♤ SETE ♤
E mesmo que digam o contrário, ainda considero o autoperdão o sentimento mais nobre e belo que existe.
Saio do quarto de Derek aos prantos, tentando a todo custo me sentir menos mal possível. Encosto minhas costas na porta e penso que eu mereço toda a sua fúria, eu procurei por isso, disse que não podíamos continuar com a união que nos é imposta e o machuquei da pior forma possível, o traindo para que todos soubessem.
Ao deixar o corredor, observo Francis manejando alguns medicamentos em uma travessa de prata.
- Mandarei alguém pra ficar com ele e lhe ajudar no que for preciso.- digo secando algumas das lágrimas que insistem em cair.
- Não se preocupe, vossa majestade continuará sendo bem tratado e não deixarei que nada lhe falte.- faço que sim com um aceno de cabeça e dou a volta para ir em direção a saída do Palácio, antes, paro para pedir um único favor.
- Peço que me deixe a par de tudo, qualquer progresso ou piora, mesmo que distante ainda estarei o acompanhando.- ele me dá um sorriso acalentador, mas sem mostrar os dentes. Francis deve ter por volta dos trinta e cinco anos, sua pele é negra e a íris de seus olhos é do mesmo tom, ele é alto e possui alguns músculos aparentes nos momentos que realiza algumas atividades.
- Tudo bem, mando notícias em breve, senhorita Haas.
O novo motorista do Palácio me leva para casa em um tempo lento e despreocupado, como se ele houvesse notado a minha necessidade de ter um tempo para pensar, colocar as ideias em ordem. Fiz uma lista mental de tudo que aconteceu nos últimos meses, a morte da minha mãe, a distância que criei entre meu pai e eu, a minha ida para Prylea, os momentos que sofri, chorei e pensei estar fazendo a escolha certa. Agora tenho que tentar entender o destino que terei pelas escolhas que fiz, pois só cabe a mim tentar decifrá-lo.
Ao chegar em Prylea sinto a familiaridade de estar em casa, de conhecer cada parede, cada cômodo, cada aroma. Já é fim de tarde e posso ver atrás do vão do corredor pirilampos brilhando como pequenas lamparinas no jardim. Mesmo no inverno eles não abandonaram o que restou das flores, não abandonaram o que restou de mim.
- Bem-vinda de volta.- recebo um pequeno susto ao ver Valentin na soleira de sua antiga porta, tão belo como é de costume. Sinto um nó na garganta, algo me sufocando e me deixando em pedaços, só posso chorar enquanto olho para ele e para a ideia de estar totalmente perdida.- Chora, põe tudo para fora. Isso mesmo, não deixe que a dor te consuma por dentro.- diz Valentin ao me por em seu colo e me levar para o quarto. Ele me abraça e me deixa em uma posição de bebê enquanto está nos braços de sua mãe.
- Não sei o que fazer, é tão difícil para mim.- sua mão inicia um carinho em minhas costas e sinto a sensação de relaxamento.
- Você ainda o ama não é?- questiona com o olhar tão doce quanto o mel produzido pelas abelhas e percebendo o meu silêncio, continua. - Não tenha medo, pode ser franca comigo, as vezes entramos em um jogo já sabendo que não sairemos vitoriosos, iniciamos a partida apenas para, que por alguns instantes, termos o prazer de jogar.- Nossos olhares se encontram e não vejo ressentimento ou tristeza.
- Não é justo ter que me abrir com você.- digo pondo as mãos nos olhos, tentando inutilmente esconder a minha face.
- Por que não? Somos amigos e nada mudará isso. Eu a amo e seria mentiroso ao dizer que não me dói vê-la chorando por outro, mas isso é o amor, preciosa, é amar quando o amor é correspondido de outra maneira, é saber que existe outras formas de amar e eu não duvido do seu amor por mim, mas eu sei que todas as vezes que você dizia odiá-lo era porque odiava pensar que mesmo depois de tudo seu coração pertencia a ele. O ódio e o amor são amigos inseparáveis e para chegar de um ao outro basta um pequeno passo da largura de uma fina agulha. E é com esse amor que digo que ele não deixará de amar você, só espere a poeira abaixar, as ondas do mar encontrarem o oceano e ele estará de volta para você.
