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Capítulo 17

- Err... - o garoto que me ajudou ficou sem palavras, pois, percebi que ele não me reconheceu.

- Sou eu, Vitória - reviro os olhos para Guilherme.

- Vitória? Você? Mas... como? Você está muito diferente.

- Você faltou as aulas esses dias por acaso?

- Na verdade sim - ele ficou meio sem jeito.

- Ah... isso explica muita coisa.

- E o que você tá fazendo aqui? - ele pega meu skate e me tira do meio da pista.

- Valeu - pego o que está em suas mãos - eu queria experimentar coisas novas.

- Entendi. Pra ser sincero. Eu prefiro você assim. É mais você - sinto minhas bochechas queimarem.

- Mas e você? Não achava que você fosse um garoto que frequentasse esse tipo de lugar – como eu só via ele correndo atrás de Cristina, não pensava que curtia esse tipo de coisa.

Guilherme é alto, branco e magro - muito magro - tem o cabelo vermelho como o fogo, olhos azuis como um lago cristalino e, por último, suas sardas que o deixa fofo. Ele usa óculos, um toque para complementar seu perfil.

- Eu... bem, tenho meus segredos - ele sorri.

- Muito bem guardados ainda por cima - faço ele rir. Uma risada contagiante, exibindo seus dentes com o aparelho, mas que não deixa de ser um belo sorriso.

- Eu ainda não acredito que eu tô falando com Vitória França. A garota mais popular da escola.

- Não mais... - fico triste não por não ser mais a popular, mas sim porque eu fui de mais "amada" para mais "odiada". Talvez "odiada" seja uma palavra MUITO forte. Mas é assim que eu me sinto.

- Como assim?

- Em que mundo você esteve nessa semana?

- Precisei resolver uns assuntos de família - Guilherme ficou com a expressão triste, vazia.

- Me desculpe - me sinto péssima por ter tocado em um assunto delicado para ele. Seja o que for que ele foi resolver, não é da minha conta.

- Tudo bem. Não tinha como você saber - ele para um momento - por isso estou aqui. Andar de skate sempre me anima.

- Hoje foi minha primeira vez. E só os poucos segundos que fiquei em cima de um, eu curti - ele dá um sorrisinho.

- Tem certeza que você é a Vitória? - eu rio - ainda quer ficar mais do que alguns poucos segundos em cima de um? - ele aponta para o objeto de quatro rodas em minhas mãos. 

- Pode ter certeza que sim.

A manhã passou voando. Eu me diverti muito! A companhia de Guilherme fora muito agradável.

Ele conseguiu me fazer ficar em cima de um skate por mais tempo, além de me ensinar a fazer alguns movimentos que, para uma mera iniciante como eu, está de bom tamanho por enquanto.

Depois eu aprendo o resto.

- Eu gostei muito de conhecer esse seu lado - Guilherme dá um gole em sua água e diz ofegante. Ele, assim como eu, estava bem suado e cansado.

- Não sabia que minhas atitudes davam essa impressão de mim – descobri que eu estava me comportando como uma valentona no colégio antes da minha mudança.

- Tá tudo bem. Pelo menos você reconheceu. Antes tarde do que nunca.

- Pode ser... Mas eu ainda me sinto mal. Fiquei com tanto medo de eu dar algum motivo para eles... eles acharem que eu não era aquilo. Que acabei... - Não conseguia achar as palavras certas.

- Você ainda pode concertar as coisas - ele se aprofunda em meu olhar.

- Você tem razão. Tem planos pra amanhã? - eu queria conhecer mais o Guilherme... - ei? Qual o seu sobrenome? - ele se assusta com minha pergunta.

Como eu, que estudo já a muito tempo com ele, não sei o seu sobrenome?

- Err... Não surta tá? - me deixou bem curiosa - bem... Frutis...

- Que!? - ele desvia o olhar - Você é irmão da Cristina? - impossível não surtar.

- Ela pediu para que o povo do colégio não descobrisse. Ficou com medo de sua "popularidade" - ele faz aspas com os dedos – cair. Eu não achei ruim. Não gosto de ser irmão de uma patricinha arrogante - ele fecha a cara em desaprovação.

- Eu sempre achei que você era fã dela, que tinha uma paixonite.

- Oi!?

- Você sempre fez tudo pra ela. Inclusive os deveres. Então...

- Há... Isso – ele ri sem graça - na verdade nunca fiz. Eu a ajudo. Porque, querendo ou não, ela ainda é minha irmã. Mas prefere dizer que eu que faço sei lá porque – acabo não segurando a risada.

Cara... Eu estou passada.

- Eu ainda estou custando a acreditar – ele acaba rindo da minha cara de espanto.

- Vamos mudar de assunto?

- Com certeza.

- Eu vou vim aqui amanhã. Mas a gente pode ir a outro lugar também... Se você quiser. É claro - acho graça do seu nervosismo.

- Eu quero. Nos encontramos aqui às... quinze horas?

- Fechado.

- Então até amanhã - sorrio e paraliso. Não sei o que fazer. Seus olhos me cativaram de jeito.

- Até amanhã - lhe dou um abraço rápido e vou em direção ao automóvel estacionado. Cameron já havia voltado para o carro.

- Como você consegue ficar no carro de baixo desse sol quente? - digo ao sentar no banco de trás.

- Como você conseguiu andar de skate com esses equipamentos de baixo do sol sem nada entre você e os raios solares? - ele rebate.

- Touché - ele ri.

- Podemos ir então?

- Sim. Bora que eu tô com fome. Amanhã tem mais.

- Eu fico me perguntando sobre o seu pai.

- O que tem ele? - a última coisa que eu queria ouvir hoje era sobre ele.

- Ele me ligou...

- Ele o que?

- Pra saber sobre você.

- E o que tu disseste? - meu coração acelera.

- Onde estávamos...

- Por que? E se ele tivesse vindo? Estragaria a minha manhã!

- Ele é seu pai e merece saber. E outra, ele não veio, certo? Nada de falar "e se" - eu cruzo os braços e bufo, como uma criança mimada.

- E ele? - pergunto relutante.

- Nada.

- Como assim, nada?

- Exatamente - ele levanta os ombros como quem não quer nada - eu disse onde estávamos e ele desligou. Alguma ideia?

- Bom. Se ele está tão bonzinho... que tal aproveitarmos?

- Não gosto dessa sua cara - Cameron, finalmente, liga o carro.

- Não é nada demais. Só vou aproveitar o bom humor de meu amado paizinho... - enrugo a testa com essas palavras ditas. Acho que nunca vou falar assim, sem ter um toque de deboche.

- Tem alguma coisa que eu não tô sabendo?

- Canadá?

- O que tem?

- Então sim. Você não sabe. Eles querem me mandar pra lá.

- Como assim? - ele se assusta.

- Fica tranquilo meu amigo. Eu não vou... - nem que eu tenha que fugir. Eu não vou embora daqui enquanto eu não resolver o mistério. 

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