroçado e em frangalhos. O vejo assentir e me deixar sozinho novamente. Levanto-me e me recordo de quê o César, pai da Jade, não fora avisado e logo envio o recado por um de meus guardas. Retorno para junto de Cefeida e Ângelo, constato que Valentin já não está entre nós e aguardo apenas a chegada de Doutor Castillo para solicitar a transferência.
Os últimos dias foram um pesadelo sem fim, apesar de todos os cuidados e da constante avaliação dos doutores, Jade não demonstrara nenhuma melhora. Passei todos os dias ao seu lado, velando seu sono profundo e fazendo milhares de promessas para quando ela acordar, pois, tenho a certeza de que verei seus lindos olhos novamente e o seu sorriso direcionado apenas para mim.
— Majestade?— adentra Siego fazendo uma pequena reverência.
— Entre!— respondo sabendo qual o intuito de sua visita.
— Encontramos o seu irmão e o rei Dallas.— diz ele analisando minha feição. Nos últimos dias, todos tem feito o mesmo, aguardam o momento em que perderei as estribeiras e deixarei de sofrer a minha dor quietamente. Estão acostumados com a vossa falecida majestade que não perdia a oportunidade de espancar seus súditos.
— Onde e porquê já não o trouxe?— questiono pacientemente, mas notando o tremeluzir das minhas mãos.
— Eles estão em Hainã, não podemos adentrar sem a autorização da rainha sua irmã ou o rei Draco. — responde e faço que sim.
— Lívia será o problema. Não nos falando há muito tempo, ela nem ao menos soube da morte de nossa mãe e se eles estão lá é porque prometeram algo para ela.— informo buscando maneiras de estreitar as relações com ela. Lívia fora o motivo que me fez descobrir tudo, ela simplesmente casou com um homem da idade de nosso pai, sem ao menos o conhecer, fiquei atordoado, sempre fomos próximos e não entendia o porquê de nos abandonar. Decidi investigar por conta própria e soube que ela havia visto o que nossa mãe fazia. Ela levou Tiago e Pietro com ela e me deixou com o Lucas para governar em seu lugar. Ela é a mais velha de nós cinco, a mais calculista e semelhante a nossa mãe, até mais que o próprio Lucas.
— O que devemos fazer?— indaga ele buscando informações em meu semblante, algo típico dos meus soldados, como analisar o território antes de adentrar ou invadir.
— Apenas fiquem de olhos abertos, havendo qualquer movimentação deve vir diretamente para mim. Hainã é a meninas dos olhos de ouro para minha irmã, o continente perfeito como ela sempre disse. Não queremos nos meter em mais problemas.— informo fechando os olhos e pensando o porquê de tudo isso, o que fizemos para merecer tal infortúnio.
— Certo, majestade.
Sinto o chão frio sob meus pés e experimento o pior sentimento de devastação, não é possível que tudo o que fiz não a tenha feito melhorar. O doutor Castillo me pedira para despedir-me dela, pois, seu tempo era curto, ele não sentia mais a vida pulsando em seu corpo e a qualquer instante ela daria seus últimos batimentos cardíacos. Me neguei a dar o braço a torcer e prometi que a visita que faria não seria uma despedida, apenas mais uma conversa que teríamos. Toda uma lembrança viera em minha mente e me vi novamente lhe entregando o anel em formato de coroa, porque ela é e sempre será minha eterna amada. Enquanto as lágrimas caem em sintonia com os soluços que insistem permanecer em meu corpo, recordo-me do dia que Cefeida nos convidou para sair, fora uma jogada de mestre, confesso, e mesmo com seus protestos, suas palavras de uma mulher magoada, ali me apaixonei mais uma vez por ela e sucessivamente todos os dias seguintes. Encosto minha cabeça na parede e percebo uma movimentação estranha no quarto de Jade, ao me levantar para ver do que se trata noto um Ângelo com a fronte pálida sair do quarto. Seco as lágrimas e vou em sua direção, suas mãos instantaneamente seguram meus ombros e recebo o seu abraço, isso, para mim, é o fim, pois, sei o porquê de tê-lo feito.
— Ela está viva, meu irmão!— grita Ângelo com um sorriso estampado na face.
— Ficou louco? Eu a vi ainda pouco, sua face abatida, seu corpo frágil e sem perspectiva. Não queira, juro que busco renovar as esperanças dentro de mim, mas está tão cinza, meu coração está tão cinza que eu posso morrer junto a ela.— custo as palavras e observo o olhar de Ângelo, como se uma interrogação, alguém que não entende a minha dor.
