ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 5.
𝐷𝑖𝑎 8 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑟𝑐̧𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑙𝑒𝑛𝑑𝑎́𝑟𝑖𝑜 𝑔𝑟𝑒𝑔𝑜𝑟𝑖𝑎𝑛𝑜. 𝑁𝑜 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑒 𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝐷𝑜𝑡ℎ𝑎𝑚𝑜𝑛.
Os grilos cantavam uma doce melodia na noite fria naquele região remota e florestal, enquanto as corujas acordavam os pássaros já haviam ido pernoitar fazia horas,des que o sol se pôs.
E mesmo que já fosse primavera,o inverno relutava em despedir-se de uma vez por todas para deixar a primavera florescer mostrando para todos suas beleza e cores apaixonantes.
Naquela noite o vento batia com brusquidão nas janelas, o farfalhar e o rebolar das copas das árvores faziam uma algazarra tremenda, o vento gélido transpassavam as paredes de pedras empilhadas uma encima da outra bem antiga e revestidas de betão alguns muitos anos atrás do orfanato. Por dentro a construção albergava um breve corredor com portas em ambos os lados, o final do corredor dava a um amplo salão com sofás ao pé de uma lareira do lado esquerdo,e do direito havia mais alguns sofás pequenos, prateleiras com livros didáticos,revistas científicas,de moda entre outras similares.
O papel de parede verde claro com arabesco de flores em verde escuro cobria aquelas paredes tão antigas quanto o coliseu romano. Uma escadaria magestosa de madeira de cerejeira maciça já desgastada e realmente enfadada pelo tempo e cupims apresentava se no centro da sala, levando ao segundo e terceiro andar.
𝘌 𝘮𝘢𝘪𝘴 𝘶𝘮𝘢 𝘷𝘦𝘻 𝘰 𝘨𝘳𝘪𝘵𝘰 𝘥𝘦 𝘴𝘰𝘤𝘰𝘳𝘳𝘰!
Chloé acorda sobressaltada, respirando rapidamente pelas batidas aceleradas do coração,o suor molhava a cama,os cobertores e o vestido branco, velho e de alças finas. Olhou os cantos do quarto para garantir que a criatura negra feita de sombras não saiu de seus sonhos, suspirou em alívio, mesmo sentindo de que seu alívio não valeria em nada. Saiu apressada da cama,a garganta raspava e o corpo inteiro coçava. Descalça as ordens do cérebro a induziam a caminhar devagar arrastando os pés e coçando o corpo,seus olhos só fixados na escuridão a sua frente buscando enxergar através do manto negro. Coçava os braços,o abdômen,as costas e até mesmo a cabeça. Ainda com os olhos pesados de sono deixou os semicerrados enquanto caminhavam, porém antes mesmo deles serem vedados pelas pálpebras captou o negrume agrupar-se e desfazer-se em breves segundos.
Escancarou os olhos assustada temendo o pior,averiguando todo o local, não havia nada. Balançou a cabeça expulsando aquela particularidade ilusória que ocorre sempre que a mente trabalha de mais e os olhos captam o imaginário como se fosse real. 𝑂𝑢 𝑠𝑜𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑜 𝑚𝑜𝑛𝑠𝑡𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑢𝑠 𝑠𝑜𝑛ℎ𝑜𝑠 𝑎 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑖𝑢 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑜 𝑚𝑢𝑛𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑙...
Não se alarmou continuando a caminhada tranquila e quase sonâmbula, na cozinha bebeu dois copos de água sentando numa cadeira olhando a parede sem vontade de regressar á cama quente e aconchegante.
Não tardando,o sono atingui-lhe e o movimento de fechamento dos olhos foi quase inevitável. Conforme eles ficavam ocultos pelas pálpebras a escuridão em sua volta se mexeu chegando até a roçar sua pele de um jeito muito frio. O negrume se agrupou, uma sombra grossa,densa que parecia gelatinosa se agitava na parede próxima a porta com se quisesse prendê-la ali. 𝐸𝑠𝑡𝑎𝑣𝑎 𝑎𝑙𝑖! 𝑂 𝑚𝑜𝑛𝑠𝑡𝑟𝑜 𝑎 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑖𝑢!
Chloé ergeu o corpo da cadeira com muito medo e a adrenalina correndo na mesma intensidade que o sangue nas veias,soltou um grito estridente,mas a sombra viva não fez menção de que iria desaparecer. Contudo estava a se movimentar para frente na sua direção. Chloé encolheu os ombros dando passos vacilantes para trás conforme aquela sombra se aproximava,seus olhos fixos na coisa,foram distraídos pelo pensamento de buscar algo para a autodefesa. Contorceu o corpo abruptamente para fugir e pegar na jarra de água,mas suas costelas, no seu giro brusco e desesperado torceram enviando ondas de dor em todo abdômen. Não teve tempo de vacilar e mesmo se quisesse,sua mão já havia agarrado a alça da jarra, a dor não impediu de jogar água na sombra antes do seu corpo tombar para trás por desequilíbrio.
