♤ TRÊS ♤
São dos pequenos momentos que formamos nossa história. Para a alegria basta pequenas lembranças, alguns abracos e gestos; para tristeza uma brisa, um simples redemoinho.
Não tinha conseguido dormir a noite, nem comer durante o dia. Na madrugada chegou a correspondência da convocação real para iniciar os preparativos do casamento e a data da publicação oficial para todos. Eu chorava incansavelmente, era como se meu mundo estivesse desabando mais uma vez e um buraco negro se formasse em meu peito. Eu preciso fazer alguma coisa, tentar pelo menos uma vez, não seguir com isso adiante. Solicitei um automóvel e aguardei silenciosamente em meu quarto. Pus um dos vestidos roxos que encontrei no meu roupeiro e não me importei em colocar mais que isso, ele teria que ver meu estado e decidir se irá acabar de vez com a minha vida.
Meu pai ao me ver sair quis me impedir, disse que estou frágil demais para ter essa conversa e que eu deveria deixar as situações correrem ao seu modo. Tivemos a primeira discussão na vida e me senti pior do que já estou, nem ele me entende porque os outros iriam entender. Chego em Limbell sentindo as batidas descompassadas do meu coração, não queria, no entanto sei que Derek ainda mexe comigo e talvez seja por isso que eu me odeie ainda mais. Antes mesmo de entrar no Palácio o vejo no jardim, as vestimentas pretas, a cabeça erguida admirando os pássaros no céu, assim como os meus, seus olhos estão com olheiras profundas e de um modo abatido. Ele terá que me entender, por tudo que é mais sagrado. Adentro o jardim e sinto seus olhos sobre mim, ele não faz nenhum movimento, provavelmente com receio da aproximação. Quando estou próximo o suficiente, ouço sua voz e seus olhar dourado me guiando. Fico em silêncio e decido confrontá-lo antes que algo me impeça.
- Precisamos colocar os pratos sobre a mesa. Não é meu desejo estar aqui, no entanto é melhor resolvermos logo tudo isso.- sinto que ele rebaterá o que disse e ponho um dedo sobre seus lábios, é tão estranho senti-los de outro modo que perco a ideia por um instante. - Estou cansada, esses dias tem sido os piores da minha existência, não é justo comigo ou com você. Vamos acabar logo com isso, não vai haver casamento ou um bom convívio entre nós.- percebo a luta interna que ocorre dentro dele, é como se existisse duas pessoas a minha frente. Minhas mãos soam e decido limpar no vestido e paraliso ao ouvir sua decisão.
- Sinto muito, queria dizer que está livre para viver a vida à sua maneira. Mas não posso, serei egoísta e não lhe darei o que quer. Não posso pedir que me ame, do mesmo modo que não pode me pedir que deixe de amá-la.- como uma criança que não sabe o que fazer me ajoelho diante de seus pés, me humilho para que ele entenda que isso acabará comigo e acabará com ele também. Antes que eu perceba lágrimas já caem dos meus olhos e lavam a minha face, meu corpo, mas não a minha alma.
- Por favor, me deixe ir. Como quer eu viva dessa forma, eu não o amo mais. Eu te odeio Derek, do fundo do meu coração.- os soluços se tornam cada vez mais fortes, as lágrimas já estão descontroladas, ele ajoelha-se ficando próximo da minha altura, sinto seus dedos limpando minhas lágrimas e o seu abraço em seguida, queira simplesmente repeli-lo, no entanto não consigo. Sinto seu cheiro, o conforto de seus braços e lembro de antes e de como poderíamos ser felizes se tudo não tivesse acontecido. Só que estou tão sufocada, tão destruída que meu único desejo era nunca ter nascido. Sou como uma árvore antiga, esperando apenas o momento de ser derrubada.
- Não me odeie, por favor. Eu sinto que vou desabar todas as vezes que vejo você ir embora. Talvez não entenda os motivos para minha insistência, talvez nem eu os entenda. Só quero a ter por perto.- enxugo minhas lágrimas com as costas das mãos e nos separo.
- Eu matei a sua mãe e não me arrependo. Como quer que tenhamos uma vida juntos quando a única coisa que penso é em matar você se continuar com isso?- seus olhos se tornam imensas bolas de fogo, seus braços tornam-se rígidos e seu maxilar trincado.
- Que seja senhorita Haas, me mate que não fará a menor diferença. Irá casar-se comigo de qualquer maneira e eu não estou brincando.- antes que eu pense começo a batê-lo, ele não retribui ou tenta se defender e minha ira só cresce. Eu quero que ele me machuque, grite comigo, perca a cabeça como eu estou perdendo a minha. Paro quando sinto minhas mãos machucadas e doloridas. - Vem, vamos cuidar desses machucados.- ele levanta-se do chão e me ajuda a levantar também. Parece que carreguei sacos de farinha, meus braços estão doloridos e minha cabeça pesa toneladas. É muita hipocrisia da minha parte ainda aceitar a sua ajuda, me separo do seu contato e me guio para um outro caminho.
