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CAPÍTULO V

Depois de algumas horas de viagem, Anastasia já havia contado todas as fofocas que precisavam saber, com muito profissionalismo, e havia caído no sono, junto com seu irmão, no banco de trás do carro. Enquanto olhava pelo espelho do meio, Melina não pôde deixar de pensar que, em uma outra vida, Ana teria sido uma jornalista excepcional. Todas as exclusivas seriam dela, por certo. 

Ainda estavam em solo Argentino, com Joe dirigindo a 100 km/h, quando ele desacelerou o veículo e entrou com o carro em um posto de gasolina deserto, no meio de lugar nenhum. 

Melina havia encerrado a chuva pouco antes do sol raiar, para que ninguém soubesse mais sua localização, compraram passagens para Portugal e pisaram fundo logo em seguida. Até então, não estavam sendo seguidos por ninguém, coisa que os permitiu descer do automóvel sem tanta pressa, deixando os irmãos dormindo dentro no banco de trás.

— Precisamos parar em algum shopping — disse Melina, encostada na porta do carro, enquanto gasolina enchia o tanque. — Ana e Dante não têm roupas e as nossas não servem neles. E eu também preciso de uma peruca. 

— Uma peruca? — ele queria rir, mas não sabia se ela estava falando sério. 

— Eu andei pensando no que eles disseram, sobre terem seguido a pista de uma garota que parecia comigo e, que, sim, era eu. Eu tenho uma imagem muito caricata, pareço um cosplay de anime

Ele gargalhou. — Tudo bem, a gente pode fazer uma parada rápida. 

— Obrigada — falou ela e o puxou para si. Deu-lhe um beijo muito diferente do da noite anterior. Um beijo necessitado ao invés de saudoso. Muito mais lento e demorado, também. 

— Eu tô com fome — ele sussurrou, ao fim, arrancando uma risada dela. — Vou comprar um salgado ali na lojinha, quer um? 

— Alguma coisa doce — pediu, com as duas mãos dadas a ele, ficando na ponta dos pés para dar um último selinho nele, antes de voltar para o carro. 

Fuxicou o veículo enquanto ele comprava comida. O porta-luvas estava repleto de papéis que pareciam importantes e que foram sua distração até ele voltar da loja de conveniências. 

Assim que ele se sentou no banco do motorista, tirou da sacola uma torta de limão, uma colherzinha, e entregou para ela. Tirou duas empanadas para si e colocou a sacola ao seu lado, na porta. 

— Também comprei pros dorminhocos ali.

Voltou a olhar para ela, de um jeito que ela só tinha visto uma vez na vida — em Mykonos. Ela quase podia enxergar seu sangue ardendo sob a pele branca e rosada. Seus olhos se encontraram num entendimento raro. Ela apenas sorriu, adorando tudo aquilo.

— Vamos? — chamou-o de volta para realidade.

Ele balançou a cabeça. — Vamos, minha prenda.

Melina riu graciosamente. — Minha prenda? 

Ele corou. — Esse sou eu sendo carinhoso — deu partida no carro —, se acostume.

— Não vai ser difícil.

Partiram por mais estradas, unindo-se aos carros e caminhões que também estavam de viagem, enquanto Melina tinha a mão direita de Joe apoiada sobre sua coxa, entrelaçada com a dela. Com a outra mão, ela deslizava seus dedos gentilmente pelo seu antebraço. Joe empenhava tudo de si para se concentrar na estrada e não naquilo.

Chegaram à uma cidade, na qual haviam entrado para desviar do pedágio, e acharam um shopping center. Acordaram os ruivos, que comeram seus lanches e, então, todos entraram para ir às compras. Dividiram-se em duplas para adiantar.

Depois de vinte minutos, Joe e Dante já haviam comprado tudo o que precisavam. Melina e Anastasia ainda estavam na primeira loja. Os dois turistaram pelo shopping, então. Foram até a loja de instrumentos, onde Joe comprou um pedal novo para seu teclado. Gastaram um bom tempo na livraria, folheando todo o tipo de livros até que os atendentes os olhassem, irritados. Foram à loja de vinis, tentando encontrar algo que lhes chamasse a atenção. Acabaram comprando um disco antigo de um cantor Argentino, mesmo não tendo ideia se era bom ou ruim.

