VII- Amigo sorridente
Já em meus aposentos relia a carta o quanto podia. Quanto mais era lida, mas eu achava uma audácia seu pedido de juntar os dois reinos como se uma união entre duas pessoas não passasse de interesse político. Talvez para os reis funcionassem daquela forma, mas eu não era um.
Na manhã seguinte me levantei antes de minhas criadas entrarem em meus aposentos, olhei pela janela como todas as manhãs e continuei pensando sobre o que faria com o pedido de Richard Snow.
— Bom dia, Vossa Graça. — Adentrou Lina.
Eu me assustei com Lina e apenas sorri ao ouvir sua voz. Pelo menos, ela me diria o que fazer e no final, eu a ouviria. Lady Lina era minha amiga antes de ser minha dama e sempre fora a única que eu realmente escutava.
— Me parece que agora vir em meus aposentos tem sido sua coisa favorita. — Constatei sorrindo e ela fez o mesmo.
— Mesmo com este sorriso, vejo que está preocupada. — Falou Lady Lina sentando em uma das cadeiras que haviam ali.
— Recebi um pedido de cortejo. — Disse andando até a pequena mesa de madeira onde mantinha as minhas cartas e documentos importantes. Lady Lina levantou- se e leu o pedido de Richard em voz alta.
— Não entendo o porquê da tristeza, Amélia. — Lady Lina afirmou jogando a carta de volta para a mesa. — Irá se casar!
Lina comemorava mas eu permanecia quieta e pensativa. Olhei para ela com uma expressão nada boa e ela pareceu entender que eu não iria aceitar.
Lina parou e encarou minha expressão pensativa. Eu estava me preocupando a toa, pois Richard era meu amigo e eu precisaria de um rei consorte ao meu lado se quisesse reinar, mas ali morava um grande problema, eu não queria reinar, eu não podia reinar e obviamente não saberia reinar.
— E você teria motivos para recusar, minha amiga? — Questionou Lina para mim assim que deitei em minha cama.
— Sim, um deles é o fato de eu mal conhecer Richard!
— É para isto que servem os cortejos. A maioria das uniões entre nobres são feitas com rapidez, o que a incomoda tanto? Heitor aprovaria a decisão! — Afirmou Lina sorrindo, mas antes que pudesse dizer algo a mais, as criadas adentraram para arrumar-me e Lady Lina rapidamente se retirou deixando eu e as criadas sozinhas.
Vesti um vestido vinho bem escuro, o que destacou os meus cabelos ruivos que estavam presos em um rabo de cavalo bem feito. Desta vez, optei por ter algo mais natural e não deixei os meus lábios avermelhados.
(...)
— Então realmente recebeu um pedido de cortejo? — Amy, a rainha-mãe, perguntou para mim enquanto eu praticava meu esporte favorito, arco e flecha.
Era novo para mim ter minha mãe novamente pelas redondezas sem o seu vestido preto, o período de luto já havia acabado, mas eu preferia manter as cores escuras. Gostava de vê-la sorrir, porém não conseguia olha-lá sem me lembrar de Clarissa.
Eu estranhei sua pergunta de primeiro, pois só me lembrava de ter compartilhado esta informação com Lina e mais ninguém. Então eu me lembrei que Lina não era a mais íntegra para guardar segredos deste tipo, ela era muito animada.
— Sim, querida mãe. — Afirmei atirando uma flecha bem no meio do alvo.
— Acertou! Fico pensando em que rosto imaginou para acertar de tal forma. — Minha mãe disse após eu guardar o arco juntamente da flecha.
Sorri para ela. Eu andava em direção ao jardim, o meu lugar amado, enquanto minha mãe vinha atrás de mim.
Eu estava tão envolvida na conversa da minha mãe sobre como eu tinha motivos para recusar Richard que mal notei a presença do próprio no castelo.
— Altezas?! — Uma voz grossa e conhecida nos chamava enquanto conversávamos.
A rainha-mãe fora a primeira a olhar e acabou se assustando quando viu o rosto do novo rei de Casterly. Me virei um pouco depois e pude ver que o remetente do pedido estava bem em minha frente. Richard parecia mais alto desde a última vez que o tinha visto, ainda era o
mesmo homem de feições fortes e sorriso largo.
