༒︎ ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 4 ༒︎
Eliane estava sentada uma poltrona velha que cheirava a poeira, cigarro barato e babugem no escritório do xerife do condado aguardando a chegada de sua mãe para sair dali. Seus olhos castanhos claros percorreram toda extensão da salinha enquanto sua ávida mente analisava uma segunda rota de fuga para além da porta.
O xerife sentado na cadeira reclinável com os pés em cima da mesa, fumava um cigarro quase na metade e de vez em quando murmurava algumas palavras inaudíveis para ela,na distância que se encontrava.
Ela sorriu maliciosamente passando os olhos na pistola reluzente deixada com desleixo na cadeira de frente a mesa do mesmo. Nunca havia se atrevido a pegar em armas, sejam cortantes ou perfurantes, porém, uma pistola, era outro nível. Esticou a mão para pegá-la e sentir a emoção de ter uma arma em mãos pela primeira vez, parou e recuou a mão ao ouvir a porta sendo aberta. Ajeitou rapidamente a postura levantando os olhos na imagem furiosa de Eudora Miller Murphy olhando primeiro para o xerife depois para a figura desleixada de Eliane.
Eliane sorriu para sua mãe enquanto ela caminhava até a cadeira acomodando-se visivelmente constrangida por regressar novamente a delegacia,o xerife, aquele delator exagerado, relatou a Eudora oque sua cria apontou dessa vez para estar na cadeia pela quinta vez naquele mês. Eudora suspirou passando a mão no rosto agradecendo o xerife após assinar alguns papéis para a soltura da filha.
Eliane se pôs de pé saindo primeiro da sala pequena e com cheiro de cigarro,seu olhar passou no rosto do policial que ela agrediu por tentar impedi-la de quebrar os vidros das janelas de sua casa com pedras. Agora depois de quase uma hora, após os golpes notou que havia exagerado um pouquinho somente na força. O rosto do policial estava com duas nódoas avermelhadas uma na bochecha e outra no olho esquerdo,se contasse que dera um chute no saco dele que sem dúvida estava vermelho ficaria alguns meses trancada no quarto.
— vem logo Eliane, ainda temos muito o que conversar.
Eliane sorriu seguindo a mãe que soltava fogo pelas ventas,ambas entraram no carro e o motorista deu partida. Eudora analisou a filha da cabeça aos pés,um casaco moletom preto da Nike,calças jeans rasgadas desde os joelhos até às coxas e sapatilhas da Jordan. Ela se sacrificava dia e noite por aquela adolescente e ela retribuía sendo desordeira,rebelde, afrontosa e criminosa! Santo Deus! Sua única filha era uma criminosa. Aquele não foi o desejo que teve ao parir aquela menina! Eudora movia os céus e terras para dar tudo que estava no seu alcance para aquela adolescente rebelde.
Não sentia desgosto da filha, porque ela era um gênio, embora não usasse da genialidade para grandes feitos,somente para diversão e encrenca.
Tomou ar, pronta para falar.
— Eliane oque deu em você hãm? Porque quebrar os vidros das janelas de casa? Você sabe quando suas brincadeiras estão custando? Oque você quer? Me deixar louca? Tive de abandonar uma cirurgia por sua causa e você sabe como as coisas andam no hospital! Fiz algum mal ter te inscrito na academia de box?
Falava fazendo esforço para manter o tom brando consoante o desinteresse e a cara de tédio que a filha mostrava. Eudora prendeu a respiração para não gritar e esbofetear o rosto redondo da filha. Como ela poderia estar tão serena depois de ter sido presa e ouvindo um sermão?
De onde vinha toda aquela ignorância?
