ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 1
𝐷𝑖𝑎 27 𝑑𝑒 𝑓𝑒𝑣𝑒𝑟𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑙𝑒𝑛𝑑𝑎𝑎́𝑟𝑖𝑜 𝑔𝑟𝑒𝑔𝑜𝑟𝑖𝑎𝑛𝑜. 𝑁𝑜 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑒 𝑐𝑜𝑛ℎ𝑒𝑐𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑡𝑒𝑟𝑟𝑎 𝐷𝑜𝑡ℎ𝑎𝑚𝑜𝑛.
𝐒eus olhos pairavam livres no corpo pendurado numa viga de olhos abertos e translúcidos, sombras de medo e arrependimento estavam congelados nas iris castanhas sem brilho de vida. As duas mãos caídas ao lado do corpo baloiçante pálidas e frias revelavam a qualquer um que aquele cadáver a muito perdeu a capacidade de respirar. Por sentir a secura na boca engoliu o resquícios de saliva de sabor azedo, sem reação, imóvel com a imagem do pavor talhando cada traço do rosto oval.
O coração debatia-lhe fortemente no interior do peito causado uma dor tanto física como mental peo terror, desespero e aflição.
Não entendia o porquê daquilo ter acontecido,sua mente tecia suposições malignas e perguntas cortantes só para confirmar se era de fato real,se aquilo tudo não passava de uma das muitas história fictícias e ridículas que Eliane amava contar para deixá-la com medo, se não era imaginação ou até mesmo uma alucinação. 𝑁𝑎̃𝑜,𝑛𝑎̃𝑜 𝑒𝑟𝑎.
Ardilosa como, sabia,que era, a mente sempre buscar um outro alguém para jogar as culpas de algo que ela nega-se a acreditar. Sabia da verdade, e bem sabia, mas... custava aceitar, não podia e nem queria aceitar uma verdade destrutiva igual aquela, ninguém suportaria.
Nem ela,também!
Estugar-se em lágrimas daquele lugar tremendamente frio e escuro, como um abismo sem,abaixar a cabeça se submeter foi o meio mais fácil de sair e se libertar de tudo que a fazia mal. Se negava a crer que o único pilar estável da infraestrutura da sua vida foi abaixo. Onde se encontrava agora? perdida e desolada,sem ninguém para contar, notou o quanto não aproveitou ao máximo o tempo que tinha com ela. Sim,percebeu,viu que ela sempre andava deprimida e sem brilho no olhar, mesmo quando sorria contente para fazê-la feliz,o ar alegre e contagiante morria aos poucos,dia após dia acompanhado com o brilho dos seus olhos. Praguejou pela estupidez de achar que seria algo passageiro, que fosse só um mal estar ou desânimo por algo que ela não quis contar, se sentiu fraca e uma crescente revolta borbulhava em seu peito. Quis socar,chutar e gritar para libertar toda raiva que sentira por não poder ter feito nada, não ter sido capaz de impedir aquela fatalidade.
Parou incapaz de prosseguir mais além sozinha,os pés cederam derrubando-a naquela escuridão gelada, e molhou ainda mais o rosto de lágrimas salgadas e infinitas.
𝑃𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒 𝑚𝑎𝑚𝑎̃𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑒𝑡𝑒𝑢 𝑠𝑢𝑖𝑐𝑖́𝑑𝑖𝑜? 𝑝𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒 ?
𝑂𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑢 𝑓𝑖𝑧 𝑑𝑒 𝑒𝑟𝑟𝑎𝑑𝑜? 𝑝𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒 𝑙𝑜𝑔𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑖𝑔𝑜?
Étudo culpa sua! Se tivesse sido mais afetiva, mais ativa, mais presente e ter perguntado oque acontecia. Se tivesse buscado respostas... não esperando que as coisas se resolveriam sozinhas!
𝐸𝑔𝑜𝑖𝑠𝑡𝑎! 𝐵𝑜𝑏𝑎!𝑇𝑜𝑙𝑎!...
Tentou levantar da cama macia onde o seu sobrepujado corpo repousava, mais nada aconteceu e nem as mãos atendiam os comandados enviados pelo cérebro. O pânico se instalou em seu ser por nada se mover ou corresponder com as ordens cerebrais, seu corpo assemelhava se a uma massa de betão seca a décadas e não possuía nenhuma força nos músculos dos membros superiores e inferiores.
