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Capítulo 35

Na biblioteca

Foi muito difícil desgrudar dos meus pais depois daquela demonstração toda de carinho. Porém, meu pai tinha assuntos do trabalho para tratar e eu tenho os meus assuntos. Todavia, eles acham que eu fui para o colégio. Na verdade, fui na biblioteca. Quer dizer, antes, eu precisava comprar uma coisinha...

Passei em uma loja instrumental para comprar um instrumento que me ajudou muito no Canadá. A guitarra. E então depois, fui para a biblioteca.

- Vitória! - Sofia me vê e alarga o seu sorriso.

- Oi - a cumprimento.

- O que faz aqui?

- Vitória! - olho para além da Sofia e vejo a pequena Cristal correndo em minha direção. Abaixo, para ficar do seu tamanho e a abraço.

- Cristal!

- Já estava com saudades - ela sorri.

- E eu vim aqui para duas coisas - aperto seu nariz de leve e ela ri.

- Pra que?

- A primeira é. Entregar a papelada para eu poder trabalhar aqui - me levanto e tiro os papeis de minha mochila.

- Que sorte a sua então. Entrou uma pessoa na vaga que eu havia te oferecido.

- Ela era uma chata! - Cristal cruza os braços e fecha a cara.

- No entanto, disse que "merecia mais" - Sofia faz aspas com os dedos.

- Ela foi embora. Graças a Deus - Cristal junta as mãozinhas como em uma oração. Não consigo segurar e acabo rindo.

- Que dia pode começar?

- Já estou dentro?

- Eu sei ver quando a pessoa merece – ela pisca pra mim.

- Muito obrigada! Não irá se decepcionar.

- Tenho certeza que não - ela sorri de orelha a orelha.

- E a outra? - Cristal puxa minha blusa e eu a encaro.

- Vim ver se sua mãe deixaria você sair comigo - os olhinhos de Cristal brilham.

- Mãe! - ela sai gritando pela Margarida.

- Cristal! Aqui é lugar de silêncio - Sofia a repreende.

- Desculpa. Mãe... - Ela chama mais baixo.

- Ela gostou mesmo de você - Sofia quebra o silêncio que havia se instalado entre nós.

- E eu dela. Senti um carinho muito grande pela pequena - fico com um sorriso bobo no rosto.

- Cheguei, cheguei. O que foi? - Margarida chega sendo arrastada por Cristal - Vitória! - ela repara em mim e abre o sorriso.

- Oi.

- Que bom que está aqui - ela sorri.

- Posso sair com a Vi? Por favor...? - Cristal diz antes que eu possa abrir a minha boca.

- Hum?

- Eu vim saber se você deixaria ela vir comigo. Vamos ao parquinho, aqui perto. Dois quarteirões daqui.

- E o seu colégio? - droga! Esqueci completamente do horário. Não gosto de mentir. Mas hoje, é por uma boa causa. Espero que elas entendem.

- Meu professor ficou doente...

- Entendi... Bem. Não sei... - ela coça a nuca pensativa.

- Por favorzinho! - Cristal, novamente, faz as mãozinhas de oração.

- Cuidarei bem dela. Eu prometo.

- É que... - ela olha para Cristal e respira fundo - tá - Cristal pula de alegria - qualquer coisa me ligue! - ela me passa o seu número.

- Pode deixar - sorrio e pego na mão da pequenina.

- Vamos, vamos! - ela começa a me puxar.

- Não está esquecendo de nada? - Margarida diz fingindo estar brava.

- Ops... Queci - Cristal dá um beijo na bochecha de Margarida

- Agora sim – as duas sorriem - Divirtam-se.

- Trago ela inteirinha. Eu prometo - nós rimos. 

- Tchau - eu e Cristal dizemos juntas.

- O que é isso? - ela aponta para o que carrego em minhas costas.

- Isso é uma guitarra.

- Pra que serve?

- É um instrumento musical. E você vai ver já, já.

