23 - O Imperador Corvo
O tempo parecia passar mais rápido do que Itachi desejava. Havia saído de Konohagakure fazia meses e até aquele momento nenhuma informação sobre Yuki e as outras. E isso além de aumentar sua tristeza, também aumentava sua raiva.
Ele invadiu cada ponto suspeito e eliminou membros da Resistência como se fossem pragas indesejadas. Um homem que tornou-se implacável. Parados num acampamento improvisado ele observava as chamas tremulando na fogueira enquanto Sasuke bebia mais uma garrafa de saquê. O príncipe parecia beber ainda mais depois que Hinata foi tirada do Palácio.
A primeira coisa que o Príncipe fez foi mandar executar todos os guardas sobreviventes que estavam de plantão naquela noite. Segundo ele, se fossem mais eficientes sua concubina e sua esposa não teriam sido levadas.
Em seguida ele visitou as outras concubinas depois de muito tempo. Depois mandou que as tirassem imediatamente do Palácio porque elas eram "incompetentes" demais. Desde então ele afoga as mágoas na bebida.
— Precisa maneirar nessa bebedeira. Desse jeito, mal vai conseguir lutar. — Itachi repreendeu o irmão.
— Me deixe em paz! É a única coisa que me resta! Minha Hinata! — Sasuke começou a chorar abraçado à garrafa, uma cena que fez Itachi revirar os olhos.
— Vamos, venha deitar. Chega disso! Amanhã vamos voltar ao Palácio.
Itachi carregou o homem choroso para sua tenda e em seguida ficou diante da fogueira mais uma vez. Já era a terceira noite sem dormir.
No dia seguinte o exército voltou ao Palácio depois de meses fora. Tsunade ficou no comando até que o imperador voltasse. Montado num cavalo preto o homem entrou no Palácio sobre a euforia do povo. Quando se aproximou da entrada, a Imperatriz Viúva já estava o aguardando. O homem desceu do cavalo, sendo seguido por Sasuke.
— Meus filhos!
— Por favor, mãe. Fale mais baixo. — Sasuke disse levando a mão à cabeça.
— Ele está de ressaca. — Itachi disse e em seguida foi abraçado pela mãe.
— Como estão as coisas meu filho?
— Mãe, eu preciso de um banho e descansar um pouco. Depois nos falamos.
Itachi saiu de perto de Tsunade com uma expressão de raiva e tristeza. Parecia outra pessoa aos olhos da Imperatriz.
Ele seguiu para os seus aposentos e ali ficou por dois dias. A maioria achou que ele estava com sua concubina Konan, porém esteve sozinho traçando estratégias de guerra. Ainda sem dormir, apenas com cochilo curtos entre um intervalo e outro. O exército imperial era grande, conquistado com sangue pelas mãos do impiedoso Madara, porém Itachi queria algo mais que conquistas e impérios. Ele queria sua amada Yuki, saber se ela estava bem, se estava viva. Isso estava o consumindo. A dúvida, a incerteza e o medo de que a mulher que amava estivesse morta.
Quando o sol invadiu seu quarto, empurrando a brisa fria daquela manhã, o imperador saiu de seus aposentos e foi ao encontro de sua mãe e de Jiraya. Os dois estavam muito próximos, o que incomodava Itachi. Não por ciúmes da mãe, mas por conhecê-la, ele sabia que algo estava muito errado. Ele entrou em silêncio e sentou-se diante deles.
— Onde está Sasuke? — Ele perguntou ao notar a ausência de seu irmão.
— De cama. Sabia que seu irmão estava bebendo tanto? — Tsunade perguntou cruzando os braços sobre as pernas.
— Ele precisa descontar a fúria em alguma coisa. Já que a mulher que ele usava para isso não está aqui, só resta beber até cair. — Itachi disse ironicamente.
— Não devia falar assim de seu irmão.
— Mudando de assunto. — Jiraya cortou a conversa antes que virasse uma discussão. — Soube que massacrou uma vila inteira. Havia mesmo necessidade disso.
— Não foi uma vila inteira. Os inocentes sobreviveram.
— Mais de cem mortes. — Jiraya disse olhando seriamente para Itachi.
— E nenhuma resposta ainda.
— Devíamos pensar com mais calma, meu filho. Talvez fazer um acordo. Uma guerra a essa altura só traria mais mortes. — Tsunade disse apreensiva.
— Já estamos em guerra, mãe.
— Eu não vejo o porquê disso tudo! São apenas concubinas! A consorte de Sasuke nem mesmo pôde gerar filhos! Podemos arrumar outras em qualquer lugar do mundo e... — Tsunade parou de falar ao ouvir o estrondo da mão do imperador batendo forte sobre a mesa com o punho fechado. O olhar dele mudou para uma fúria que podia ser sentida no ar.