Por fim, sentaram-se em um dos bancos, tomando sorvete, enquanto aguardavam. 

Joe havia notado que o tritão vinha agindo estranho desde que se separaram de Ana e Melina, como se estivesse desconfortável. Fazendo uma análise de como haviam sido seus encontros anteriores, chegou à conclusão de que o garoto tinha motivos muito plausíveis para estar daquele jeito.

— Dante! — chamou, fazendo com que ele olhasse para ele. — Olha — começou a falar, sem saber direito como dizer aquilo —, eu sei que apontei uma arma pra sua cabeça duas vezes e que... meio que te ameacei.

— Você me ameaçou, sim, na verdade — contestou, receoso, olhando para qualquer lugar que não fosse o rapaz ao seu lado. 

— Tanto faz — deu de ombros. — Eu só estou querendo dizer, que não precisa andar pisando em ovos comigo. A gente tá de boa.

— Totalmente? — voltou a olhar nos olhos dele.

— Totalmente! Mas se algum dia, passar pela sua cabeça, a ideia de trair Melina de algum jeito, quero que lembre que eu não só sei, como já desovei um corpo. 

Ele empalideceu mais ainda. 

— É brincadeira! — gargalhou da cara dele. 

— Ah! — suspirou aliviado. — Mas você já... — olhou-o com desconfiança. 

— Termina seu sorvete! — ordenou, interrompendo a fala dele. 

Assim que acabaram seus sorvetes, as duas surgiram cheias de sacolas. Melina parecia normal, mas Anastasia parecia uma criança que havia ingerido muito açúcar. Teve que se lembrar de manter em mente que Anastasia, diferente de Dante, nunca havia saído de Anamar. Toda a civilização humana e suas formas de funcionamento, mesmo que simples e bestas, eram uma grande novidade para ela.  

— Eu amei o jeito que os humanos se vestem — sussurrou a ruiva, para que ninguém além deles a escutasse. 

— Anastasia descobriu a combinação cropped e short — explicou Linda, antes que Joe perguntasse.

— Eu me sinto tão livre! — exclamou ela, fazendo com os três rissem e, logo após, voltaram para o carro para seguir viagem.

Melina mudava as estações do rádio, procurando algo que fosse interessante,  quando Joe anunciou que já estavam próximos da fronteira. Ele parou o carro, abaixando o volume do rádio e suspirou, logo em seguida, mudou de posição no banco para olhar para trás com mais conforto.

— É o seguinte — começou a dizer, enquanto os três o olhavam atentamente —, meu pai sabe absolutamente tudo sobre a minha vida. Sabe sobre vocês e tals. Mas — fez uma pausa dramática — meu avô, não. Então eu vou pedir pra tomarem muito cuidado com o vão falar perto dele. Ok?

— O quanto seu avô sabe? — indagou Melina. 

Ele parou para pensar e, então, olhou para Dante e Anastasia.

— A Linda sabe um pouco da história, mas vocês não. Então aí vai um resumo da minha breve e triste vida: quando eu tinha seis anos de idade, minha mãe me levou até a cidade, me soltou lá e me mandou nunca mais voltar pra casa.

Os irmãos arregalaram os olhos em pavor e repúdio. 

— Vocês devem estar se perguntando: por que ela fez isso? Porque ela é uma vagabunda lunática. E, não, essa não foi a pior coisa que ela já fez comigo. — Ana e Dante estavam brancos, sem a menor ideia do que dizer. — Mas, enfim, nesse dia, Apolo me achou em um posto de gasolina e me levou pro país de vocês. 

— Eu passei os primeiros anos em Anamar, dado como desaparecido aqui no Brasil, até que Cibele me convenceu de que meu pai precisava saber que eu estava vivo e bem. Então, quando eu tinha dez anos, ela e Calisto me trouxeram de volta e contaram absolutamente tudo pro meu pai. Sobre os maus tratos e tentativas de homicídio — ele falou como se aquilo não fosse nada, mas os olhos dos dois irmãos estavam quase saltando para fora —, quem era meu pai verdadeiro, sobre sereias e tudo o mais.