— Mãe, agora não. Não estou com cabeça para brigar com a senhora, amanhã você pode vir com esse assunto. Tudo bem? – falou abrindo a porta do carro antes mesmo dele estacionar na frente da casa de madeira pintada de bege claro andando até a porta retirando a chave do bolso da calça enfiando na fechadura abrindo finalmente a porta. Confiante andou até a cozinha encontrado nela a empregada,rosnou e a empregada fez o sinal da cruz afastando-se, alcançou a geladeira tirando uma jarra e bebeu, dispensando o uso de um copo,estava sedenta de maio que quase acabou a água da jarra.
A empregada olhava aquela menina, a mulher achava que ela era comandada pelas forças do diabo ao passo que a garota divertia-se com as reações e a crença exessiva da outra.
Eudora olhou para a filha subindo as escadas, Eliane era uma cópia fiel de si. Os mesmos cabelos castanhos claros que outrora foram compridos, olhos castanhos claros muito brilhantes e grandes,um rosto oval fofo de maçãs do rosto muito salientes e grandes, acompanhado com a massa corporal dela. Eliane era gordinha e muito linda,aos olhos da mãe.
Não que ela sempre esteve acima do peso.
Cansada Eudora sentou no sofá da sala passando as mãos nos cabelos,seu rosto redondo demonstrava todos os sinais de cansaço,seus ombros caíram ao contato do veludo do sofá com suas costas, relaxou seu corpo que encontrava-se terrivelmente exausto. Fazia três dias que não dormia, os plantões no hospital e ainda ter que adiministra-lo e manter Eliane em rédeas curtas a deixavam no limite de paciência, força física, mental e espiritual.
Eliane trancou a porta do quarto,sua cabeça ardia em culpa e ódio. Segurou o relógio despertador e arremessou-o de encontro com a parede,em consequência reduzindo-o em pedaços de engrenagens.
O ódio dava forças para continuar quebrando tudo a sua frente,o espelho da parede tornou-se cacos de vidro,as roupas de cama foram ao chão até a penteadeira sentiu um pouco da sua ira.
Caiu no chão vendo somente as imagens do corpo de Calocagatia mãe da sua melhor amiga suspensa por uma viga do teto.
—𝐶𝑎𝑟𝑎𝑙ℎ𝑜! – xingou baixinho,e se fosse sua mãe no lugar da de Chloé. Como reagiria? Iria suportar? E se tinha preocupação com sua mãe porquê estava agindo como uma delinquente?
Um grande temor com fortes arrepios tomaram lugar em seu corpo. Estava lembrando daquilo porque recebeu a carta de Chloé hoje cedo, ela contou como se sentia sem esconder nada, absolutamente nada. A carta dizia a ela que tivesse mais paciência e gratidão pela grande mãe que tinha, contudo, Eliane não podia, mesmo querendo. Ela sabia que Eudora preferia mais o hospital de que a filha,essa era a verdade e por mais que lhe doesse, era isso.
A escuridão da noite acobertava lhe de modo soturno e letal. Através das sombras, onde era trinta vezes mais mortífera fazia a mágica acontecer. Andando envolta de sombras, invisível e ágil no quesito roubar e ceifar vidas conseguia assim ganhava a vida. Seus movimentos ligeiros como a passagem de uma brisa noturna nos desatentos custava-lhes objetos de valor e por vezes o dom de respirar.
Suas mãos hábeis, pequenas e muito leves passavam despercebidas nos bolsos onde retirava qualquer que seja o objeto. Assim acontecia nessa noite nas ruelas muito populosas de Praxlat onde vivia,a noite de final do inverno trazia muitos turistas naquelas bandas recôndita, montanhosa, deveras desinteressante, fétida e esquecida pelo governo até ao ponto de ser reivindicada por 𝘱𝘳𝘰𝘧𝘢𝘯𝘰𝘴 impiedosos e mortíferos iguais a ela quando se tratava em matar. A população não sabia,é claro,e os que sabiam se mantinham sem silêncio sepulcral por temerem a morte. Não ela, ela não tinha medo de morrer.
