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Capítulo 25

Na diretoria

- O que foi aquilo? - a diretora me lança um olhar ameaçador. 

- Mas...

- Mal chegou e já está arrumando briga!? - ela não me deixa explicar - sinceramente, não estou te recomendo. Aquela menina educada, estudiosa, bem vestida... - depois do termo "bem vestida" meus ouvidos se fecharam incorformados com o que estavam ouvindo. 

- Bem vestida?

- Não me interrompa quando eu estiver falando com você. 

- Você vive dizendo que devemos respeitar uns aos outros, que não importa a diferença, somos todos iguais. Agora você vem me dizer que eu era bem vestida e agora não? Isso se chama hipocrisia - digo com nojo da diretora que tenho. Ela não pode simplesmente dizer uma coisa e fazer outra. Que tipo de exemplo nos taria dando?

- Eu não quis dizer isso - vejo arrependimento em seus olhos. Mas sei que não é por causa da forma que soou, mas sim por ter deixado escapar seu ponto de vista.

- Então o que? - esqueci completamente com quem eu estava lidando. E por mais que eu estivesse irritada, não tinha o direito de falar assim. Devemos sempre respeitar os mais velhos. 

- Eu sou a diretora e exijo respeito! - ela respira fundo - o que tô querendo dizer é. Viviane tem alopecia areata - levo um susto ao ouvir isso - no caso dela, afetou apenas o couro cabeludo. Pelo menos por enquanto, foi só a perda de cabelo. Viviane está em tratamento e sua família avisou me apenas - deve ser por isso que ela está sempre na defensiva. Não quer que ninguém descubra. Mas eu não entendo. Se ela tem essa doença, deveria saber o quão ruim é julgar as pessoas por causa da aparência.

- Nossa... - tampo minha boca que formou um grande Ô - mas por que está me contando isso?

- Acho que deveria saber. Só lhe pesso que não saia espalhando por aí. Nem o irmão dela sabe.

- Mas todos viram que ela é careca.

- Mas ninguém sabe o motivo - foi como se ela adentrasse minha alma com seu olhar.

- Não direi nada - abaixo a cabeça. 

- Eu agradeço. Agora pode ir.

- Não receberei nenhuma punição? 

- Fique como um aviso.

- Obrigada - me levanto e saio da sala. 

- Vitória! - me deparo com Marlene e Guilherme. 

- Por que não nos contou que voltou mais cedo?

- E o que foi aquilo lá fora?

- Você está bem?

- E essa tatuagem?

- Gente! Um de cada vez - rio com o despejo de perguntas que me jogaram - meu pai acordou, por isso minha volta antecipada.

- Que ótima notícia! - Marlene diz - sabia que tinha acontecido uma coisa boa.

- Queria fazer uma surpresa. Mas acabaram estragando. 

- Ela é uma estraga prazer mesmo - Guilherme diz - ou, eu nem sabia que ela não tinha cabelo - ele faz uma cara pensativa.

O sinal toca.

- Explico tudo no intervalo - abraço eles - mas agora vamos que eu não quero outra bronca - eles riem e cada um vai para um canto. 

As duas primeiras aulas passaram lentamente. Fiquei martelando todos os acontecimentos em minha mente. É difícil compreender que sua maior "rival" tem uma doença. E não é qualquer uma. Essa, causa a perda de um bem precioso. É a fonte da autoestima da mulher. É o cabelo que molda o rosto. Claro, tem muitas mulheres que ficam magnilindas - magnífico com linda - sem o cabelo. Mas são poucas as que aceitam. E conhecendo Viviane como conheço, sei que ela está do lado da maioria.

- Agora conta tudo! Estamos mega curiosos - Marlene aparece me fazendo rir como sempre.

- A diretora não te deu nenhuma punição? - Guilherme pergunta.

- Não. Ela disse que ficasse como um aviso - nos sentamos à mesa do refeitório. 

- Menos mal.

- Como sabia? - me viro para Marlene.

- O que? - ela dá uma mordida em sua maçã. Sempre com comida saudável...

- Que eu estava aqui - ela pensa por um estante.

