Capítulo 07
Deitar na grama sob o sol era uma das minhas atividades preferidas quando criança. Mamãe sempre reclamava, dizendo que as moças não deveriam esparramar-se pelo chão. De olhos fechados, eu imaginava como seria tê-la por perto.
A Duquesa de Chevalier foi uma nobre conforme mandavam os protocolos. Era bonita, refinada e sociável. Possuía uma destreza em seus movimentos que eu jamais poderia ter, uma postura impecável e palavras dóceis.
Mamãe, com seu jeito meigo e recatado, fazia mais falta do que qualquer pessoa no mundo poderia fazer.
Nem em seus últimos dias eu consegui enxergar medo nos olhos dela. Quando os tumores a atacaram, ela permaneceu serena, como se nem mesmo a chegada da morte fosse capaz de roubar sua paz. Com certeza eu seria mais feliz se tivesse comigo sua ternura e mansidão.
Me peguei pensando nela enquanto os raios de sol esquentavam minhas bochechas, sob a grama dos Jardins de Roosevelt. Pensando se seu colo conseguiria arrancar do meu peito a insegurança que carregava em relação ao futuro.
— Está bem, Lady Claire? — uma voz grave perguntou, obrigando-me a abrir os olhos.
O príncipe James me encarava, fazendo uma sombra com o próprio corpo.
— Sim.
— Não quero incomodá-la, mas temo que o sol queime sua pele.
Dessa vez ele não usava terno nem paletó, apenas uma camisa branca de botões que estava com as mangas arregaçadas e uma calça preta sem cinto. Fitei seu rosto por um instante antes de responder.
— Os raios da manhã não são tão potentes para tal.
— Mas porque está deitada aí? Sente-se indisposta? — indagou, obstinado.
— Pelo contrário. Faz-me sentir... plenamente viva.
O príncipe franziu a testa, como quem tenta captar o sentido. Fechei os olhos novamente, esperando que ele se afastasse o mais rápido possível, mas, invés disso, ele abaixou-se e deitou ao meu lado.
Ninguém nunca tinha deitado comigo na grama do jardim. Isto porque, metade das pessoas achava ridículo e a outra metade também. Ele, entretanto, sem precisar de muitas explicações, parecia aceitar a ideia de bom grado.
Mantive os olhos fechados, fingindo não ser capaz de perceber o calor de seu corpo junto ao meu. O príncipe James também se manteve inerte por alguns minutos, imóvel e silencioso.
— Parece uma boa estratégia para oxigenar as ideias. — disse, por fim.
— E para driblar a palidez também.
Ele deixou escapar uma risada vacilante. Depois, houve um longo silêncio entre nós. Não aquele tipo constrangedor, era algo mais parecido com duas pessoas tão envolvidas em suas próprias mentes ao ponto de ficarem impedidas de pronunciar qualquer palavra.
— Tenho alguma chance com a senhorita? — perguntou, rompendo a mudez sobre nós.
— Você é o príncipe— falei, satírica— Acredita ter chance com qualquer senhorita.
— Não com esta. — controverteu em seguida.
— Hm, evidentemente. — concordei, deixando-o visivelmente inquieto. — Apenas... Não me parece certo arranjar um marido sob cunho político.
— Não é só sobre política, Lady Claire.
Nós olhávamos o céu, azul e completamente aberto, enquanto discordávamos de um jeito tempestuoso.
— Então está cortejando a minha mão sem pressão do séquito?
James ergueu-se um pouco e se virou para mim, mantendo um cotovelo apoiado na grama e a cabeça pendendo sobre a mão.
— Não. Mas estou lhe assegurando que não é somente por ele.
Enquanto eu encarava seus olhos, tentando analisar as expressões por trás deles, o príncipe fazia o mesmo comigo.
— Já se apaixonou nesta vida, Alteza? — questionei, astuta.
— Você já? — devolveu, arqueando uma das sobrancelhas.
— Sim. E com propriedade lhe digo: não há nada no nosso compromisso além de politicagem.
— Então já se apaixonou... — repetiu, ponderando.
Largou novamente o corpo no chão e voltou a observar o céu, impedindo-me de encontrar suas vistas outra vez. Manteve os olhos lá quando perguntou:
— E ainda o está?
— Certamente.
Houve um evidente desconforto no príncipe ao ouvir minha resposta. Pensei que seria impossível ser ciúme, afinal, nós éramos quase-estranhos. Entretanto, o que quer que fosse, chegava muito perto disso.
— E porque não assumiu compromisso? Se gosta tanto de outro homem como diz, já deveria ter feito.
— Os detalhes da minha vida não são de sua conta. — murmurei. — E já teria feito se Vossa Alteza não tivesse atrapalhado.
Ele arquejou, os dedos tamborilando sobre o abdômen. Demorou um tempo para responder, como se estivesse digerindo as palavras.
— Entendi. Devo procurar outra dama, então?
— Seria muitíssimo cortês de sua parte.
— O casamento dos meus pais foi puramente estadista— confessou, com um pesar na voz. — Eu quero algo... diferente disso.
O sol iluminava tanto seu rosto que o fazia reluzir de um jeito único. Era impressionante como ele não tinha uma olheira sequer, enquanto eu lutava para me desfazer de metade delas.
— O casamento da maioria dos nobres é.— pontuei delicadamente— Imagine que péssimo deve ser passar a vida ao lado de alguém que nem sabe se você prefere tortas ou biscoitos?
— Realmente parece muito entediante. — concordou, sorrindo.
— Há dezenas de moças na corte. É absolutamente impossível que nenhuma delas sirva para você.
— Pois bem, eu farei uma nova escolha— decidiu, cruzando os braços. — Porém, com uma condição.
Franzi a testa para ele, no sentido de uma indagação.
— A srta. me ajudará.
— Precisa de ajuda para arrumar uma namorada? — Disparei, fazendo uma careta— Está de brincadeira ou o que?
James deu uma gargalhada, e eu percebi que seu rosto ficava ainda mais atrativo quando ele fazia aquilo. Não se via pés de galinhas ao redor dos olhos, nem míseras rugas pela testa, apenas uma expressão deliciosamente descontraída.
— Não lhe parece justo, Lady Claire? — indagou, fixando os olhos nos meus— Um favor por outro.
— Não tente jogar comigo, Alteza. Sou melhor nisso do que você imagina.
— Se de fato é, não há o que temer— retrucou— Um último acordo, é tudo que lhe peço.
— E nunca mais terei milhares de flashs sobre mim?
— Nunca mais.
— Hmm... — considerei atenciosamente— Fechado, então.
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