20 - A realidade nua e crua
O homem alto de cabelos brancos espetados caminhava devagar em meio à floresta escura que fazia divisa entre Konohagakure e Amegakure. O rosto parcialmente coberto deixando os olhos escuros à mostra. Mão no bolso, andando de forma despretensiosa lendo um livro de capa laranja. Seguido por uma matilha de seis cachorros.
Ele olhava discretamente de soslaio como se tivesse ouvindo algo de longe. Sempre teve uma audição superior aos demais. Ele parou e ficou mais um tempo olhando para um arbusto, os cães começaram a latir e ele teve certeza de que não estava sozinho. Rapidamente e de forma sorrateira ele se aproximou do arbusto e o puxou bruscamente já pronto para acertar o que estivesse do outro lado. Para sua surpresa era apenas um coelho que fugiu rapidamente.
Seus cachorros entretanto começaram a latir de longe, o homem correu rapidamente para onde o barulho ecoava e se deparou com a matilha correndo atrás de uma mulher com as roupas em frangalhos carregando uma outra nas costas. O homem assoviou para que os cães viessem até ele, a mulher caiu de joelhos ainda segurando a outra em suas costas.
Ele se aproximou da jovem mulher que estava desnutrida, fraca, suja, pálida e toda machucada. As mãos estavam segurando firme a mulher em suas costas, os joelhos ralados. Os olhos verdes se voltaram para ele e chorando ela disse implorando.
— Me... ajuda... por favor. Tem uma mulher grávida há alguns metros daqui e esta aqui está morrendo. Por favor... — A mulher curvou-se diante do homem e suas lágrimas escorreram marcando o rosto imundo. — Eu imploro.
O homem amparou a mulher antes mesmo que caísse. A que outra estava amarrada a seu corpo estava mais morta do que viva. Com esforço ele desamarrou a mulher e pôs as duas no colo e depois seguiu na direção em que a rosada apontou onde a grávida estava. A mulher não estava em melhores condições, vomitava em um arbusto. Pálida e suja ela se virou para o homem que carregava as duas amigas e se levantou com dificuldade e se ajoelhou diante dele.
— Estimado senhor, imploro ajuda a mim e às minhas irmãs.
— É para isso que lutamos. — o homem finalmente disse seguindo caminho. — Consegue andar?
— Sim.
— Então siga-me.
A mulher o seguiu devagar, as pernas ainda bambas indicavam que fizeram uma longa viagem. Pela qualidade das roupas ele pressupôs serem nobres. Embora as outras duas mostrassem que vieram de um cativeiro.
A caminhada era longa, cada vez mais entrando dentro da mata. Pelo barulho ensurdecedor indicavam que estavam próximos a uma cachoeira e logo a enorme cascata surgiu em meio às montanhas como um véu. Aos pés do local, um acampamento com dezenas de barracas. A quantidade de pessoas naquele acampamento era superior à população da Vila em que estavam próximos.
Uma mulher já de idade avançada sai de uma das tendas escorada numa bengala. Ela observou o homem que trazia as três mulheres consigo e franziu a testa.
— Ora, pelo visto a sua caçada nos trouxe surpresas, Kakashi.
— Perdidas na floresta, a que caminha ali atrás com dificuldade está grávida. Mas a pior é esta aqui. — Ele disse apontando para a mulher de cabelos cacheados.
— Sasori! Ajude-o! Leve ela imediatamente para dentro.
As três mulheres imediatamente foram acolhidas e levadas para atendimento médico. Kakashi se afastou das tendas e seguiu para próximo da cachoeira onde um homem de cabelos alaranjados e roupas pretas com desenhos de nuvens vermelhas observava a vila de longe fazendo anotações.
— Pain...
— E então Kakashi, como foi a viagem?
— Acabei de trazer três mulheres comigo. Duas aparentemente de um cativeiro, a outra está grávida. Parecem estar fugindo.
Pain olhou para Kakashi e sua expressão mudou. Em seguida ele se levantou, tocou o ombro do outro e pediu que o acompanhasse. Pain seguiu até uma das tendas isoladas. Dentro do local havia uma mesa improvisada com um enorme mapa sobre ela.
— As tropas estão avançando. Está prestes a acontecer uma guerra. — Pain disse analisando o mapa.
— Os Senju e os Uchiha?
— Eu tenho uma teoria, não sei se você sabe, mas a Imperatriz Viúva é uma Senju e o Imperador que era forte como um touro morreu de causas desconhecidas. E agora o filho assumiu como Imperador.
