17 - Mar profundo de desespero
CONTÉM GATILHOS E TEMÁTICAS SENSÍVEIS
Hinata olhava para a porta fazia vinte minutos. Ela andava de um lado para o outro sentindo o coração apertado. Já havia se perdido no tempo. Trancada no quarto há bem mais tempo do que um dia, sendo visitada apenas pelas servas que iam lhe vestir e levar comida.
Ela também não via Neji desde então. O primo não havia lhe dito uma única palavra durante toda a viagem e além de tudo a separou de Sakura e Yuki. O que mais lhe preocupava era Sasuke. Naquele momento talvez ele já estivesse em Konohagakure, e ela temia a fúria dele ao não encontrá-la lá. Embora ela achasse também que era muita presunção da sua parte achar que ele faria uma guerra por causa dela. Eram tantos sentimentos confusos.
Ela se aproximou do espelho e olhou para a barriga que nem parecia carregar um herdeiro imperial ali. Hinata alisou levemente por cima do tecido e sentiu o corpo inteiro tremer. A boca estava seca, as mãos geladas e o estômago parecia ter uma revoada de borboletas. Ela queria poder voltar no tempo, bem antes de tudo acontecer. Talvez até antes de Naruto. Quando era criança, brincando com Neji nos jardins da mansão Hyuuga, com sua irmã Hanabi chorando porque seu brinquedo favorito havia quebrado. Tempos que não voltariam mais. Tempos de paz e inocência.
Ali naquele momento, havia apenas dor, tristeza, sofrimento, culpa e arrependimento. Não sabia o que viria a seguir, quantas pessoas mais iriam sofrer... por sua culpa.
Hinata ouviu o destrancar da porta e a figura de Neji surgiu. Fisicamente eles eram bem parecidos, embora Neji tivesse os cabelos pretos. O homem entrou e tirou a faixa da testa, um sinal de respeito pela Princesa Hyuuga do clã principal. Na testa do homem uma tatuagem de uma cabala, algo dado aos membros da ramificação do clã, para que nunca houvesse dúvidas da hierarquia.
Os olhos perolados eram levemente mais claros que os de Hinata, o que dava ainda mais sentido ao apelido de Byakugan, "olho branco", dado aos membros do clã Hyuuga. Assim como Sharingan eram dados aos Uchihas e seus olhos preto-avermelhados.
Neji se aproximou da prima que mantinha olhar fixo em seus olhos com a sobrancelha levemente franzida.
— Está bem instalada, prima?
— Está me perguntando se a prisão é confortável?
— Hinata, você não está presa...
— Ah, a porta trancada é apenas um mero detalhe. — Hinata sentou-se na cadeira em frente à janela e pôs as mãos sobre o colo analisando o primo Neji. Estava mais forte do que se lembrava. Havia adquirido algumas cicatrizes e o cabelo preto e liso estava ainda maior.
— Hinata, a situação é muito complicada. A porta trancada é mais para sua segurança.
— Príncipe Sasuke dizia a mesma coisa.
— Não me compare com aquele homem! Eu amo você e quero o seu bem acima de qualquer coisa!
— Quer meu bem, trocando apenas a gaiola?
Neji se aproximou de Hinata e se ajoelhou diante dela e tocou as mãos dela delicadamente. Aos olhos dele, ela também havia mudado. Não era mais uma garotinha, era uma mulher. Embora seus olhos estivessem tristes e sem vida.
— Hinata... eu daria a minha vida por você e você sabe disso. Eu suportei sua ausência, mesmo que minha alma estivesse despedaçada. Eu... amo você. Muito mais do que imagina!
— Então por que permitiu que meu pai me vendesse ao Lorde Uzumaki? Sempre disse que me amava, até disse que seríamos um casal. Que eu seria sua esposa! Mas, permitiu que eu fosse levada para ser esposa de outro!
— Seu pai nunca permitiria! Somos primos de primeiro grau e eu ainda por cima sou da ramificação do clã. Isso está marcado literalmente na minha testa para que nunca me esqueça.
— Neji, eu nunca me importei com isso! Eu só queria você e mais nada! — As lágrimas escorriam do rosto da jovem ao lembrar das promessas de amor que fizeram um ao outro. Antes de tudo isso. Um amor puro que ia além de contatos físicos. Que se resumiu em apenas um único beijo embaixo de um salgueiro.
— Eu não poderia lhe dar tudo que você merece! Você é uma princesa.
— E de que me adiantou? Meu noivo morreu diante dos meus olhos e fui tomada à força como concubina de um príncipe mimado e arrogante! Sabe quais as coisas que ele fez comigo?
— Por favor, não me torture dessa maneira.
— Ouça-me! Apenas ouça... — Ela respirou fundo. Lembrar de tudo era como se estivesse vivendo tudo outra vez. — Minha primeira vez que eu tinha idealizado perder com você quando nos casássemos e que fui obrigada a mudar de planos, quando fui prometida ao Lorde Naruto, e que guardei para ele para depois do casamento, foi tirada de mim dentro de uma carruagem a caminho de Konohagakure no meio da noite com os guardas ouvindo do lado de fora.
