{ Roland }
Quando o treino daquela manhã acabou, Roland estava completamente quebrado, graças a sua tia. Ele agradeceu mentalmente por ela não estar lá todos os dias, caso contrário Roland já teria virado pó.
-Já fez o que sua mãe pediu?- disse Alynia atrás dele, o fazendo dar um pulo. Roland sequer tinha escutado ela se aproximar. Na verdade, ele tinha que admitir, estava ocupado demais observando Abigail terminar os últimos exercícios do dia para sequer reparar.
-Que susto, tia, pelo Caldeirão!- ele disse olhando feio para ela. Alynia deu risada.
-Tão apaixonadinho.- ela disse dando um tapinha na bochecha dela e a apertando. Roland fez uma careta e se afastou dela. -Convidou elas?
-Eu falei com Ayla.- ele disse cruzando os braços, ainda avaliando Abigail. -Mas Abigail me odeia. Eu não quero forçar as coisas, já forcei demais indo até Velaris semana passada.
-Roland, se você estivesse forçando, ela não teria passado a noite inteira te beijando. Ah, não me olhe com essa cara de espanto, todo mundo viu. Até mesmo Azriel, se quer saber.- disse Alynia e, pelo Caldeirão, Roland seria morto. Era isso, ele seria morto por Azriel. -Pare com essa cara de assustado, menino, você parece uma criança de novo.
-Eu vou ser assassinado.
-Ah, pare de drama!- disse Alynia o dando um tapa na nuca tão forte que fez a cabeça dele ir pra frente. Roland fez uma careta.
-Ela disse que só queria uma distração.- ele disse dando de ombro, mas, no fundo, realmente se importando. Porque Roland não queria só uma distração, bom, não com Abigail, pelo menos. Alynia revirou os olhos.
-Também queria só uma distração, olha onde eu parei, casada e com dois filhos pra cuidar e lidar com esses dramas de adolescente. Você nem comece com isso, Roland, está começando a virar adulto já. - ela disse e Roland revirou os olhos.
-Não estou sendo dramático. Estou aceitando o fato que minha parceira me odeia e rejeitou nosso laço, simples.- ele disse, apesar de cada palavra doer e sair rasgando sua garganta.
-Vocês são muito jovens pra decidirem isso.- ela disse e Roland suspirou.
-Bom, Abigail não tem a eternidade pra decidir se me odeia ou me quer, tia.- ele disse e Alynia olhou pra ele com amargura. Bem, o fato de Abigail ser humana também incomodava ele.
-Só fala com ela, pelo Caldeirão. Se você aparecer nesse jantar sem ao menos ter perguntado para Abigail se ela queria ir, sua mãe vai te matar. E eu vou rir da sua cara.- disse Alynia e Roland fez cara feia.
-Está bem. Eu vou tentar falar com ela. Mas ela nunca me escuta mesmo.- ele disse com um suspiro, começando a caminhar até onde sua parceira estava.
Ele parou ao lado dela e Abigail se virou para o olhar. Ela olhou Roland de cima a baixo e arqueou a sobrancelha. Aquilo era o suficiente para fazer ele esquecer o motivo de estar ali.
-Oi, Abs.- ele disse com o sorrisinho arrogante de sempre e que, na verdade, era sua única forma de se defender. E, bem, esconder o quanto a raiva que Abigail tinha dele o destruía.
-Oi, Roland.- ela disse o devolvendo um sorrisinho arrogante e... E que Roland realmente esqueceu o próprio nome ao ver ela sorrindo. Sorrindo pra ele. Sim, um sorriso arrogante, mas era um sorriso, certo?
Roland ficou meio perdido depois disso. Ele procurou por reforços, provavelmente Ayla, mas quando olhou para ela, ela o deu um sorrisinho e levantou os polegares em um joinha. Belo incentivo.
-O que foi?- perguntou Abigail franzindo o cenho pra ele. -O gato comeu sua língua?
-Isso seria um problema, não é? Tenho certeza que você ficaria bem triste.- ele disse com um sorriso malicioso. Abigail revirou os olhos. As vezes ele se perguntava o porque simplesmente não conseguia ficar de bico calado. -Tudo bem, eu...