- E se eu, mais uma vez, estiver enganada sobre o que sinto?
- Como seu amigo, garanto em dizer que não está, mas caso eu também esteja enganado, saiba que sempre estarei aqui para acalentá-la e amá-la.- me aninho ainda mais no colo de Valentin e tento me acalmar, a dúvida ainda existe em mim e preciso de tempo para entender o que estou sentindo.
Passo a noite em meu quarto, pensando nos detalhes seguintes. A rainha Mallory Engel proclamou a volta da festividade cívica e aproveitarei para conversar com meu pai e saber sobre como estão os ânimos no outro reino. Enviei para a casa de meu pai o pedido para que Zedara fosse para o Palácio de Limbell e cuidasse do rei Derek, é estranho pensar nele dessa maneira, um governante do povo, no entanto sei que ele será o melhor que seus antepassados.
- Jade, não sabe o que aconteceu.- diz Belle adentrando rapidamente o meu aposento.
- O que ocorreu de tão grave, Belle?- questiono preocupada com o que de tão grave pode ter a deixado dessa maneira.
- Antes do acidente, o rei Derek fez um pronunciamento e não ficamos sabendo.- franzo o cenho, o que ele poderia dizer? Será algo sobre o nosso casamento?
- Que pronunciamento?- enquanto aguardo a resposta, sento-me na cama e a vejo realizar o mesmo ato.
- Sobre o desaparecimento dele, foi horrível Jade. Não sei como ele suportou tudo aquilo e sozinho.- Belle engatou a me contar sobre o que ouvira e todas as atrocidades que a última rainha, sua mãe, fora capaz de fazer com ele e com dezenas de pessoas inocentes.
Quando Belle terminou de contar a história, senti perder o chão, fui tão egoísta e precipitada, como se todos os meus princípios e valores tivessem se deturpado no caminho. Não consigo imaginar o meu menino passando por tudo aquilo, sentindo a solidão, a frieza daquela que dizia ser a sua mãe e que jurava amá-lo. Ninguém ama desse jeito, eu não o amo desse jeito e de pensar que se tudo tivesse dado certo, se tivéssemos fugido como o planejado, nada disso teria acontecido com o pequeno Derek, nada teria apagado a chama dos seus olhos dourados. Eu estaria com ele e, não teria dúvidas, que o amaria para sempre. Tudo volta, aquele dia que o vi pela última vez e a sensação de que algo não se encaixava, que ele não contara o real motivo para nossa fuga, no entanto eu não hesitaria em partir com ele para o fim do mundo se preciso fosse.
Fomos chamadas para a ceiar e seguimos para a sala de jantar, apesar de não termos fome, toda a historia ainda embrulhava o meu estômago e me dava ânsia de vômito e pude então lembrar do porquê que Derek não quis me contar a verdade no início da avaliação, ele tinha medo que eu o abandonasse, que o único sentimento capaz de nutrir fosse a pena e na verdade a minha vontade é de cuidar ainda mais dele e de todos os ferimentos que não estão aparentes, é garantir que o seu passado seja esquecido por um futuro feliz e glorioso. Enquanto remexo o alimento intocado de meu prato, um mensageiro entra apressadamente no salão.
- Mensagem de Urgência de vossa Majestade Real que reina serena Mallory Engel para a senhorita Haas.- levanto de meu assento e pego o envelope perfumado e dourado. Ao abrir tomo como surpresa a nota que está escrito nela.
De sua querida Rainha,
Creio que ainda não está ciente, no entanto em poucos dias será necessário sua vinda para a reunião real no Concelho. Hoje, o rei Derek, deu entrada no pedido de anulação do resultado da sua avaliação, informando que para ele você não é mais apta para ser rainha e unir-se em matrimônio com ele que a união mancharia a imagem do reino. Espero que saiba o que pode acontecer caso seja anulada, qualquer tentativa de uma nova avaliação será negada e você jamais ficará com quem ama. Pense bem e não deixe de comparecer.
Para Jade Haas.
Seguro a carta em minhas mãos e penso nas duas opções que tenho: o deixo ir e aproveito a deixa para me livrar do casamento ou tomo a coragem que não tenho e luto para trazê-lo de volta para mim.
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