— Derek, ela abriu os olhos. Ela está viva! Ela está viva!— Ângelo balança meus ombros ao falar, para me fazer entender o que diz. Passo as mãos sobre a face e corro em direção ao seu leito.
Ao chegar lá vejo a cena mais linda que já vira. Minha Jade entrelaça a mão de nossa Cefeida e a admira com tanta ternura que as lágrimas que antes brotavam, agora, criam raízes em meus olhos. É um misto de sensações controvérsias; sinto uma imensa gratidão a vida por vê-la viva e, ao mesmo tempo, temo estar apenas em um sonho. Passo pouco tempo quieto até que a vejo sorrir para mim e meu mundo passa a ser uma aquarela novamente.
— Pensei que Ângelo estava delirando.— digo, a admirando para que a sua imagem não saia de minha mente. Por impulso vou de encontro aos seus braços e me esqueço de ser cuidadoso, o seu cheiro continua sendo o mesmo, tão floral, porém, não muito doce.
— Bom, creio que a única adoentada seja eu. — responde e sinto suas mãos em meus cabelos, em um carinho que ela sabe que aprecio e que dando senti falta.
— Ah! Minha Jade. Nunca mais faça isso conosco, não sabe o que passamos esses últimos dias. — rogo como uma criança ao desejar o colo de sua mãe, como um homem que ama a sua mulher e teme mais que tudo perdê-la.
— Sabe que faria novamente se fosse para proteger alguém que amo. — garante e vejo a força de suas palavras atrás do olhar que me defere.
— Sei que sim. Tive tanto medo, não sabia o que fazer para te trazer de volta, pensei até em trazer uma montanha de framboesa, porém, nem o cheiro da torta lhe acordou.
— brinco e me aninho, junto a Cefeida, ao seu lado.
Já são dois dias após o renascimento de Jade e recordamos de seu aniversário, que não poderia passar em branco. Há muitos dias todos os príncipes e promessas estão hospedados no palácio em prol da recuperação de Jade e de ajudar-nos com a próxima batalha que teremos. As notícias não são agradáveis, os nossos inimigos ainda são refugiados de minha irmã, que, com toda certeza, já foi envenenada por Lucas e deverá nos visitar em breve. Estamos todos reunidos na sala de jantar aguardando a primeira ceia que Jade terá conosco, queria levar o festejo para o seu aposento, porém, todos quiseram relembrar os tempos de avaliação, algo que às vezes também sinto falta. Me sinto tão solitário no palácio, que pensamentos negativos rondam minha mente.
A sala de jantar foi decorada na cor verde-esmeralda e no centro da mesa há uma enorme torta de framboesa, pois sabemos que é a sua favorita. Ouço um barulho vindo das escadas e constato ser ela, Cefeida e a rainha Mallory. Assim que a avistamos damos uma salva de palmas e todos a circulam para dar os parabéns e presenteá-la. Deixo que todos tenham a sua atenção para que depois ela seja apenas minha.
— Vocês são incríveis! — diz ela com um enorme sorriso estampado na face, no entanto, percebo que ainda está muito frágil para participar de tal comemoração. Estou tão entretido que não percebo a chegada de um certo alguém.
— Sabe que odeio não ser chamada para as comemorações em família.— diz minha irmã surpreendendo a todos. Reconheço sua face, tão como a de nossa mãe e é como receber toda carga novamente, relembrar todos os infortúnios de outrora.
— Lívia!— digo, sentindo seus olhos indo em direção a Jade.
— Olá, irmão.— fala de maneira nada amável. Fico em silêncio, assim como todos, sem ter a mínima noção do que fazer. — O que essa assassina faz aqui?— questiona Lívia demonstrando toda sua fúria para a presença de Jade.
— Lívia, creio que Lucas contou apenas o que era conveniente para seus interesses. Precisa ouvir a verdade.— argumento sabendo que ela não irá se convencer tão facilmente. Busco a calma em minhas palavras, minha irmã por ser a mais velha sempre foi a mais difícil de nós cinco.
— Então quer dizer que ela não matou a minha mãe? Meu irmão, você não teve a decência de me avisar ou pedir que enviasse os meninos para vê-la uma última vez!— ouço sua voz com toda cólera presente e foco meus olhos nos seus demostrando a impaciência para com ela.
