Capítulo 1
O céu estava tingido de um cinza opressivo, como se a própria atmosfera estivesse ciente do que se escondia nas sombras da cidade de Eldridge. À medida que o sol se punha, lançando um brilho fraco sobre os prédios desgastados, um silêncio inquietante tomava conta das ruas. Para o adolescente Lucas, esse silêncio não era apenas uma pausa no barulho cotidiano, era um aviso. Uma promessa de que algo ruim estava prestes a acontecer.
Lucas sempre se sentiu diferente. Desde pequeno, ele tinha visões. Não as visões normais que as pessoas têm; suas visões eram vívidas e sangrentas, revelando a verdadeira natureza das pessoas ao seu redor. O que ele via sob a superfície da pele eram demônios disfarçados de humanos, criaturas que se alimentavam do medo e da desgraça. Eldridge não era apenas uma cidade comum; era um campo de caça para essas entidades malignas.
"Você não vai sair de novo, vai?" A voz de sua mãe o trouxe de volta à realidade. Ela estava de pé na entrada do pequeno apartamento, a preocupação desenhada em seu rosto. Lucas podia ver a frustração em seus olhos, mas ele sabia que ela nunca entenderia. Ninguém entenderia.
"Eu só vou dar uma volta," ele respondeu, tentando soar casual. Mas a verdade era que ele estava indo atrás de um deles. Ele havia sentido a presença de um demônio em um beco próximo à escola, e não poderia ignorar o chamado do instinto.
"Cuidado, Lucas. Você sabe que a cidade não é segura à noite," sua mãe insistiu, mas ele já estava saindo pela porta, o ar frio da noite envolvendo-o como um manto de presságios.
Assim que pisou na calçada, o coração de Lucas acelerou. Ele sentia uma mistura de adrenalina e receio. O cheiro de sangue fresco pairava no ar, e ele não podia ignorá-lo. O beco estava a poucos quarteirões, e, enquanto caminhava, lembranças de suas primeiras descobertas começaram a assolar sua mente.
Ele se lembrava da primeira vez que viu um demônio. Era um professor, alguém em quem todos confiavam. Lucas tinha apenas doze anos quando o viu se transformar, a pele se rasgando e revelando escamas e garras. Ele não conseguiu segurar o grito que escapou de seus lábios. Desde aquele dia, ele se dedicou a descobrir mais sobre essas criaturas. E, mais importante, ele descobriu que tinha um talento especial para derrotá-los.
"Você não pode me parar, Lucas," a voz de um demônio ecoou em sua memória. Aquela mesma voz que o havia atormentado nas noites escuras. Ele se lembrou de como havia apunhalado o coração da criatura, como o sangue quente respingou em seu rosto, e como, pela primeira vez, ele se sentiu vivo.
O beco estava escuro e estreito, com o cheiro de lixo e podridão pairando no ar. Lucas apertou a faca que sempre carregava no bolso, a lâmina brilhando sob a luz fraca de um farol distante. Ele não sabia o que esperar, mas estava determinado a acabar com mais um deles.
"Quem está aí?" ele gritou, sua voz ecoando nas paredes sujas, mas não obteve resposta. A ansiedade começava a se transformar em frustração. Ele estava prestes a se virar e ir embora quando um movimento rápido chamou sua atenção. Um homem, vestido com uma jaqueta escura, estava parado no final do beco, observando-o.
"Você não deveria estar aqui, garoto," o homem disse, com um sorriso que não chegava aos olhos. "A cidade não é feita para pessoas como você."
"E quem você acha que eu sou?" Lucas retrucou, tentando manter a confiança na voz. Ele podia sentir a aura do homem. Ele era um deles, um demônio disfarçado, e Lucas estava preparado.
"Você não sabe o que está fazendo," o demônio respondeu, avançando. "Você acha que pode me matar? É isso que você faz, não? Caçar o que você não entende?"
Com um movimento rápido, Lucas puxou a faca e avançou. O demônio riu, um som que ressoava como o tilintar de vidro quebrado. "Você realmente acha que pode me ferir? Eu sou muito mais forte do que você imagina."
"Talvez, mas eu sou mais determinado," Lucas respondeu, sua voz firme. Ele se lançou para frente, a lâmina cortando o ar, mirando diretamente no peito do demônio. O impacto foi brutal; a faca atravessou a carne e os ossos, e o grito do demônio ecoou pelo beco.
A cena se desenrolou em câmera lenta. O demônio caiu de joelhos, a expressão de surpresa em seu rosto se transformando em dor. Sangue jorrou, escorrendo pelas paredes e formando poças escuras no chão sujo. Lucas sentiu a adrenalina pulsar em suas veias, o sabor do poder misturado com a repulsa ao que acabara de fazer.
"Você é... um monstro," o demônio sussurrou, olhando para Lucas com um misto de medo e desprezo.
"E você é apenas mais um a ser eliminado," Lucas murmurou, puxando a faca com um movimento brusco. A lâmina estava coberta de sangue, e o corpo do demônio desmoronou em um monte inerte de carne e vísceras.
O silêncio se instalou novamente, mas não era um silêncio reconfortante. Era um silêncio pesado, carregado de perguntas sem resposta. Lucas olhou para o corpo caído, seu coração batendo descontroladamente. Ele sabia que havia apenas arranhado a superfície do que estava acontecendo em Eldridge.
Enquanto ele se afastava, o cheiro de sangue fresco ainda estava em suas narinas, e uma sensação estranha o acompanhava. O que ele estava fazendo? Era um caçador ou apenas um garoto perdido em um mundo que não compreendia? Ele olhou para o céu escuro, sentindo que a cidade não era apenas o lar de demônios, mas também do seu próprio demônio interno.
E assim, Lucas caminhou de volta para casa, com a certeza de que a próxima caçada estava apenas começando. O desejo de exterminar aqueles que se escondiam atrás de rostos humanos o guiava, mas a um custo que ele ainda não podia entender. No fundo, ele sabia que, a cada demônio que caía, uma parte dele também se perdia, e a linha entre caçador e presa tornava-se cada vez mais tênue.
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