Capítulo 16
- Filha, está acordada? Posso entrar? - minha mãe bate na porta.
- Claro - finjo nunca ter saído desse quarto hoje.
- E aí? Como foi ontem? - ela se senta ao meu lado na cama.
- Foi legal - queria não render assunto para eu conseguir mudar o rumo da conversa e descobrir mais sobre a tal mulher lá em baixo. Porque, na verdade, foi mágico! Eu repetiria a dose sem pensar duas vezes. Eu amei passar a noite com a companhia de Fábio. Conhecer a Pitty pessoalmente. Não falei com ela, mas foi bom só de poder ver ela ao vivo, em carne e osso.
- Que bom que gostou - ela suspira.
- Que foi? - arqueio uma sobrancelha.
- Tenho uma coisa que eu preciso te falar - ela respira fundo.
- Você está me assustando - sua reação demonstrava preocupação e receio. Mas receio de que?
- Seu pai e eu... não é de hoje. Nós...
- Para de enrolar! - meu coração já estava as mil só com esse suspense.
- Você vai fazer intercâmbio - ela solta de uma vez.
- Quê!? - meu cérebro estava com dificuldade para processar essa informação.
- Filha...
- Eu não vou! - me levanto - justo agora!?
- Olha pro lado bom...
- Não tem! Minha vida toda está aqui! - levantei e comecei a gritar - não posso deixar meus amigos, quero saber mais sobre Fábio e ainda tem a mulher misteriosa... - só percebo o que digo depois. Minha garganta entala. Queria falar sobre a mulher, mas não assim. Não era minha intenção soltar de uma vez. No entanto, agora que saiu de minha boca, meu corpo todo se ascendeu. Como se me repreendesse, como se não fosse para eu comentar.
- Mulher misteriosa? - ela também se levanta.
- Err... - um nó se forma em minha garganta. Quanto mais eu tentava falar, mais doía.
- Que mulher misteriosa? - ela começou a subir seu tom de voz.
- U-uma mulher d-do show - a única coisa que consegui dizer.
- Que mulher do show? Como ela era?
- Por que isso importa? - meu cérebro fez com que eu soltasse sem nem perceber.
- Por que... - agora era ela quem havia ficado sem o que falar - pode ser uma psicopata.
- Ela apenas me confundiu com a filha. Nada de mais - levantei os ombros como se eu não ligasse. Minha voz estava voltando ao normal.
- Desça! Já! - ela sai rapidamente de meu quarto.
Fico sem reação de início. Meu corpo se paralisa. Apenas depois de algum tempo, consigo mover minha perna pra frente. Aquela conversa me deixou de queixo caído. Nunca tinha visto minha mãe daquele jeito. Meu corpo nunca quis tanto esconder uma coisa. Não era nem para eu falar sobre o ocorrido no show. Minha mente estava em completo caos.
Mas, agora, a única coisa que eu podia fazer é descer e dar o que a minha barriga pedia: comida.
- O que você fez com o seu CABELO!? - meu pai quase cai da cadeira ao ver o meu cabelo em um coque mostrando o raspado atrás.
- Gostou? - eu sabia da resposta. Mas decidi que eu não ia mais abaixar minha cabeça. É lógico, não irei desrespeitá-lo, mas eu...
- Sim - meu pai me tira dos meus devaneios com uma simples resposta que fez meu coração parar por milésimos segundos.
- Sério? - não podia acreditar... Eu finalmente ia poder viver sendo quem eu sou?
- Não - ele diz seco.
- Mas...
- É melhor você fazer todas essas burradas com o seu corpo com o meu consentimento aqui, do que lá, em Canadá, sem o meu saber.
- Então é disso que se trata!? Me fazer ir por livre e espontânea vontade? Advinha, eu não vou! - era bom demais pra ser verdade. Ele é um hipócrita!
- Não lhe dei permissão para sair da mesa – eu nem havia me sentado, para falar a verdade.
- Desculpa... com licença, papai - digo sarcástica e subo para pegar minha bolsa preta, pequena, de alcinha e com o botão em formado de caveira. Depois eu desço novamente. Não podia ficar aqui depois desse balde de água fria que eu acabei de receber - Tchau! E não me espere! - bato a porta logo depois de gritar com meu pai. Nem ouvi o que ele tinha pra dizer. Sei que tentaria me impedir de sair depois do meu desrespeito. Mas nada ia me parar.
- Vitória? - chego já entrando no carro e Cameron se assusta.
- Vamos. Preciso sair daqui o mais rápido possível. É caso de vida ou morte - ele ri com o meu drama - é sério! Se você quiser continuar com o patrão vivo, é melhor me tirar daqui - ele ri mais.
- Entendi, entendi - Cameron entra e dá a partida - pra onde princesa?
- Preciso de um skate.
- Um o quê?
- Exatamente isso que o senhorio ouviu.
- Beleza...
- Não - lembro de algo importante - Preciso comer primeiro - sorrio meio sem jeito.
- Lanchonete e depois skate?
- Exatamente - Cameron não perguntou mais nada.