— Você acha que ela irá propor uma aliança entre os clãs?
— Talvez a ideia fosse essa. Mas o que ela não esperava era que Tobirama está a frente do clã e não o pai dela que foi tirado a força da liderança e agora está preso.
— Como sabe de tudo isso?
— A informação ainda é uma arma valiosa. Assim como sei que o Palácio do Fogo foi invadido há algumas semanas e que algumas mulheres foram sequestradas, incluindo a preferida do atual Imperador.
Kakashi arregalou os olhos e ficou olhando fixamente para Pain. — Droga! Será que tive esse azar?
— Ou essa sorte. Depende do ponto de vista. Por hora vamos tratar dos ferimentos delas e depois vão ouvir o que elas têm a dizer.
A que estava em pior estado foi a primeira a ser tratada. A gestante teve uma boa alimentação e descansou por um dia inteiro, assim como a de cabelos rosados. Cerca de dois dias depois a rosada abriu os olhos devagar. O som da cachoeira e dos pássaros cantando a fez pensar que estava no paraíso. Em seguida lembrou-se das companheiras.
— Yuki! Hinata! Onde estou?
— Num lugar seguro. Vou pedir para lhe trazerem comida e água.
— Eu exijo sair daqui! — A jovem disse irritada.
— Pode ir quando quiser, não é nossa prisioneira.
— Onde estão minhas companheiras?
— A sua amiga está dormindo na tenda ao lado, já fora de perigo, a outra está lá fora apreciando o ar fresco desta manhã. — A anciã disse com a voz arrastada.
—...
— Entendo sua desconfiança, pelo estado em que estavam a jornada de vocês não foi fácil. A sua amiga de cabelos cacheados sobreviveu por pura sorte. Uma infecção decorrente de um aborto, que foi mal cuidada. Se demorasse mais um pouco ela viria a óbito.
— Onde ela está? Gostaria de vê-la.
— Eu mesma te levo lá depois, mas coma e descanse primeiro. Você foi muito guerreira. Percorreu que distância com ela nas costas?
— Nós viemos da costa oeste, que liga à Ilha de Uzushiogakure.
— São mais de cinco dias de caminhada. Você é mesmo uma mulher forte. Qual seu nome mesmo?
— É Sakura.
— Sou Chiyo.
— É um prazer conhecê-la, senhora. — Sakura disse se curvando.
— Não necessita se curvar. Agora, vamos providenciar algo para você comer.
Sakura deu um sorriso gentil a Chiyo e aceitou a refeição. Depois de tanto tempo comendo a comida que jogavam por debaixo da porta, que mais parecia uma lavagem, aquele prato de sopa servido quente foi o melhor banquete de sua vida.
Quando terminou, a jovem levantou com dificuldade e caminhou para fora da tenda. Os pés ainda latejavam pela longa jornada e seu corpo ainda doía e a sensação de não se ter o peso de Yuki nas costas ainda era estranha.
O vento fresco e o cheiro da vegetação enchia seus pulmões com uma sensação única. Seus olhos começaram a lacrimejar involuntariamente ao lembrar-se que aquela era a primeira vez que ela poderia relaxar desde o fatídico dia que foram sequestradas. Ela andou em direção à água do rio e sentiu seus pés molharem, ajoelhou-se, com as mãos em concha pegou a água cristalina e molhou o rosto.
— É a primeira vez que vejo alguém tão feliz em se molhar desse jeito. — Ela foi despertada de seu momento de alegria pela voz de Kakashi. Sakura o encarou desconfiada e manteve-se em silêncio. — Calma, moça. Não vou te morder.
— Eu... gostaria de te agradecer por tudo. Yuki poderia ter morrido, serei eternamente grata.
O homem estava deitado na grama despretensiosamente lendo um livro que ele fechou rapidamente, se ajeitou e sentou-se com as pernas cruzadas e deu uma olhada na mulher. Os olhos de um verde que ele jamais tinha visto. O rosto delicado, os cabelos longos e rosas..
— Estavam presas?
— Parece um pouco óbvio, não?
— Língua afiada, moça.
— Eu tenho um nome, moço. — Ela disse cruzando os braços.
— E qual é, moça?
— Não vou dizer! Eu nem te conheço!
— Kakashi Hatake. Agora conhece.
— Não vou dizer!
— Eu adivinho então! É Sakura.
— A Hinata já te disse? Aliás, cadê ela?
— Lá em cima. — Ele apontou para a gestante sentada debaixo de uma árvore no alto próximo à cachoeira.