— Elas são descartáveis para você? Assim como a minha mãe era? — Itachi deu ênfase na palavra mãe, o que deixou Tsunade com um nó na garganta.
— Não foi... o que quis dizer...
— A imperatriz apenas acha que devíamos ir com calma. Não sabemos o número do exército dessa Resistência. E o motivo para tal... é... — Jiraya parou de falar e ficou procurando uma palavra que não fosse deixar o imperador ainda mais irritado.
— Banal? Fútil? Vocês dois acham que não sei o que fizeram? Bem debaixo do nariz do meu pai? Madara, um homem forte como um touro do dia para noite, adoece e começa a definhar em cima da cama. E morre tão rápido que mal tivemos tempo de buscar ajuda fora daqui. E além de tudo, ele agoniza a noite anterior à sua morte gritando seu nome.
— Como ousa? — Tsunade altera o tom de voz diante da afronta do filho.
— Imperador, peço que respeite sua mãe e o luto dela.
— Luto? — Itachi encosta na cadeira e cruza as pernas olhando fixamente para Jiraya. — Jiraya, um homem excelente em estratégias de guerra, surge em nosso palácio como indicação de um lorde, amigo do imperador. Forte, ágil e extremamente inteligente, embora tenha tendências a ser deveras devasso. Passando noites e mais noites na rua vermelha. Mas mesmo assim ele é visitado por uma mulher misteriosa na calada da noite.
— Já chega! Eu não serei insultada pelo meu próprio filho! — Tsunade disse se levantando.
— Eu não disse que era você... mãe. Mas obrigada por confirmar o que ainda tinha uma certa dúvida. — Itachi disse com ironia em sua voz. Tsunade arregalou os olhos e as palavras sumiram de sua boca. Ela olhou para Jiraya tremendo. Dependendo do teor daquela conversa, os dois terminariam mortos. — Agora mãe, sente-se. Eu ainda não terminei. Quero deixar claro para vocês que eu sou seu soberano e a partir de hoje agirei como tal.
Jiraya se levantou e se ajoelhou diante do homem que mantinha-se na mesma postura intimidadora. — Meu imperador, eu peço humildemente o seu perdão. Eu não tenho palavras para descrever meu arrependimento. Mas se for punir alguém puna a mim. A imperatriz nada teve a ver com isso.
— Primeiro quero que confesse tudo o que fez. Quero ouvir da sua boca. A começar pela sua identidade real, quem você servia antes de vir para cá.
— Como sabe de tudo isso? — Tsunade perguntou surpresa.
— Acha que fiquei todos esses anos apenas seguindo as ordens do meu pai cegamente? Eu sei de cada passo dado aqui dentro desse palácio. E agora mais do que nunca preciso ficar de olho em tudo que acontece. Agora, Lorde Jiraya, confesse.
Jiraya engoliu seco. A fama de pacifista do novo imperador sempre o fez parecer flexível e até mesmo inofensivo. Entretanto, Itachi tinha uma arma que era mais poderosa que qualquer outra: A informação. Espreitando-se silenciosamente pelos corredores, usando todos os recursos possíveis. Se fazendo de bobo, sendo conivente com tudo para no momento exato ele mostrar de fato quem era Itachi Uchiha. O Lorde ergueu o olhar para o imperador e por mais que aquilo poderia ser seu fim ele começou a dizer.
— Sou Lorde Jiraya, nascido e criado em Konohagakure, mas quando fiz 18 anos fui embora daqui quando a mulher que amava e sempre me evitou casou-se com outro. Servi aos Namizake por mais de 20 anos antes da queda do clã e depois continuei servindo quando recebi a missão de criar o último de seu clã. O menino levou o nome do clã Uzumaki e eu o criei como se fosse meu filho até sua morte naquele fatídico dia. Eu jurei que o vingaria, que mataria o Príncipe pomposo que adentrou aquele castelo, mas por amor a mãe dele, eu não fiz. Eu vim até aqui, me infiltrei neste Palácio, mas quando vi os olhos dela eu não consegui. Eu ainda a amava ardentemente, mesmo depois de tantos anos. Então ela se aproximou de mim e contamos coisas um ao outro e nos tornamos amantes. E ela me contou sobre o quão sofrida foi sua vida, todo o sofrimento que o marido a fez passar. Eu perguntei a ela se eu poderia livrá-la daquele infortúnio. Ela disse que sim. Eu tramei tudo.