No parque

- Aqui está bom - falo assim que chegamos perto de uma árvore que fazia uma grande sombra. Um adorável lugar. Posso tocar e ver Cristal brincar - Pode ir. Estou te vendo - digo ao ver que Cristal ficou tímida de repente.

- Elas não gostam de mim. Dizem que sou uma aberração... - meu coração se aperta ao ver que uma criança tão pequena, já é vítima do preconceito.

- Mas você não é. Você é especial! - agacho e olho em seus olhos.

- Queria ser normal - ela suspira e se senta em perna de índio, encarando a grama verde.

- Normal é relativo - também me sento.

- Quê? - ela arqueia as sobrancelhas e eu rio.

- Não existe normal. Cada um é diferente. Já imaginou se todos fossem iguais? - faço uma careta - iria ser o maior tédio - arranco um riso dela.

- Tem razão - ela se anima.

- Vem. Eu vou com você - sorrio e estico a minha mão pra ela.

A levei em todos os brinquedos que havia por lá. Tinha balanço, escorregador, pula-pula, trepa-trepa, gangorra, gira-gira, etc.

- Já deu pra mim – digo ofegante depois de um tempo.

- Só mais um pouquinho... Por favor – Cristal faz beicinho, ainda cheia de energia. 

- Pode continuar. Estarei te vigiando o tempo todo – sorrio - Já sei, quer sorvete?

- Quero! - Cristal começa a pular de alegria.

- Então vem. Pode escolher – a levo até um cara com o carrinho com os picolés.

- Quero de morango – ela sorri.

- Um de morango e outro de coco, por favor – digo para o vendedor. Ele nos entrega e eu o pago.

- Muito obrigada!

- De nada – terminamos de tomar os picolés – Vai brincar. Qualquer coisa estou aqui – eu digo.

- Minha heroína - ela beija minha bochecha e sai, me deixando com um sorriso bobo no rosto.

A observo por um tempo e começo a dedilhar em minha guitarra. Intercalo em escrever e tocar. Adaptei o que eu já tinha escrito para uma música e escrevi mais. Foi como se os ventos me soprassem a melodia. Me concentrei no farfalhar das árvores, no canto dos pássaros, nas risadas das crianças e até nos sons que os carros produziam... Eu fechei os meus olhos e absorvi a energia positiva que o lugar exalava.

- Vi! - "acordo" com alguém me chamando. Abro os olhos e olho para Cristal e vejo que ela está com a feição de desentendimento. O que acaba me contagiando também. Faço a mesma careta quando observo e vejo que tem uma roda de gente ao meu redor - quem são? - ela cochicha para mim.

- Também não sei - cochicho de volta - posso ajudar? - falo alto. Todos começaram a aplaudir – obrigada...?

- Você toca e canta muito bem - alguém me diz. E então a ficha cai.

- Boa tarde, senhorita. Qual o seu nome, quantos anos e já pensou em ingressar na carreira artística? - sou surpreendida por uma jorrada de perguntas.

- Oi? - fico aturdida.

- Desculpe-me. Sou Kevin Stell - meu coração para por míseros segundos ao reconhecê-lo - e gostaria de investir em você. Interessada? - ele sorri amigavelmente.

- Uau! É... É... - Nenhuma palavra coerente sai de minha boca.

- Você não está perfeita. Mas, com algumas aulas, vai ser a melhor. E eu estou disposto a pagar. Talento como o seu. Não posso deixar escapar – ele pisca pra mim.

- Err...

- Não precisa dizer nada. Mas, preciso de uma resposta até amanhã - ele me entrega um cartão - porém. Posso saber seu nome pelo menos?

- V-Vitória. Vitória França - gaguejo um pouco.

- Espero que escolha o certo - ele sorri e sai.

- Quem era...? - desperto de meu transe com a voz de Cristal.

- Haaa! - grito animada e levo Cristal junto - Cris. Ele é o meu caminho para a fama. 

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