Assim que paramos na ArteLanche, peço um pão de queijo e um suco de laranja, depois, fomos para a loja comprar o meu mais novo bebê.
- Aqui.
- Nossa. Que rápido.
- Lembrei que passei aqui em frente uma vez. Talvez tenha conteúdos bacanas.
- Obrigada. Não demoro.
- Te espero - saio do carro e entro no estabelecimento. Onde tinha todos os tipos de patins, bicicletas, skates e até alguns instrumentos.
- Olá! - um rapaz de cabelo arrepiado me atende - como posso lhe ajudar? - ele diz educadamente.
- Quero um skate! - digo animada.
- Tem algum em mente?
- Um tradicional mesmo... Quero um com uma caveira - descobri que, de modo genérico, a caveira simboliza mudança, transformação, renovação, início de um novo ciclo. Ou seja, eu já era fã, agora então...
- Já sei um perfeito - ele me mostra um preto com a Catrina atrás - ele é produzido com 7 lâminas selecionadas de madeira marfim, coladas com resina epóxi. E o melhor de tudo, vem com os equipamentos de segurança junto - ele abre um imenso sorriso.
- Fantástico! Vou levar - ele abre mais o sorriso e me leva até o balcão. Pago e retorno para o carro.
- Já? - Cameron pergunta após eu entrar no carro com a mochila, onde estão os equipamentos, e o skate debaixo do braço.
- Sou uma mulher de ação. Não enrolo.
- Mas você podia ter pesquisado mais sobre.
- Qualquer coisa eu venho e troco, reclamo... ou sei lá.
- Você quem sabe - eu bufo - pra onde?
- Para as pistas - retorno com o meu sorriso.
- Mas você nem sabe andar. Já vai logo para as manobras?
- Vou aprender praticando.
- Não acho boa ideia. Mas...
- Exatamente, bora lá! - aponto pra frente. Ele liga o rádio e dá a partida - não! Deixa nessa! - grito ao ouvir a música que passava no rádio.
- Conhece?
- Tá brincando? É do Linkin!
- Quem?
- Linkin Park - reviro os olhos - sou apaixonada com essa música!
- Não conheço. Qual nome?
- Numb.
- Sabe cantar? - hesito por um momento.
- Sei... - não canto na frente de alguém desde as minhas aulas de canto aos meus 10 anos.
- Deixa eu ouvir?
- Não - digo rápida.
- Por favorzinho... - ele imita uma criança de 8 anos.
Can sabe ser bem irritante as vezes.
- Promete não rir?
- Prometo.
- Lá vai - respiro fundo. Vejo em que parte a música tá e começo a cantar:
"Can't you see that you're smothering me
Holding too tightly, afraid to lose control?
'Cause everything that you thought I would be
Has fallen apart right in front of you
Every step that I take is another mistake to you
And every second I waste is more than I can take
I've become so numb
I can't feel you there
Become so tired
So much more aware
I'm becoming this
All I want to do
Is be more like me
And be less like you
And I know
I may end up failing too
But I know
You were just like me with someone disappointed in you"
- Uau! Você canta muito bem!
- Valeu - aposto que fiquei vermelha.
- Garota, você vai longe com essa sua voz!
- Acho que não... Lembra que eu fiz aula de canto por três meses? - ele assente - então, a professora disse que eu não tinha talento...
- Eu discordo! - Can diz indignado.
- É por isso que não canto na frente de ninguém.
- Se eu fosse você, ignorava ela. Só de ouvir esse pequeno trecho, já achei espetacular.
- Valeu – penso no assunto.
- Chegamos. Deu o tempo certinho - ele sorri.
- Então estaciona o carro e vem comigo.
- Quê? Imagina... Não.
- Fala sério? Você vai vim comigo e ponto final! - saio do carro, dou a volta e o puxo pra fora.
- Tá... Eu vou - pulo de alegria.
- Ótimo! - pego a mochila e o skate.
- E essa mochila? Comprou também?
- Veio junto. Comprei um pouquinho mais caro. Mas, mais barato se eu tivesse comprado separado.
- Tendi - adentramos mais.
- Aqui tá ótimo - sentamos no banco e eu comecei a me preparar. Coloquei o capacete, cotoveleira, joelheira e luva. Eu me senti como uma garotinha de oito anos. Eu não ligava para as pessoas ao meu redor. Eu queria apenas me divertir.
- Olha, caiu levanta - Cameron me faz ri.
- Vou me lembrar - fui em direção a rampa.
Eu via as pessoas colocarem o skate no topo da rampa e descer, fazendo o movimento de vai e vem.
Não deve ser TÃO difícil. Se eles conseguem, eu também consigo.
Posicionei e desci sem cair. Mas na hora de voltar... fui direto com a bunda no chão.
Não deve ser tão difícil né?
- Quer ajuda? - uma voz masculina me socorre.
- Valeu. Acho que eu deveria aprender a andar primeiro - eu rio, mas parece que ele não entendeu a minha "piada".
- Eu te ensino se quiser - ele me levanta.
- Eu ficaria agradecida... - sorrio - Não! - reconheço o garoto - Você? Aqui?
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