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01 - A nova concubina

A carruagem chegou à Capital em Konoha depois de muitas horas exaustivas. Yuki já havia chorado tanto que seus olhos estavam inchados e vermelhos. As mãos estavam geladas, pelo frio e nervosismo. Ela olhava discretamente pela fresta da cortina para ver onde estava. Ninguém de fora do Palácio poderia ver a nova concubina. 

Era a primeira vez que ela ia à capital, ela nasceu e cresceu em Kirigakure. Ia às vezes à cidade com a mãe, fora isso ela passou a vida toda de seus 18 anos no lar onde nasceu e cresceu. A família Hitsugaya fora em uma época distante grandes mercadores de seda e por muitos anos foram os líderes do mercado. Não havia ninguém tão rico na região quanto os Hitsugaya. Entretanto, a má administração de Hiroshi Hitsugaya, o pai de Yuki, acabou com a fortuna da família. Para manter o alto padrão que sua família estava acostumada ele se atolou em dívidas com o Daimiô de Kirigakure, Kisame Hoshigaki. Um homem considerado cruel e sádico, tinha a seu favor um grupo de samurais treinados escolhidos a dedo por ele chamados de Espadachins da Névoa Oculta. 

Quando as condições financeiras de Hiroshi começaram a piorar, o Daimiô Kisame começou a ameaçá-lo e humilhá-lo de todas as maneiras possíveis. Até que um dia, cansado das humilhações constantes, Hiroshi Hitsugaya ergueu a voz contra o seu Daimiô. Kisame Hoshigaki estava prestes a se tornar Xogum escolhido pelo próprio Imperador Madara Uchiha e uma ofensa ao escolhido do Imperador era uma ofensa direta ao próprio Imperador. 

Hiroshi ainda tentou negociar, pediu permissão para o sepukku, mas o pedido foi negado e se mesmo assim ele insistisse em tirar a própria vida toda sua família seria executada do mesmo jeito. O Imperador então deu duas opções a Hiroshi a morte iminente de sua família, ou a única filha como pagamento. Se ela satisfizesse o príncipe herdeiro todas as dívidas estariam pagas. Entretanto, se ele a rejeitasse seriam todos mortos imediatamente.

O grande Palácio Imperial de Konoha era tão grande que parecia uma cidade. O Palácio de Fogo era o lar da família imperial Uchiha. Madara Uchiha, o Imperador teve dois filhos, Sasuke, o mais novo, prometido à princesa Sakura. E o príncipe herdeiro Itachi que se recusava a procurar por uma noiva. Diziam entre os portões do Palácio que o príncipe tinha um temperamento muito ruim. 

As concubinas eram escolhidas pela Imperatriz mãe ou pelo próprio Imperador, mas aparentemente nenhuma delas o agradava, visto que suas visitas aos seus pavilhões eram raras. E foi para ele que Yuki foi escolhida.

Os portões do Palácio abriram e a carruagem seguiu viagem até o Pavilhão dos Sonhos, o local destinado às novas concubinas e onde seriam preparadas e serviriam ao seu senhor na primeira noite. A moradia da concubina dependia da preferência de seu senhor. Os pavilhões das concubinas do Imperador tinham nomes de joias, Jade, Safira, Esmeralda, Pérola e Diamante. Cada concubina era associada a uma joia de acordo com seu "valor" para o Imperador. O aposento do Imperador era chamado de Ouro Fino.

Os pavilhões do príncipe Sasuke tinham nomes de essências de perfumes, Âmbar, Almíscar, Baunilha, Sândalo e Mirra. Separadas também de acordo com a preferência do príncipe. O aposento do príncipe se chamava Doce Aroma.

E os pavilhões do príncipe herdeiro, Itachi, tinham nome de flores: Rosa, Camélia, Azaleia, Hortênsia e Peônia. Classificados também da preferência do príncipe. O seu aposento tinha o nome de Jardim do Encanto. Nomes que na opinião do próprio príncipe eram ridículos.

A carruagem parou em frente ao Pavilhão dos Sonhos, um dos servos desceu e abriu a porta para que a nova aquisição descesse rumo ao seu destino iminente. Os pavilhões das concubinas eram vigiados por eunucos por motivos óbvios. Yuki desceu devagar e caminhou até a porta onde foi recebida por uma das servas. Anko curvou respeitosamente a sua nova senhora que lhe deu um sorriso gentil e discreto. A mulher ainda jovem e roupas simples, tinha cabelos roxos curto presos num coque e olhos castanhos.

