32 - Olhe em meus olhos e diga que não me ama
Yuki ainda se lembrava daquele dia. Havia acabado de acordar e se lamentava pela perda do bebê. Chiyo ainda demorou uns dias para lhe falar. E disse o que ela jamais imaginou que ia ouvir.
— Eu sinto muito, menina. Não haverá uma próxima vez. Eu curei a infecção, mas não pude salvar o útero. Eu optei por sua vida.
Dizem que existem pessoas que preferem apagar momentos traumáticos em sua mente para aliviar a dor que aquilo lhe causa. Yuki fez isso. Camuflou sua dor na raiva e nunca mais tocou naquele assunto, pediu a Chiyo que jamais falasse sobre isso e mergulhou em sua própria escuridão.
Mas ali diante de Itachi ela não teve mais para onde correr, nem para onde se esconder. Ela devia isso a ele, mesmo que em seu coração ela soubesse que não havia mais chance para eles dois. Itachi segurava seu rosto delicadamente tentando secar as lágrimas que molharam o rosto de Yuki.
— Eu não sirvo para mais nada. Então, amenize minha dor de uma vez. O meu filho... minha família. Eu perdi tudo! — O Imperador puxou a mulher para um abraço e a envolveu em seus braços sem se importar com nada. — Alteza, não abrace uma mulher imunda como eu.
— Não diga nada. Deixe eu pelo menos achar que posso proteger você ao menos uma vez.
O corpo de Yuki começou a soltar-se lentamente em seu abraço, sentindo o cheiro dele que por tantas vezes sonhou. O calor familiar do abraço dele que por tanto tempo ela desejou. Era como se tivesse esquecido o que era sentir aquela sensação. De se sentir acolhida e amparada.
— Alteza! Está tudo bem aí? — O soldado gritou do lado de fora.
— Sim. Só mais um pouco! — Ele apertou mais o abraço e ficou ali com ela por mais alguns minutos. Depois que a soltou levantou-se devagar e foi até a porta, deixando Yuki ainda chorando. Ele abriu a porta bruscamente revelando o olhar assustado do soldado.
— O senhor estava demorando, majestade.
— Ela está livre.
— O que? Senhor, ela... atentou contra o príncipe.
— Eu me acerto com meu irmão depois.
— Senhor...
— Obedeça seu Imperador! — A voz de Itachi reverberou pelo assentamento mostrando quem era o soberano ali. Ele voltou até Yuki e a segurou pelos ombros.
— Não precisa fazer isso. Como eu disse ao senhor, eu não me arrependo.
— Eu sei. Mas é uma mulher livre a partir de hoje. Eu quero conversar com você mais tarde. Tome um banho, se alimente.
— Imperador, eu não tenho mais nada a te oferecer.
— Por favor, venha até mim. Sabe onde estou instalado. Eu preciso muito conversar com você.
Yuki obedeceu às ordens do seu regente e saiu da casa sob os olhares dos soldados do Imperador. Um deles se aproximou da jovem mulher que olhou para ele desconfiada.
— Parabéns pela coragem. Queria ter sido eu a arrancar o braço daquele boçal.
A ex-concubina ficou surpresa e apenas acenou com a cabeça para o soldado e seguiu em direção à sua casa. Quando se aproximou do local foi recepcionada por Hinata e Sakura que correram na direção dela.
— Yuki!
As duas envolveram a amiga num abraço apertado. — Pensei que jamais te veria. — Hinata disse chorosa.
— O Imperador me liberou.
— Eu sabia, você era a favorita dele. — Sakura disse sorrindo.
— Eu não sei ao certo. Ele pediu que fosse ao encontro dele mais tarde. Talvez seja para me exilar.
— Eu duvido.
Yuki foi para casa e tomou um banho quente e comeu uma sopa preparada por Hinata. Em seguida, Yahiko chegou ao local. O homem parou diante da porta e ficou meio sem graça olhando para Yuki com olhar de pesar.
— Oi...
— Oi...
— O imperador te liberou, pelo visto.
— Por enquanto sim. Vem, entra. — Ela disse dando passagem a ele.
— Não. Serei breve. Eu só vim te dizer que está tudo bem, se você decidir seguir seu caminho com o Imperador.
Yuki abaixou o olhar e ficou pensativa e depois soltou um suspiro pesado. — Acho que as coisas não são tão simples assim. Eu não sirvo para muita coisa agora.
— Não diga isso. Ele ama você e é uma das mulheres mais lindas que tive a honra de conhecer.