— Richard! — Eu me levantava com animação sendo seguida por minha mãe nem um pouco entusiasmada com o recente visitante. — Vossa Majestade Real, eu quis dizer.
— Amélia, desculpe vir sem aviso prévio. — Desculpou-se e logo depois fez uma pequena vênia.
Eu ri um pouco alto o que fez minha mãe me repreender e deixar o rei envergonhado, era confuso para mim ver qualquer pessoa me tratando como tratavam minha mãe ou como tratavam meu pai, parecia que ninguém estava acima deles. Era apenas ele e ela. Os reis. Os únicos.
— Um rei não costuma se curvar a uma princesa. — Afirmei ainda rindo surpresa.
— Não estou aqui como um rei e sim como um amigo. — Exclamou Richard
deixando-me surpresa com a sua resposta.
A rainha-mãe se despediu dizendo que precisava rezar por uns dias e pediu uma carruagem e alimentos para cinco dias. Ela prometeu a mim que voltaria antes do dia da maioridade. Talvez ela não tivesse voltado completamente do luto, deixei que fosse para que fizesse suas orações e visse Overland.
Mandei um adeus com a mão para minha mãe e caminhei atrás de Richard até o castelo, fazia anos que não o via e da última vez que estivesse em seu reino eu devia ser um pouco mais velha que uma menina.
— Nenhum súdito deveria andar na frente de sua Alteza Real. — O regente que surgiu do salão de treinamento falou com raiva.
Olhei para meu meio-irmão que mal falava comigo nos últimos dias depois de ter contado a Lorde Cassroy sobre a carta de Candace Campbell.
— Ele não é meu súdito, irmão. — Disse sendo interrompida logo depois por Richard que voltava para o meu lado.
— Ele tem razão, não estou em meu reino. — Sorriu Richard. — Eu realmente não deveria andar na frente da Herdeira.
Voltei a olhar para o meu meio-irmão que estava caminhando de volta para dentro, assim como eu e Richard que conversávamos sobre os rebeldes de Waterfall e o mal que tínhamos causado a outros reinos. Me sentia em parte culpada por não saber para-los, mas eu era apenas uma menina em meio ao caos.
No corredor do castelo, o regente Heitor havia sumido dando a entender que tinha entrado na sala do trono. Fui em direção ao salão principal, onde ainda havia movimento e caminhei com Richard ao meu lado.
— Poderia me mostrar um pouco do reino? Como por exemplo, onde os comerciantes costumam estar. — Pediu o rei Richard.
Sorri ao lembrar dos tempos quando ia com meu irmão ao centro de comerciantes.
— Claro! Preparem dois cavalos por favor, agora! — Ordenei e logo dois homens correram enquanto eu e Richard andamos até os estábulos para pegarmos nossos cavalos.
Richard observou a quantidade de cavalos ali e ficou com uma expressão interessada, talvez porque em Casterly não havia tantos cavalos, nem mesmo para os guerreiros. Waterfall era um reino cheio deles, os cavalos faziam parte de nossa rotina.
— Este é o Valentino. — Disse e Richard gargalhou alto pelo nome do cavalo gateado ali presente.
— Nomeou este cavalo de Valentino? — Questionou Richard ainda rindo.
Cavalgamos até o centro comercial onde Richard comprou um cordão dourado com um pingente de coração. Sabia o motivo de seu presente, o rei Richard esperava que eu aceitasse sua oferta, como qualquer oferta de paz.
— É divino! — Encantada com o pingente que brilhava em minhas mãos, suspirei.
— Sim, de fato. — Concordou Richard.
(...)
Depois de um longo dia cavalgando e olhando a beleza de Waterfall voltei ao castelo e todos já estavam em seus aposentos, menos os guardas que trocavam de turno naquele momento.
Pensei sobre minha maioridade e comecei a imaginar meu futuro como rainha absoluta deste reino e pela primeira vez em algum tempo sorrindo, eu adormeci.
Mas sabia que ao acordar tudo seria diferente dos sonhos.
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