CAPÍTULO I
- Sabe que dia é hoje?
- 30 de julho?
- É aniversário dele.
Melina sentiu os olhos da outra garota pousarem longínquos sobre ela.
- Ou seria - continuou -, não sei.
- Mel! - Mila tentou chamar, mas Melina já havia virado o corredor do supermercado. A garota seguiu atrás dela, empurrando um carrinho com parte da lista de suprimentos que Ártemis havia pedido que elas comprassem.
Alcançou a sereia na sessão de vinhos. Ela ainda segurava a lista de compras na mão direita, mas Mila tinha certeza de que os vinhos não estavam naquela lista.
Melina encarava um vinho em específico, quando Mila chegou mais perto, ela tomou a bebida em mãos e mostrou-lhe o rótulo da garrafa onde o nome Salton estava estampado.
- É da vinícola da família dele - explicou Melina.
Mila tomou a garrafa de sua mão, à força, e a colocou de volta na prateleira.
- Melina, me escute bem! - pôs firmeza em sua voz. - Res-pi-re.
- Eu não quero respirar.
- Não quer, mas precisa! - soltou seu punho e juntou as mãos à frente do peito, puxou uma grande quantidade de ar e instruiu: - inspire - elevou os braços sobre a cabeça, formando um arco. - Agora expire, soltando pela boca - pôs as mãos na cintura. - Não vi você fazendo.
Relutante, Melina a imitou.
Quando ela já parecia mais calma, Mila tomou coragem para falar:
- Você disse "seria".
- O quê?
- Você disse que hoje seria aniversário do Joe. - Seus olhos se carregaram de empatia. - Não diz isso, Mel. Ele está vivo e você sabe.
- Eu sei? - riu, mas não parecia estar se divertindo. - Já tem um ano e três meses que eu não tenho nenhuma notícia dele. A opção mais plausível é que ele tenha morrido. Assim como minha mãe. E provavelmente meu pai. E meus irmãos. E a Agatha. Provavelmente, Anastasia também. Mas sabe quem está bem vivo? O desgraçado do meu tio! E eu chamo de desgraçado, já que não posso chamar de filho da puta, porque estaria ofendendo a minha avó. Que, por sinal, também está morta.
- Ele não morreu.
- E como você pode ter certeza?
- Tendo fé.
- Fé não vai resolver meus problemas.
- E surtar vai? - arqueou uma sobrancelha.
- Não tenho como não surtar! Fiquei cinco semanas dentro daquele lago e isso significa que faz cinco semanas que eu não consigo dormir direito. Apagar. Completamente. Não dá para não pensar o tempo todo e, quanto mais eu penso, mais eu surto.
- E o que precisa para se acalmar? Dormir em alguma cama de verdade?
- Isso também - respirou fundo antes de responder. - Mas eu quero ver o mar.
- Melina...
- É só a quinze minutos daqui. A gente já está tão longe do acampamento, que diferença faz um quilômetro e pouco?
- Eu entendo como você se sente, mas temos que terminar essas compras e voltar para lá. Para o lago.
- Escuta, eu só quero ver - implorou. - Eu devo ter devorado 80% da fauna daquele lago. Os peixes correm de mim! Não aguento mais água doce, é densa e... Ah! Não aguento!
- Na verdade, o San Martín é um lago bem grande, eu duvido que... Ah, que seja! - mirou-a atenciosamente. - Vai se sentir melhor? - Melina assentiu. - Tudo bem.
- Jura?
- Mas ficar lá só por dez minutos! Não podemos arriscar.
- E você tem total razão! - fitou-a de soslaio, percebeu que ela ainda não aprovava a ideia. - Pense pelo lado positivo. Assim que Ártemis descobrir, vamos ter que mudar para outro país. Talvez a gente possa ir para o Chile.
- Eu não quero mudar. Gosto daqui - vendo que Melina não parecia convencida, continuou: - É melhor do que a Rússia! - Foi seu argumento final.