Como Roland sequer diria isso? As vezes, ele odiava amar tanto sua mãe ao ponto de até mesmo arriscar ouvir xingamentos e patadas para fazer aquele pedido. Aquele pedido que ele sabia que seria negado mas que, ainda assim, tentaria. Ele tentou não parecer nervoso e agradecia por Abigail não poder notar o quanto ele estava ansioso naquele momento.
-O que?- ela perguntou, mas, pela primeira vez, sem nenhuma raiva. Somente curiosidade.
-Bom, minha mãe vai fazer um jantar em casa e... E que minha tia é fofoqueira e falou pra ela que minha parceira estaria aqui nas estepes. Minha mãe queria que você fosse. - ele disse meio rápido, sem saber ao certo se Abigail tinha entendido. E, antes que ela pudesse dizer algo, Roland voltou a falar. -Não precisa ir, você já conhecê minha mãe, provavelmente não lembra direito porque eramos muito pequenos, mas sei que você odeia o fato de sermos parceiros e estar lá talvez seja uma merda, não precisa ir, eu só...
Abigail colocou a mão na boca dele, o fazendo se calar. Ela deu risada. Não da cara dele, ele percebeu. E foi uma risada leve, sincera. Algo que ela nunca tinha dado na presença dele. Que dia estranho aquele estava sendo, de fato.
-Tudo bem, Roland. Eu vou. Eu realmente não lembro da sua mãe. E acho que deveria conhecer melhor a mãe do meu parceiro, né? - ela disse com um meio sorriso e... E Abigail nunca tinha dito aquilo antes. Admitido o laço entre eles. Roland piscou, meio chocado. -Não me olhe com essa cara.- ela disse o dando um beliscão e Roland sibilou. -Eu não sou tão ruim assim.
-Não, Abigail. Você não é. Nem nunca foi.- ele disse baixinho e ela corou.
Eles se encararam por um tempo até Abigail desistir e desviar o olhar. Roland sorriu.
-Te vejo mais tarde. - e, sem dizer mais nada, Roland se afastou. E, pela primeira vez, ele pensou que, talvez, nem tudo estivesse perdido entre eles, afinal.
Talvez tivesse sido uma péssima ideia aquele jantar. Não por Abigail ou por Ayla, pois elas estavam conversando com todos, mas o problema principal era o pai de Roland. E os comentários completamente desnecessários que ele fazia.
Abigail tinha sido carinhosa e amorosa com todo mundo. Não tinha falado direito com Roland, isso é um fato, mas talvez isso tenha se dado pois ela e Ayla se enfiaram na cozinha com a mãe dele e a tia, ajudando a terminar o jantar.
Até então, as coisas estavam indo bem. Haise não estava enchendo o saco, Bonnie e Abigail conversavam animadas, Ayla estava em sua paz de espírito, sua tia conversava com seu pai, bom, meio brigando, mas ainda assim. Tudo estava simplesmente bem. Até seu pai começar a falar.
-Então, Abigail.- ele disse em um determinado momento e Roland ficou tenso. Ele já sabia perfeitamente o que o pai ia falar. -Você é humana, certo?
Roland ficou tenso com a simples menção do nome de Abigail e a forma como seu pai havia falado. Roland o conhecia bem o suficiente, conseguia notar o desdém disfarçado em seu tom. Ele apertou com força o garfo em sua mão, se segurando pra não enfia-lo no olho de seu pai.
-Sim, senhor.- respondeu Abigail com um sorriso, apesar de Roland saber, sentir, o como aquilo a havia incomodado. O que não ajudava em nada a acalma-lo.
-Pai.- Roland olhou feio para o macho, mas Thery o ignorou.
-Eu, honestamente, não entendo como uma humana pode ser parceira do meu filho. Mas a Mãe tem um belo senso de humor, não é?- ele deu uma risada e, pelo Caldeirão, Roland voaria na cara dele.
-Chega.- disse Roland o fuzilando. Seu pai franziu o cenho pra ele. -Nem sequer comece.