— Hinata... — Neji fechou os olhos tentando controlar a raiva que aquele relato lhe causava.
— Ouça-me... você precisa saber de tudo. Porque eu não sou mais pura e inocente como se lembrava. Eu fiz mais coisas que uma cortesã. Quero que saiba disso. Ele fez tudo que quis...
— Por favor pare.
— Ele me usou de todas as maneiras que podia e não podia!
— Pare!
— Ele me estuprava para se sentir melhor! Para se sentir poderoso!
— Hinata! PARE!
— NÃO! Você precisa ouvir! Se ainda quer continuar me mantendo perto de você! Eu era dele! Não! Eu ainda sou dele! E ele vai mover céus e terra para me ter de volta mesmo que eu negue isso internamente!
— Ele tem outras concubinas!
— MAS SOU EU QUE CARREGO UM FILHO DELE!
As palavras de Hinata reverberaram dentro daquele quarto encerrando abruptamente aquela discussão. Neji sentiu um vazio no local mais profundo de seu âmago. Ele sabia o que era uma concubina, sabia das coisas que ela devia ter feito. Tudo isso era aceitável. Ele fingiria que nada daquilo aconteceu e seguiria em frente. Ele também teve outras mulheres. Mas saber que Hinata, a mulher que mais amava estava carregando um filho de Sasuke era algo que a mente dele ainda tinha que compreender.
Depois do longo silêncio ele finalmente olhou para Hinata que mantinha a mesma postura: olhos marejados, rosto vermelho, pressionando os lábios um ao outro e dentes cerrados.
— Por Deus, você está grávida...
— Sim. O herdeiro do príncipe Sasuke. Quero que saiba disso.
— Eu... me desculpa Hinata, eu preciso pensar. Minha vontade era dizer que está tudo bem e que criarei esse filho como se fosse meu, mas eu não estou pronto para isso. Me perdoe.
Neji se levantou devagar e saiu sem olhar para Hinata. Ele a amava. Mas a gravidez havia o pego de surpresa. Grávida do homem que mais odiava. Que a tomou de seu lar e a manteve presa como um pássaro.
— Neji! Onde estão as meninas? — Neji saiu sem responder a concubina e trancou novamente a porta. — Neji!
(...)
No dia seguinte, Neji voltou até o quarto de Hinata. Dessa vez estava mais calmo e conseguia pelo menos conversar direito. Hinata ainda estava chateada com a situação. Não sabia se tinha mais raiva de Neji pela reação ou de Sasuke por tê-la engravidado.
— Nós temos que terminar nossa conversa... — Neji disse aproximando. De Hinata. O quarto onde ela estava era luxuoso. Amplo, arejado, havia uma cama de casal, tapete vermelho no chão e arranjos por todos os lados. Mesmo assim, Hinata preferia estar em qualquer lugar do que ali.
— Pensei que tivéssemos terminado nossa conversa quando você fugiu.
— Eu não fugi. Eu só precisava pensar.
— O que te chocou mais foi saber de um filho? Tudo que ele fez estava dentro do que esperava, mas um filho não?
— Não é isso Hinata. Eu só pensei que a genética deles fosse rara.
— Pelo visto eu e Yuki fomos sortudas.
— Não quero brigar mais. Eu amo você... Mas talvez a gente possa ver o que pode fazer... — Neji disse desviando o olhar.
— Espero que isso não signifique o que estou pensando... — Hinata franziu o cenho.
— Não disse nada.
— Ótimo. Mas eu quero saber sobre as meninas. Sakura e Yuki, onde elas estão. — Neji ficou em silêncio olhando para os lados. — Neji. Onde elas estão?
— Eu não sei exatamente. Tobirama não me disse.
— O que ele pretende fazer com elas?
— O acordo era só você. Eu não tenho controle do que acontece com elas.
— Neji elas não têm culpa! São prisioneiras como eu.
— Ele não vai abrir mão delas. São as moedas de troca.
— E você é conivente com tudo isso?
— Eu... não tenho escolha. Sozinho eu jamais tiraria você de lá.
— E para me salvar, você sacrificou sua dignidade e ainda jogou duas pessoas que não tinham nada a ver nesse jogo sujo de vocês?
— Você tem que entender! Não é só sobre consortes e concubinas! É sobre poder!
— Eu não quero fazer parte disso!
— Hinata, eu vou assumir você. Será minha esposa, mas o Tobirama acha melhor que dê um jeito nessa criança. Porque ela pode nos dar problemas no futuro.
— O Tobirama acha? E o que você acha? Ahn? Que eu tenho que fazer isso? E o que mais ele acha? Que as duas mulheres das quais eu não tenho notícias também nos dará problemas no futuro? Saia daqui Neji e diga ao seu mestre que eu me recuso ser sua esposa e que estou pronta para qualquer punição.
