III - Não é um rei, senhor.
Henrique saiu furioso da sala do trono pela terceira vez naquela doce tarde, eu gostaria de dizer que fora um dia agradável, mas eu não era considerada mentirosa.
O novo regente que nomeei ainda não havia aparecido e todos me achavam — mesmo que em silêncio — tola demais para comandar, e eu algumas vezes concordava com eles. Eu era uma tola achando que podia governar pessoas, este era o trabalho de Claris, não o meu. Já faziam três dias desde que ela sumira, não queria acreditar que ela pudesse ter sido sequestrada, não podia pensar que ela estava sofrendo na mão de rebeldes. Eu queria que ela voltasse, todos queriam, até aqueles que diziam odiá-la sentiam sua falta.
Mamãe passava o dia todo se arrastando e sussurrando, e algumas vezes chorando. Suponho que não tenha mais lágrimas depois de três dias chorando, eu não tinha. Não conseguia mais chorar e me sentia exausta, completamente cansada de esperar e me preocupar tanto. Às vezes Heitor e Lina me animavam com alguma conversa boba, mas Heitor estava desde saber que eu o havia nomeado regente, brincando de reinado por aí e Lina estava ocupada com outras coisas. Ela não me deixara completamente sozinha, ela vinha escolher o vestido do dia e aprontar meu cabelo sempre, e eu nunca ficava sozinha de qualquer maneira.
Não que Henrique fosse uma companhia que me agradasse, mas eu nunca fora de reclamar quando precisava de pessoas por perto.
Saí de meu transe quando ouvi a porta bater e olhei na direção de meu irmão com uma expressão furiosa no rosto.
— Jesus Cristo! Heitor, meu irmão, poderia bater antes de entrar na próxima vez? Sua entrada me assustou.
— Imagine como me senti quando descobri que eu seria o regente. — disse calmamente e se aproximou — estava falando sério sobre eu ser o regente enquanto Clarissa não volta?
— É claro. Apenas até que eu consiga provar que posso reinar ou quando alcançar a maioridade.
— Você não é a Clarissa! — Gritou meu irmão. — Já tomou uma decisão ruim me deixando como regente.
— Não, eu não tomei. São algumas luas, Heitor. — Eu exclamei e levantei as mãos como se buscasse apoio.
— Eu sei. Diga-me o porquê de não pedir tal coisa para a rainha-mãe? — ele questionou se aproximando de mim
Eu pus minhas mão no rosto de Heitor e disse:
— Confio mais em você do que nela. E ela provavelmente deixaria a coroa para Henrique na primeira oportunidade. — Disse e sorri para meu irmão que vencido e sem opções aceitou a proposta.
Eu sabia que era a coisa certa a fazer, pelo menos eu achava. Eu teria total controle do reino neste meio tempo, podia soar como manipulação, mas não era. Queria que Claris tivesse um lugar no reino quando voltasse e se minha mãe ou qualquer outra pessoa reinassem, isso não seria possível.
Heitor estava bravo e eu compreendia, mas ele gostava de reinar e aprendera muito mais com meu pai do que eu. Meu pai me ensinou que não lutar me fazia mais forte e ficar quieta me fazia mais inteligente, suspeito que ele nunca tenha dito o mesmo para Heitor ou Claris, e se tiver dito, eles ignoraram completamente. Heitor sempre dizia que lutar mostrava força e sempre duvidar, inteligência.
Clarissa preferia criar as próprias leis e regras, por isso nunca aceitou meu pai com suas ordens.
Lina adentrou os aposentos e como sempre trouxe um vestido consigo, azul cobalto, e depois de vestida percebi que aquela se tornaria minha cor preferida.
Ela não falou muito e eu como não queria falar também, deixei-a quieta. Saí do quarto e fui para a mesa de jantar onde meu primo, Heitor, minha mãe e Gideão se localizavam.
Sentei-me ao lado de Henrique para tentar de alguma forma persuadi-lo a ir embora. Queria muito que ele fosse para casa e deixasse a minha em paz.