Ando pelas ruas de Limbell sem me importar com a face de reprovação dos seus moradores, estou ficando louca, creio que a qualquer momento estarei no manicômio vestida em uma camisa de força.
- Senhora, sua Majestade Rei Derek que reina sereno solicitou que a levasse a seu destino.- paro e fico encarando o motorista, eu andaria dias até chegar em casa. Então decido aceitar e ir para onde meu coração deseja estar. Adentro o automóvel e encosto minha cabeça no estofado sentindo meu corpo amolecer por um instante.
- Me leve para Prylea.- digo antes de adormecer finalmente.
Eu passei a vaguear por Prylea e entendi que aqui é o único lugar em que posso ficar sem me recordar de toda trajetória ruim dos últimos dias. As portas foram, enfim, abertas para o povo, mas estes ainda não estão animados para ficar no Palácio. O outono logo dará lugar ao inverno e aqui ficará menos habitável que antes. Adentro o meu antigo cômodo e observo a porta que dá entrada ao aposento de Derek, por um instante eu me vejo dentro dele, sentindo seu aroma por todo o quarto. Recordo de como nos conhecemos ainda crianças e contávamos sobre histórias que queríamos que fosse nossas. Talvez eu o perdoasse um dia, mas não seria mais a mesma coisa, não teria a mesma inocência de antes. Ouço batidas na porta e reconheço uma das cozinheiras do Palácio, sorrio para ela e noto que em suas mãos há um embrulho.
- Bom dia, senhorita.- diz a senhora com um sorriso contido.
- Bom dia!- repondo e a vejo adentrar o cômodo, em sua cintura está amarrado um avental manchado com um líquido escuro.
- Vossa majestade, rei Derek, me pediu que fizesse esse mimo. Disse que um doce não fará feliz sua alma, mas adoçará seu estômago. - por um instante me pego rindo, não uma gargalhada, mas um riso por lembrar que as vezes essa era uma de nossas costumeiras frases.
- Pode deixar aqui, por favor.- a vejo por a torta no centro e retirar-se do quarto. Acompanhado do doce está uma carta. Pelas letras sei que ele não escreveu, provavelmente pediu que a senhora escrevesse em seu lugar enquanto ele ditava em seu reino. Teleconferências estão em teste, provavelmente ele quis fazer uso da invenção e deu certo. Ao abrir o pacote sinto o cheiro das framboesas e me pego tocando delicadamente o envelope. Poderia ser mais fácil se ele apenas me deixasse ir.
"Sei que Prylea é o seu lugar preferido no mundo e por saber disso creio que não devo mais tocá-lo. Eu me afasto do mundo por você, mas não me afasto de ti por nada no mundo. Então aproveite o doce e as surpresas que preparei para a senhorita."
Antes que eu possa pensar sinto um par de olhos na soleira da porta, fico intrigada mas o sorriso escapa de minha face. Não sei como, entretanto Belle está aqui e provavelmente veio para ficar de vez.
- Você voltou!- digo lhe dando um sorriso contido.
- Vossa majestade pediu que fossem me buscar e quando soube do ocorrido não pensei duas vezes em voltar para cá. Ele me deu garantias de que o que aconteceu no passado não será recorrente e que ele não é como sua falecida mãe.- abraço Belle e lembro que não pude fazer o mesmo com minha mãe, não pude salvá-la da morte. No entanto vê-la viva, bem e saudável é gratificante. Belle ganhara vida em seus olhos e posso contatar que a trataram bem.
- Pensei que depois de conhecer Eiwink não voltaria mais.- digo porque provavelmente eu faria o mesmo.
- Lá é maravilhoso, realmente. Mas aqui eu tenho uma irmã para cuidar. Eu sinto tanto, soube de todo o ocorrido. Sua tia Ana está inconformada e partiu assim que soube para casa de vosso pai.- ela vem até mim e me abraça.
- Esses dias tem sido os piores de minha vida, a casa que tanto amava se tornou o pior de meus pesadelos, não consigo por os pés lá.- enquanto falo penso que tenho que dar explicações ao meu pai, além de um pedido de desculpas.
- Tenho uma ideia, também não tenho para onde voltar. Que tal enviarmos uma carta para os reinos pedindo para ficarmos aqui de vez, residentes do Palácio?- não havia pensado nessa ideia, Prylea é um maravilhoso lugar para se ficar. Talvez passar um tempo aqui me traga nossas energias e apazigue a minha dor.
- Creio que me fará bem e conheço dois reinos que concordarão de prontidão.- sei que Mallory não se oporia e depois de tudo Derek também não. Talvez fosse melhor assim, uma vida nossa para trazer novas esperanças.
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