"A primeira vez que ele viu o Céu foi exatamente às seis horas e cinquenta e sete minutos depois do mesmo momento em que uma geração inteira se apaixonou por ele."

(Mais pesado que o Céu, Charles R. Cross)

Se eu estivesse em outro estado de espírito, talvez, esse texto tivesse uma introdução mais poética, menos reflexiva. O tópico iria pairar na linha tênue sobre o brilho dos seus olhos ou a doçura da sua voz, alguma análise banal sobre o tom dourado da sua pele e tudo mais que observei minuciosamente e tentei descrever em metáforas honestas.

Mas hoje eu quero falar de Sofia para Jungkook. Sem rodeios (e floreios poéticos).

Sem a voz de uma personagem soando em minha cabeça. Sem o trecho amoroso e doce no caminho que só tenho o privilégio de observar como espectadora. Há tempos me dei conta de que sou como a secretária de Julieta, embora seja um posto que me cabe e me faz feliz.

Eu transcrevo o amor e guio até você, que está há mais tempo escondido em meu coração do que consigo lembrar em dias, meses e outros números insignificantes. E parece estranho que meu corpo já te conheça — dos fios do teu cabelo castanho às pontas dos teus pés dançantes —, sem nunca ter, de fato, te conhecido.

Já te vi diante dos meus olhos, é verdade. E ainda te vejo. Seu rosto me persegue por todos os lugares, há anos: vitrines, telas, cartazes, outdoors, sonhos, palavras e devaneios à luz do dia.

Mas quando falo de te conhecer, falo de mergulhar no infinito de quem você é. Você. Jeon Jungkook. Pessoa física. E que fique claro aqui que o meu desejo nunca foi de pele. Nem de carne. Muito menos de posse. Só de amor. Porque algo em você sempre me intrigou profundamente. Desde o primeiro momento em que bati os olhos no garoto de cabelos vermelhos dando voz a um eu-lírico apaixonado e nunca mais consegui desviar para direção alguma. Hoje, com o passar do tempo e de tantos encontros espirituais e entendimentos cármicos, sei exatamente o que motivou a regência do seu fogo em minha vida; permitindo que você brilhasse como uma estrela linda e fugaz em meu caminho. O universo é complexo e orquestra tudo numa sinfonia perfeita, as notas soltas que ouvimos aqui e ali parecem destoar do restante, mas juntas, formam uma melodia indescritível.

E calma, hoje eu não vou te encher de palavras bonitas, pode ficar tranquilo. É só algo que venho pensando há um bom tempo, enquanto entro e saio de universos que venho criando desde que te conheci e quantos personagens habitaram no seu corpo nessa linha secreta enleada por várias e várias vidas.

E em todas elas, queria compartilhar somente uma com você.

Ter o prazer de dividir as experiências que tenho: te contar sobre a rotina, sobre a vida e como de certa forma eu adoro viver aqui; ou me acostumei tanto nesse lugar que tenho medo de cortar as raízes.

E te ouvir contar sobre o mundo e como você o conhece, sob a perspectiva de como é estar do outro lado e na sua pele. No seu lugar. Não posso ponderar sua vida, sem de fato, vivê-la ao seu lado. É injusto que eu tente roubar a sua voz, a sua vez. Nesse lugar, só quero entender quem você é. Por baixo dos rótulos e de qualquer suposição indevida. E também me apaixonar por cada descoberta.

Te indicar meus livros favoritos, — que eu sei que você não vai ler. Criar playlists e te deixar mudar a ordem das canções: que começariam com Taylor Swift e terminariam em Caetano (sou muito criteriosa na ordem das músicas, sabe?), acrescentar as suas, e também ouvi-las. E te contar minhas histórias em voz alta, te deixar odiar os meus mocinhos e amar os meus vilões. Rir das minhas piadas de quinta série e da minha dificuldade em finalizar projetos.

Saber sobre a sua vida e a história de amor dos seus pais, sua receita favorita de Natal e qual o significado por trás dos desenhos bonitos que enfeitam sua pele como hieróglifos de uma narrativa secreta. Dividir os fatos mais inúteis que coleciono por puro prazer, como a minha obsessão por flores e borboletas e saber porque esse alguém que você amou te machucou tanto assim.

E depois, ir à festas de aniversários de estranhos e roubar brigadeiros, coxinhas e outros docinhos que você provavelmente enfiaria nos bolsos da calça, e te ver implorar para entrar no pula-pula até alguém avisar o óbvio: que você é grande demais para caber ali.

Então voltar e sentar na varanda de minha casa, que é tão longe do movimento caótico da cidade grande e de todas essas luzes que você está acostumado no centro do seu mundo, e observar as estrelas, como agora, enquanto te escrevo esse texto. Porque no fim das contas, tudo que posso te oferecer se resume a isto: palavras. Só elas.

Não posso te dar o mundo, nem presentes caros dos quais você não precisa, muito menos fazer parte do seu círculo exclusivo e descolado de amigos. A única coisa que posso te oferecer é o meu amor transcrito. E de cara digo logo: meu amor não muda nada. Não sou e nem tenho nada de especial. Tem muitos amores por aí bem maiores e mais bonitos, você já viu? Claro que deve ter visto! Seu nome está no topo do prédio mais alto do mundo e a motivação disso tudo é uma só: existe alguém que te ama muito e está disposto a te mostrar isso. E embora isso aqui não seja uma competição, porque se fosse, eu nem estaria no páreo, algumas pessoas sempre estarão mais próximas do que outras. Seu posto reitera um coração inteiro, nunca aceita nada pela metade. Porque você é constituído de paixão.

E nem esta carta, muito menos essas palavras, chegarão a você.

O meu amor, infelizmente, não foi feito para mudar o mundo. E não têm poderes para acabar com a desigualdade social ou destruir o capitalismo. Meu amor não muda sequer a sua vida.

E sei que parece um pensamento egoísta demais e um texto cheio de superego rígido de uma menina mimada, mas juro, te escrevo com o coração aberto e feliz.

Essa é a graça disso tudo, no fim, tudo faz parte da grande orquestra do universo: conectar duas ou centenas de existências ao mesmo elo, cheios de fios condutores interligados pelo espaço-tempo e nos fazer emergir nesse infinito de sentimentos  que nem sabíamos que era possível sentir por uma pessoa: você, um pequeno milagre. 

Aproveite sua primeira vida, Jungkook.

E mesmo que eu nunca tenha a chance de compartilhar com você esta ou te mostrar os mundos que criei, sei que eles só existem por sua causa.

Porque o meu amor pode até não mudar o mundo, eu sei. Mas o seu amor me mudou para sempre.

E só posso te agradecer infinitamente por isso.

Feliz aniversário, Je.

— Sô.