A concubina era nada mais do que amante institucionalizada, adquirida e descartada à vontade, a concubina era prisioneira do potentado, vivendo em permanente estado de insegurança. A única segurança era o favor do amo. Mesmo sendo a favorita, em caso da morte deste, a esposa-viúva podia fazer o que bem entendesse dela: vendê-la a um rico, ou mesmo a um bordel, o que era mais comum. Se tivesse filhos, ficariam como propriedades da viúva. Poderia ainda ser lhe concedido um supremo privilégio: cometer suicídio e ser enterrada ao lado do amo. 

Um destino cruel para uma jovem como Yuki. Criada como nobre, repleta de sonhos e esperanças. Ali padeceria como a propriedade de um homem e dependia de sua boa vontade.

— Bom dia minha senhora. Estou aqui a seu dispor. A Imperatriz Mãe solicitou que a deixássemos pronta para hoje à noite.

Yuki engoliu seco e agradeceu a serva. Anko abriu a porta vermelha de correr e o grande quarto dos Sonhos mostrou sua magnitude. A mobília de excelente qualidade. A cama de casal já forrada com lençóis brancos para mostrar ao amo a veracidade da pureza da moça, cortinas de seda tremulando com o suave vento que entrava pela janela. O chão, coberto por um carpete verde escuro, além de flores esparramadas por todos os lados. No cômodo ao lado a banheira já pronta e aquecida para o cuidado da nova concubina. E várias servas ao seu dispor.

— Minha senhora, deve tomar um banho relaxante e descansar da longa viagem. 

— Eu... posso fazer isso sozinha.

O silêncio que veio a seguir a deixou constrangida. As servas tinham o olhar assustado e outras estavam trêmulas. — Minha senhora, estamos aqui para lhe servir. Eu insisto.

Yuki sabia o que isso significava. Se ela recusasse poderia ser uma ofensa direta à Imperatriz Mãe. Receosa, Yuki aceitou o cuidado das servas. Banho quente, massagem, óleos perfumados e um longo descanso. Além do almoço com coisas leves. Na parte da tarde, a Imperatriz Mãe deu a honra de sua presença no Pavilhão. 

A mulher alta, de cabelos loiros, de aparência muito jovem apesar da idade, acompanhada de seis servas a seu dispor, entrou no Pavilhão dos Sonhos de forma brusca. As servas imediatamente curvaram e instruíram Yuki que fizesse o mesmo.

— Levante-se menina. — A Imperatriz disse com a voz grave. Yuki ainda de roupas debaixo estava esperando pela soberana para ela a avaliasse, o que a deixava se sentindo uma égua prestes a ser comprada. Ela se aproximou de Yuki e tocou seu rosto. — Hummm... não é grande coisa. Pequena demais, não tem nada de muito chamativo. Mas, tem um rosto bonito. Meu filho provavelmente não irá agradar, mas aí já não é problema meu. E que textura é essa desse cabelo, não é liso como os nossos. — A Imperatriz disse entrelaçando os dedos nos longos cabelos castanhos e cacheados de Yuki, depois continuou analisando a jovem. — Escolha um quimono rosa ou laranja, dê um pouco de cor a essa moça sem graça. Já esteve com um homem menina?

— Não senhora... — Yuki estava tremendo sem parar olhando para baixo.

— Então trate de caprichar. Vai doer mesmo, mas não fique choramingando por aí, mostre para ele que você o deseja. Com sorte ele gosta de você por um tempo, a sua vida e a da sua família dependem disso. Não se esqueça.

A Imperatriz Mãe saiu desfilando pela porta do Pavilhão deixando Yuki no mais completo desespero. Ela havia se esquecido desse detalhe. Ela deveria mesmo "servir" ao Príncipe e o que ele dissesse sobre ela definiria o destino dela e sua família. Ela caiu de joelhos sentindo o estômago revirar.

— Minha senhora! — Anko correu até Yuki desesperada. — Se sente mal, o que posso fazer pela senhora?

— E se ele não gostar de mim? Eu nunca estive com um homem... — Yuki dizia entre lágrimas. 

— Minha senhora, homens gostam de moças inocentes, embora o príncipe seja difícil de agradar.

— Como assim?