— Não chego nem aos pés da Konan e da Hinata. Mas o problema nem é esse. É o mesmo motivo pelo qual acho que deveria procurar outra mulher, Yahiko.
— Seja o que for, saiba que não haveria escolha mais certa para mim do que você.
— Obrigada por tudo. Sem você estaria morta no fundo do rio. — Yuki deu um abraço apertado em Yahiko e em seguida viu o líder sair. Ela ficou lá olhando para ele com lágrimas nos olhos e o coração apertado.
(...)
Itachi olhava atentamente a chama da lareira tremulando devagar. A frase de Yuki foi como se tivessem acertado seu estômago em cheio. Konan se aproxima do Imperador e toca seu ombro delicadamente.
— A conversa com Yuki foi tensa, meu imperador?
— Bem mais do que eu esperava.
— Sinto muito por isso.
— Ela me disse coisas que me deixou abalado. Eu fiquei tão comovido que a libertei. Vai ver Sasuke tem razão. Sou mole demais.
— Seu coração é nobre, isso não é ser mole. E como está o príncipe?
— Fora de perigo. Ainda dormindo. Mas não sabemos como será quando ele acordar.
— Caótico, provavelmente.
— Ele teve o que mereceu. Sempre agiu como um idiota mimado e arrogante. É o preço. — Itachi toca a mão de Konan. — Se não for te ofender, poderia me deixar falar com Yuki? Ela está a caminho.
O olhar de Konan se entristeceu, mas manteve a postura e sorriu para Itachi. — Claro, meu senhor. Pedirei ao Kabuto que me providencie um local para dormir esta noite.
— Ah, e quero que saiba antes que se decepcione, Yuki e Yahiko estão juntos.
Konan sentiu o nó se formar na garganta e tentou mais uma vez esconder sua sentimentos. — É o justo, afinal de contas, nós os traímos primeiro.
Konan seguiu em silêncio até a porta e quando abriu Yuki já aguardava para bater. A jovem estava vestindo um modesto quimono azul escuro. A beleza dela havia ficado ainda mais realçada com as cicatrizes, e os cabelos curtos. Konan olhou para Yuki com tristeza e esboçou um sorriso discreto.
— Lady Yuki.
— Lady Konan, espero não estar atrapalhando.
— Imagine, já estou de saída.
Yuki deu passagem para a concubina e ficou a encarando tentando esconder seu ciúme. Ela olhou para dentro da casa de Yahiko e sentiu-se mal por estar ali com o Imperador, independente de qual fosse o teor da conversa.
— Entre, Yuki.
Yuki entrou devagar e desconfiada olhando ao redor. Seu coração batia acelerado como se fosse a primeira vez que estivesse diante do imperador. Itachi se levantou ao ver a mulher entrar e ficou olhando para ela com pesar. Ela correu os olhos pelo corpo dele. Era ainda mais bonito do que se lembrava. O quimono preto e dourado, parcialmente aberto, com uma manta jogada sobre os ombros.
— Pensei que não viria, Yuki.
— Eu não poderia recusar as ordens do Imperador.
— Eu queria conversar com você.
— Senhor, antes que diga qualquer coisa, quero que saiba que não tem obrigação nenhuma para comigo. Eu... ficarei aqui no assentamento depois do confronto. A Konan é lindíssima, dará filhos lindos ao senhor, alteza.
— Yuki, as coisas não são tão simples assim. Eu amo você... — Itachi se aproximou de Yuki e tocou seu rosto. — Por acaso não me ama mais?
— Isso não importa mais.
— Você não me ama mais? — Ele repetiu a pergunta olhando intensamente nos olhos dela.
— Eu não posso te dar filhos!
— Não foi isso que eu perguntei!
— Eu amo! Amo muito! Mas e depois? Você é o Imperador! O governante máximo dessas terras, de que serve uma mulher como eu? As concubinas servem aos seus amos no intuito de gerarem mais filhos para suceder o trono! Se eu não posso fazer isso, para que eu sirvo?
— Eu não me importo com isso! Além do mais quero você como minha Imperatriz, não minha concubina.
— Diz isso agora, mas em algum momento seu dever vai falar mais alto e você terá que ter um herdeiro. E eu, Itachi? Os anos passarão, eu ficarei velha e o que darei a você?
— Eu não amo você só pelo seu corpo, Yuki, a contadora de histórias.
— Há quanto tempo não escuto isso. Não conto histórias, não mais. — Yuki disse com a voz embargada.
— Mas poderia. Me entreter com quantas histórias quiser! Serei seu eternamente.
