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Capítulo 26

- Podemos conversar? - Fábio se aproxima e pergunta. Olho para os meus amigos pedindo um auxílio. Mas, eu sabia que era minha decisão.

- Cla... - porém, bem na hora d'eu falar, o sinal toca. Encaro isso como um salvamento, mesmo que por um determinado momento. Já que eu não poderia evitá-lo o resto de minha vida - depois nos falamos - dou um sorriso amarelo e me levanto com pressa. Olho de relance para todos à mesa e saio rapidamente.

Eu, na verdade, queria falar com ele. Entretanto, meu receio falou mais alto.

Seria aula de educação física. Não via a hora de ver a equipe feminina do basquete. Posso estar agindo como uma garota escrota, se gabando que foi graças a mim que esse time nasceu. Mas não consigo repelir esse sentimento.

- Vitória! Que bom que voltou - o professor abre o sorriso de orelha a orelha ao me ver.

- É bom estar de volta - sorrio.

- E essa tatuagem?

- Eu tive uma imensa vontade de fazer.

- Eu confesso que não teria coragem para fazer. No entanto, prezo pela felicidade dos meus alunos - meu coração se encheu de alegria ao ouvir isso. Saber que nem todos são idiotas, saber que tem gente que respeita. Não consigo dizer nada, apenas sorrio - E é melhor estar com as energias recarregadas. Quero continuar com o time, mas... - ele coça a nuca apreensivo - tá meio complicado... - Não consigo esconder um riso e, o pior, não consigo calar a minha boca.

- A capitã está aqui para ajudar – estufo o peito, me deixando com a postura de líder.

- Bem... - sua cara me desmotiva - capitã...

- Qual é? Você que me convidou - fico com medo de sua resposta. O que eu perdi?

- Quando você saiu. Ficou complicado ir com a ideia a diante. Pois, muitas demonstraram interesse, mas nenhuma sabia na prática.

- E...?

- E que entrou uma garota nova. E ela jogava antes - ele deu uma pausa - Ela é a capitão.

- Mas... Por quê...?

- Precisávamos - por incrível que pareça, eu não estava irritada. No que eu estava pensando? Que eles iam me esperar e me receber de braços abertos? As coisas não funcionam assim. Todos podem ser substituídos. Essa é a triste e verdadeira realidade - mas você pode entrar. Só não será a capitã.

- Me diga - antes de mais nada - se ela é tão boa, por que o time está tão ruim? - ele parou e pensou.

- Essa, é uma excelentíssima pergunta - uma faísca de esperança se acendeu em mim. Todavia, não sabia bem o porquê eu queria tanto esse título. Ninguém me leva a sério. Se eu fosse a capitã, o que mudaria? Começariam a me olhar como uma pessoa igual a todo mundo? Elas não me "seguiriam", me fazendo ser uma piada ao invés de uma líder. Eu realmente não entendia a minha ira. Eu apenas queria – eu já volto – alguém o chama e ele se afasta.

- Então você é a garota que desistiu de tornar-se capitã? - uma garota alta, bem alta, não é à toa que joga esse esporte tão bem. Sua pele, de um bronzeado perfeitamente belo, em harmonia com seus olhos, que mais pareciam duas pedras de safira. E seus magníficos cabelos de índio, pretos como o fundo do mais fundo poço. Mas pelo seu tom de voz usado, já não fui com a cara dela. Deve ser só mais uma debochada entre tantas outras.

- E você a capitã? - cruzo os braços, da mesma forma que ela fez.

- Claro - ela sorri e lança seu cabelo ao vento - carrego esse time nas costas. Sem mim, já teria se desfeito. Mas fiquei sabendo que foi você quem deu a ideia. Tenho que te agradecer - ela sorri descaradamente. Eu trinco meu maxilar. Mais uma raiva que eu não entendia. Como umas simples palavrinhas poderiam me tirar tanto do sério?

- Você tá legal? Precisa de ajuda?

- Ehn?

- É que, carregar tanto peso, pode acarretar vários problemas de coluna. E o time está uma bosta. Me fazendo pensar que, você não está dando conta – respondo tentando soar tranquila.

- Oi!? - não consigo segurar a gargalhada que me veio ao olhar para a cara dela - é melhor você não se meter comigo. Tá entendido!? - ela tenta se fazer de perigosa.

