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Capítulo 13

- Quem é esse!? - meu pai altera a voz.

- Calma. Não é o que você está pensando - me aproximo dele.

- Então o que é!? - ele se senta no sofá e põe a mão em sua testa, demonstrando impaciência e raiva.

- Eu não sei. Não fiz isso. Onde você viu isso?

- Então é verdade. Você não queria que eu visse! - ele estava ficando vermelho. Enquanto que minhas lágrimas começaram a cair sem dó nem piedade - Vitória! Você tem ideia de como suja a minha imagem?

- E a minha!? Também fui comprometida com isso. Não é você na foto. Sou eu! - como sempre, só pensa em si mesmo.

- O que está acontecendo? - minha mãe chega correndo - ouvi gritos... - corri e a abracei. Com esperança de que ela pudesse acabar com tudo isso, me proteger e cantar uma música para me fazer dormir, como fez no hospital.

- Olha isso! - meu pai mostra a foto para minha mãe e a primeira reação sua é tampar a boca, que se encontrava aberta em um grande O por causa do susto.

- Vitória, isso é verdade?

- Não! - se forma um grande nó em minha garganta.

- Filha minha não vai ser conhecida como a fura olho, a traíra... Porque isso é uma traição com Thomas. E o pior, tinha que ser com um negro?

- Então é com isso que está preocupado? Eu ser namorada de um negro? - uma deixa para eu subir e me trancar em meu quarto para nunca mais ter que olhar na cara dessa pessoa hipócrita, racista e idiota que chamo de pai.

Que ódio!!!!

Quem tirou aquela maldita foto? Quer dizer, aquela montagem. Aquilo nem é verdade! Como alguém foi capaz de fazer isso!?

- Aaaaaaaah! - grito e jogo a primeira coisa que vejo pela frente assim que bato a porta de meu quarto. Quebro meu vaso de flores que ficava do lado da minha cama. O vaso com a jasmim que Thomas me deu quando me pediu em namoro - não, não, não - me arrependo assim que vejo o que acabei de fazer. Tento colar os cacos soltos, mas minhas mãos tremem muito. Pego a flor com o máximo de delicadeza possível e a coloco em minha cama - não... - Já não enxergo mais nada, pois meu óculos está todo embaçado, então, prefiro tirá-lo.

Ouço batidas no vidro.

Vou tateando até achar a porta com acesso à minha varanda e a abro. Consigo reconhecer que é o Thomas.

- Eu posso explicar.

- Pra direita - ele diz impaciente.

Me viro para o Thomas verdadeiro, ignorando o falso, que por causa dessa porcaria de lesão, vejo dois.

- Eu posso explicar – retorno a repetir.

- Cadê seus óculos? - pelo seu tom de voz, sei que está triste, decepcionado, bravo e impaciente. Tudo junto e misturado, me cauzando arrepios.

- E-estão embaçados - começo a soluçar de tanto chorar.

- Não quero conversar com você desse jeito - ele faz alguma coisa - tome - ele me entrega os óculos. Me dando a visibilidade melhor de seu rosto. Me mostrando sua face vermelha, que julgo eu, de chorar. Ele era muito branco, fazendo com que fique vermelho mais facilmente.

- Não é o que você está pensando...

- Era isso que você queria me contar né? Mas então, por que não apareceu?

- Eu queria te avisar. Mas meu pai pegou o meu celular - mais lágrimas caíam. As gotas de água que meu corpo produzia sem parar.

- Eu já me conformei. Você se aproveitou de mim! Por isso não queria... não queria... não queria dar o próximo passo.

- Não sentia que era a hora certa.

- Nem nunca, né?

- Thomas...

- Você acredita que eu pensei que fosse uma armação? Que alguém queria nos separar?

- Mas foi uma armação.

- Isso - aponta a planta - diz outra coisa - vejo uma lágrima solitária escorrer de seus olhos - eu gosto. Eu gostava de você de verdade. Era só falar. Falar que não estava mais interessada em mim. Eu nem sei se você já me amou algum dia.

- E nós conhecemos o amor de verdade? Somos muito jovens.

- Respondido.

- Não foi isso que eu quis dizer. Eu gostei de você. Gostei de verdade.

- Mas me traiu. Se você tivesse alguma consideração por mim...

- Thomas...

- E pelo visto, não tá nem aí. Vai até se divertir por aí hoje. Com quem? Fábio? - ele pega algo do chão e joga na minha cara. Era o ingresso do show que o Fábio havia me dado - adeus Vitória - ele se vira para ir embora - e pensar que eu fui expulso por você - ele diz em um suspiro.

- Thomas... - minha garganta se fechou, me bloqueando de dizer alguma coisa que amenizasse um pouco as coisas. Mas o que eu ia dizer? Ele estava certo.

Pelo menos em alguma coisa ele estava certo...

- Adeus - ele nem me olha nos olhos. Apenas diz e vai embora de vez. Enquanto que eu, me jogo na cama e dano a chorar.

Não era assim que eu queria que acabasse.

Não duvido de que tenha sido Cristina a responsável por tudo isso. Mas... por que? Por que ela tinha que ter sido tão baixa a esse ponto? 

Mas o problema é que não posso a culpar totalmente. Eu também tinha uma parcela de culpa. Tão grande quanto a dela.

- Filha. Vitória? - a doce voz de minha mãe invade os meus ouvidos.

- Vai em bora! - grito em resposta. 

- Só quero conversar - ela entra e se assusta com a zona que estava - nossa!

- Vai em bora!

- Vitória. Eu sei que Thomas esteve aqui. E sei também, que não é a primeira vez.

- Vai me entregar?

- Sei que você tem bom senso.

- Sério? - digo sarcástica.

- Você é minha filha. Eu te conheço - ela se senta na minha cama.

- Não. Não conhece. Se fosse o caso, saberia que eu sou infeliz nessa casa.

- Ele só quer te proteger.

- Do que? Pelo o que eu saiba, tenho que me proteger é dele!

- Querida... - ela apoia minha cabeça em seu colo - eu te amo! - sinto uma lágrima solitária cair de seu rosto. 

Até que ela começa a dizer:

"Quando você ficar triste que seja por um dia

E não o ano inteiro

E que você descubra que rir é bom

Mas que rir de tudo é desespero"

- O que é isso? - minhas lágrimas cessam.

- Uma música. Um amor pra recomeçar. De Frejat.

- Linda!

- Sim... Nunca se esqueça que eu te amo - ela retorna a dizer. 

Minha mãe cantou a música enquanto acariciava meus cabelos. Dormi em seu colo um sono calmo e reconfortante. Senti carinho e proteção. Me arrependo de todas as vezes que disse coisas para a magoar, mesmo que tenha sido sem querer. Ela é minha mãe e só quer o meu bem estar. Tenho certeza que ela me ama como eu a amo.

Cinco horas antes do show

- Vi. Acorda. Temos um show para ir. 

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