Capítulo 29
Acordo e vejo que o sol já havia se posto e a lua, embora não fosse cheia, brilhava no céu. Uma visão extremamente linda de onde estou. Resolvo, então, parar, admirar e absorver aquela brisa do início da noite. Me apoio em meus cotovelos.
Sinto que eu estou esquecendo de algo. Apoio minhas mães em meu rosto e suspiro...
Meus óculos!
- Eu não acredito! - estico minhas mãos à minha frente - eu estou enxergando normalmente - minhas lágrimas escorrem, não de tristeza, mas sim de alegria.
Fico por mais tempo absorvendo a notícia, aproveitando mais o frescor da noite, porém, decido retornar. Estou mais calma e preparada. Mas não quero conversar com ninguém agora.
- Vitória! - Minha mãe pula do sofá ao me ver entrando na sala de recepção - Graças a Deus! - faz uma prece silenciosa antes de correr até mim - Onde estava? - ela me abraça, mas não retribuo.
- Estou bem - ela olha nos meus olhos.
- Onde estão seus óculos? - ela enruga a testa.
- Aqui – mostro os em minha mão.
- Você está enxergando normalmente sem eles?
- Acho que sim - digo sem emoção.
- Awn... Graças a Deus! - volta a me apertar.
- Vou pro meu quarto descansar um pouco - me solto de seu aperto.
- Não vai jantar?
- Estou sem fome - me viro.
- Tem certeza?
- Boa noite, mãe - mudo o tom na última palavra. Ela não se toca que eu não tô afim de conversar?
Entro e fecho a porta de meu quarto logo em seguida. Vejo que minha mochila está em cima da cama. Pego meu celular e vejo muitas ligações perdidas de Marlene. Resolvo, então, retornar.
- Oi, hã... Você me ligou...
- Vi, você está bem?
- Tô...
- É que... eu tive um pressentimento. Fiquei preocupada - sorrio como uma boba, mesmo ela não podendo ver.
- Tenho uma coisa pra te contar, mas amanhã.
- Haaa! - ela dá um grito animado. Precisei até afastar o celular de meu ouvido.
- Que foi?
- Eu sei que será uma coisa muito boa.
- Garota, me fale os números da sorte.
- Você não precisa - gargalhamos juntas.
- Então vou desligar. Porque se não, você vai fazer eu contar agora mesmo. E é s-u-r-p-r-e-s-a - me jogo na cama.
- Até amanhã então, estraga prazeres - eu rio.
- Beijinhos.
- Beijinhos - eu desligo. Ela tem uma áurea que anima até defunto.
Tomo meu banho relaxante e deito em minha cama macia. Porém, ao invés de dormir, como o planejado, fiquei rolando na cama a noite toda.
Terça-feira
Não consegui pregar minhas pálpebras. Eram muitas emoções, alegria, tristeza, confusão... Vi os primeiros raios de sol invadirem meu quarto. Mas também, dormiu a tarde inteira.
Não tive outra escolha. Era ir pro colégio sem uma noite de sono mesmo.
Tomo um banho e visto um vestido skull birds, uma botinha coturno tratorada de cadarço branco, passo um batom branco e deixo meu cabelo solto, todo do lado direito.
- Como no caminho - Desço com minha mochila e antes que minha mãe fale alguma coisa, digo e pego na maçaneta para poder sair.
- Não vai comer nada? - ela arregala os olhos que estão rodeados de um vermelho forte. Provavelmente, chorou a noite toda.
- Como eu disse. Como no caminho.
- Mas...
- Tchau - digo mais firme.
- Do colégio pra casa.
- E se eu não quiser?
- Precisamos conversar.
- Não estou afim - saio antes que ela possa dizer mais alguma coisa.
Eu estou sendo muito escrota, agindo assim. Temos muito o que conversar ainda. Porém, não voltarei atrás. Como eu disse, não estou afim.
- Não diga nada - antes que Cameron diga algo, levanto minha mão e entro no carro. Ouço seu suspiro, mas ele não ousa me contrariar.
No colégio
- Que bom que chegou. Não aguento mais de ansiedade - Guilherme diz - Marlene não me diz nada - rio. Ele está tão ansioso, que nem reparou em mim de fato.
- Você não presta atenção? - Marlene dá um tapa de leve na cabeça de Guilherme.
- O que? - ele faz cara feia pra ela e olha pra mim - Hãaa - ele ri de si mesmo - tirou os óculos! - ele diz animado. Não consigo segurar a gargalhada.
