♤ VINTE ♤
Evitamos tanto situações e pessoas que, no fim, deixamos de viver.
Quando meus olhos abriram e um clarão adentrou no meu campo de visão, imaginei que havia concluído a passagem entre a vida e a morte. A surpresa fora ver, ao me adaptar com a claridade, que ao meu lado estava Cefeida, segurando minha mão, e imaginado que daria seu último adeus. Suas palavras foram como um sopro de vida que atravessou meu cerne, algo me fez perceber a necessidade de estar de volta e protegê-la acima de qualquer coisa. Agora, com todos meus pensamentos em ordem, observo a minha pequena estrela e sinto que posso transbordar em lágrimas por ver que ela está bem, segura e a salvo.
— Cefeida, preci...— diz Ângelo ao adentrar o cômodo, provavelmente para dizer que é hora de me deixar sozinha. Sua face é um misto de alegria e surpresa, sua mão vai à boca e logo depois ele grita para os quatro cantos, clamando que venham até o quarto. Nesse instante passo a sentir certo desconforto, é um despertar lento e com efeitos desagradáveis, provavelmente passei muitos dias desacordada e aliviar a sede é a primeira das minhas necessidades.
— Cefeida, traz água. — ao falar ouço minha voz baixa e rouca, é como se meu sistema estivesse reiniciando e ocorresse pequenas falhas durante o processo.
— Chame o doutor, Ângelo! — diz Cefeida voltando sua atenção para ele que permanece inerte na soleira da porta. O pobre homem balança a cabeça para os lados e, depois de entender o pedido, se retira do aposento. — Por todos os céus, não faz mais isso comigo. — diz Cefeida. Vejo as lágrimas caírem dos seus olhos e me contenho para mostrar o mínimo de força, os irmãos mais velhos tendem a querer ser a fortaleza que não é, mas é estanho porque não consigo mudar. Ainda segurando sua mão a trago para mim e, sentindo dor, a abraço para que saiba que não sairei do seu lado.
— Ei, não chora. — digo, enquanto passo minhas mãos por seus cabelos castanhos. A textura me faz recordar de quando éramos menores e todas às vezes que Cefeida caia eu era a única a cuidar de seus machucados e acalentá-la.
— Pensei que me deixaria, você não acordava de jeito nenhum. — diz Cefeida. Miro sua face e vejo suas bochechas avermelhadas assim como os olhos, ela parece cansada, alguém que não dorme há dias e isso me preocupa.
— Estou aqui agora. Não se preocupe, não precisa chorar mais. Vem, deita aqui do lado.— enquanto Cedida aconchegar-se ao meu lado, ouço a porta ser aberta e um Derek adentrar abruptamente. Sorrio ao vê-lo, pensei que jamais o veria novamente e a simples ideia faz meu peito comprimir ainda mais.
— Pensei que Ângelo estava delirando.— diz Derek, seus olhos são suas lamparinas mirando a mim, observo suas mãos trêmulas e as lágrimas que caem de seus olhos. De nós dois, ele sempre fora o mais emotivo, o que mais demostra os sentimentos. Não tenho tempo para preparar meu corpo ao receber o impacto de seu abraço e sinto uma nova pontada do lado do ferimento.
— Bom, creio que a única adoentada seja eu. — respondo buscando não tornar toda situação em um clima de pesar e lágrimas. Sinto o seu fungar no vão entre meu pescoço e os ombros, afago seus cabelos e fecho meus olhos para absorver seu aroma que a tempos não experimento, é uma mistura inebriante e amadeirada, podendo haver sândalos, pinhos e cedros.
— Ah! Minha Jade. Nunca mais faça isso conosco, não sabe o que passamos esses últimos dias. — com o comentário de Derek percebo que não sei quanto tempo passei desacordada, porém, creio dispôr de tempo para saber mais em outro momento.
— Sabe que faria novamente se fosse para proteger alguém que amo. — afirmo dando-lhe o meu melhor olhar profundo e de certeza.
— Sei que sim. Tive tanto medo, não sabia o que fazer para te trazer de volta, pensei até em trazer uma montanha de framboesa, porém, nem o cheiro da torta lhe acordou.
— reviro os olhos com o comentário, porém, creio que no desespero as pessoas tentam qualquer coisa para trazer quem se ama de volta. Cefeida se aproxima ainda mais de mim, como um filhotinho e Derek faz o mesmo, só que do lado inverso ao dela.
— Minha menina, eu… Eu não acredito. — diz papai que adentra o cômodo com passos cuidadosos.
— Pode acreditar, papai. Não é dessa vez que ficará livre de mim. — brinco, sabendo que por duas vezes o fiz sofrer. Passamos um tempo conversando, Cefeida e Derek nos deixaram a sós, pois, entenderam que a nossa relação é forte demais para matar a saudade em minutos. As horas seguintes foram de constantes visitas e chuva de notícias. Me senti sobrecarregada, confesso, no entanto, não poderia os privar da minha companhia por tanto tempo e presumi que se quero estar preparada para o que virá, preciso ter todas as informações dos últimos dias, não posso deixar nada para trás.