— Olha como fala! Não pode pensar numa coisa dessas! Eu me esforcei e sacrifiquei muitas coisas para tirar você de lá!
— E eu te agradeço, mas não te pedi nada! E não vou fazer parte desse jogo sujo.
— Hinata!
— Saia agora. E só falarei com você quando você recuperar sua lucidez.
— Vai pensar direito... verá que é o melhor.
Hinata esperou o primo sair mantendo-se firme, mas quando ele fechou a porta ela sentiu as pernas trêmulas e todo o sentimento que lutou para esconder saiu em formas de lágrimas.
(...)
O quarto escuro cheirava a mofo, as paredes tinham rachaduras e marcações de outros presos que estiveram ali. Teoricamente ali não era uma prisão. Mas acabou virando uma depois da derrocada dos Uzumaki. Ali era uma casa de veraneio do clã de Uzushiogakure que foi tomado como base pela resistência Kurama devido a sua distância da costa. A casa no meio de uma ilha remota tentava sobreviver às intempéries do clima úmido ganhando uma decoração única em sua arquitetura. As paredes pintadas de verde pelo musgo que ali se esparramava, ou a ferrugem que corroía as partes metálicas do ancoradouro.
A mansão de veraneio tinha dois pavimentos e um porão que outrora era o quarto dos servos. Que naquele momento servia de cativeiro para os prisioneiros da Kurama.
Das três Ladys que desceram do navio, uma foi para uma carruagem e as outras duas para outra. Hinata foi para um quarto no andar de cima a pedido de Neji, que também exigiu que a mesma tivesse o tratamento de uma princesa. Tudo fazia parte do acordo. Sakura e Yuki foram levadas para o porão em um quarto dois por dois com um colchão de solteiro que elas dividiam debaixo de um cobertor velho e surrado.
A alimentação regrada vinha por debaixo da porta e era despejada sobre um prato que parecia mais uma lavagem para porcos. No começo, elas se recusaram a comer, mas depois a fome falou mais alto. Sakura estava acostumada a vida toda com tudo de bom que a nobreza pode lhe oferecer e Yuki não era diferente mesmo com as dificuldades financeiras de sua família.
Como o tempo ali passava devagar, as duas acabaram conversando como jamais iriam conversar a vida toda se não estivessem ali. Sakura contou a Yuki sobre como era sua vida e sua família. Como seus pais eram amorosos, em quantas expectativas ela teve com Sasuke e como todas foram quebradas da noite para o dia. Yuki lhe contou como foi parar no Palácio e como se apaixonou perdidamente por Itachi, contou também sobre sua infância e sobre as aventuras dentro da fazenda onde morava. Montada num cavalo castanho que ela teve que vender devido às condições de sua família.
E o tempo foi passando, e assim como a mansão que perecia com o tempo, as duas mulheres ali também estavam se definhando dentro daquelas paredes. Yuki ficava a maior parte do tempo enjoada e vomitava num balde que era retirado junto com os dejetos. Estava cada vez mais magra e mais pálida, o que preocupava Sakura devido a gestação de Yuki. A princesa também não estava em melhores condições.
Depois de um tempo, Sakura parou de contar os dias. Ela só ficava pensando em como sairia dali, se Sasuke as procurava e se Hinata estava bem. Naquele dia, não foi diferente.
Yuki estava deitada em seu colo, estava fraca demais para levantar. Havia passado o dia sentindo leves dores. Sakura chegou a gritar por ajuda, mas ninguém as ouvia. As visitas eram apenas de quem lhes trazia a comida e mais nada. Pelas contas da princesa, alguém iria chegar ali em breve e ela poderia pedir auxílio à companheira de cela.
— Aguenta firme Yuki. Logo alguém vai te ajudar.
— Eu estou com medo, eu... não sei. Estou com um mau pressentimento.
— Não seja negativa. Olha, tem água ali ainda. — Sakura disse apontando para uma botija feita com uma cabaça que dava mal para uma pessoa e que era cedida uma vez por dia.
— Não quero... tá doendo... — Yuki disse levando a mão à barriga e se contorcendo de dor.
— Yuki, abre o olho! Vamos! Respira fundo! OI! ALGUÉM! AJUDA! — Sakura gritou e ao não ouvir respostas começou a chutar a porta metálica. — OI! AQUI!
— Ai! TÁ DOENDO! NÃO! NÃO! — O grito de dor de Yuki foi seguido por um silêncio estarrecedor. A concubina de Itachi levou a mão às pernas e viu o sangue escorrer lentamente. Sakura foi tomada pelo desespero e continuou gritando e batendo na porta. Yuki por outro lado estava em choque. Os olhos arderam com as lágrimas que brotavam, a garganta começou a queimar e o estômago revirou. Junto com o sangue que escorria algo a deixou no mais completo desespero. A única coisa que ainda a mantinha viva e lúcida dentro daquele local. — MEU FILHO! NÃO!
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