A jarra de vidro foi reduzida a pedacinhos letais de cristais de vidro,quando o corpo da garota caiu no chão coberto de cacos, batendo a cabeça nos azulejos duros e frios. As figuras sólidas das coisas tomaram a forma de borrões diante de seus olhos, enquanto tudo girava e novamente abraçou a escuridão total.
Pela manhã cinzenta ela acordou com dores de cabeça e no corpo inteiro. Um fogo interno queimava em suas pernas,pulsos , tendões, clavículas e costas. Os olhos visitaram o teto,a janela,o rosto da doutora Lena e de Alex, ambos pareciam duas estátuas de olhos brilhantes olhando para si. Não gostou daquilo.
Eles soltaram o ar de alívio que prendiam e sorriram felizes assim que viram seus olhos se abrindo,vê-la acordada e bem. Embora Chloé não se sentisse bem por completo,forçou um sorriso olhando com medo a sombra viva na parede clara que num piscar de olhos já não estava naquele lugar. Talvez fosse coisa da sua imaginação.
𝑇𝑎𝑙𝑣𝑒𝑧...
Lena pegou numa lanterninha e apontou nas íris da paciente guardando a no bolso do jaleco branco após a vistoria rápida,ela via os pontinhos vermelhos e os arranhões no rostinho dela, os quais deixavam na com um ar de quem não dorme faz tempo e que foi violentamente agredida por alguém. Lena de tanta preocupação até esqueceu a má noite que teve no orfanato, pesadelos e...oque foram? Visões ou alucinações?
— Chloé oque aconteceu na noite passada? – a médica buscou saber por preocupação e um pouquinho de curiosidade. Assim como a paciente, Lena estava extraordináriamente cansada.— foi outra crise? Você tem tomado os remédios na hora certa? As dores de cabeça voltaram com mais força?
Chloé encolheu os ombros fazendo uma careta de dor soltando um gemido sôfrego antes de umedecer os lábios com a língua áspera e engolir o nó na garganta com o resquícios de saliva restante na sua boca. Forçou-se a não fazer movimentos bruscos para não demostrar dor na face, pois dispensou a pena das pessoas a muito tempo.
— não me lembro de tudo. – de voz roca contou a meia verdade olhando os olhos da doutora Lena, cansados e com olheiras. Bocejou fechando os olhos de vagar mas sentiu dores com o movimento e ao que parece a médica viu e afastou-se um pouco para dar espaço ao garoto.
— tudo bem... Vou deixá-la descansar um pouco, conversaremos mais tarde.
Lena despachou se a sair vendo os olhos do garoto brilharem de alívio e felicidade,sem dúvida ele estava apaixonado. Ela sabia só por ver nos olhos dele,a faze da adolescência era mesmo apaixonante. Apesar de notar que Chloé não sentia o mesmo e por vezes parecia muito fria com ele; talvez por não querer ter alguém para depois perder; ou até mesmo por não sentir o mesmo. Lena caminhou em linha reta para fora da enfermaria no seu andar gracioso que ficava ainda mais lindo com o baloiçar do jaleco desaparecendo no corredor.
— me deixe sozinha. – ela disse girando a cabeça para outro lado,vendo que ele não estava disposto a deixá-la só logo que a médica saiu.
Alex tomou a mão da amiga, a sentia fria assim como ele era na maioria das vezes, embora ouvisse o sangue dela correr em alta velocidade nas veias pelos batimentos cardíacos acelerados de mais. Ele olhou as bandagem nos braços os quais começava na cintura,cobriam os braços,as pernas e havia um curativo na nuca. E ela por mais fragilizada que estava não queria demostrar que sentia dor independente de qual seja na presença de estranhos, ele e Lena.
Chloé em seu íntimo curvou se de dor, sentia algo arranhando e mordendo suas entranhas e carne para matá-la por alguma razão. Os ossos que pareciam estar se quebrando ou até mesmo dobrando-se por um força maior que a gravidade e a massa da terra ardiam por dentro,os ossos raspavam as fibras musculares provocando mais dor ainda.
— Chloé oque aconteceu? Há arranhões nas suas pernas. – fê-la olhar para si para ler oque os olhos dela diriam, caso ela tentasse mentir para ele,mas os olhos dela mostravam somente uma névoa caótica.
Mesmo os olhos de Chloé estivessem fixos no rosto pálido de Alex, não estava olhando realmente para ele, ela estava olhando para si. Lá dentro,vendo oque acontecia e oque estava fazendo uma algazarra interior a tal ponto que refletia dolorosamente no físico. Mas o breu de seu interior recebeu-lhe de braços abertos a fazendo se render de imediato, seu corpo negava de conceder lhe forças para lutar contra a escuridão e poder enxergar seu âmago.