— Tem 4 concubinas a disposição dele: Lady Kurenai, Pavilhão Rosa, Lady Yugao, Pavilhão Azaléia, Lady Mei, Pavilhão Hortênsia e Lady Konan, Pavilhão Camélia. Dizem que ela raramente as visita. O Pavilhão da favorita é o Pavilhão Peônia e nem mesmo a Konan, a que ele aparentemente teve mais afinidade não teve direito a esse Pavilhão.

O que Anko queria dizer era que nem mesmo as mais requisitadas concubinas ganharam o coração do príncipe com tanta facilidade, se a vida de Yuki dependia disso, era um péssimo sinal para ela. A jovem sentou-se no chão e abraçou as próprias pernas. O que o príncipe veria em alguém como ela? Ela só queria que os pais se salvassem da decapitação. Que fosse livre e pudesse escolher um marido e viver seus dias tranquilos em Kirigakure. 

— Não desanime, senhora. Ele pode gostar da senhora.

— De quê,  Anko? Se ele é exigente como é, eu não tenho a menor chance. 

— Venha, descanse. A noite será longa.

Yuki temia essa noite como se temesse a própria morte. E como programado ela se preparou. O quimono laranja se deu um brilho sem igual, os cabelos presos num elegante coque deixando alguns fios cacheados à solta. A maquiagem leve e discreta e o cheiro floral dos sais e óleos deixava Yuki enjoada. As mãos estavam suadas, geladas e trêmulas. Com o cair da noite o príncipe poderia surgir a qualquer momento. Ela andava de um lado para o outro ouvindo apenas os seus passos e o tilintar das joias e adornos que usava. E esperou. Esperou. Esperou até adormecer. O príncipe não apareceu. 

Quando os raios do sol tocaram seu rosto, Yuki abriu os olhos devagar e notou que não estava em casa, mas também lembrou-se que o príncipe não apareceu. As servas chegaram logo em seguida e refizeram todo o processo do dia anterior. E mais uma vez ele não apareceu.

Na terceira noite ela começou a ficar desesperada. O príncipe havia lhe recusado sem nem ao menos lhe conhecer e isso era desesperador. Ela sabia que cedo ou tarde a morte seria certa para ela e sua família. E na manhã do quarto dia, ela começou a se entristecer. E veio um dia, e depois outro e depois outro. Sete dias se passaram, e o príncipe não apareceu.

— Não fique assim minha senhora. O príncipe é um homem muito ocupado. — Anko tentava amenizar o sofrimento de Yuki.

— Eu fui vendida em troca de dívidas Anko. Se eu não agradar ao príncipe, eu e minha família seremos mortos. Se ele não veio até hoje é porque não lhe interesso. Ou seja, estou contando meus últimos dias. — Yuki olhava fixamente para uma serva varrendo as folhas do pátio. — Eu preferia estar no lugar dela.

— Nossa vida também não é fácil. Daríamos tudo para estar no seu lugar. Dormimos em cima de um tablado de madeira, sem colchão. A comida que comemos nem os cachorros querem. Além das jornadas exaustivas de trabalho e as exigências de nossos mestres.

— Então... estamos todas na mesma situação. A Imperatriz ainda não veio. Deve estar relatando ao Imperador que fui tão imprestável que nem o príncipe me quis.

— Eu sinto muito minha senhora. Vai querer se arrumar hoje?

— Não. Eu vou dormir cedo. Ter uma boa noite de sono. Não sei se estarei viva amanhã.

Yuki dispensou as servas e conforme havia dito, deitou-se cedo naquela noite. Ela se embrulhou entre as cobertas. As roupas debaixo de uma dama, eram um tipo de robe branco por debaixo do kimono. E era assim que ela dormia. A jovem dormia num sono profundo quando ouviu alguém mexer na porta. Yuki acordou assustada e foi se encolhendo debaixo das cobertas, quando a porta se abriu ela viu a silhueta de um homem alto de longos cabelos pretos entrar. Um segundo homem entrou acendendo todas as lamparinas do quarto e disse de forma desesperada:

— Mil perdões meu senhor, deve haver algum equívoco.

A luz amarela clareou o quarto e o homem se aproximou da cama devagar. A porta atrás dele se fechou com a saída de seu servo. Ele tocou as cobertas e as jogou de forma brusca para o lado descobrindo o corpo de Yuko, a jovem sentou-se na cama assustada e trêmula, o homem disse então a primeira frase desde que havia entrado ali.

— Então, é assim que pretende me receber?

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