— Não venha dar uma de boa moça, Lívia. Você foi a primeira a ir embora quando conheceu a verdadeira face da nossa mãe, você levou os mais novos por saber que ela não deixaria os herdeiros mais próximos da linha de sucessão serem levados. Não venha agora com sua boa ação, pois, foi você quem abdicou do trono para casar com um rei de outro continente apenas para ficar longe dela!— cuspo para que todos os presentes saibam da verdade. Ela não está aqui por nossa mãe e disso tenho certeza, ela quer algo que ainda não sei e preciso saber antes que seja tarde. Observo que Jade vem até mim na tentativa de me passar confiança e até mesmo para me manter calmo, no momento deixo que permaneça ao meu lado, mas gostaria de deixá-la em um canto só nosso, protegida do resto do mundo. Vê-la se recuperando, mesmo que aos poucos, é como um sopro de vida e prometi a mim mesmo que jamais deixarei que a façam mal novamente.
— Não me culpe por não aceitar o seu posto, mas jovens rainhas não reinam sozinhas. Ela me colocaria nessa aberração de avaliação e eu seria obrigada a casar com alguém que não sentiria afeto. Não teria a mesma sorte ou azar que você.— esclarece Lívia mostrando seu desgosto para conosco. Simplesmente não sei em que minha irmã se tornou ou o que passa por sua mente, porém, vejo que apesar de tudo ela ficara ainda mais semelhante a nossa mãe, o que pensei ser impossível.
— E você acha justo que todo o resto passe por isso? Não sei o que passa na sua cabeça, principalmente em achar que tem o direito de voltar depois de anos. Acabou Lívia, você não estava aqui quando sua mãe matou centenas de inocentes por ganância, você não participou de toda a tragédia, não limpou as ruas rubras ou enterrou soldados e entes queridos.— esbravejo deixando todos surpresos, não me recordo de já ter perdido a calma como agora, mas estar no escuro não é a nada bom e com ela eu me vejo coberto por uma venda negra.
— Ela poderia ser gananciosa, porém, sei que não chegaria a esse ponto!— ouço suas blasfêmias e sinto minha face enrubescer de toda a indignação que experimento.
— Sério mesmo que estou ouvindo isso? Você tem visto notícias sobre nosso mundo? Acho que está desatualizada, minha querida. Não vou discutir com você, não perderei meu tempo tentando pôr na sua mente algo que Lucas fez questão de envenenar.— ironizo, buscando usar do sarcasmo. Minhas veias queimam como fogo em brasas, minha mente fervilha e temo fazer alguma besteira com ela, mesmo que usar da violência nunca tenha sido uma saída para mim.
— Calma, Derek. Ela só está ressentida, querendo ou não é sobre a mãe dela. Vamos acabar logo com isso, por favor.— ouço a voz de Jade sussurrando palavras de compreensão e noto seu cansaço. Volto minha atenção para os cantos e vejo Cefeida atrás de nós, peço que ela leve Jade daqui, mas creio que não viu por estar divagando em seus pensamentos.
— Ela está sendo injusta, nos julgando por fofocas vãs, vindas de quem tentou retirar sua vida, meu amor. Ela não estava aqui para ver a mãe dela e seus capachos invadindo casas e destruindo famílias, eu vi tudo isso e senti na pele sua fúria. Ela só fugiu, nos abandonou quando o barco estava afundando.— explico calmamente e a vejo assentir, olhar para minha amada é como beber do líquido mais puro que existe, é saber que ela sempre estará ao meu lado para me acalentar, ser meu porto seguro.
— Como consegue amar quem matou sua mãe?— diz minha irmã ao notar nossa aproximação e todo o nosso envolvimento. Sua face é um misto de desprezo e nojo, porém, sei que ela jamais amará alguém, como amo a Jade.
— Do mesmo jeito que ela me ama sendo que a minha mãe assassinou a mãe dela.— digo voltando minha atenção para ela, sua presença é sufocante e preciso pôr os pingos nos is ou a ladainha irá prosseguir. A festa já fora arruinada e Jade precisa descansar, no entanto, ela não sairá do meu lado até ter a certeza de que tudo está bem.— Fale a verdade, o que faz aqui?— questiono sem rodeios.
— Vim tomar o que é meu de direito, isso tudo é um erro, jamais deveria ter lhe dado o trono.— responde ela apontando para todos nós, como se todos fossem culpados por sua má escolha.