- Bem... Na sabia. Apenas senti que precisava d'gente - ela levanta os ombros como se no fosse nada de mais.

- Eu só tenho que agradecer. Vocês foram de mais lá fora.

- Sabemos que faria o mesmo por qualquer um de nós - Guilherme se refere a ele e Marlene.

- Totalmente certo - espero um tempo antes de mudar de assunto - vocês viram a Viviane? - fiquei preocupada com ela. Éramos para ter a primeira aula juntas.

- Depois do mico que passou. Duvido voltar a por os pé aqui.

- Eu ainda quero entender como não sabia sobre isso. Moramos na mesma casa, poxa - eu sei que não devia sair espalhando para todos sobre a doença dela. Mas confio nos meus amigos.

- A diretora me disse que ela tem alopecia areata - cochicho para, somente eles, escutarem. 

- Alopecia areata? - Guilherme praticamente grita.

- Shhh! Fala baixo!

- Desculpa - ele abaixa o tom - como sabe?

- A diretora me contou. Mas olha, não contem pra ninguém. 

- Claro - Marlene começa a rir.

- Qual a graça? 

- Ela sempre implicou comigo por causa da minha doença - põe a mão ma boca - que irônico não? - ela se vira para o Guilherme - como você pode ser irmão dela? Você... É o oposto dela.

- Talvez eu tenha sido trocado na maternidade. Vai saber.

- Eu sei que ela pode ser o que é. Mas não devíamos ficar falando mal pelas costas dela. Estaríamos sendo tão ruins quanto ela.

- Bem... Nesse ponto vocês tem razão. Então, nos conta tudo o que rolou em Canadá e como você conseguiu essa tatu sua - Marlene se empolga, fazendo eu e Guilherme rir.

Conto tudo o que tinha pra contar. Falei um pouco do pessoal que conheci e em como eles me ajudaram. E sobre Amaya, história era o que não faltava. Contei que agora sei tocar guitarra e que não tenho mais tanto medo em cantar em público. E falei como foi minha chegada aqui, no Brasil, também. 

E novidades por aqui também não faltava. O time de basquete feminino está PÉSSIMO e que a diretora está quase mudando de ideia, está querendo voltar só com o masculino - nisso eu posso dar uma ajudinha. Pensei - A diretora admitiu Thomas assim que eu saí e que ele e Viviane não demoraram a namorar.

- Ela conseguiu o que queria... - comento.

- Os dois se merecem - Guilherme diz com uma pontada de... ciúmes nos olhos? Guilherme está com ciúmes? Mas... De quem?

- Vocês não sabem - me lembro dos minutos antes de eu entrar no avião - vocês acreditariam se eu falasse que Thomas me procurou antes d'eu ir pro Canadá? - tive um ataque de riso.

- O que ele queria? - Guilherme pergunta curioso. 

- Dizer que eu não preciso ir. Que ele me perdoa - Marlene me acompanha na gargalhada.

- Ele é doido?

- Nunca fui com a cara dele - Guilherme se emburra - Mas aqui... Você beijou mesmo o Fábio? - só de tocar no nome dele, senti um arrepio na espinha. Demorei para esquecê-lo e compreender. E, mesmo assim, nunca o esqueci e muito menos compreendi. Eu apenas mentia para mim mesma. Não queria me decepcionar mais ainda. Não entendia meus sentidos e a mudança repetina dele, me fazia ter mais dúvidas de quem seja ele. Não quero sentir nada por quem me despreza numa hora e faz de meu amigo na outra. Isso não faz o menor sentido.

- Não! Foi uma montagem. E tenho 99,99% de certeza, que foi sua irmã - aponto para Guilherme.

- Não duvido. Marlene, o que acha? 

- Que?

- Com seus poderes, ué - ele e eu começamos a rir.

- Há Há. Muito engraçado - Marlene para de repente. 

- Há! Falei. O que vê?

- Err... - sinto algo me puxar e me forçar a olhar para trás. Uma sensação conhecida por mim. Sei até o motivo. E no eu olhar para trás, o que eu já sabia só foi confirmado. Fábio estava vindo em nossa direção com os olhos fixos em mim. 

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