05 - Tabuleiro de Go
Anko corria na direção de Yuki com um sorriso no rosto de emoção e alívio. A jovem concubina aguardava sua serva sentada na varanda para lhe ajudar a se vestir. Logo atrás dela uma quantidade enorme de servos trazendo caixas e pacotes.
— Senhora! — Anko disse se aproximando ofegante se Yuki.
— Que caixas são essas, Anko?
— Um presente do príncipe. Não acreditamos que vamos sobreviver! A senhora o agradou!
Yuki se levantou rapidamente e ficou olhando os homens desembalar as caixas e tirar centenas de livros, papéis e tinta. Eles montaram prateleiras, uma pequena mesa e outra com vários tecidos coloridos.
— Senhora, veja esse quimonos! Seja lá como foi a noite, a senhora o agradou!
Isso era surpreendente até mesmo para Yuki, afinal ela não tinha feito nada demais além de chorar, implorar e contar uma história incompleta. Mas, independente da intenção do príncipe ela se divertiu com os presentes. Livros que ela jamais imaginou que teria ao seu dispor. Além da qualidade do papel e das tintas. Ela estava no verdadeiro paraíso. Quando os servos saíram e deixaram tudo pronto, ela viu um segundo servo chegar no local com ferramentas de jardinagem e arrancar todas as margaridas secas do canteiro e preparar o solo para plantar novas. Yuki deu uma risadinha discreta. A primeira desde que havia chegado ali.
Com os livros em mãos, ela mal podia ver o tempo passar. Sua estadia era menos dolorosa. Quando a tarde começou os portões do Pavilhão Margarida se abriram devagar e uma enorme quantidade de servas entrou no local. Yuki, que estava sentada na varanda de seus aposentos fechou o livro que tinha nas mãos e firmou a visão para ver quem entrava no Pavilhão. A princípio pensou ser o príncipe, mas uma bela mulher adentrou no local.
Cabelos longos e azulados e olhos cor de pérola. Usando um quimono de excelente qualidade na cor lilás e branco. A mulher adornada de jóias caras, tinha uma fragrância diferenciada e caminhava de forma elegante desfilando por aquele local que parecia modesto e singelo para tamanha beleza.
— Quem é ela, Anko? — Yuki perguntou sussurrando para a serva.
— Lady Hinata. A favorita do príncipe Sasuke.
Yuki ficou surpresa com a beleza da concubina do príncipe Sasuke. Já havia rumores até de fora do Palácio que a mulher que ele havia levado como recompensa era de uma beleza fora do comum. Mas, vendo ali pessoalmente não havia adjetivos que fossem o suficiente para descreve-la de forma adequada. Yuki ficou pensando se as outras concubinas do Príncipe Itachi eram tão lindas quando aquela. Hinata se aproximou de Yuki e a cumprimentou de forma gentil e respeitosa.
— Lady Yuki, é um grande prazer conhecê-la.
— Ah... a honra é minha. — Yuki devolveu o gesto.
— Sou Hinata, uma das concubinas do Príncipe Sasuke.
— Lady Hinata, entre por gentileza, prepararemos um chá. Tenha algum de sua preferência?
— Deixarei a sua escolha, Lady Yuki.
Yuki ainda não tinha se acostumado com toda a formalidade do Palácio. Tudo parecia engessado e deveria ser respeitosa com todos ali, sendo concubina de qualquer um dos regentes a importância delas era tão grande quanto a própria nobreza dentro daquele Palácio.
As duas sentaram-se a mesa que ficava na área externa, debaixo de um pessegueiro que as folhas estavam caindo naquela estação. A elegância de Hinata deixava Yuki constrangida por jamais imaginar-se ser tão linda quanto ela.
— A que devo tamanha honra, Lady Hinata?
— Por favor, pode ser menos formal, me chame de Hinata. Aqui somos todas iguais no fim das contas.
— Sim. Mas, jamais serei digna de tamanha beleza. — Yuki disse sorrindo.
— Ah, obrigada. Soube que veio de Kirigakure.
— Sim... — Yuki disse cabisbaixa, lembrando-se de casa.