- Fui criada no Brasil, não sou a maior fã de argentinos - justificou-se.
Mila gargalhou e voltaram às compras, quando o carrinho já estava quase cheio, com tudo o que precisavam, Melina tornou a falar:
- Obrigada - olhou seriamente para Mila - por tentar me tirar do fundo do poço. Não está conseguindo, mas obrigada por tentar, mesmo assim. E obrigada por aceitar ir comigo até à praia. Sei o quanto odeia humanos.
Mila sorriu e passou a mão pelo rosto, na tentativa de disfarçar as lágrimas que enchiam seus olhos.
- Uns minutos a mais com eles não vão me matar - parou do nada. - Eu tive uma ideia! - exclamou.
- Que ideia?
- Vamos comprar um presente para o seu homem. Quando você se encontrar com ele outra vez, você entrega.
- Mila... - sacudiu a cabeça em negação, procurando palavras para expressar o quanto desaprovava a sugestão.
- Fé, Melina! Fé - enfatizou. - Você já perdeu muita coisa. Se perder também a fé, o que lhe restaria?
Não respondeu nada. Apenas assentiu, preguiçosa.
- Tudo bem, vamos procurar alguma coisa.
•
Antes mesmo de chegarem à beira da praia, Melina soube que algo estava errado. Pensamentos confusos, curiosos e apavorados começaram a invadir sua mente. Olhou para o banco de trás do carro, onde sua mochila para arco e flecha estava jogada em meio às sacolas de legumes e feijão enlatado. Havia guardado uma arma ali também, contudo, sabia que seria inútil naquela situação. Quando Mila ainda estacionava, Mel saltou para a rua e correu para a areia.
Observou com cautela a multidão que se formava ali. Um homem, em especial, lhe chamou a atenção. Encarava-o quando a outra garota chegou até ela, também correndo, cerca de um minuto depois. Antes de perguntar, ela também olhou para a praia. Haviam dois salva-vidas saindo do mar com duas pessoas. Uma delas estava sem um braço.
- O que aconteceu? - perguntou, enfim.
- Acidente de lancha - respondeu Melina. - Seis resgatados, quatro mortos. Os sobreviventes estão preocupados com alguém. - Fixou os olhos no mar. - Ainda tem alguém na água, a mãe de alguém, os salva-vidas não encontraram, estão chamando reforços para formar uma equipe de busca.
- Por que eles não estavam usando coletes? - reclamou, apreensiva. - Humanos...
Melina respirou fundo. - Eu vou lá.
- Mel, não! - rebateu imediatamente. - Eles vão encontrar a tal mulher, não se coloque em risco. Se você for lá, irão te achar.
- Milania - olhou dentro dos olhos dela, com muita firmeza -, eu não ouço ninguém pensando dentro d'água - explicou um tanto apavorada. - Isso quer dizer que já está inconsciente, engolindo água. Não vai sobreviver até os bombeiros chegarem.
- A senhora Ártemis não vai gostar disso.
- Sendo honesta? Não me importo.
- Tem muita gente aqui. E os salva-vidas vão voltar para o mar assim que terminarem a massagem cardíaca naquele ali - apontou com o dedo. - Vão te ver.
- Isso eu resolvo depois - deu sua última declaração e correu em direção às pedras, onde não havia ninguém, fora do campo de visão das pessoas na praia.
Mila correu atrás dela, talvez como uma última tentativa de impedi-la. Mas, quando alcançou a extremidade da pedra e olhou para baixo, Melina se permitiu um segundo para pensar sobre o que estava fazendo. Já podia sentir o alvo materializando-se em suas costas. Seria exposta, teria que fugir o mais rápido possível. Não era a coisa mais prudente a se fazer. Contudo, não considerava a própria vida como mais valiosa do que a da mulher que estava prestes a morrer.