Caminhava esbarrando em ombros parando com pretexto de desculpar-se e afanar ao mesmo tempo os bolsos desprovidos de segurança. Não fazia questão de esconder seu rosto, ostentando uma cara redonda coberta de sardas desde as bochechas,o nariz e um pouco do queixo. Em contrapartida omitia seus cabelos laranja fogo, não só por em norma serem chamativos para qualquer um que nasceu naquela região mas também por serem curtos,ali era proibido as mulheres com 18 anos terem os cabelos curtos.
𝐵𝑒𝑠𝑡𝑒𝑖𝑟𝑎.
Latacha não seguia as regras impostas pelos profanos e desafiava-as não por acha-las triviais, não havia nascido ali, então era uma forasteira e tais regras não se aplicavam aos forasteiros. Sua família mudou-se para aquele lugar medíocre fazia três anos e ainda assim não estava acostumada com tudo muito humilde e simplório a sua volta. Preferia estar na casa de Lareini,na cidade, rodeada por tecnologia e humanos,longe de profanos, mesmo sabendo de que eles estavam em todos os lugares, Lareini era seguro e sem restrições e liderado por um governo de verdade.
A garota ruiva na sua caminhada até o café de sua família saqueara vário bolsos,abriu a porta recebendo primeiro o olhar feio de seu meio irmão mais velho antes mesmo do calor convidativo do estabelecimento acomoda-la. Ela seguiu despreocupada até aos fundos passando pela cozinha pegando alguns bolos e uma xícara de leite quente comendo em pé olhando os funcionários andando para lá e para cá com bandejas. Ela não gostava daquele trabalho medíocre com um salário mínimo muito baixo que não servia para nada. Ganhava mais com seus furtos do que um daqueles funcionários ganhavam em três meses trabalhando ali,pior ficavam no verão quando os turistas preferiam praias quentes e paradisíaca a uma cidadezinha nos confins do mundo como aquela.
Ao terminar limpou as mãos nas calçadas jeans azuis pegando num avental vermelho vestindo-o, amarrou um lenço preto na cabeça escondendo os cabelos e saindo para o balcão sentando de trás a caixa registradora ao lado de C'tan,seu meio irmão.
— 20 minutos atrasada. – comentou o mesmo olhando seu reflexo num espelho pequeno que andava sempre com o mesmo no bolso.
— 20 palavras e eu corto sua língua fora. – retrucou removendo do bolso o smartphone checando seus e-mails recentes e se agitando de susto pelo espirro estrondoso ao pé de seu ouvido. Por instinto o braço rumou ao encontro da bochecha de quem tivesse espirrado.
Seu golpe do cotovelo foi bloqueado com habilidade pelas frias mãos de C'tan, ele a repreendendo com os olhos azuis brilhantes como um oceano revolto contra uma embarcação.
— aqui não idiota.
— narcisista, filho de uma égua. – retrucou puxando seu cotovelo das mãos do irmão fechando a cara e murmurando alguns palavrões. C'tan apenas deu de ombros com um ar de tédio saindo andando na sua lerdeza cotidiana para atender alguns clientes novos.
Latacha bufou um tempo depois pela chatice e calmaria sonífera daquele lugar, nunca havia emoção e adrenalina naquele trabalho. Encostou o cotovelo no balcão e a mão sustentava a cabeça pela bochecha numa demonstração realmente entediada e seus olhos verdes,ficaram de alguma forma embriagados de sono após uma hora ficando sentada olhando sem dar a devida atenção as pessoas que passavam na calçada de frente ao café.
Quando pensou mesmo em desistir de ficar ali e regressar á casa para por fim deitar na cama e dormir por horas a fio. Um grupo de quatro homens altos e grandes adentraram o estabelecimento e ocuparam uma mesa próxima ao balcão. Eles estavam vestidos de calças jeans escuras, camisetas de cores distintas a cada um, usavam tênis nos pés e embora cada ostentasse cortes diferentes de cabelo todos tinham a mesma tonalidade,um castanho escuro,bem sutil ao olhar da garota. C'tan se apressou para atendê-los, mesmo que não tenha realmente demostrado tanta pressa, levando da cozinha três chávenas de café e um copo de água para a mesa.