𝑆𝑒𝑟𝑎́ 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑢 𝑚𝑜𝑟𝑡𝑎? 𝑁𝑎̃𝑜,𝑛𝑎̃𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑢!
Mesmo sem reagir aos comandos cerebrais,sabia que estava viva e tinha toda certeza desse argumento, apesar da dissidência do seu corpo. Era suposto somente abrir os olhos ou apenas bocejar, mas estava além do seu alcance, um simples gesto cotidiano que muitos nem se aprecebiam que estavam fazendo ela não conseguia repetir. Reconhecia os cheiros, ouvia os sons e distinguia a temperatura. Porém não conhecia o cheiro de onde estava e também nada ouvia, estava muito quieto e frio na medida que se arrepiava minuto por minuto .
Seus sentidos estava vagamente nublados por um manto de dormência e formigamento ambas unidas por forças invisíveis,as quais deixavam seu corpo inerte.
𝑂𝑞𝑢𝑒 𝑎𝑐𝑜𝑛𝑡𝑒𝑐𝑒𝑢? 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑢? 𝑃𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑢 𝑎𝑞𝑢𝑖?
Por não obter respostas,o cérebro já treinado para reagir a situações semelhantes,libertou por todo o corpo medo,e do seu medo foi produzido a adrenalina. Deixanda-a atenta para caso de ocorrência de perigo.
Quando ouviu ao longe o cantar de dobradiças metálicas enferrujadas, passos curtos e delicados quase imperceptíveis que ressoaram no ambiente, a andança mansa quebrando o silêncio do cômodo frio que jazia, no que provavelmente é um necrotério,causou lhe muito mais medo ainda levando as alturas a porcentagem de adrenalina.
— Bom dia Chloé! Seu quadro continua o mesmo se quer saber,mas estou torcendo por você. Sabia que és o primeiro caso que trato depois da faculdade? se não fosse pela sua doença ainda estaria desempregada. – ouviu o soar de uma voz feminina e muito doce com a saudação, logo após uma curta risada e uma pequena mão apertou a sua docemente transmitindo calor que precisava naquele momento,o medo se dissipou quase como se nunca nem havia existido . – Devo muito a você... não que meu desejo é de ver-te assim todos os dias, longe disso! Quero poder ver você brincando lá fora com as outras crianças alegre e feliz . Aliás, como você se sente hoje?
A pessoa, exatamente uma mulher e sem sombra de dúvida uma médica riu sozinha de novo, por falar com uma garota com epilepsia no estado de inércia. Entretanto, sempre que falava com a garota, no seu achar imaginário, Lena percebia que a menina correspondia com leves sinais de melhora. Ou pelo menos achava isso com muita fé. Segurou com mais vivacidade as mãos da paciente sorrindo terna, aquela era uma garota muito bonita e especial, não sabia o porquê dela estar num orfanato medíocre como aquele. Ela é reluzente e única, certamente se tivesse uma família seria o orgulho dos pais.
Chloé, achava estranho o modo como a médica estava tratando-a com paciência e carinho. Dês de sua entrada ali, ninguém nunca a deu tal tratamento,e ficou muito grata e feliz por ter alguém que se importasse com sua existência. E apesar de nunca mendigar amor e atenção, o sentimento puro que a médica transmitia a si era muito mais eficiente que todas as drogas que tomava.
— sua amiga mandou-lhe algumas cartas,o guarda me disse. E já agora, que tanto vocês escrevem uma para a outra? Ele disse que a troca de correspondência já vem se arrastando faz quase dois anos. Você sim tem uma grande amizade verdadeira. — a médica falava enquanto anotava numa prancheta portátil as informações que colhia ao examinar a paciente — Não quero parecer indiscreta,mas seus braços precisam de uma depilação. Sua puberdade está sendo um grande desafio não é mesmo? — de novo a risada quente, o aperto nas mãos e um beijo cálido recaiu na sua testa de forma doce e materna. A médica soltou suas mãos e acariciou seus cabelos pretos — Todas meninas passam por isso por um tempo depois passa tá bom?