Itachi olhou com desdém para Jiraya e depois seus olhos se viraram na direção da Imperatriz que mantinha-se olhando para baixo completamente tensa. Em seguida o Imperador olhou novamente para Jiraya e disse calmamente.
— Então minha amada mãe é apenas uma vítima de um Lorde devasso apaixonado... Isso era para me convencer? Francamente! E quanto à parte que minha mãe confabulou em segredo com aliados de fora do Palácio e com aqueles dois abutres que fazem parte do conselho? Hum? O que me diz disso? Que a intenção dela era usar o filho pacifista para se aliar ao seu clã, os Senju e trazer seu pai e seu tio abominável para dentro do Palácio? O que me diz?
— Isso... — Tsunade estava olhando para Itachi completamente desesperada.
— Eu sei de tudo, mãe.
— Sua mãe não tem culpa de nada! Estou pronto para que seja feita a justiça!
— Prefere morrer no lugar dela? O amor é mesmo lindo! Eu também estou disposto a tudo por amor! Mas antes eu vou livrar esse Palácio dessa corja! E depois farei o desgraçado que me mandou os restos mortais do meu filho numa caixa, pagar com a vida! — A voz de Itachi reverberou por todo o escritório. Tsunade estava mais pálida do que o normal e Jiraya permanecia ajoelhado sem mover um músculo.
— O que vai fazer comigo, meu filho? Teria coragem de punir sua própria mãe? Sabe o que eu sofri nas mãos do seu pai? Quanta humilhação tive que passar?
— Isso não me interessa. Meu pai pagou por sua arrogância. E você pagará por sua conspiração. E não venha se fazer de inocente! Se eu falhasse, você e seus aliados me tirariam do poder num piscar de olhos e colocariam o Sasuke no lugar, ou um dos nossos filhos! Quanto mais novo, mais fácil de manipular.
— Meu filho, por favor! Eu fiz tudo por amor à vocês.
— Chega mãe! Eu ainda não terminei. — Jiraya ergueu o olhar para o Imperador e depois olhou para Tsunade. — Eu também sei que foi você que entregou todas as informações daqui para seu pai. Inclusive horários e dias que não estaríamos aqui. Logo após a morte do meu pai. Sua intenção não era um ataque, era uma visita cordial surpresa para conversar com seus aliados e tramarem nas minhas costas a junção de seu clã no império. Mas você não contava que seu pai estivesse morto há meses e que quem tem recebido as cartas era seu tio Tobirama que jamais teve intenção de se unir a nós.
— Meu pai... está morto?
— Poucos sabem. Tobirama marcha em nome de Hashirama para conseguir mais aliados, mas ele está morto. O que faz de você culpada pela invasão.
— Não pode ser... — Tsunade estava em choque. O Imperador estava certo. O que a deixou ainda mais assustada. Como ele sabia de tanta coisa?
— A partir de hoje será removida deste Palácio e ficará no Palácio do Oeste, vigiada vinte e quatro horas por dia.
— Itachi!
— SILÊNCIO! Vai sair daqui e jamais pisará aqui novamente. Estou levando em consideração o fato de ser a minha mãe. Porque você deveria ir a julgamento e ser executada. Seus conselheiros já estão presos e serão julgados futuramente por mim e meu novo conselho que já tenho nomes para isso.
— Não! Por favor! — Tsunade chorava sem parar. Jiraya se levantou e abraçou a mulher mesmo que isso fosse uma afronta ao imperador.
— Quanto a você, Lorde Jiraya...
— Eu estou pronto. Só me deixe abraçar ela mais um pouco. — O homem disse com lágrimas nos olhos.
— Vai jurar lealdade a mim. — A frase de Itachi pegou os dois de surpresa e ambos pararam de chorar no mesmo instante.
— O que disse?
— Jure lealdade a mim. Servirá a mim até o fim de seus dias. Considere uma benevolência de minha parte por amar a minha mãe como você ama.
— Eu não sou digno de tal coisa, alteza.
— Isso, sou eu quem decide. Jure.
Jiraya se ajoelhou mais uma vez diante do imperador e disse sem demonstrar qualquer arrependimento, ou ressalva. — Eu juro.
— Vai me ajudar a localizar Yuki e a acabar com a raça dos Kuramas. Nem que eu tenha que incendiar esse país todo.
O olhar de Itachi foi a última coisa que Tsunade viu antes que os guardas entrassem e a levassem dali. O Imperador Corvo era ainda mais aterrorizante do que seu antecessor e ainda mais inteligente e determinado. Ela sabia que a partir dali não havia mais volta. O Itachi bonzinho e pacifista já não existia mais
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