- Eu apenas tirei e vi que eu enxergava como antes. Sem duplicações.
- Fico muito contente com isso. Mas tem algo te chateando - Marlene pega em minhas mãos. Como esconder dela?
O sinal toca.
- Nos falamos no intervalo. Beijos - me viro e corro, não literalmente, para a minha sala.
E assim que entro na sala de biologia, sou recebida por uma sensação muito bem conhecida por mim. Respiro fundo e me sento ao lado de Fábio.
- Desculpa por ontem - digo sem olhar direto pra ele.
- Você não tem que pedir. Eu te devo explicações - o ouço suspirar.
- Onde estava ontem? Depois de você... - Não consegui terminar minha frase.
- Percebi que você não queria falar comigo. Respeitei.
- Diga agora então - busco seu olhar negro que tanto me cativou e ainda cativa.
- Gostei da tatuagem - aponta para o meu braço.
- Era isso que queria falar comigo?
- Você está muito diferente. Eu gostei. Está parecida com ela - dá um sorrisinho de lado. Pressenti que ele sabia de coisas que eu não.
- Igual a quem?
- Quem era a mulher que estava ontem?
- Você me seguiu? - senti ele recuar.
- Não! Foi por um acaso.
- Olha aqui! - pisco demoradamente - você precisa começar a se decidir. Não sei se você gosta ou não de mim, não sei se somos amigos ou não. Você por acaso é bipolar? Porque eu não consigo achar outra explicação - pela primeira vez, com ele, eu me sentia segura e decidida. Mas sua reação, me deixa desconfiada. Fábio começou a rir - está rindo da minha cara?
- Você tem razão.
- Desculpe minha demora. Mas estou aqui agora. E peço a vocês que abrem o livro na página 29 - a professora nos interrompe.
- Do que?
- Agora é aula - Fábio diz, me deixando sem reação. Sério que ele vai usar isso para não me responder?
- É sério isso?
- Será que dá para pararem de namorar e focar na atividade? - a professora aponta para a direção minha e de Fábio. Os alunos ao nosso redor começaram a assoviar.
- Não é nada disso! - grito para a sala.
- Não tem bom gosto mesmo - ouço a voz de Thomas soar no ambiente.
- Vê se cuida da sua vida! - digo irritada.
- Digo a mesma coisa - cruza suas mãos atrás da cabeça.
- E a sua namoradinha, hen? - rio, enquanto que ele fica irritado - belo gosto pra carecas - eu e a sala começamos a gargalhar, porém, me arrependo logo em seguida.
- Não diga o que não sabe - ele levanta e se aproxima.
- Vitória! - Fábio pega em meu pulso - não vale a pena.
- Isso. Escute seu namoradinho.
- Agora chega! - a professora intervém.
- Se não se calarem. Os dois irão para a diretoria - Thomas bufa e se senta novamente em sua carteira. Eu faço o mesmo.
- Não se rebaixa ao nível dele - Fábio diz firme.
- Mas...
- E não se fala mal de uma garota que nem aqui está para se defender. Não importa quem seja.
- Virou meu pai agora?
- Vitória! Diretoria - a professora bate em sua mesa.
- Mas...
- Sem mas! - ela aponta a porta. Saio às pressas, enquanto que o povo gargalha às minhas costas.
Na diretoria
- É sério isso? - a diretora arqueia a sobrancelha. Eu me sento, cruzo os braços e bufo - lhe darei uma advertência apenas - continuo calada - não dirá nada?
- Dizer o quê? Eu nem ao menos SEI, o porquê d'eu estar aqui!
- Não mesmo?
- Posso ir agora?
- Sim. Mas você não voltará para a sala. Vai fazer suas atividades na biblioteca.
- Ótimo! - digo irônica.
- Mais uma coisa. Não venha mais para minha sala por causa desse tipo de coisa.
- Do que depender de mim - pego o papel de suas mãos e me dirijo para fora.
No intervalo
- Que menina rebelde... - Marlene caçoou da minha cara após eu contar que fui para a diretoria e qual foi o motivo da minha ida.
- Essa sou eu - entro na brincadeira.
- Esse lugar está ocupado? - Fábio chega de fininho, me assustando. E no eu me virar rapidamente, acabo jogando sua bandeja no chão. Sujando o chão e a calça de Fábio.
Que desastre!
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