Capítulo 23
Sábado - 2 meses e meio depois
Meu pai tinha programado para eu ficar em uma residência estudantil, junto com outros intercambistas, ao invés na casa de uma família. Eu gostei, tive a oportunidade de conhecer Amaya, a garota animada do cabelo moicano que veio do Japão. Somos colegas de quarto e de cara ficamos amigas. Ela me ajudou a enturmar mais facilmente. Me apresentou Audrey, a garota loira e festeira da França, Joseph, o garoto nerd descolado da Alemanha, e Maxwel, o romântico da Escócia. E todos nós cursamos Ciências Contábeis.
Não querendo me gabar, mas já me gabando - brincadeiras à parte - fui muito bem no curso e não demorou muito para eu falar inglês fluentemente. Eu já sabia, só serviu para melhorar mesmo.
Não teve um dia que eu não falasse com Marlene. E eu estou suspeitando de que ela tem algum poder escondido. Nossa, não é possível. Todas as vezes que eu tocava no nome dela ou apenas pensava, ela me mandava mensagem. Além, d'ela ter me dito: "descanse que amanhã você vai ter uma surpresa". Não entendi, até chegar na sala de aula no dia seguinte e descobrir que iria ter uma prova surpresa.
E quanto a Guilherme, ele me manda mensagens todo santo dia também. Ele é muito fofo! Me põe por dentro de tudo o que está acontecendo e me faz dar altas gargalhadas com suas histórias engraçadas e mirabolantes.
E minha mãe... Bem... Pergunto todo dia como está meu pai. Mas a resposta é sempre a mesma: "dorme como uma doce criança". Mas eu não perdi as esperanças. Como sempre digo: "a esperança é a última que morre".
Enquanto que meus amigos daqui, não me deixaram em paz enquanto eu não fiz uma tatuagem. É porque, contei para eles que sempre quis fazer uma Calavera Catrina. Então, tatuei uma em meu braço.
E Amaya me ajudou a tocar guitarra e a tirar o meu medo de cantar em público. Meu pai havia me posto nas aulas de música quando eu era pequena, pois eu não o deixava em paz enquanto eu não conseguisse tocar algum instrumento. Porém, depois da professora de canto ter me dito que eu não tinha nenhum talento, eu desanimei e desenvolvi um medo tremendo de cantar em público. No entanto, graças a minha colega de quarto e amiga, relembrei como tocar um instrumento de corda e meu receio do público dissipou, não totalmente, mas é um começo.
Além desse milagre artístico, me deu apoio e coragem para raspar o lado esquerdo do meu cabelo e fazer umas mexas roxas nas pontas. Eu estava insegura, mas ela abriu os meus olhos. Eu tinha desejos, mas não os realizava por medo. No entanto, Amaya me ajudou a se livrar deles.
Mais um anjo japonês caído do céu.
Durante a minha vida toda, meu pai me fez descolorir o cabelo e exagerar na maquiagem para tirar as imperfeições do rosto. Mas Amaya me ajudou a entender. Eu não gosto do meu cabelo de outra cor, não quero, mas não quer dizer que eu não queira fazer uns detalhes diferentes. A mesma coisa com a maquiagem, não quero mudar a fisionomia do meu rosto, mas posso destacar alguns traços.
Então, agora, com essa nova visão que foi me apresentado, enxergo coisas que antes eu não via. E da mesma forma que gostei de fazer mexas roxa, gostei de passar lápis preto em meus olhos. Vi que destacava bastante os meus olhos azuis.
E não esqueci da mulher misteriosa, a Melinda Solis e sua filha, Priscilla. Não consegui tirar a garota da minha cabeça. Como podíamos ser tão idênticas? Eu tento acreditar que somo sócias, super possível. Mas a marca de nascença, me deixou com uma pulga atrás da orelha. Então, resolvi pesquisar mais.
E enquanto eu hackeava, achei uma foto de Melinda com o meu pai. Os dois estavam muito próximos, quase se beijando!!!
E, como não sou de desistir fácil, pelo menos nesses requisitos, fucei até descobrir que os dois já namoraram. E para me deixar de cabelo em pé, foi a 17 anos à trás, ou seja, quando minha mãe ficou grávida de mim!!!
Eu surtei!
Fiquei com aquilo na cabeça a noite toda, não podia acreditar que meu pai traiu minha mãe. Sendo que ele me contava uma história completamente diferente. Theo me dizia que conheceu Malala quando criança. Mas o destino acabou separando-os, até resolver juntá-los novamente. Namoraram por 2 anos e quando descobriu que eu estava a caminho, se casaram. Já era planos, apenas apressaram as coisas.