Se foi então, a médica que parecia a conhecer a bons tempos. Sorriu, rememorando da menção de Eliane, ela sim era uma boa amiga,também a presença daquela mulher recordava-a do amor materno que foi esquecido a tempos, depois da partida de sua mãe. E em seu estado não compreendia do porquê estar num hospital, é claro, que nos últimos dias não vinha passando muito bem contudo não sabia quando foi que sua condição se agravou. Não contou a ninguém das dores porque eram passageiras,vinham e iam todas as vezes, nunca demoravam mais que uma ou duas horas por essa razão aguentava em silêncio as cãibras dolorosas.
Sentiu o vento arrepiar seus braços, descobertos pelo lençol que a cobria desde os pés até a barriga, revestidos com os pêlos grossos da puberdade. Bocejou revigorada abrindo os olhos castanhos escuros olhando confusa,nos primeiros segundos após a abertura dos seus glóbulos oculares,o lugar onde estava,e não, não era um hospital. Somente a enfermaria do orfanato Luiz Breno,de paredes brancas, alguns leitos,bases para soro,um grande armário de ferro com instrumentos básico de medicina, também havia outros armários fixados na parede, àqueles armários onde sabia que eles guardavam os medicamentos e eram muito bem fechados por uma corrente e um cadeado.
Retirou os pés da cama caminhando até a janela, dela pode ver o dia chuvoso do outro lado e suas mãos inconscientemente se esticaram para sentir as gotas de água atmosférica como se fosse a primeira vez que as via cair.
Sorriu sentido-as mornas em sua pele, trazendo sensações e algumas recordações a seus olhos, assistindo tudo de novo,mas através das suas próprias lembranças. O momento terminou quando fitou as unhas de suas mãos,estas, estavam anormalmente grandes, franziu a testa, não gostava nada de unhas compridas. As dos pés também estavam no mesmo estado. Bufou levemente irritada porque sempre as retia curtas,unhas compridas, para si, era sinônimo de péssimos hábitos de higiene. Como alguém pode coçar o olho com uma unha de dez centímetros?
Virou- se com intuito de regressar á cama por já ter perdido toda a vontade de contemplar a chuva, porém, fora pega de surpresa,pelo olhar esquisito de uma menina. A garota olhava intensamente de olhos semicerrados tentando tirar a conclusão de que oque viu não foi obra da imaginação ou uma ilusão de óptica. A estranheza no olhar da menina criou um certo incómodo em Chloé que não gostou da forma que era meticulosamente analisada.
— está tudo bem? — Chloé em curiosidade questionou, esquecendo se da raiva que sentira a instantes atrás, devido a súbita aparição daquela garota de olhar estranho em si. Talvez seu rosto estivesse sujo ou pintado. Esfregou as mãos na face em busca de algo irregular, achou tudo normal como sempre. A oleosidade nas faces,as pequenas borbulhas comuns da adolescência, até mesmo suas espinhas estavam onde sempre estiveram.
— errr...sim...— a garota respondeu rapidamente e saiu veloz da enfermaria carregando uma mochila, até então não percebida, nas mãos como um bebê. Chloé estranhando o comportamento fora do comum daquela menina deu de ombros olhando os pêlos de suas pernas e braços pensando numa forma de acabar com eles.
Retirou de frente do olho esquerdo a franja lateral longa de mais, para seu agrado,os pêlos dos braços e pernas estavam iguais a franja e precisava com urgência os cortar. Eles alarmavam-na tanto ao ponto de perceber o porquê da fuga da menina. Era coberta de pêlos da cabeça aos pés, grandes e volumosos pêlos,oque biologicamente achava impossível um humano normal produzir, que chegou a supor que estava se tornando um animal.
Sentou na cama fofa assistindo a chuva moderada pela janela,queria poder estar correndo na chuva descalça sentindo a terra molhada e enlameada debaixo dos pés,as gotículas mornas molhando o corpo de maneira doce e delicada, enquanto ria e rodooiava na companhia de Eliane. Esta, que de certeza ficaria resmungando que ficariam doentes por saltitar na chuva, enquanto sua mãe e a de Eliane conversavam tomando chá na varanda traseira da casa onde vivenciou bons e maus momentos. Momentos estes, que estariam eternizados em sua mente.
Por dentro o calor da nostalgia e felicidade aqueceu todo seu corpo, não tinha esperança de ser adotada,e verdadeiramente,nem queria, porque sabia que logo que saísse daquele orfanao veria as pessoas que aguardavam sua saída. Irá espera perseverante o dia que diria adeus aquela instituição de acolhimento e irá revê-las.
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