Minha mãe tinha o olhar caído, mas suas feições não eram tristes, ela cutucava sua comida e todos sabiam que ela não tinha intenção de comer mesmo. Gideão comentava algo sobre rebeldes com Heitor que concordava freneticamente, queria que Lina se sentasse a mesa, mas não era costume dela comer conosco.
Os lugares onde uma vez meu pai e Claris ocuparam, estavam completamente vazios e os pratos nem estavam lá. Senti falta do comentário que minha irmã faria sobre Henrique ou da risada estranha do meu pai quando todos pensavam que estava engasgando, senti falta de tudo.
— Está radiante, minha prima. — Henrique comentou sutilmente. Eu agradeceria se fosse de fato um elogio sincero, mas havia algo escondido por trás daquelas palavras inofensivas.
Mais tarde naquela mesma noite, passei em frente a porta onde as reuniões semanais com os conselheiros de meu pai aconteciam e ouvi vozes, ao entrar eles não fizeram uma breve reverência, mas meu irmão e Gideão McKnigth me saudaram devidamente.
— O que falavam antes de minha chegada? — perguntei andando até minha cadeira em frente a grande mesa de conselheiros.
— Perdoe-me Alteza, mas falávamos sobre seu reinado. — Comentou um homem não muito importante no conselho. — Não poderá reinar.
Eu arqueei sobrancelha e o olhei, não era possível que eu escutava aquilo. Queria ter certeza de suas palavras.
— Não tem preparação para isso, nós decidimos que iremos deixar seu primo Henrique reger até a volta de sua irmã.
Agora que dito isso percebi o motivo de tanta alegria da parte de meu primo no jantar. Me levantei e coloquei as mãos em cima da mesa.
— Eu sou filha de Arnold Morey! Eu tenho direito a este trono tanto como Lorde Cassroy. Sejamos francos,é melhor ter alguém legítimo do que um sobrinho do falecido rei.— Falei dando a volta pela mesa. — Entendo que queiram um homem mas se eu reinar daqui a algumas semanas tenham certeza que irei escutar os senhores, já não garanto o mesmo de meu primo.
Nunca falei com tanta autoridade e confiança em toda a minha vida.
— Vou provar que posso reinar, e reinarei enquanto Claris estiver fora. Aqueles que discordarem, podem sair.— Falei e novamente me sentei em minha cadeira.
Gideão me lançou um olhar estranho, o que não entendi muito bem, mas ao olhar para Heitor vi o orgulho em seus olhos, o homem que havia dito as primeiras palavras após a minha chegada agora se mantinha calado pensando sobre o erro que cometeu. Talvez eu devesse reinar mesmo.
— O que faremos com seu primo, Alteza? — perguntou Gideão para mim.
— Eu cuidarei disto. — Afirmei com confiança. — Mantenham meu meio-irmão no trono até por algumas semanas e então conversaremos sobre meus deveres como rainha.
Todos concordaram e falaram sobre como os rebeldes do reino de waterfall estavam causando problemas aos reinos vizinhos e outros como casterly e crest
— Pode cuidar disto, Lorde Morey? — questionei formalmente meu irmão e me levantei.
— Na verdade, acho deveria ficar. — Ele respondeu usando a mesma formalidade que usei a pouco.
Suspirei e me sentei preparando-me para ter uma conversa desnecessária sobre guerra e dinheiros que waterfall não tinha. Meu pai não deixara sequer um centavo para pagar a guarda.
Olhei para Gideão esperando que ele me liberasse mas ele não o fez.
— Waterfall tem causado problemas em crest. — Comentou o mesmo homem que me disse para não reinar
— Rebeldes o atacaram quando o rei Arnold ainda era vivo e acabaram por matar o rei de crest em um combate.
lembrei de ter escutado sobre a morte do rei de Crest há algum tempo atrás pela boca de meu pai.
— Acha que o herdeiro agora quer vingança? — perguntou Heitor aos conselheiros.
— Não é um rei, senhor. — Respondeu Gideão olhando para o regente, Heitor estava confuso. — É uma rainha e seu nome é Candace Campbell.
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