— Nisso, meu pai internou minha mãe numa clínica psiquiatra e eu voltei pra Anamar. Fiquei lá até a Melina ir embora, então, voltei a morar aqui. Depois eu fui fazer faculdade no Rio de Janeiro e fiquei morando lá até a Melina voltar pra Anamar. Entenderam? — Os dois assentiram. — Ótimo, agora vocês vão ouvir a versão que meu avô sabe.

— Quando eu voltei, meu pai contou pro meu avô tudo o que minha mãe fazia e disse que por isso eu estava desaparecido. Disse que uma mulher aleatória me encontrou, me reconheceu do site de crianças desaparecidas e me trouxe de volta pra casa. Ele disse pro meu avô que eu estava muito traumatizado, não queria ficar naquela casa, e que, por isso, eu estava indo pra um internato na Itália. 

— Depois eu voltei pra cá, depois eu voltei fui pro Rio — balançava a cabeça de um lado para o outro —, e o que ele sabe é que eu me demiti do hospital pra tirar um ano sabático, fazendo mochilão pelo mundo e que eu tenho uma namoradinha — finalizou a história apertando a bochecha de Melina. 

Ela riu. — O que ele sabe sobre mim? 

— Que você é uma brasileira que eu conheci no internato, que a gente se reencontrou durante minhas viagens, na Itália, e que estamos viajando juntos desde então. 

Ownt, que romântico! — comentou Anastasia, ganhando, de Dante, um tapa leve no braço, logo em seguida. — Que foi? — perguntou para ele. — Só estou dizendo que achei fofo.

— Respeita a história triste! — ele a repreendeu, mas Joe gargalhou, partindo com o carro.  

Atravessaram a ponte internacional sobre o Rio Uruguai, saindo diretamente dentro do centro da cidade, por volta das quatro da tarde. Melina achava louco como uma distância tão curta podia separar nações de diferentes línguas, cultura, economia, leis e todo o resto. Mas não se ocupou muito naquilo. Seu coração batia desritmado, contente por estar de volta ao solo brasileiro.

Saíram do centro, entrando no bairro rural, onde a casa do semideus se localizava. Passaram por algumas fazendas de criação de gado e plantio de arroz. Melina olhou para trás, vendo Anastasia olhar embasbacada para tudo aquilo. Nunca tinha visto tanto chão de terra em toda sua vida.

Passaram também por um enorme vinhedo que Joe disse ser de sua família. Pouco depois disso, avistaram uma propriedade isolada. Tratava-se de uma mansão colonial, branca, com uma janela colada à outra e, apesar de, provavelmente, ser quase tão antiga quanto o Brasil, estava muito bem preservada. Apostava que havia passado por algumas restaurações que mantiveram o padrão e revigoraram a beleza. 

Joe parou o carro em frente ao portão de entrada e abaixou o vidro para o porteiro, que o saudou com saudade e alegria, e abriu o portão para eles.

O jardim era impecável. Melina queria descobrir quem cuidava e dar um abraço. Toda a grama verde — que enfeitava a entrada da casa e rodeavam os caminhos por onde o carro deveria passar — estava perfeitamente regada, na cor ideal, com o melhor corte que ela já tinha visto. Parando para olhar o tamanho da casa, uma pergunta passou por sua cabeça, mas foi Anastasia quem a fez. 

— Quem limpa isso tudo? 

Joe gargalhou e informou a ela o nome dos empregados. Quando estavam próximos de estacionar, Melina viu a quantidade de carros que tinha ali e perguntou:

— Nossa, quantos carros seu pai tem? 

— Ele só tem — olhou para a direção onde os carros estavam estacionados, mudando o semblante imediatamente. — Puta merda! Caralho, que porra — respirou pesadamente, para se acalmar. — Desculpa, gente, é só... — terminou de colocar o carro na vaga sem completar a frase.  

A princípio, Melina achou que a expressão em seu rosto fosse ódio, porém, analisando mais atentamente, percebeu que era uma mistura de frustração e impaciência.

Saíram do carro, apreensivos acerca do que havia o irritado. De uma das janelas do andar de baixo, um homem, na casa dos cinquenta, de cabelos castanhos, os viu. Melina o reconheceu como sendo Joseph Bernard, pai de Joe. Ele largou o chimarrão que tomava em algum lugar e sumiu de vista. Antes que Joe pudesse tocar a maçaneta da porta, ela foi aberta por aquele homem, que o envolveu em um abraço apertado.