Latacha desde o início,na entrada daqueles homens, já sabia que eram 𝘱𝘳𝘰𝘧𝘢𝘯𝘰𝘴, somente por analisar os sinais físicos e o aspecto facial.
𝘰𝘭𝘩𝘰𝘴 𝖽𝖾 𝖼𝗈𝗋𝖾𝗌 𝗇𝗈𝗋𝗆𝖺𝗂𝗌 𝖾𝗆𝖻𝗈𝗋𝖺 𝗉𝗈𝗌𝗌𝗎𝗂𝗌𝖾𝗆 𝗇𝖺 𝗂𝗋𝗂𝗌 𝗎𝗆 𝖺𝗆𝖺𝗋𝖾𝗅𝗈 𝗏𝗂𝗌𝗂𝗏𝖾𝗅,𝘣𝘳𝘢𝘤̧𝘰𝘴 𝘤𝘰𝘣𝘦𝘳𝘵𝘰𝘴 𝘥𝘦 𝘱𝘦𝘭𝘰𝘴 𝘮𝘶𝘪𝘵𝘰 𝘨𝘳𝘰𝘴𝘴𝘰𝘴,𝘢 𝘢𝘭𝘵𝘶𝘳𝘢 𝘦 𝘢𝘲𝘶𝘦𝘭𝘢 𝘴𝘦𝘯𝘴𝘢𝘤̧𝘢̃𝘰 𝘱𝘦𝘴𝘢𝘥𝘢 𝘥𝘦 𝘲𝘶𝘦 𝘢𝘭𝘨𝘰 𝘦𝘴𝘱𝘳𝘦𝘪𝘵𝘢 𝘥𝘢𝘴 𝘴𝘰𝘮𝘣𝘳𝘢𝘴.
Cerrou a mandíbula sem fazer muito barulho com os dentes,ela tinha conhecimento de que até mesmo os batimentos cardíacos eles podiam ouvir e sabiam farejar o medo das pessoas. Tentou aplacar a raiva consoante as recomendações da psicóloga mas nada parecia funcionar,sua cabeça pulsou e o estabelecimento rodou diante dos seus olhos, abriu uma fresta da boca captando ar morno do locar,fechou os olhos puxando muito ar dessa vez pelas vias nasais e liberta-lo com a boca.
Algo dentro dela queria sair pegar uma faca e afundar nos corações daqueles 𝘩𝘰𝘮𝘦𝘯𝘴 𝘱𝘳𝘰𝘧𝘢𝘯𝘰𝘴,ver o sangue escorrer por suas feridas formando poças vermelhas num recanto obscuro da floresta enquanto observava a vida abandonar os corpos moribundos.
Levou uma mão ao rosto tragando o ar e recompondo se e prestando bastante atenção na conversa deles.
Eles estavam curvados na mesa falando num tom quase inexistente de voz,queria se empoleirar no balcão para aproximar seus ouvidos da mesa somente para ouvir melhor. Mas se conteve, contentando se com oque já tinha.
C'tan segurou seu ombro, chamando sua atenção e murmurando algo que lhe escapou a percepção porque ainda olhava descaradamente a mesa dos 𝘱𝘳𝘰𝘧𝘢𝘯𝘰𝘴.
Sorriu maliciosa captando algumas pontas soltas da conversa e se apercebeu que um forte olhar dourado e selvagem estava em contato com o seu, esse, que brilhava cheio de sombras de escuridão e muita maldade vivida ao longo da vida,a luz das lâmpadas davam uma falsa impressão de serenidade e pureza no olhar macabro de Latacha.
Omitindo o animal existente neles os dois.
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