— Não precisa me levar lá!
— Eu não ia mesmo.
Sakura saiu pisando firme até o local onde Hinata estava. Ela mantinha-se observando a água cair a pelo menos uns quarenta minutos. A consorte de Sasuke se aproximou da mulher e sentou-se ao seu lado.
— Há quanto tempo está aqui, Hinata?
— Já nem sei. Acho que me perdi no tempo. Nem me lembro qual foi a última vez que senti tanta paz e tranquilidade.
— Eu não sei quanto tempo essa paz vai durar. Ainda não sabemos quem são essas pessoas e nem o que elas fazem.
— Eu vou aproveitar... só mais um pouquinho.
— E o bebê? Vai levar adiante mesmo?
— Ele não tem culpa do pai que tem. — Hinata alisou a barriga devagar.
— Ele ainda é meu marido. Devia ter mais jeito quando falar dele.
— Nem você acredita nisso. É um homem sem escrúpulos, violento e sem empatia.
— Ele vai nos achar, nada disso aqui vai fazer sentido. Depois vamos voltar a sermos rivais dentro daquele Palácio.
— Não voltarei para aquele lugar. — Hinata disse olhando seriamente para a Princesa.
— Não há lugar longe o bastante e você sabe.
— Prefiro a morte a deixar ele me tocar de novo.
— Você é tola se acha que vai se livrar dele tão fácil.
A conversa das duas foi interrompida por uma garotinha que deu um recado de Chiyo. Yuki havia acordado e estava alterada demais. Sakura correu até a tenda e viu a ex -companheira de cela. Yuki chorava tanto que mal conhecia respirar e gritava desesperada. Sakura se aproximou da mulher.
— Yuki! Yuki! Se acalme!
— Meu bebê! Meu bebê!
— Eu sinto muito! — Sakura abraçou Yuki fortemente chorando junto com a mulher que parecia inconsolável.
— Por quê eu? Eu o amava tanto. Era o fruto do meu amor por Itachi! Por quê? Meu bebê!
— Vem querida, vamos caminhar lá fora. Tomar um ar fresco.
— Devia ter me deixado morrer!
— Se vai ficar lamentando desse jeito, devia mesmo. — Hinata disse se aproximando da mulher chorosa.
— Tá dizendo isso porque ainda carrega em seu ventre um filho que nem deseja.
— Não, estou dizendo isso porque caminhei com a Sakura da costa oeste até aqui. Você provavelmente não se lembra. Esteve desacordada nas costas dela durante todo o trajeto. Preocupadas se você ia sobreviver ou não.
— Não estamos no Palácio! Não tem o direito de falar assim comigo! Quando o Imperador souber de tudo isso, os culpados serão punidos! E logo voltaremos para o Palácio! — Yuki disse erguendo o tom de voz.
— Para você viver seu conto de fadas? Porque você era feliz, né? O Imperador Itachi te tratava desde o início como uma Imperatriz. Ele nunca te maltrata e nem te força a foder com ele. Ele nunca te ameaçou de morte, ou mandou torturar e matar a sua serva. E além de tudo a pendurou num pessegueiro diante da sua janela. Não. Com você foram sedas, joias, perfumes, maquiagem, fizeram amor... ele te beijava na boca com doçura. Não com um bafo de saque amanhecido.
— Eu perdi o meu filho...
— E eu carrego o filho do homem que me estuprava sempre que ficava chateado. A vida nem sempre é justa.
— Você é uma mulher insensível, Hinata. Que decepção. — Yuki disse balançando a cabeça negativamente.
— Eu sinto muito por isso... Sakura, parece que o líder quer nos ver.
— Eu vou embora daqui! — Yuki gritou para Hinata, ainda enfurecida.
— Vai! Não somos prisioneiras aqui.
— Itachi me ama e virá atrás de mim!
— Que bom para você. Espero estar bem longe para que nunca me encontrem!
— Eu... — Yuki começou a chorar copiosamente. — Só queria ser feliz.
Hinata parou e virou-se para Yuki e soltou um suspiro pesado. — Eu também. Mas não nos permitiram. O que me resta agora é seguir em frente.
— Eu não consigo... não consigo...
— Estaremos aqui por você, Yuki. — Sakura disse abraçando Yuki mais uma vez.
Hinata se agachou e sentou-se ao lado de Yuki e também a abraçou forte. — Vai doer muito, o luto, o sofrimento, mas você tem que ser forte. Faça por ele, pelo seu bebê.
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