♧ CINCO ♧
Precisamos proclamar a liberdade, a igualdade e a verdade.
Por Derek ♧
Adentro o quarto que era de Stella e observo o tom escuro de seus móveis e objetos pessoais. Eu conhecia minha mãe muito bem para saber que ela ainda escrevia seu diário, ela sempre nos motivou a fazer, como forma de no futuro nossa história não ser esquecida. Acima do seu roupeiro há diversas caixas amareladas e cobertas de poeira, fitas de tom púrpura e linhas amadeiradas. Deixo as caixas sobre a cama e abro a janela, o sol adentra o cômodo iluminando as paredes douradas, os quadros de sombra e luz. Estar aqui é estranho, a última vez que fizera ainda era um menino e não tinha provado do seu ser amargo. Pego uma das cartas e abro sentindo o aroma forte de rosas mortas e murchas. As páginas estão manchadas, no entanto a tinta utilizada ainda é visível. Na primeira folha do caderno, no cabeçalho está escrito "A conquista", início a leitura e posso ler a minha mãe contar como se tornou a destinada do meu pai, que ele era apaixonado por sua irmã e ela deu um jeito de livrar-se dela e usurpar o seu lugar. O pior de tudo é que está escrito nos mínimos detalhes, cada sentimento e emoção sentida. As outras páginas não são melhores, ela descreve todas as atrocidades que fizera na vida, até mesmo o dia que me enviou para a concentração, todas as surras que me fizera levar e como, as vezes, ela se arrependia. Isso não diminui a raiva que sinto, a dor que consome a minha alma e por isso decido fazer um anúncio oficial e dizer a todos quem foi a rainha Stella Maris, aquela que nunca governou serenamente.
Subi no palanque e vi que muitos já estavam quietos a espera do meu pronunciamento. Eu me senti inibido por um instante, inquietante e pronto para desistir de tudo. Eu contaria tudo aquilo que temia, todos saberiam o que realmente aconteceu comigo e não suportarei os olhares de pena que não espero receber.
- Povo querido de Sandelle, é um prazer revê-los, todavia, não é um prazer o motivo pelo qual estou aqui. É difícil para um filho ter que desmascarar a mãe que não está mais no nosso meio, no entanto entendo que ela causara muito mal a todos e a verdade precisa ser dita antes que seja tarde. Minha mãe sempre nos incentivou a escrever nossa vida e sempre fizera o mesmo. Todos tiveram em dúvida a minha índole por sumir durante algum tempo, porém jamais procuraram saber o real motivo. Abaixo deste reino, nas profundezas do subsolo existia homens, mulheres e crianças treinados e criados desde o berço para combate, as condições de vida são as piores possíveis e causa a impossibilidade de haver sentimentos no coração daquele que lá viviam. Quando descobri essa verdade, por acidente, decidi que fugiria para além das montanhas e viveria longe de sua tirania. Ela descobriu antes que o fizesse e como presente me enviou para lá para que me tornasse um de seus soldados doentios. Eu preferia a morte do que ter aquela vida, que não deveria nem ser chamada assim. O que comem são restos, comida estragada e dejetos. A água é salobra e é possível ver bichos mortos dentro do poço. Todos os dias éramos obrigados a levar trinta chicotadas, depois éramos obrigados a nos banhar com água e sal para ajudar na cicatrização e nos preparar para o próximo dia. As crianças nasciam e não tinham o que vestir e aguardávamos a bondade de sua majestade de enviar suprimentos aos mais fragilizados. Além disso, tinha as masmorras para aqueles que não acatavam suas ordens. Dormir lá era pior que entrar em um ninho de cobras, esses eram os bichos mais inofensivos que encontrávamos lá. Eu passei oito meses imaginado não ver mais a luz do sol ou o calor em meu corpo. O banho não era frequente e limpeza era a menor das preocupações. Se Mallory Engel não houvesse me convocado e feito exigência de minha presença na avaliação, eu estaria lá, metade de vocês estariam mortos e a outra metade penaria aos seus comandos.