— Eu sou daqui, mas meu último lar foi Uzushiogakure. A terra do clã Uzumaki.
Yuki se surpreendeu com a informação. O clã Uzumaki ficava num arquipélago a leste do País do Fogo que havia sido conquistado não muito tempo por tropas sob o comando do Príncipe Sasuke, onde o até então líder, Naruto havia sido derrotado.
— A senhora faz parte do clã Uzumaki?
— Não mais. Meu clã na verdade é o Hyuuga, eu fui até Uzushiogakure para me casar com o Lorde Naruto. A quem fui prometida desde criança. Mas, ele foi morto pelo Príncipe Sasuke e desde então estou aqui.
— Eu... nem sei o que dizer.
— Naruto era meu grande amor. Iríamos nos casar na primavera daquele ano. Mas, a sorte sorriu para mim da mesma forma. Eu poderia ser morta junto com a família Uzumaki, mas fui agraciada com a dádiva de ser a concubina do Príncipe Sasuke.
A frase dita por ela não condizia com seu olhar. Yuki sabia o que aquilo significava. Ela não estava ali por vontade própria, assim como Hinata também não estava. Mas, ela jamais poderia dizer em voz alta o que de fato sentia, ou também seria morta, e provavelmente toda a sua família também.
— Eu... fui entregue como pagamento de uma dívida. — Yuki começou a dizer. — Meu pai devia ao Daimiô Kisame Hoshigaki muito dinheiro, e cansado das humilhações ele desacatou o Daimiô. E uma ofensa ao Daimiô do Imperador, é uma ofensa ao próprio Imperador. Mas, como você disse, ainda fui agraciada com a dádiva de ser a concubina do Príncipe herdeiro Itachi. — Nenhuma das duas dizia isso feliz. Mas, as paredes no Palácio de Fogo tinham ouvidos e línguas gigantescas.
— E como tem sido o começo dessa nova jornada? — Hinata deu um gole em seu chá. Olhando discretamente para os lados. Ao notar as servas despercebidas ela continuou baixando cada vez mais o tom de voz. — O começo aqui é bem difícil.
— Eu acho que estou vivendo todos os dias como se fosse o último. Eu preciso agradar ao príncipe, se não, minha família toda morre. — Yuki disse quase sussurrando.
— Faça o que eles mandarem e está tudo certo. O problema maior é a Imperatriz Mãe e as outras concubinas. — Hinata disse ainda olhando ao redor desconfiada.
— As outras?
— Aqui é como uma competição, um jogo de prazer e poder. A favorita tem mais regalias que as demais e é praticamente intocável. Um título alcançado por assim dizer. E é claro, que nem todo mundo se compadece da dor do outro.
— Então, todos tem uma favorita?
— Sim, para você ter uma noção, a favorita do Imperador é a Mikoto. A mãe dos príncipes Sasuke e Itachi.
— A Imperatriz não é mãe deles?
— Ela os criou como se fosse, mas ela mesma perdeu todas as gestações. Dizem que a genética dos Uchiha é bem rara e complicada. Por isso não se vê muitos filhos deles por aqui.
— Eu não sabia disso.
— Continue fingindo que não sabe. Mikoto é tão amada pelo Imperador que o seu Pavilhão é maior que os aposentos da Imperatriz. E os príncipes também tem suas favoritas.
— Você é a favorita do principe Sasuke, e... quem é a favorita do Príncipe Itachi?
— Bom, teoricamente, ele não tem uma favorita. O Pavilhão que foi feito para isso está vazio desde que o Príncipe os assumiu. O Pavilhão Peônia. A que mais se aproxima de uma favorita é a Lady Konan.
— Isso é bem estranho.
— Príncipe Itachi é bem peculiar. Passa meses sem visitar as concubinas. Dizem que ser uma das suas é uma alegria e uma tristeza ao mesmo tempo. Nunca se sabe se está o agradando ou não. O que torna a competitividade por aqui ainda maior.
— Eu ainda não conheço as outras.
— Lady Konan, Lady Yugao, Lady Kurenai, Lady Mei e agora você Lady Yuki.
— Por que está sendo tão gentil comigo?