Ficaram daquele jeito por tempo demais. Ninguém tinha coragem para interrompê-los e eles não tinham coragem para se soltar. Entretanto, quando tiveram de fazê-lo, Joseph pai abriu a boca para falar algo, porém, logo seus olhos encontraram Melina. Só tinha ficado no filho até então.

— Cibele? — ele perguntou, chocado, como se estivesse vendo um fantasma. De fato, acreditava que estava. 

— Melina — Joe corrigiu, fazendo com que seu pai emitisse um "ah".

— Bah, tu é a cara da tua mãe, guria! — comentou, ainda em choque. Sacudiu a cabeça logo após. — Desculpa — aproximou-se dela e lhe deu um aperto de mão. — É um prazer te conhecer pessoalmente, viu? — sorriu para ela. — E... sinto muito pela sua mãe.

Melina limitou-se a um baixo "obrigada". 

Dante e Anastasia também foram apresentados, só que, depois disso, ao invés de os convidar para entrar, seu sogro continuou puxando conversa na entrada da casa, até Joe inquirir: 

— Por que está parado na porta? — O homem respirou muito fundo, aparentando cansaço. — Eu vi o carro deles ali fora — contou Joe, revirando os olhos —, não adianta tentar disfarçar. 

Seu pai assentiu. — Preparado pra mesma ladainha de sempre?

Dessa vez, foi Joe quem respirou muito fundo. — Vamos acabar com isso logo. 

Joseph pai abriu passagem para eles entrarem. Logo se viram em uma ampla sala, decorada ao estilo clássico. Ao lado direito, localizava-se uma sala de jantar, onde três senhores estavam sentados sobre a mesa. Um estava sentado na ponta, olhando diretamente para eles, e pareceu perder o ar quando os viu. Os outros dois estavam sentados juntos, de costas, mas, quando ouviram os passos, olharam para trás.

— Fiquem aqui — disse Joe, para os três, que se entreolharam e sentaram no sofá, confusos, enquanto pai e filho iam até a sala de jantar.

— LIPE! — exclamou uma senhora de cabelos loiros e grisalhos. Ela pôs as mãos na boca, em surpresa, e correu até Joe, interceptando-o na sala abraçando-o. 

— Oi, vó! — ele retribuiu o abraço, um tanto acanhado. Não tinha como ser outra coisa que não avó. Eram idênticos.

Logo em seguida, foi a vez do outro senhor, de cabelos brancos, "correr" até ele. Enfiou-se no abraço em conjunto, já que a senhora ainda não tinha soltado seu neto. 

— Felipe! O que tu tem na cabeça? — o homem foi o primeiro a se soltar e logo o repreendeu. — Onde tu se meteu? Não me diga que voltou a usar...

— Já disse pra não me chamar assim, vô — cortou-o, com a cara emburrada, soltando a avó, delicadamente. — E, não!

A mulher abraçou o próprio corpo com o casaco de lã que usava. 

— Foi o nome que sua mãe escolheu! 

Ele riu sem humor. — Por isso mesmo!

Caminhou então até o pai de seu pai — o outro senhor, que estava na ponta da mesa, ainda sentado —, pegou a mão direita dele e depositou ali um beijo Ele o olhava um tanto sem reação, mas algumas lágrimas se mostravam tímidas em seus olhos. Apenas pela forma como estava sentado, Melina poderia dizer que ele não iria demonstrar toda a emoção que sentia. 

J. Bernard assentou-se à mesa de jantar, próximo ao seu pai. Havia comida em cima dela. Estavam tomando café da tarde quando os quatro chegaram. Joe foi até a janela, onde seu pai estava anteriormente, se encostou por lá, olhou para seus avós e perguntou:

— O que querem aqui? 

— Viemos saber notícias suas, tchê! — disse a senhora. — Tu some por mais de um ano, não dá um telefonema, só pro seu pai.

Joseph Charles, o avô paterno, cruzou as mãos sobre a mesa, encarando fixamente a mulher. 

— Nessa idade, cínica desse jeito, Regina? — Seu sotaque inglês ainda era imensamente carregado, mas foi a raiva em seus olhos o que chamou a atenção de Melina. 