-Começar com o que?- disse Thery com a voz fria e letal. Lily segurou a mão do marido, tentando acalmar os ânimos. -Só estou dizendo que não entendo! Ela não tem sequer a força que nós temos. Uma hora, vai morer, e você vai viver pra sempre.
Roland se levantou com aquilo, completamente irritado. Ele estava disposto a brigar com seu pai por aquilo, ah, estava mesmo.
-Não. A. Ofenda. - ele rosnou. -Você não tem esse direito.
-E você não tem o direito de falar assim comigo, na minha casa.- disse Thery com a voz baixa, encarando o filho com raiva.
-Tá.- disse Roland e começou a caminhar pra fora de casa.
Ele escutou sua mãe o chamando, mas ignorou. Sabia que se continuasse ali, iria explodir, e não no bom sentido. Seus sifões já tinham começado a brilhar com toda a aquela raiva, aquela força pedindo pra sair. Ele precisava se acalmar.
Roland se sentou nos degraus da escada e colocou a cabeça entre as mãos. Tudo que era relacionado a Abigail o afetava de uma forma surreal, e ela sequer... Abigail jamais olharia para ele. Roland sabia. Mas não podia evitar.
Ele escutou passos e, em seguida, a pessoa sentar ao seu lado. Ele não precisava se virar para saber que era Abigail. O seu cheiro de lavanda a entregava.
-Você nem jantou.- ela disse baixinho. Roland riu fraco.
-Não tenho estômago pra isso.- ele disse, a voz vazia.
Ele sentiu as mãos delicadas de Abigail nas dele, as puxando. Ele se virou para olha-la nos olhos, e o que encontrou ali... Um carinho que ele nunca tinha visto ela direcionar a ele antes. Ou pelo menos não se lembrava.
Abigail entrelaçou a mão na de Roland e usou a outra para tocar sua bochecha. Ele não conseguiu conter o choque que veio com aquele gesto inesperado.
-Não deixe isso te magoar.- ela falou baixinho. -Não me machuca seu pai pensar essas coisas de mim. Mas me machuca te ver assim.
Ela... Ela se importava com ele? Se importava com o que ele sentia? Roland estava confuso, magoado e irritado, mas ter Abigail ao lado dele, tão perto e tão carinhosa... Bom, ele não iria espanta-la naquele momento.
-Você é um babaca, Roland, mas um babaca legal.- ela disse rindo e Roland fez uma careta.
-Uau, obrigado, Abs.- ele disse. Abigail deu uma risada suave e passou a mão pelo rosto dele. Roland fechou os olhos com aquele toque se perguntando se, talvez, ele não estivesse sonhando com aquilo.
-Tem algo que eu preciso te falar.- ela disse e Roland abriu os olhos para olha-la. -Eu...
Mas a porta foi aberta e Alynia saiu xingando Thery e arrastando Ayla. Ela também estava visivelmente irritada. Ayla parecia querer se esconder nas sombras que nem seu pai fazia.
-Saí do meio.- murmurou Ayla empurrando Abigail. Abigail se levantou e se afastou e Roland fez o mesmo. -Boa noite, Roland, tchau.
Ayla começou a caminhar até a casa que sua tia Alynia tinha nas estepes, que não era tão longe dali. Alynia soltou o último xingamento antes de seguir Ayla.
Abigail se virou para Roland com um sorriso sem graça. Ela se aproximou dele e se esticou na ponta dos pés antes de fazer algo que terminou de choca-lo. Abigail deu um beijo demorado em sua bochecha antes de se afastar.
-Boa noite, Roland.
Então ela se foi, sem esperar por uma resposta. Deixando Roland sozinho, que nem um idiota, se perguntando a mesma coisa pelo resto da noite: o que diabos tinha acontecido naquele dia?
Boa tarde meu povo! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Eu simplesmente AMEI escrever esse capítulo e ele ficou super grandinho
Enfim né rsrsrs
Aliás, eu criei um grupo no Whatsapp pra falar de bobeiras, quem quiser participar, o link ta no meu mural! Todos são bem vindos
Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana
Data: 23/03/21
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