- Não tenho medo - me aproximo mais e falo quase em um sussurro. Quem essa garota acha que é? Mal chegou e já está se achando a fodona?

- Vejo que já se encontraram. Ótimo! Porque tenho uma dinâmica imperdível que sei que vocês duas irão amar - o professor se aproxima e diz animado.

- Sim? - a garota a minha frente se manifesta.

- Vou separar as pessoas que quiserem jogar basquete. Será um jogo misto. E cada uma de vocês duas - aponta pra gente - será uma capitã. O que acham?

- Mas eu sou a capitã.

- Sim. Mas só hoje. Encare como uma gincana.

- Por mim, está beleza - vamos ver quem é a melhor líder. Sorrio vitoriosa.

O professor separa os times. Não me importo quem esteja com quem, só não queria o Heitor - o garoto que implicou comigo quando joguei pela primeira vez. E, como resultado, ficou com o seu posto preenchido com a minha presença, resultando nele ficando de fora - e Samuel - o que também implicou comigo e que não ligou se prejudicou o time, apenas queria me derrubar - no mesmo time que eu.

Já seria difícil ser líder de um bando que não aceitariam o meu posto. Entretanto, com eles, seria mais complicado...

- Não podemos escolher os times? - pergunto ao professor, ao ver que eles caíram no meu time.

- O que? Tá com medo? Uma boa líder não se preocupa com esse tipo de coisa – novata me cutuca com suas palavras.

- Vamos perder – Heitor diz fingindo desânimo - garotas não sabem jogar. E com uma na liderança, estamos perdidos - já começou com o machismo...

- Não se preocupe - Samuel completa - eu valho por 5...

- Teve uma boa professora - a novata diz e eu me perco. Mas não dá para eu pensar muito, pois o apito é soado.

A bola é jogada pro alto e cai direto nas mãos da novata. Ela dribla Melissa, Raquel e Heitor, mas é obrigada a passar a bola ao dar de frente com Samuel. Os dois se encararam por um estante, como se conversassem sem palavras, apenas com o olhar. Porém, ao passar a bola, consigo agarrá-la no alto antes de cair nas mãos de Fernanda.

Corro, e assim como ela, driblo Stella e Diogo, mas ao invés de passar a bola, resolvo tentar fazer uma cesta de 3 pontos. Podem ser encarado como "ser fominha", mas eu sabia que conseguia daquela distância.

E, como o planejado, a bola passou sem nem encostar no aro.

- Mandou bem! - Melissa sorri.

A aula passou depressa. Fiquei tristonha ao ouvir o sinal sinalizando o final da aula de educação física. Por incrível que pareça, me diverti bastante. E, de acordo com que fui jogando, vi o que o professor, Marlene e Guilherme queriam dizer quando me falaram que o time feminino estava horrível.

Hoje foi misto, mas prestei atenção em como as garotas jogavam. Elas têm medo da bola. E assim, nunca chegarão ao verdadeiro potencial delas.

Quem era do meu time, dei uns toques. Samuel precisava aprender que avançar, nem sempre é o melhor. Às vezes, precisamos voltar um passo, para avançar dois.

Heitor tinha que parar de querer passar a bola em cima da hora. Ele é tão confiante de que vai conseguir sozinho, que não passa a bola no tempo certo. Fazendo com que seu próprio time fique em desvantagem.

Melissa tinha que treinar nas cestas e Raquel não arriscava a roubar a bola. Diz ela que tem medo de machucar ela mesma e os outros. Então, já que as duas se completavam, aconselhei Melissa ficar na defesa e Raquel no ataque.

Ninguém me escutou de primeira. Mas viram que estávamos perdendo de lavada. Quando resolveram seguir meus conselhos, os ultrapassamos e ganhamos.

- Vitória - escuto meu nome e me viro. Vejo que é o professor.

- Pois não?

- Fiquei muito contente com sua forma de liderar. E mais ainda, ao ver que não desistiu, mesmo com eles não te seguindo de imediato - fico sem palavras - Safira é muito boa. Mas não posso ignorar seu dom da liderança.

- O que está insinuando...?

- Conversarei com a diretora sobre. Ela terá que concordar comigo que, talento para liderança, não pode ser desperdiçado.

Uma faísca se acendeu no meu ser.

Eu ainda podia ser a capitã do time. 

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