Regina pareceu se ofender, mas seu marido tomou a palavra. 

— Não é mentira! A gente veio aqui saber, sim, de ti — olhava para o neto, que não aparentava crer naquilo e que levantou uma sobrancelha para ele como se perguntasse: jura? — Mas a gente também veio saber da Patrícia — confessou, baixinho.

— Também coisa nenhuma! — esbravejou Joseph avô, enquanto Joseph neto ria de raiva, por já saber o óbvio. — Faz mais de meia hora que vocês estão aqui me enchendo o raio da paciência! Toma vergonha nessa sua cara, Geraldo!

— Mas convenhamos que é inadmissível que depois de todos esses anos, minha filha continue internada naquela maldita clínica! — Regina levantou a voz. 

— Puta que me pariu! — murmurou Joe, revirando os olhos. 

— Tu trate de respeitar tua mãe! — advertiu Geraldo, apontando um dedo para o neto.

Joe simplesmente negou rapidamente, com a cabeça, e deu de ombros rapidamente, conforme respondia do modo mais seco possível: — Não. 

— Vocês — Regina apontou o dedo para Joseph pai e filho — enfiaram a minha filha naquele lugar como se ela fosse doida. MINHA FILHA NÃO É LOUCA! — berrou a última frase. 

Isso foi o suficiente para fazer J. Charles se levantar de sua cadeira e se inclinar sobre a mesa, também apontando o indicador. 

— Tem razão, Regina. Tem razão. Sua filha não é louca, não. Aquilo lá é uma puta! Uma psicopata, uma criminosa!

— Patrícia não é uma psicopata. Eu conheço a filha que tenho! — Geraldo disse entre dentes, com ódio. — Vocês subornaram os médicos, nós só estamos exigindo outro laudo! 

— Pra que mais laudo? — foi a vez de J. Bernard intervir. Não levantou a voz como os outros, estava apenas de saco cheio de tudo aquilo. — Essa mulher já passou por seis psiquiatras e todos disseram a mesma coisa. Tudo o que vocês dois fazem é vir aqui importunar, chutar cachorro morto, já sabem que não vão conseguir nada — apontou com a palma da mão para o filho. — Vocês não tem consideração pelo neto de vocês, não? Fazendo ele passar por todo esse estresse.

— Eu amo o meu neto — Regina afirmou com veemência.

— AMA MERDA NENHUMA! — gritou o Joseph avô. — Se eu descobrisse que meu filho — apontou para Joseph pai — tinha feito metade da merda que a sua filha fez — apontou para os pais de Patrícia — eu mesmo tinha matado ele — bateu no próprio peito — e pegado o Joe pra criar. Porque eu amo meu neto!

— E porque aqui nessa família a gente tem caráter e a gente tem honra! — prosseguiu, levantado o indicador à sua frente. — Eu não ia admitir que meu filho fizesse uma coisa dessas. Quem tenta tirar a vida de uma criança merece morrer! Não importa quem seja, não tem que passar a mão na cabeça só porque é filho, não! Mas vocês ainda têm a cara de pau de vir aqui fingir que aquela vagabunda quem é a vítima.

— Não estamos dizendo que nossa filha é inocente, a gente sabe... — falou Regina, mais calma.

— Estão, sim — interviu Joe. — Nunca acreditaram em mim, não precisa se fazer de desentendida, vó. 

Regina respirou fundo e Geraldo prosseguiu:

— Eu e a Gina só achamos que é uma palhaçada esse aí — apontou com a cabeça para o pai de Joe — se recusar a se divorciar e continuar como tutor legal dela. Patrícia não precisa de um tutor e, se tiver que ter, tem que ser os pais, tchê! 

— Pela milésima vez, eu não me separo da Patrícia porque eu sei que, no segundo em que eu me separar, vocês dois vão assumir a tutela e vão levar a "coitadinha" — fez sinal de aspas com os dedos — pra dentro de casa e, na primeira oportunidade que ela tiver, aquela vadia doida vai aparecer aqui com um facão atrás do filho.

— Mas tu vive namorando com outras por aí e continua casado? Bah, não pode uma coisa dessas! — argumentou Regina.