- Volta e me espera com o carro ligado! - gritou para sua amiga, gesticulando para que ela fosse embora. Consternada, Mila assentiu e correu de volta para onde o veículo estava estacionado.
Melina levantou os olhos ao céu, onde a maior estrela brilhava no tom mais bonito de amarelo. Suspirou, mentalizando um pedido por proteção, e então, tornou a olhar para o mar.
Após um ano e três meses, saltou para o oceano.
Queria que seu reencontro com a água salgada fosse diferente. Queria poder aproveitar o gosto, a textura, as correntes marítimas batendo contra sua pele quando nadasse na direção contrária. Queria poder parar e olhar para trás, para sua própria cauda, para ver como ela reluzia sobre os raios de sol que perfuravam o mar.
Nada disso foi possível. Só tinha uma coisa em mente: pressa.
Aproximou-se do local do acidente e parou para olhar em volta, procurando qualquer sinal da vítima.
Avistou uma pequena forma, ao longe, imóvel, sendo puxada lentamente para o fundo do mar. Para muito fundo - onde a luz já lutava para sobreviver. Nadou apressadamente até ela e a tomou em seus braços. A mulher de cabelos pretos, na casa dos quarenta, tinha um corte na coxa esquerda, provavelmente, feito pelo motor da lancha. Sua pele já não tinha cor e seus músculos estavam relaxados demais. Espuma saía de sua boca. Seu coração não batia.
Com muita delicadeza, nadou com ela para cima, para cinco metros abaixo da superfície, e a deitou de lado, sobre seu braço esquerdo, com o rosto virado para cima. Com mais suavidade ainda, Melina moveu seus dedos sobre o nariz da mulher, retirando a água que havia invadido seus pulmões.
Virou seu corpo outra vez, de modo que as duas ficassem frente a frente. Uma mão, apoiou em suas costas para que ela não fosse puxada pelo oceano. Então, levou dois de seus dedos até o peito dela, pressionando-o, como faria à um bebê, dosando sua força.
Quando sentiu seu corpo voltar a se mover, logo levou sua mão até seu rosto, tampando sua boca e suas narinas. Sabia que ela acordaria em desespero e se afogaria outra vez.
Seus olhos abriram-se e logo tornaram-se aterrorizados. Tentou tirar as mãos da sereia de seu rosto e fugir, mas não causava dano nenhum à Melina, que a ouviu rezar para algum santo que ela desconhecia. Seus pensamentos atrapalhados eram uma mistura de prece e espanto. Palavras como "demônio", "aberração" e "monstro" iam e vinham no meio de sua reza. No fim, tudo se resumia a um único pensamento: o que é essa coisa?
"Acredita em milagres?", perguntou Melina.
A mulher arregalou ainda mais os olhos e assentiu, mesmo amedrontada.
"Então eu sou seu milagre", notou que aquilo a acalmou.
Dando um último sorriso para a desconhecida, apagou sua memória dos últimos instantes, deixando-a com apenas a ordem de não respirar e não se desesperar até que estivesse sobre a areia.
Soltou-a e nadou graciosamente para trás. Chamou uma corrente e ela veio, com toda a sua força, empurrando o corpo humano para a praia.
•
Quando saiu da água, já podia ouvir a multidão ao longe, em especial, um filho aliviado por ter a mãe de volta. Voltou à sua forma humana imediatamente, preparando-se para o que estava por vir.
Caminhou em passos apressados pela areia até avistar o carro. Para seu azar, avistou também o mesmo homem que havia notado no meio do tumulto. Agora, ele estava acompanhado de mais sete pessoas. Todos tritões.
Sabia que estavam atrás dela. Mudavam o acampamento sempre que havia a menor suspeita de alguém do exército de Anamar na cidade. Mas nunca haviam chegado tão perto.
Eles faziam seu caminho da areia até o carro quando uma mulher de seu grupo localizou Melina (que estagnou) com os olhos. Ela cutucou o ombro de seu líder e apontou na direção da sereia.