E agora descubro que meu pai teve um caso com outra pessoa no mesmo ano que fui gerada. Isso não faz nenhum sentido!!!
Meu celular toca.
- Alô - digo meio sonolenta, pois são 3:12. Eu estava dormindo poxa...
- Filha. Filha, está acordada? - a voz de minha mãe me desperta. Ela não me ligava, e quando o fazia, era sempre no mesmo horário, às 19:00 – desculpa te acordar a essa hora.
- Aconteceu alguma coisa? - me tranco no banheiro para não perturbar Amaya.
- Você precisa voltar!
- Me diz o que aconteceu! - meu coração acelera, senti que sairia a qualquer momento pela minha boca.
- Seu pai...
- O que tem ele? - pelo seu tom de voz, só podia ser coisa boa, mas precisava ouvir da boca dela.
- Ele acordou - depois dessas duas simples palavras, foi como se a Terra parasse de girar pra mim.
- Você, você está falando sério? - eu ainda não acreditava. Era tudo o que eu mais queria no mundo.
- Sim - quase tive um enfarto. Essa é a melhor notícia que eu poderia ter!
- Já comprei as passagens e você vem amanhã mesmo, quer dizer, hoje mesmo. Foi por isso que não te liguei antes. Porque queria fazer uma surpresa. Queria te ligar e tudo já estar resolvido.
- Você devia ter me avisado! - eu não fiquei irritada com ela, mas, chateada. É claro que ela comprando ou não as passagens, eu iria dar algum jeito de ir pra casa de qualquer maneira. Porém, eu devia ser informada. Eu criei laços aqui, mesmo em tão pouco tempo.
- Não está contente? - seu tom passa do animado para o confuso, quase que para o triste.
- É que... falta... - percebo que estou complicando tudo - é só que... Você devia ter me avisado.
- Desculpa - ela faz uma pausa - mas... vai vim né?
- Com certeza – sorrio e acabo revirando os olhos, mesmo ela não podendo ver.
- Quer ficar? Se você quiser...
- Eu vou – digo confiante.
- Que ótimo! Seu vôo sai daí às 19:00. Tenha um bom resto de sono - ela desliga.
Brilhante...
- O que está fazendo aí gritando? - Amaya bate na porta e diz em inglês.
- Desculpa. Estava falando com minha mãe - abro a porta e a encontro com um semblante de curiosidade, mesmo com muito sono.
- Agora? Aconteceu alguma coisa com o seu pai? - contei sobre o que aconteceu pra ela.
- Ele acordou...
- Isso é ótimo! - ela manda toda a sonolência para o ralo me abraça toda animada - não sabe o quanto me deixa feliz saber disso – ala abre o sorriso.
- Valeu. Err... Desculpa ter te acordado – sorrio sem graça.
- Tudo bem - ela faz sinal com as mãos - mas e aí? Me conta tudo - ela me leva até a sua cama.
- Bem... Vou embora hoje - solto de uma vez.
- Quê? Como assim...? - vi um pequeno reluzir de chateação pelos seus olhos.
- Minha mãe até já comprou as passagens. Não tive como negar – tecnicamente era verdade.
- Bem... Eu diria pra você ficar. Mas aí eu estaria sendo egoísta. Então, digo que você deve ir. É seu pai, é bom estar ao lado dele nesse momento.
- Se você diz...
- Não, você não entendeu - ela me interrompe - Não estou te dizendo o que fazer. Apenas te mostrando os dois lados. Você deve escutar isso aqui – ela aponta o local onde meu coração fica – se você acha que precisa ir agora, vá. Mas, se acha que consegue esperar duas semaninhas... - ela deu um sorrisinho sugestivo e me deixou completar o resto da frase em pensamento.
- Compreendo... - respiro fundo - mas acho que vou. Como você diz, é um momento que eu preciso estar junto.
- Siga seu coração - ela me encara e eu a abraço.
- Valeu. Vou sentir saudades.
- Também. Mas não vou deixar você se escapar de mim tão facilmente assim – ela dá um sorrisinho perverso.
- Fiquei com medo agora. Preciso me preocupar se vou acordar em algum porão abandonado amarrada? - entro em sua brincadeira.
- Acho melhor você se cuidar – acabamos gargalhando.
- Agora, vamos dormir que eu ainda estou com sono - eu rio ao me lembrar das horas.
- Tem razão... - vou para a minha cama e me deito. Ela se deita também, e fecha os olhos. Faço o mesmo.
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