— Você abdicou do trono, está com deficiência em sua memória?— ironizo perdendo a paciência que não possuo. Estou a um ponto que para me livrar dela sou capaz de mandar os guardas a retirarem daqui e, para não o fazer, fecho minhas mãos em punhos para concentrar a minha ira nesse ponto.
— Não irmão, no entanto, creio que bastardos não podem ser reis.— cospe minha irmã olhando-me com se possuísse algum trunfo na manga. Sua frase me desconcerta de certa forma, pois, sempre fui a semelhança fiel de meu pai e sempre houve a certeza que Stella era minha mãe.
— Como assim? Explique-nos sua teoria.— questiono franzindo o cenho.
— Saberá em breve, irmão.— responde ela, sinto que está blefando e não levo a sério o que diz. Olho para Jade, demostrando o que sinto e ela me dá seu olhar preocupado, como se soubesse de algo que não tenho ciência.
— Bom, creio que devemos jogar o mesmo jogo. Faremos assim, você tenta tomar o meu trono e eu tomarei o seu reino. No fim, eu saio na vantagem. Hainã, pelo que dizem, é um belíssimo lugar e propício para a produção de minério.— ameaço. Se ela quer tomar o meu reino eu também irei retirar o dela.
— Lembre-se a rainha é a peça mais poderosa do xadrez. — alfineta Lívia, enquanto ergue uma de suas sobrancelhas, junto ao canto superior do lábio. Se conheço minha irmã, a partir de agora ela me verá como uma ameaça, alguém a se combater.
— Creio que não sabe, entretanto, ao meu lado, tenho a melhor das rainhas.— afirmo e ponho minha mão sobre a da minha companheira, estamos juntos e ninguém quebrará nosso laço.
— É o que veremos.— diz Lívia dando-se por satisfeita. A vejo dar de costas sem olhar para mim, o seu caminhar é de vitória, de alguém que já sabe o final de uma partida, e apenas a observo partir para seu reino.
Por conta do que ocorreu sinto que não haverá mais festa, volto minha atenção para Jade, querendo sentir seu conforto, porém o seu pai me convoca para uma breve conversa. Atendo prontamente seu chamado, antes, dando um olhar para minha joia.
Adentro o gabinete e fecho a porta atrás de mim. César demonstra certa preocupação e compartilho da mesma.
— Não vou perder minha menina, Derek. Não posso deixar que ela vá à luta conosco.— inicia o pai de Jade, me fazendo suspirar profundamente, pois, de certa forma, já tinha noção de que esse seria a pauta de nossa conversa.
— Não posso impedi-la, se é isso que me pede, por mais que eu queira. Prometi em seu leito que a deixaria livre.— digo com sinceridade. Em seu olhar, percebo a dor da sua perda, o cansaço e tudo que pesa sob seus ombros. O vejo fazer que sim, como se entendesse minha posição, apesar de tudo.
— Sou pai, Derek, e eu posso, não suporto mais imaginar vê-la novamente entre a vida e a morte. Já perdi muito e não quero perder tudo. Só peço que me ajude, sem interferir nas decisões dela. Tenho um plano e Cefeida já concordara comigo.— ouço o que diz e vejo a balançar pesar dos dois lados, se eu disser sim sei que frustrarei Jade de certa forma, porém, o meu não, pode colocá-la em risco novamente.
— Tudo bem, o ajudarei no que for preciso.— informo e recebo seu abraço, o sentimento de um pai aflito.
Daqui, observando através do vão do gabinete, consigo ver a imensidão do novo continente, onde todos aqueles que pertencem a minha família habitam e planejam a vingança contra quem amo. Ao longe, avisto o mar, tão vasto, repleto de correntezas e incertezas.
A tempestade está vindo e sou eu quem vai enfrentá-la.
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Olá, amores da promessa!! ❤️❤️
Tudo bem com vocês?😊😊
Bom, mais um capítulo postado e espero, do fundo da minha alma cansada, que gostem. 😂😂
Não sei se volto até o ano novo, então, já desejo os meus sinceros votos de paz, saúde, esperança e livros para o próximo ano. Que todos os seus desejos se realizem e que todas as graças e bênçãos caiam sobre todos vocês, meus nenês.
Um beijo e boa leitura. ❤️
Obs: Eu sempre coloco música, mas não sei se vocês ouvem. 🤷
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