Ele olhou para o restante das pessoas ali, enquanto Melina caminhou para trás, de costas. Não fariam nada ali, na frente dos humanos. Mas isso não significava que ela estava segura.
Mila pôs a cabeça para fora da janela e olhou para eles. Imediatamente, a caçadora entendeu o que estava acontecendo. Melina negou com a cabeça, indicando para que ela não saísse do carro e, então, virou-se de costas e começou a andar apressadamente.
Atravessou a rua com o semáforo aberto, desviando-se dos carros, indo para dentro da cidade. Era ela quem queriam. Mila não precisava ser posta em risco por sua causa.
Avançou para a avenida, sendo seguida pelo grupo. Olhou mais uma vez para trás e viu que eles haviam se espalhado. Metade havia atravessado a rua, na intenção de cercá-la. Estava a uma distância vantajosa, no entanto, não conhecia a cidade. Não sabia onde poderia se esconder ou como despistá-los. Porém, quando viu um homem de meia idade abrindo a porta de um restaurante, teve uma ideia.
Correu até ele, para pegá-lo antes que ele trancasse a porta. O alcançou quando ele já estava meio caminho andado para dentro, empurrou-o para o meio e olhou para a rua mais uma vez, para ter certeza de que tinham a visto entrar e, então, fechou a porta.
Quando Melina olhou para dentro do estabelecimento, o homem já estava atrás do balcão, com as mãos trêmulas, tentando discar um número no celular. Ajeitou o decote, chegou perto dele e tomou o aparelho de suas mãos.
- Já chamei a polícia! - disse ele.
- Ótimo! - sorriu de modo encantador. - Tem mais alguém aqui? - amaciou a voz, fazendo com que o homem mudasse a expressão de pânico para admiração. Ele negou. - Tem uma porta dos fundos? - Ele assentiu. Acariciou o ombro do desconhecido e pediu: - Poderia me fazer o favor de ir correndo para casa? Pela porta dos fundos, tá bom?
O homem sorriu para ela e concordou. Melina devolveu seu celular e, então, o assistiu sair correndo. Ela também correu. Não para fora do restaurante, para a cozinha, ao invés disso.
Na superfície de inox, encontrou um faqueiro. Cinco facas ao todo. Revirou às pressas as gavetas, achando dois cutelos e mais algumas facas de carne. Empunhou o cutelo com uma mão e, com a outra, deixou uma faca preparada.
Quando a porta da frente foi aberta, ela já estava pronta. Antes que o primeiro de seus inimigos estivesse totalmente dentro da cozinha, ela já havia arremessado a faca. O homem, que liderava aquele grupo, desviou-se dela com facilidade e avançou contra a garota. Melina pode ver sua faca acertar o ombro da mulher que vinha atrás dele, antes de abaixar para desviar do golpe.
Rasgou a lateral da barriga dele com o cutelo, e avançou. Não tinha tempo para uma luta de um a um. Cravou o cutelo na garganta da mulher e retirou ele, junto com a faca. Sangue jorrou pela aorta dela enquanto seu corpo sem vida caía no chão. A bochecha de Melina, assim como seu ombro, foi colorida de vermelho.
Os outros seis aguardavam do lado de fora. Haviam fechado outra vez a porta, para não chamar atenção e espiavam por um greta da janela, mas, quando viram que um já estava abatido, deixaram apenas dois de vigia e entraram quatro.
Virou-se para trás, para o homem que se recuperava do ferimento e cortou sua garganta com a faca. Isso não intimidou os outros quatro. Partiram para cima dela mesmo assim, em expressiva vantagem numérica.
Melina cravou a faca no abdômen de um, enquanto outro esfaqueava a sua coxa, com uma das facas que havia pego ali. Os outros dois trataram de agarrá-la por trás, segurando cada um um braço, enquanto o lesionado retirava a faca de sua barriga e o outro arrancava as armas das mãos da garota.
