43 minutos restantes...
Eu estava muito perdido.
Na verdade, até agora, ainda não entendi o que estava acontecendo. O único tipo de apocalipse que eu achei que pudesse acontecer em Primux seria uma revolta dos robôs ou algo do tipo, afinal, essas inteligências artificiais ficam melhores a cada dia. Ou talvez um meteoro atingisse nosso tanque de oxigênio ou de água e nós morreríamos no frio espaço por não poder voltar para a Terra a tempo. Ou talvez um buraco negro subitamente surgisse e nos destruísse. Ou ainda um vírus mortal seria liberado por acidente nos dutos de ar, matando todo mundo.
De qualquer forma, uma fumaça estranha e monstros alienígenas de piche não eram o que eu tinha em mente.
Meu colega de trabalho tentava fugir da bolha de escuridão, mas era claramente impossível.
A bolha escura ao redor de Ryan começou se contrair contra o corpo dele e a tomar a forma de um ser estranho com quatro patas, do tamanho de um cavalo e com algumas características de um cachorro ou lince, eu acho. Eu não foquei muito nos detalhes, já que já estava voltando para a Sala das Máquinas para me esconder. Levei poucos segundos para fechar a porta, ativar a tranca hermética e, só então, respirar fundo. Eu não sabia se aquilo iria impedir qualquer criatura estranha de me alcançar, mas uma barreira iria garantir mais tempo.
O ambiente enevoado mostrava que um pouco daquela fumaça levemente violeta já tinha entrado na sala e eu fiquei meio paranoico.
Observei minhas mãos, me perguntando se algo bizarro também ia acontecer comigo, se aquela substância estranha iria sair pelos meus olhos e me cobrir como aconteceu com a mulher de antes. Esperei alguns segundos, me preparando para qualquer sensação agonizante, mas só havia o leve mal estar no meu estômago. Bufei. Eu não tinha comido nada até agora e provavelmente eu não ia mais poder almoçar, o que era uma droga.
Então um baque. Algo como um guincho ecoou do outro lado, como nos filmes antigos sobre dinossauros. Xinguei, enquanto procurava um meio de escapar.
Sabe, isso era um dos motivos pelos quais eu sempre torcia para ser um dos primeiros a ser pegos em um apocalipse zumbi: eu não queria ter que sofrer com todo esse estresse de "Ai, meu Deus! Os monstros estão me perseguindo e eu não sei até quando consigo correr!" ou de "Droga! Eu fugi, mas isso não tem a mínima importância porque aqueles monstros podem me alcançar de novo e me colocar em outra situação de perigo.".
Eu odeio isso. Odeio essa sensação de que a minha vida está em perigo. Na Terra, eu até tinha me mudado para a Islândia só para poder ter um abrigo seguro para me esconder e não ter que sair procurando locais seguros se alguma catástrofe acontecesse. Todo mês surgia uma nova ameaça, seja uma ameaça de guerra nuclear de novo ou insetos super resistentes destruindo plantações, então eu tinha me preparado desde sempre para algum armagedom na Terra.
Mas como a vida é sacana, não é? Considerando que eu, agora, estou gastando meu último oxigênio relembrando o que houve enquanto pedaços da minha nave de fuga estão espalhados ao meu redor, essa frase continua válida. Eu não consegui escapar de verdade de um fim trágico.
O chiado de interferência ecoou no meu rádio e eu ouvi som de passos vacilantes nos fundos da sala. Assustado, percebi que podia vir dos túneis laterais, os caminhos usados por nós, mecânicos astronautas, para andar mais facilmente por toda a estação sem ter que perder tempo nos Separadores Modulares.
Corri até a abertura dos túneis e apertei alguns botões no painel, torcendo para ser a sequência certa para trancar a grade.
Algo como uma silhueta escura, como uma sombra humana esticada e em 3D, se aproximou de mim, três fendas vermelhas parecidas com olhos brilhavam na escuridão assim como seu sorriso psicopata com dentes afiados. A coisa rugiu ao sentir o choque das barras eletrizadas e o som de interferência ficou alto nos meus ouvidos. Torci para que as grades fossem suficientes para impedir que o que quer que fosse entrasse. Respirei fundo, tentando me acalmar, e pensei "Certo, Francis, você conhece praticamente a estação inteira. O que vai fazer agora?".
Fechei os olhos, tentando ignorar o som alto dos dois monstros tentando invadir. Saída, eu precisava achar uma saída. Mas onde? Entradas são saídas também. Vejamos... Tinha a porta, os túneis... Túneis...
"A ventilação!", percebi, levantando a cabeça.
Mas eu não podia apenas subir e sair andando pelos dutos de ar assim. O aquecimento estava ligado e seria uma má ideia se entalar em um túnel de metal fervendo. Eu olhei para o grosso cabo que fornecia a energia para o aquecimento central (e, por acaso, também o fornecimento de oxigênio automático) e fiz um corte rápido. Imediatamente os alarmes soaram mais altos e o ambiente começou a esfriar.
Olhando em retrospecto, não foi uma ideia muito boa.
Quero dizer, eu consegui finalmente chegar aos dutos de ar e fugir um pouco antes de ouvir a porta ser derrubada por algum monstro e sei que talvez ficar sem ar tenha sido um pouco ruim para os outros tripulantes...
Mas, veja bem, eles não iam sobreviver de qualquer jeito. Se estavam respirando o oxigênio da estação, já era, tinham sido contaminados, iam virar aquelas coisas!
Bem, não importa de qualquer forma. Todos morreram. Ou viraram monstros. Francamente não importa. Eu estou vendo agora a ponta da velha Space Union, mas não sei se chegarão antes de o meu oxigênio acabar.
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