— Eu tenho boas intuições Yuki, sinto que é uma pessoa boa que teve o destino traçado por outras pessoas. Quero que saiba que estarei aqui para te ajudar em tudo que precisar.
— Serei eternamente grata.
— Bom, eu já vou indo. Príncipe Sasuke me visita ao longo do dia, se eu não estiver lá o esperando é bem provável dele revirar esse Palácio inteiro atrás de mim.
— Sobre o Príncipe Itachi, sabe de alguma coisa sobre ele? Algo que eu possa fazer para agradá-lo? — Yuki perguntou apreensiva.
— Sei pouquíssimo sobre ele, mas posso ver isso para você... e ah! Já ia me esquecendo, cuidado com Lady Mei. Ela é conhecida por seu ciúme exacerbado.
Yuki agradeceu a concubina Sândalo e a viu sair junto com as servas. Ela começou a perceber que como se não bastasse tudo que acontecia ali, ainda tinha que lidar com o temperamento das outras concubinas. E isso a deixava muito desanimada.
(...)
Quando a noite chegou, o Príncipe Itachi adentrou seus aposentos no Pavilhão Margarida com uma expressão um pouco menos dura que na noite anterior.
— Boa noite meu príncipe. — Yuki disse se levantando rapidamente da cadeira onde estava.
— Boa noite.
— Eu gostaria de agradecer pelos presentes.
— Ficou menos entediada?
— Sim senhor.
— E a história? Terminou?
— Não senhor. Mas, estou caminhando para isso.
O príncipe trazia consigo uma pequena caixa de madeira e sentou-se diante da mesa que havia no quarto que foi montada naquela manhã para que Yuki escrevesse. Ele abriu a caixa e tirou de dentro algumas peças em branco e preto.
— Sabe jogar Go? — Itachi perguntou olhando para Yuki com aspecto menos carrancudo como de costume.
— Sei.
— Sente-se aqui e me mostre o que sabe.
Yuki sentou-se diante de seu senhor meio desconfiada, se perguntando no que levava um príncipe tão bonito quanto ele recusar todas as quatro concubinas que tinha ao seu dispor para jogar Go com uma que ele mesmo nomeou como "a pior de todas as concubinas". Independente da resposta, Yuki preferiu deixar as coisas dessa maneira, pelo menos era mais uma dia viva.
— Soube que recebeu uma visita. — Ele disse montando as peças sobre o tabuleiro.
— Sim. Lady Hinata é ainda mais linda do que disseram.
— É sim. Gostou da visita dela?
— Claro, meu senhor. Ela é gentil, agradável e muito simpática.
— Hum. Bom, eu permitirei que ela te visite sobre a minha autorização. Em breve deixarei que ande pelo Palácio onde as concubinas são permitidas.
— Nem sei como agradecer tamanha gentileza.
— Se você continuar a história. Considere como uma barganha para que você não me enrole e me conte sobre o homem solitário.
Yuki ficou sem entender o porquê desse interesse numa história que ela tinha acabado de inventar naquele momento de desespero. Mas, pelo que tinha percebido de seu príncipe, ele não iria desistir.
— Meu senhor, só de curiosidade, dormirá aqui essa noite?
— Todas as noites até que termine a história.
Yuki soou frio. Ela inventou a história na hora do improviso. E o príncipe queria um desenrolar e um final. Algo que ela não tinha a menor ideia do que ia fazer. Eles jogaram Go até altas horas da noite. Totalizando 7 vitórias de Yuki, contra 5 do Príncipe. O que ela não sabia é que até aquele momento ninguém havia derrotado Príncipe Itachi no Go.
Depois do jogo, eles se deitaram na cama para dormir. Uma noite fria no Palácio de Fogo. Yuki tremia debaixo das cobertas, mesmo o quarto estando aquecido. O príncipe notou a tremura da mulher que estava quase atravessando a parede de tão distante que estava do Príncipe. Itachi se aproximou dela e encostou as suas costas na dela.
— Calor corporal ajuda. Fique tranquila, contadora de histórias. Hoje não vou morder você.
O que ele quis dizer com "hoje"?
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