— Sabe, pensei que não precisava pagar mais a minha promessa. — diz Valentin abocanhando um bocado da torta. Depois de todas as visitas, fora a vez de Valentin e parece que ele convenceu a todos a deixarem a torta vir junto, mesmo com os protestos do doutor dizendo que não é saudável. Creio que o doutor está errado, pois, framboesa é fruta e essas são consideradas como fonte de vitaminas.
— Bom, agora terá que pagar com juros. — digo, completando com um assunto diferente. — Jamais imaginei que você e o Derek voltassem a se falar depois de tudo. Eu sinto muito, foram tantas coisas que não tive tempo de conversar com você.
— Creio que não sabe, mas eu e a senhorita Belle estamos nos entendendo, claro que não é nada comparado a nossa amizade, porém, ainda assim, é um bom começo. — diz Valentin e sorrio com o comentário.
— Fico feliz em saber que estão se entendendo. Sinto que estou em dívida com você e que preciso pagar quanto antes.
— Já começo a cobrar pedindo que nunca mais faça isso. Não é super-heroína, Jade. Não possui milhares de vidas e talvez na próxima aventura não tenha tanta sorte, vi como chegou aqui e não quero passar por isso novamente. — ao ouvir suas palavras, franzo o cenho por não recordar de vê-lo junto a Derek naquele dia.
— Como você viu? — indago abocanhando um pedaço de minha iguaria.
— Derek me chamou assim que você sumiu e como eu estava passando por Prylea, para recolher alguns pertences que ficaram por lá, atendi o seu chamado. Ele entende que quero apenas te proteger e nada a mais que isso. — engulo em seco e faço que sim com a cabeça.
— Ah, meu amigo, você não tem ideia de como fico feliz em saber disso. Meu maior medo era que Derek criasse uma barreira entre nós dois, ele sempre fora confiante, algo admirável em um homem, mas, depois do que ele vira, pensei que poderia mudar. — confesso.
— Creio que não se enganou com ele e me recordo de já ter feito minha defesa com relação a ele certa vez. — comenta Valentin com sua típica pompa de sabe tudo.
— Claro, tudo seria mais simples se eu lhe ouvisse mais vezes. — brinco, notando a entrada de Derek no cômodo e sua fala divertida.
— Concordo plenamente!
Os últimos dois dias, apesar de tudo, foram voltados para alegria, é uma sensação de recomeço, de que boas novas virão e tento me apegar somente a isso. Me visto, com o auxílio de Cefeida e Mallory, para conseguir ir até à sala de jantar onde todos me aguardam. A pedido dos convidados, irei cear como nos tempos de avaliação, mas dessa vez sem as regras reais e a pressão psicológica. Deixo que Cefeida ponha um pouco de vida em minha face e arrume meus cabelos com uma tiara prateada, vejo o vestido creme sobre minha pele e respiro profundamente por ver que fiquei tão magra quanto antes. Desço as escadas com a maior calma possível e ando pior que mil tartarugas em uma competição. Ao chegar ao local destinado tenho uma surpresa. Meus amigos e colegas estão em volta de um enorme bolo decorado com várias framboesas, recebo uma salva de palmas e sinto que esse momento deve ser guardado bem na minha memória, eles lembraram do meu aniversário, algo que até mesmo eu havia esquecido.
— Vocês são incríveis! — digo indo, ainda devagar, para o encontro de um abraço coletivo. Começo a receber os parabéns e vários presentes. Sinto um pouco de dor no processo, mas nada que atrapalhe a noite ou que necessite ficar aparente. Estamos tão animados que não notamos nenhuma aparição repentina.
— Sabe que odeio não ser chamada para as comemorações em família.
— diz a dama que se encontra na soleira da porta. Ao ouvir a voz, todos voltam a atenção para quem quer que tenha chegado. Fico surpresa ao constatar de quem se trata a voz e pela feição de Derek, ele também não esperava vê-la tão cedo. Vejo seus cabelos castanhos, os olhos esverdeados e as vestes tão próximas às de sua mãe, há tanto tempo que não a vejo que sua existência passou despercebida.
— Lívia!— responde Derek surpreso com a chegada iminente da dama em questão, noto sua face mudar de coloração, a palidez tornando-se presente por toda sua pele e não sei se devo me preocupar com a visita, mas constato que seus olhos não são de quem está feliz em me ver aqui.
— Olá, irmão.
Meus lindos(as), mais um capítulo postado. Espero que gostem e perdoem o meu sumisso. 😍
Bjsss e boa leitura.😘📖
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