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Prólogo

- Vitória! Você vai para a escola com essa roupa? - minha filha mal termina de descer as escadas e Theo a repreende de modo autoritário.

- Que foi papai? - ela falou com um tom receoso, provavelmente por causa da forma que Theo a repreendeu - Eu gostei - e com a sua doce voz de 7 anos, diz mais animada, com um sorrisinho meigo no rosto.

- Malala, você a vestiu assim? - agora ele se referia a mim.

- Ela gostou, então eu deixei - balanço os ombros como se não fosse nada demais. E na minha percepção, não havia nada demais mesmo. Vitória vestia um short jeans preto levemente rasgado, uma blusa preta com mini-caveirinhas branca por toda parte, meia preta com listras branca no estilo colegial, um tênis preto brilhante e um rabo de cavalo no alto de lado.

Quando seu pai saiu a negócios, Vitória viu, na TV, uma apresentação da banda NX Zero - uma banda brasileira de emocore formada em 2001 na cidade de São Paulo - Depois desse dia, ela se apaixonou pelo rock, pediu para eu comprar as mesmas roupas, colocar as músicas... Eu não via problema, afinal, gosto não se discute.

- É o primeiro dia dela na escola. Não vou deixar ela ir assim - Theo começou a alterar o tom de voz.

- Mas ela gostou - falei um pouco mais baixo do que eu pretendia.

- Não me interessa! Eu saio por uma semana, e quando volto, vejo uma garota que nem parece minha filha! - ele saiu para resolver os negócios de sua empresa - quando você comprou essa roupa? Eu não lembro disso no armário dela - Theo cruza os braços.

- Anteontem. Deixei ela escolher...

- VOCÊ escolhe as roupas! Não uma garota de 7 anos. Ela não sabe o que faz.

- Mas...

- Sem mas!

- Papai, eu gostei. Olha, combina com meus olhos - o estilo gótico, realmente destacou seus adoráveis olhos azuis. Olhos estes, que mais pareciam duas pedras preciosas. Ouso em dizer que, o estilo parece que foi feito para ser dela.

- Não se intrometa! - ele a repreende com o seu olhar frio - e quanto as roupas... Quero que jogue fora... Não, não. Melhor.

- Não papai - minha pequenina começou a chorar - não as jogue fora, por favor.

- Theo, você não acha...

- Malala! - ele passou por Vitória e depois por mim. Foi em direção à porta rosa com uma plaquinha em cima toda bordada e escrito "Vitória".

- O que você vai fazer? - corro atrás dele junto com a nossa filha que não parava de chorar.

- Eu vou é queimar, isso sim! - ele começou a revirar o armário e as gavetas, onde estavam as roupas.

- Não! - Vitória derramava mais lágrimas pelo seu rosto.

- Calada! - Theo pegou todas as roupas que eu havia comprado e começou a descer as escadas.

- Pelo menos, doe para alguém necessitado. Ou sei lá - tento fazê-lo pensar melhor. No entanto, fora em vão. Ele estava muito irritado para pensar direito. Então, a única coisa que fez foi me ignorar.

- Nunca mais compre uma coisa dessas! - ele as jogou na lareira e ascendeu o fogo - e você - apontou para a filha - vem cá - a pegou pelo braço e levou ela de volta para o quarto - vista isso - pegou da gaveta, um short saia rosa todo bordado, uma blusa branca com o contorno de um gatinho na frente e uma sandália rosa bebê - e quando terminar - voltou a sua atenção para mim - solte o cabelo dela e coloque isso - jogou na cama, um tic-tac com um laço.

- Ok. Eu a arrumo novamente - abaixo a cabeça.

- E não demorem. EU vou levá-la. E eu odeio chegar atrasado. Sabem disso - ele estava quase fora do quarto quando retornou - e joguem essas roupas também na lareira - depois ele se foi de vez.

- Mamãe...

- Vitória. Ele é seu pai. Sabe o que é melhor pra você. Escute-o. Obedeça - digo mais autoritária.

- Sim senhora... - ela abaixou a cabeça e fungou o nariz.

- Essa é a minha garota! - lhe dei um sorriso e a abracei fortemente.

Não importa o que aconteça. Você SEMPRE será minha, e apenas minha, garotinha.

- Se vista. Eu já volto. Ok? - a olho nos olhos. Vejo que estão um pouco vermelhos.

- Tá bom... - ela olha a roupa escolhida e suspira tristemente.

A olho pela última vez antes de sair. Depois, vou ao encontro de meu marido.

- Você não acha que pegou um pouco pesado demais? - cruzo os braços.

- Ela tem que aprender - ele suspira cansado e olha pra baixo.

- Theo - me aproximo - na minha opinião...

- Eu te pedi ajuda e você aceitou. Serão as minhas regras! - ele aponta o próprio peitoral.

- Tudo bem - levanto as mãos em sinal de rendição - Você venceu. Será do seu jeito. Mas já sabe o que eu penso.

- Sei - ele diz sarcástico.

- Sabe? Filho de peixe, peixinho é - digo depois de um tempo, assim, quebrando o silêncio que havia predominado.

- O que foi? - ele faz de desentendido.

- Ela é teimosa e persistente que nem o pai - tampo minha boca na tentativa inútil de esconder meu riso - Você acha mesmo que ela vai esquecer e continuar usando suas roupas sem reclamar?

- Ela TEM que esquecer. Não posso perder ela - Theo diz com confiança, porém tristonho - E eu digo que é genes de um verdadeiro líder - A pouca tristeza que eu havia reparado, já não estava mais lá. Todavia, percebi que também segurava o riso.

- Ok... - me viro - vou ver se ela já está pronta - penso que é melhor encerrar enquanto o ambiente ainda está leve...

- Faça isso - a pouca graça que havia no ambiente morre e ele se senta pensativo no sofá.

Que a verdade seja esclarecida em breve.

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