— eu não sei...os eventos de ontem estão uma confusão na minha mente. Me pareceu um sonho. — começou falando baixinho, quase que sussurrado sentindo,de repente, que podia compartilhar com ele as coisas que vinha sentindo.
— de onde vem os arranhões? Suas convulsões nunca chegaram até esse ponto. – ele falou estranhando as palavras da menina,Alex passou a mão docemente nos cabelos dela apreciando as feições e traços,mesmo que inchados,eram belos.
— como você sabe? Eu não lembro de nenhuma das minhas convulsões. – questionou enrugando a testa e unindo as sombrancelhas mesmo que aquelemovimento doesse.
Alex ficou um tempo tácito, só ouvindo os sons que vinham de todos os lados esvaziando a mente e o semblante. Os minutos se arrastam enquanto Alex se mantinha em profundo silêncio e Chloé esperava ansiosa a resposta que ele tinha para a pergunta que fez.
— Chloé, você já teve várias convulsões aqui no orfanato e na escola. Mas nenhuma delas nunca te causou ferimentos como esses. Alguns arranhões superficiais e leves cortes,sim, nunca, arranhões como se facas tivessem sido cravadas na sua pele. – respondeu calmo ainda focado no nada e segurando a mão dela dando apoio e carinho.
— é por essa razão que as pessoas na escola me tratam como uma pessoa que estivesse maltrapilha? — ela questionou mas para si mesma refletindo sobre as atitudes dos colegas na escola e as demais crianças do orfanato. Alex anuiu com a cabeça, beijando o cimo da mão dela e se levantando para sair e deixá-la sozinha para ordenar os pensamentos.
Naquela tarde a doutora Lena deu alta a Chloé sem antes ressaltar a importância de tomar os remédios e se alimentar direito e sempre que sentir as dores avisar alguém. Mesmo que a paciente não cumprisse corretamente as instruções que visavam promover a ela boa saúde e se ver livre das crises epilépticas.
Chloé anuiu somente para se livrar daquele sermão pois queria tomar um banho e descansar na cama de colchão de espuma. Ela nunca diria que estava com dores a ninguém, alguns comprimidos de dor de cabeça resolviam, momentâneamente,mas resolviam.
Andava de vagar pela dor no corpo saindo da enfermaria com algumas carteiras de comprimidos. Subiu as escadas e passou pelo quadro da mulher vitoriana. De olhos negros com lágrimas de sangue escorrendo nas bochechas pálidas,cabelos esvoaçantes,a boca suja de uma coisa preta e um semblante de quem está a gritar.
Ela torceu a testa ignorando a imagem pavorosa daquela mulher apressando o passo. Entrando no quarto e recebendo a atenção de todas as meninas, que acompanhavam seus movimentos com os olhos. Chloé sentou na cama guardando os comprimidos na gaveta da escrivaninha acoplada a cama e nela ficava uma garrafa de água e os medicamentos que devia tomar.
Retirou os sapatos dos pés usando o chinelo de dedo localizados em baixo da cama,seus dedos ficaram agradecidos, somente pelos breves minutos que usou as sapatilhas para sair da enfermaria até ali, bolhas e calos surguiram em seus pequenos pés.
Abriu a mochila tirando um casaco e uma calça moletom,outras das suas roupas estavam dobradas ao seu lado na cama em um pequeno montículo,pegou do montículo uma blusa de manga comprida.
Retirava com muito cuidado as bandagens das pernas e abdômen para não abrir as feridas mesmo que fechadas ainda emitiam grandes quantidades de dor. E mesmo sabendo que a dor não estava nos locais dos cortes e sim no cérebro, ainda doía,e sempre doeria. Quando terminou jogou as bandagens no lixo,e entrou debaixo de chuveiro de água quente relaxante limpando o sangue das feridas e o cheiro de suor. Ela se vestiu no banheiro voltando para o quarto com os cabelos úmidos num coque deitando na cama logo em seguida, mesmo sem ter comido nada além de uma sopa verde como lanche, não sentia fome. Meteu dois comprimidos na boca os engolindo sem água porque era trabalhoso de mais para seu corpo cansado.
Olhou o teto do quarto observando o monstro dos seus sonhos. Desde vez, não se parecia com uma massa de escuridão movediça e gosmenta. O mostro mostrara sua face: uma criatura horrenda e negra feita de fios de escuridão,o lugar onde por norma deveriam estar os olhos havia um negrume e estava coberta por fios do breu,o mesmo acontecia com a boca. A qual parecia estar gritando para si, Chloé fechou os olhos com força expulsando de suas vistas e mente a imagem tenebrosa.
𝐸𝑙𝑎 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑠𝑎𝑖𝑢 𝑛𝑜 𝑚𝑒𝑖𝑜 𝑑𝑎 𝑚𝑎𝑑𝑟𝑢𝑔𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑏𝑒𝑏𝑒𝑟 𝑎́𝑔𝑢𝑎.
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