— Não pode uma coisa dessas, né? — ironizou o avô paterno, normalizando o tom de voz. — Sabe o que vocês dois são? Ingratos! A sorte de vocês é que meu filho é bom. Meu filho é muito bom. A sorte de vocês é que ele não quis abrir denúncia, pra não expor mais ainda o coitado do Joe. Quis resolver tudo na paz. Ele tira dinheiro do bolso dele pra pagar aquela clínica, pra bruxa ficar lá, no conforto, com a bunda pra cima o dia inteiro, conversando com passarinho e tomando remedinho controlado.

Geraldo ia falar alguma coisa, mas o homem não deixou.

— Porque se fosse eu — continuou dizendo — quem tivesse decidido, no melhor dos cenários, Patrícia iria pra cadeia pelo resto da vida. E ainda seria pouco, porque ela merece isso e muito mais. Sua filha não é gente, não. E muito menos mãe — cuspiu cada palavra, com todo ódio que havia em si. — Sua filha é demônio!

— Acho melhor vocês dois irem embora — alertou J. Bernard. 

— Ainda não resolvemos a situação — contestou Geraldo. 

— Não tem nada pra resolver! — vociferou J. Charles. — Vão embora daqui antes que eu pegue minha espingarda!

O casal se levantou, contrariado, e passou pelos três, sem dizer uma única palavra. Tudo o que Melina pôde ver foi Regina limpando as lágrimas do rosto.

— Não acha que exagerou dessa vez? — perguntou o pai de Joe, olhando para seu próprio pai.

— Eu acho que eu fui é gentil! — ele retrucou. — A verdade é que aquela desgraçada é tão ruim que chega disputar o trono do inferno com Satanás. — Joe riu a primeira risada sincera desde que tinha entrado naquela casa e ele continuou, apontando o dedão para o neto: — O garoto concorda comigo.

— Isso eu sei. Eu tô preocupado é com tua pressão alta. O senhor não tem mais idade pra passar esses nervosos, não, pai.

O irritado senhor fez um gesto de desdém. 

— Eu não tenho mais idade pra nada há muito tempo — finalmente, avistou os três que ainda estavam na sala. — Quem é aquela gente toda ali? — perguntou para o neto.

Joe os chamou com a mão. Quando entraram na sala de jantar, ele abraçou Melina, de lado e apresentou: 

— Vô, essa é a minha namorada, Melina. 

— A tal da Linda, é? — Quando o rapaz concordou, o senhor a olhou de cima a baixo. — Bonita demais pra você — foi a conclusão dele. 

Todos riram e, então, Joe apresentou Anastasia e Dante, como sendo amigos paulistanos que ele tinha encontrado por aí.  

Sentaram-se todos à mesa. O pai de Joe insistiu para que eles tomassem café da tarde antes de colocarem as coisas em seus quartos. Comiam e conversavam, tentando tirar do ar o clima pesado. J. Charles dizia que, se quisessem ficar na casa dele, deveriam ir dormir às oito, porque ele não gostava de barulho após aquele horário. Seu filho brincou, dizendo que ele já era um velho surdo e que nem ouvia o que acontecia depois que dormia, tão profundo o sono. 

Já estavam à mesa há alguns minutos quando outro senhor entrou na casa. Aparentava já ter total intimidade com os moradores, já que nem mesmo bateu à porta. Apenas entrou, já falando:

— Oh, Charles, eu vi um carro branco pelas redondezas, igual o do Geraldo, aí eu fiquei atucanado. Tu não vai me dizer que eram aqueles dois. 

— Mandei eles embora daqui chorando! — narrou J. Charles, gargalhando de orgulho.

— Bah, vivente! Pois me conte o que eles queriam.

— Vô, pelo amor — disse um jovem, entrando na casa e fechando a porta —, deixe de ser curioso. Velho fofoqueiro da — parou de falar, mas permaneceu com a boca aberta, assim que olhou para a mesa de jantar. 

Melina soube imediatamente quem era. O Cadu Maverick tatuado em seu antebraço direito foi o que o denunciou; Abner









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Prenda: como os gaúchos chama suas mulheres.

Atucanado: preocupado.

Vivente: pessoa; forma de saudação.



Off: Amo escrever barracos ✨💙












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