— Eu... não... — Yuki sentiu o coração bater cada vez mais rápido quando o Imperador diminuiu a distância entre eles. O corpo dele colado ao dela, os lábios entreabertos ansiando por um beijo, os olhos dele olhando intensamente nos dela. — Itachi... não torne isso mais difícil.
Os lábios dele encontraram os seus num beijo urgente e desesperado. Os dedos dele tatearam rapidamente pelo corpo dela e desamarrou cada peça do quimono de Yuki até que seu corpo ficasse exposto. As mãos dela haviam tirado as roupas dele e o amor reprimido saiu com toda a intensidade. Deitados sobre uma cama de tecidos em frente a lareira, eles se amaram como se fosse a primeira vez. Yuki sentia o Imperador dentro de seu corpo, observou o rosto dele enquanto a amava e quando os dois chegaram ao ápice ela abraçou o homem que amava com força e chorou abraçada a ele.
— Não chore assim meu amor.
— Como pode me amar assim? Eu não sou nada. — Yuki disse com a voz abafada.
— Para mim você é tudo. E minha promessa será mantida. Você será minha esposa. Minha Imperatriz.
— Queria que fosse fácil assim.
— Mas é. Você que dificulta as coisas. — Ele escorou no próprio braço e ficou olhando para ela sorridente.
— E você as facilita.
— E então? Onde aprendeu a lutar daquele jeito?
— Treinei duro com Minato Namizake.
— Agora faz sentido. Se queria lutar, eu mesmo ensinava para você. — Ele fez um bico.
— Acho que jamais me ensinaria.
— Nasceu para estar num Palácio, não num campo de batalha.
— A vida esfregou na minha cara outra realidade.
— O que pretendia? Com isso tudo?
— Além de me defender, me vingar. Matarei Kisame pelo que fez aos meus pais.
— Entendo... Mas você sabe que não há caminho fácil para vingança.
A realidade voltou à mente dela. Como poderia viver o amor ao lado do imperador depois de tudo que havia prometido a si mesma? Yuki se levantou rapidamente e se vestiu. Itachi ficou sem entender nada.
— Yuki?
— Eu preciso ir.
— Yuki! Durma aqui comigo, por que está indo embora assim?
— Tudo ainda é muito cedo.
— Yuki!
— Eu tenho um objetivo, e não vou sossegar até eu conseguir.
Yuki saiu sem olhar para trás, deixando Itachi sozinho, sentindo o coração batendo forte. A mulher que amava estava vivendo um conflito e ele não fazia a menor ideia do que fazer.
(...)
Konan caminhava devagar em direção à casa onde Kabuto estava. Seu coração estava apertado pensando no Imperador e Yuki juntos. Quando foi que ela passou a sentir assim?
Imersa em seus pensamentos, ela acabou avistando Yahiko conversando com um grupo em frente a fogueira. Ela encarou o ex-marido com o olhar triste e depois despistou e seguiu em frente. Yahiko viu a mulher e resolveu ir até ela que acelerou o passo, mas foi alcançada por ele que parou diante dela em silêncio. Ele a olhou dos pés à cabeça e depois soltou um suspiro.
— A nobreza combina com você.
— Eu prefiro algo mais confortável.
O clima ficou tenso entre os dois. Havia tanto a se falar e faltavam palavras. Konan olhava para Yahiko com pesar e culpa. Os dois pareciam dois adolescentes conversando pela primeira vez.
— Konan!
— Yahiko!
— Você primeiro. — Yahiko disse cabisbaixo.
— Me perdoe, Yahiko. Eu devia ter dado um jeito de falar com você. Eu deixei me levar, eu traí você e juramos ficar juntos para sempre. Agora... eu já nem sei mais o que pensar.
— Não quero que se culpe Konan, eu entendo, era o que você devia fazer.
— Não, Yahiko. Você não entende...
— Konan, se for pela Yuki, eu... peço desculpas. Eu ainda amo você, mais que minha própria vida.
Konan apertou os lábios um contra o outro e as lágrimas escorriam em seu rosto — Eu te amo, Yahiko, mas eu também amo Itachi e eu não sei o que fazer com esses sentimentos e...
Konan levou a mão à boca e saiu correndo em direção à casa em que Kabuto estava. Deixando Yahiko sem entender nada e de coração partido.
E naquela noite fria, em uma casa não muito longe dali, Kabuto preparava um chá enquanto Konan vomitava em um balde. Pálida e trêmula ela limpou a boca e olhou para Kabuto.
— Lady Konan, uma hora você terá de contar para ele.
— Eu não posso, Kabuto. Não agora.
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