Sinto grande alegria em informar que destruí a concentração e enviei todos os residentes para tratamento. Alguns por desespero se tornaram adeptos ao canibalismo e não podem conviver no meio de todos. Providenciei uma vila apenas para eles, e assim não ficarão tão perdidos no convívio com outros. Responderei todas as perguntas na coletiva que será posto nos jornais do domingo e com ele estará todas as cartas que foram redigidas pela mulher que dizia ser a minha mãe. Peço a compaixão de vocês para aqueles que também são seus irmãos, eles não pediram para serem tratados daquele modo e por isso não sabem como é uma civilização moderna. Precisaremos encher os seus lares com amor e carinho, pensar no próximo como a si mesmo. Obrigado.- sinto um frio em meu corpo, um tremor que me faz bater o queixo, o medo se tornando presente. Não sei muito bem o porquê, mas sinto que isso mudará minha vida.
- Derek!- ouço a voz da Rainha Mallory Angel.
- Sim, Majestade.- ela vem até mim e me dá um abraço contido.
- Fez o certo para o seu povo, espero que eles saibam agradecer futuramente. Outro poderia apenas ficar com as informações, não piorar a imagem de sua mãe e deixar aquelas pessoas a mercê. Acredite, é tão diferente dela, em todos os aspectos.- faço que sim e parto para meu reino. Se ela soubesse o real motivo disso tudo, talvez ela não dissesse isso. Lucas está impossível e não sei até quando poderei deixá-lo livre e isso é o que mais me preocupa no momento.
O primeiro grânulo de neve precipita do céu cinzento, enfim, chegou o inverno e com ele vem a minha escolha. A escolha que fiz ao dizer sim, há um mês atrás, aquela que fez o coração de quem amo partir novamente.
Hoje fui convidado pelos residentes de Prylea para comparecer em uma comemoração ao solstício de inverno, sei que Jade estará lá com a Belle e, por isso, aceitei prontamente. Coloco meu melhor fraque azul marinho, deixo meus cabelos bem aparados e penteados, visto-me da melhor maneira possível e espero agradá-la. Solicito um automóvel e o aguardo ansiosamente, cada minuto longe dela é um martírio e mesmo que de longe, assim que conseguir vê-la, meu peito se encherá de alegria.
Assim que o automóvel surge de frente para o Palácio, peço que me leve para Narin e no caminho compro um buquê flores de calla lilies, em homenagem ao seu reino. Não estou cabendo em mim de felicidade, mesmo que o inverno traga o contrário, ela poderá esquentar meus dias. Quando chego à festa, a neve já cai forte o suficiente para prender-se no chão, alguns no caminho me reconhecem e fazem uma pequena reverência, a melodia é agradável e me faz a relembrar do passado, a parte que eu era um garoto feliz. Avisto Bella dançar alegremente com um cavalheiro e meu amigo Ângelo com a pequena Cefeida rodopiando em seus braços, ponho meus olhos para buscarem a minha amada, fico um longo tempo a admirar o lugar e a arrumação que foi realizada, no entanto quando a encontro sinto meu peito comprimir e deixo cair as flores que comprei para ela. Meu queixo treme, não mais pelo frio, meu peito arde, não mais por minha mãe; o mundo gira, as cores tornam-se um borrão pelos meus olhos cheios de lágrimas. Fui um tolo por amá-la, por pensar que o nosso único problema era o tempo, aquele que aguardaria, o que fosse preciso, para ser perdoado. Vê-la nos braços de Valentin, tão feliz e entregue, me fez pensar que talvez eu nem devesse estar aqui, não tenho mais motivos para existir. Dou a volta para ir embora quando sinto um impacto sobre mim, uma dor possante, uma surpresa despretensiosa, e só tenho tempo de ouvir sua voz gritar meu nome.
- Derek!
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Vamos abraçar a escritora? 🥰
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