XX - São tudo o que tenho
A indisposição havia me abatido novamente, me sentia como nos dias que estava em uma tristeza profunda por Claris, parecia que havia algo sugando toda a boa parte da minha alma e tentava a todo custo me levar para baixo.
O dia parecia mais escuro que o comum, uma onda de frio devia estar próxima, mal conseguia enxergar o jardim por conta da névoa que se instalava. Era um daqueles dias que nenhum de nós quer fazer algo, o dia que a rainha vai descansar e o rei geralmente joga em silêncio com seus duques e conselheiro, um dia onde nada importa de verdade porque nunca há problemas em dia como esses.
Mas neste exato dia, eu tenho que descobrir quem é o traidor infiltrado em minha corte tentando ao máximo divulgar informações, até mesmo falsas para fazer todos os Morey pagarem seus pecados, não entendia como alguém podia ser odioso ao ponto de desejar ver tudo aquilo que alguém um dia construiu simplesmente cair debaixo de seus pés.
Quando estava certa de que tudo o que estava fazendo iria de alguma forma me beneficiar, vejo apenas trabalho e trabalho para lidar novamente, todos os dias me lembro de dizer para mim mesma que uma hora tudo isso vai simplesmente acabar. Não sei como exatamente e nem quando, mas o que atualmente me conforta é saber que vai.
— O conde McKnigth. — um dos guardas anunciou antes de Gideão adentrar.
— Por favor, lhe suplico para cancelar tudo o que devo fazer hoje. Não suporto a ideia de sair daqui. — disse tão rapidamente que nem eu entendi ao certo o que havia dito.
— Sim, Majestade. O mensageiro pediu para lhe entregar esta carta, é de Richard. — Ele mostrou a carta em sua mão e a colocou sobre a pequena mesa.
A peguei e a abri.
" Doce Amélia, novamente estou escrevendo para você,porém, desta vez não pretendo falar sobre notícias interessantes. É sobre Henrique, seu primo. O expulsei de minha corte e o enviei de volta para o lugar de nascimento, pelo fato dele tentar assassinar-me. Entenda por favor que não posso conviver com traidores em minha corte, espero que aceite seu súdito e primo e me desculpe por isto.
De seu sorridente amigo,
Richard."
Henrique havia passado do limite desta vez, não que alguma vez eu tenha achado que ele era alguém de alma boa, mas nunca achei que tentaria matar um rei.
— Eu devo ter cometido algum crime, não é Gideão? Estou de fato pagando pelo que devo. — deixei ele confuso e andei em direção a sala do trono para esperar por Henrique.
Não me surpreendi ao ver que ele já estava lá em uma discussão com Lenox, os dois pareciam muito bravos mas mantinham as mãos longe um do outro, Lenox como sempre tinha uma expressão de tédio e apenas rebatia o que lhe era dito enquanto Henrique do outro lado gritava o quanto o lorde era mentiroso e como havia chegado até o conselho.
— Tentou assassinar Richard? — Gritei quando ele percebeu que eu havia chego.
— Sim, estou muito bem, Amélia. Admiro sua preocupação comigo. — ele sorriu com irônica polidez e andou em minha direção. — Eu tentei envenenar Richard, se está me questionando, não é nada que ele mesmo não tenha feito antes com o rei de casterly. E para sua felicidade e minha surpresa há muitas pessoas que provam sua comida antes de sua majestade.
Henrique estava realmente acusando na frente de todos que Richard havia envenenado o rei de castely, estava tentando desviar a atenção de si mesmo e culpando outra pessoa por um erro que fora cometido antes de tudo aquilo começar.
Eu não acreditava em uma palavra que saía de sua boca, tudo parecia mentira e falsas acusações eram feitas, eu conhecia Richard o suficiente para saber que ele nunca mataria alguém, ao contrário de Henrique que assumia seus atos sem nem precisar ser pressionado.
— Henrique, eu o mandaria para o calabouço se tivesse como acusa-lo agora.
— sussurrei e joguei a carta chão propositalmente antes de me virar e sair do castelo.
Quando eu me tornei a pessoa que queria voltar para dentro e mandar os guardas prenderem ele, quando me tornei uma versão mais nova de minha mãe com raiva e comecei a andar de um lado para o outro enquanto abria e fechava a minha mão?
Percebi que talvez tudo aquilo estivesse apenas no começo, talvez fosse tão difícil reinar porque era a primeira vez que eu tentava, com o tempo tudo deveria entrar em ordem e voltar para seu próprio lugar.
Por mais que eu quisesse esquecer Clarissa e deixar o passado no passado, ainda me perguntava o que ela faria se estivesse no meu lugar, como Claris Morey lidaria com Henrique se estivesse no meu lugar?
Eu tenho certeza de que faria o melhor para todos, tenho certeza que nem mesmo sairia de lá e o desafiaria apenas com um olhar, porque aquela era Clarissa, ela não tinha medo de seus oponentes e gostava de deixá-los pensar que ela morreria com uma palavra deles.
Mas aquela não era eu. Eu não sabia como enfrentar Henrique sem cometer um erro maior e me arrepender do que provavelmente diria, só em pensar que Richard poderia estar morto e Henrique passeia por meu castelo normalmente podendo fazer de novo o que fez com qualquer um de nós me deixa completamente tonta.
— Não se pressione tanto, Amélia. — Lina se aproximou em silêncio.
— Eu não entendo como chegamos à isso. O que nos trouxe até o momento em que eu já não tenho nada?
— Nós ainda estamos aqui, Amélia. Eu, Heitor, Gideão, Amy. Somos tudo o que você tem.
Concordei com ela, aqueles eram minha família, eram tudo o que eu tinha. Nenhuma riqueza, nenhuma coroa podia significar mais que o elo que criamos ao longo de nossas vidas.
Abracei Lina o mais forte que pude e ouvir ela rir, ela era como uma nova irmã após a morte de Claris, era como ter tudo de novo à minha frente e eu temia aquilo porque eu tive tudo e mesmo assim os perdi.
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