Ela ergueu seu corpo, acertando uma voadora naquele que havia a desarmado, fazendo-o cambalear por cima de seu colega. Então, com toda sua força, abaixou, puxando os homens que a prendiam consigo, lançando-os no chão à sua frente. A dor aguda que sentiu dizia que seu ombro havia se deslocado ao fazer aquilo, mas não havia tempo para sentir dor. Ela se desvencilhou deles e pisoteou a cabeça de um, espalhando seu cérebro sobre o chão.
Enquanto o outro tentava se erguer em meio a sangue e a miolos, Melina agarrou uma faca de serra - a coisa mais próxima que tinha dela - e correu até os dois que estavam à sua frente (fazendo questão de pisotear as pernas do que estava vivo). Pulou sobre o primeiro, pegando-o desprevenido, envolvendo o peito dele com as pernas e cravou a pequena faca em seu olho. Torceu seu pescoço só por garantia. O segundo a acertou com uma facada no ombro.
Quando o corpo caiu morto no chão, ela se soltou dele e partiu para o duelo com aquele que havia a esfaqueado por último. A faca já não estava em seu ombro, e, sim, na mão dele. Tentou abaixar para pegar a faca que estava no olho do morto, mas seu oponente não lhe deu chance. Deu nela uma chave de braço, mas ela acertou sua virilha com o pé e, logo em seguida, feriu seu rosto com uma cotovelada.
Os dois que estavam à porta, quando já não tinham certeza se seu companheiro venceria, entraram também.
Porém, antes que Melina tivesse a chance de amaldiçoar os céus, a ponta de um arco e flecha atravessou o peito de um deles, levando-o ao chão, revelando Milania atrás dele. A caçadora chutou o outro porta a dentro e fechou novamente. Partiu para a luta com ele enquanto Melina ainda estava presa em seu confronto, coberta de sangue que colava sua roupa ao corpo.
Acabou indo ao chão com o homem, que, por cima dela, a enforcava. Seu rosto já estava ficando vermelho quando enfiou os dedões nos olhos dele, arrancando ainda mais sangue e um brado de dor. Rolou seus corpos até ficar sobre ele e agarrou sua cabeça. Bateu-a contra o chão até que um buraco manchado de vermelho se fizesse no piso.
Levantou, recuperando o ar. Virou o corpo para ajudar Mila, mas ela já estava terminando de matar seu adversário. Pôs as mãos nos joelhos, tentando voltar a respirar normalmente. Olhou para sua amiga, que se erguia do chão, nem um pouco aliviada. A garota correu até seu arco, que estava cravado nas costas de um dos tritões e preparou uma flecha, com os olhos fixos na porta da cozinha. Melina seguiu seu olhar, para onde o último se levantava, com as pernas quebradas já curadas.
Entretanto, ela não precisou atirar. Um tiro silencioso foi ouvido quando uma bala atravessou a testa dele. Seu cadáver caiu para frente, revelando seu assassino atrás dele.
- Cheguei atrasado para festa? - perguntou o rapaz, olhando para a cena de crime que o restaurante havia se tornado.
Havia ensaiado, secretamente, um discurso para caso o reencontrasse. Tinha algumas opções em mente: xingá-lo juntamente com todos os seus ancestrais; esmurrar o peito dele dramática e furiosamente; correr para seu abraço e não largá-lo por pelo menos meia hora; beijá-lo como se fosse a primeira e última oportunidade de fazer tal coisa. No entanto, tudo o que saiu de seus lábios, molhados de sangue e salgados pelas lágrimas, foi:
- Feliz aniversário.
******************************
NEM ACREDITO QUE CHEGAMOS ATÉ AQUI!!!!!!!
Empolgada demaaaaais! ❤️
E, assim kkkkk
É isso mesmo
Salto temporal gigante
Tecnicamente, estão no futuro
Porém, não tô nem aí ✨
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro